sábado, 30 de abril de 2011

não é ser póstumo o melhor da vida de muitos?

então, eu não sei bem se II é indicado para o Papa João Paulo visto que depois de morto foi urnado - talvez para reforço da sua importância - em três.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

em perfume

operar

desengane-se quem tem como operar produzir ou executar alguma coisa: operar é acordar, sorriso rasgado em pavarúsica, em ópera.
são sorrisos que pululam, nos montes virgens de gente, trazem vida aos bosques aos molhos: ululam na menina dos olhos de frente.

injecções e assim

ainda estou para descobrir porque as injecções de atarax são para serem dadas no rabo.

(a sensação já sei bem descrever: sente-se como que a fatiar fiambre nobre do glúteo. até faz guinchar)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

amor e uma mesinha de cabeceira

(entre casal)

tu estás triste, querido, não mintas, desabafa antes que caias em depressão.
tu conheces-me bem demais, meu amor, para eu não o assumir.
e então? problemas com alguma das tuas amantes?
sim: aquela que já andava há mais de um ano, lembras?, desertou.
deixa lá isso, amor, eu estou aqui. lembra-te sempre o quanto a fizeste feliz, isso passa, amanhã vais para a net e conheces outra.
nunca me arrependo de ter casado contigo: sem ti não seria capaz de arranjar forças para outras mulheres.
nem eu, nem eu, amor. agora faz um esforço para me veres a mim aqui na cama, preciso sentir que tu me amas.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

telhado mudo





mas que é isto, que estou tonta do juízo, um cachorro à americana, quente no seu desprazer, na casa que não quer viver, aposto que mal abre a pestana, infeliz, que a cauda bate na lama, atento ao vibrar do monte: daqui já estou a soltar-te, cor de mel, quero que saltes e rebentes com tudo: faz-te rei, que esse telhado será sempre mudo.

baía das porcas zero - pés sorridentes um

é incrível ao que as mulheres se sujeitam em busca de aparências perfeitas - sombras de almas desfeitas: eu vi, com estes olhos que um dia a terra não há-de comer e com os cornos que todos os dias se deitam na palha, agora lembrei-me desta expressaão tão engraçada que li, que me disse, casmurrice e graça é como defino a sua boca, mulheres a serem embaladas em frigofilme e enfiadas numa espécie de forno para, por aquecimento, perderem a banha. aquilo parecia a baía das porcas. é que depois ficam, temporariamente, como o entrecosto grelhado, com riscas escaldadas nas carnes e na alma também - cada risca de quente equivale a um centímetro (isto sou eu a imaginar as suas almas, sem gente, a pensar). e depois vão para casa contentes insultar o assado que é pecado e o pão de milho que não é para ser fodido. e ao fim de vinte idas ao forno a garantia de encolhimento é vendida, como que em segredo, contada aos poros da pele, massacrada, que nem respira nem nada.

já a minha oferta de massagem, descobri que afinal a páscoa traz coisas duras, que é isso dos moles em tudo,  foi reveladora: não possuo tensão acumulada no dorso - o que hoje em dia não é normal - nem sofro de tendinites na alma, à conta do que o rosto das mãos se riu. até a fazer massagens se pode conversar e melhorar o dia de alguém. tanto que ganhei um prémio, talvez de miss tagarela: uma massagem especial aos pés. e os meus pés já só aguardam, com bocarras sorridentes, mais uma conversa.

terça-feira, 26 de abril de 2011

costas em risota

e diz: nunca tinha feito uma massagem a alguém que risse tanto por sentir cócegas nas costas. são cócegasinhãs, disse-lhe eu.

vermelho-amor

é, afinal, papoila o amor: em vermelho sobe ao palco dos montes agrestes, sem vestes, deixando por trás, para trás, o asfalto vestido de lestes.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

liberdade é ter, na incerteza do que é viver, a certeza do que é a vida

pevide subserviente

ouvi uma mulher dizer que dorme sempre em camisa, mesmo de inverno quando tem frio, não porque gosta ou quer, para que seja mais fácil e rápido o marido penetrá-la quando acorda, de repente, durante a noite.

(faltou pouco eu sujeitar-me a levar uma chapada e dizer-lhe que mais fácil ainda seria ela dormir de pernas abertas e com palitos na pevide para quando lhe desse a vontade, ao outro, ser só enfiar. que podridão.)

os vegetarianos não comem fruta

os crematórios, estive a pensar, só podem mesmo ser uma invenção dos vegetarianos. explico: nós alimentamo-nos das árvores através da sua fruta. depois morremos e somos enterrados e as àrvores alimentam-se de nós e nós transformamo-nos em fruta - ora se andamos há milénios a comermo-nos uns aos outros, pois claro que o mundo não passa de um movimento de canibais.

domingo, 24 de abril de 2011

vêm à procura de dias diferentes, são gentes, e nem sequer pensam nisso, no arroz de excursão, pois então, que aos olhos é salteado com chouriço e a salpicão - carnes gordas e salgadas que lhes embala o coração.

droga barata

estou, sei agora mais do que nunca, certíssima: falo com homens e mulheres, novos e velhos, e está decretado: o sexo é, droga barata, o ópio do povo.

salva pelos foguetes (será castigo por eu ignorar a páscoa?)

deve ter sido a primeira e última vez que algum dia gostei de foguetes: e foi ainda agora. acordei como se a cair de uma ponte, suor nas mamas e na fronte. estavam todos, mãos e olhos de mundo, de gente que não tem fundo, a agarrarem-me e a obrigarem-me a comer a papa da modernidade para eu me limpar: uma mistura de batatas cozidas com morangos e miúdos de porco para eu vender o meu corpo e a minha alma - a papa era o elixir, a que me obrigavam, do futuro: desprezar, recusar e abandonar o amor. e se eu a comesse ficaria limpa de poesia real, e de romance e de sonhos acordados, de vida.

(pum, pum. foda-se! nunca pensei dizer isto: foguetes, mis pitufos preciosos. e a culpa é tua, menino Tubarão, por ter lido o teu texto, sobre gentes que vendem o corpo e a alma, depois de chegar de um aniversário, antes de dormir)

sábado, 23 de abril de 2011

olhos lavados

tempos, corridas, passos a trote - cidades que limam e calcam a sorte. e permanecem as belezas, poucas, pequenas, antigas: que lavam os olhos das modernas fadigas.

P.S. Vou para o tesouro: não posso escrever mais. Maldita seja a Pátria e a Finança!

Carta de amor de Almeida Garrett à Viscondessa da Luz

6 de Agosto

" Tu já não és só a minha amante, a mulher a quem dei para sempre o meu coração: és mais que isso, és realmente a esposa da minha alma, aquela a quem tenho consagrado a minha existência, e para quem somente quero viver.
Juro-te isto à face do céu e da terra, por minha honra te prometo. Que mais queres que te diga, que mais há que prometer ou que fazer?
O susto que ontem tiveste à saída é completamente infundado: à vista te darei razões tão seguras que se há-de desvanecer todo o receio. Não as quero confiar agora ao papel. mas seguro-te e prometo-te que não tens que recear. - À noite espero ver a T. e o convencerei também a ele que é um verdadeiro alarmista. sabes tu?
A noite de ontem, minha alma, foi o dia mais belo da minha vida. Oh Deus eterno! como eu vivi, o que gozei! Se pode haver céu depois disto?
Ninguém me persuadirá jamais que há no mundo quem se ame tanto como nós nos amamaos.
Eu sou plenamente feliz, não quero mais nenhum. E tu? Dize. - Oh! tu amas-me e és feliz, bem o sei. Mas tem coragem para ser feliz, que é só o que ainda te falta: la courage du bonheur. Adeus, adeus, até amanhã? Não é verdade?

Teu para sempre"

sexta-feira, 22 de abril de 2011

língua amada

caminhar com a chuva a amar, nem sei porque costumam dizer a bater, é uma sensação maravilhosa. se eu fosse doida por gelados, mas não sou, diria ser como quando se prova um num dia de calor.

assim, digo que ela cai a amar e eu ponho a língua de fora para senti-la melhor e sabe mesmo a isso: a amor de chuva.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

paredes caiadas

do monte se fez caule:
pétalas felizes de serem sós, que roubam o sorriso das gentes e caiam as paredes, contentes.

sofás dissonantes

será que sentir remorsos é igual a sentir peidos que querem sair e depois aperta-se, aperta-se, até eles se espalharem pelo corpo todo e se deitarem por tudo o que é lado? até posso dizer que os peidos reprimidos são aqueles que se deitam nos sofás do corpo. e os peidos não gostam de sofás - gostam de correr, sonantes ou em shiu, nos prados.

(chiça-penica:. se assim é, nem faço ideia da cor e do cheiro dos sofás da alma em que os remorsos se deitam. é isso: uma alma com remorsos é uma prisão de chaise-longue.)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

atreve-te a aranhar

se tiveres coragem para tirar uma aranha da camisa de um estranho, tens coragem para tudo.

(é que o sentimento de crise faz aumentar os pensamentos supersticiosos e corres o risco, sério, desse estranho chamar a polícia por lhe teres roubado a carteira)

vermelho-gloss

é o vermelho vivo do sangue que desce para grudar as cuecas das mulheres que grita bem alto bom dia.
víspere, dizem muitas, talvez por ser podre e escuro.

vem, faço-te uma festa, meu sangue gloss, digo eu.

(se eu penso tu também mereces)

rio: só(r)rir

ris. por que te ris homem?
ris. por que te ris gaivota?
(rir pelo tudo e pelo nada - por não ter de nadar - em mim. e eu sou, e porque sou só, rio.)

terça-feira, 19 de abril de 2011

o nariz e as mamas agradecem: obrigada.

já tinha saudades do sol fechado e do fresquinho roubado: os óculos de sol cansam-me e as mamas pingam-se-me todas.

mãeravilhosa

uma mãe maravilhosa dá sempre aos filhos uma parte de si.

(a alegria e a teimosia e a ineficiência e insuficiência do pâncreas)

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Camélia em dança

e é um sorriso que escapa de uma alma em brasa, como se boca de criança, que em ouro se faz trança - camélia, que aos olhos me dás febre: permites-me uma dança?

sabias disto?

a expressão 'olho por olho e dente por dente' surgiu quando o povo decidiu traduzir a lei de tailão, no mais antigo sistema legal já descoberto, no código de hammurabi, cujo artigo mais emblemático refere-se à punição dos crimes graves pela aplicação da reciprocidade: o mal causado a alguém era igual ao castigo.

curiosamente, os sistemas legais foram alterando mas esta lei continua actualíssima ao nível da justiça pessoal. e é nestas e em muitas outras coisas que, cérebro em cruzamento, o meu, concluo: são tão poucas as gentes que, de facto, evoluem; o humano, que não sabe ser, esquece-se da evolução mais básica e mais importante que existe - a de si próprio. e o mundo, redondo, não passa, de isso mesmo, de um círculo gigante e viciado de maldades que geram maldades para vingarem maldades - tudo mal, tudo ao contrário. e são, curiosamente, os elos mais fortes - os que contrariam o círculo vicioso - que são tidos (e punidos) como os mais fracos. e isto, simplesmente, porque contrariam a corrente ao exaltarem as coisas simples e básicas. e é tão simples de perceber - e é tão complicado de fazer perceber. tão simples e tão complicado porque depende de cada um.

e tu:  não queres começar hoje a ser simplesmente simples, tailãonês? é simples: começa, simplesmente, pelo básico se não queres permanecer básico. e isto, sim, é básico.

domingo, 17 de abril de 2011

lepra, não. sarna: será sarna?

lepra não deve ser, senão já me tinha caído um pedaço. mas pouco deve faltar - se não parar de me coçar.
e se for intoxicação alimentar? não, não pode ser porque não andei por aí a pastar. e hoje não conta, fruto da morta a enterrar, porque já dura há uma semana.

(a sarna pode ser psicossomática? vou, entre uma e outra coçadela, investigar)

o funeral dos vivos mata

a morte é sempre um acontecimento grandioso para quem vai e para quem fica. quem vai, tem a oportunidade de morrenciar outras experiências: vai-se o corpo e fica-se a alma. em último caso, no caso de almas pequenitas, roubar passa a deixar de ser pecado porque a possibilidade de se ser apanhado deixa de existir. em outros casos, talvez amiúde, os mortos expostos em caixão aberto, tesos, vestidos literalmente para morrer com a roupa que lhes ficava a matar, adquirem a importância, a única - quem sabe -, de serem, por horas a fio, admirados e comentados e atencionados. arrisco dizer que morrer é subir ao palco da vida, da própria, e conseguir enfim, por fim, ouvir em primeira mão o que todos os que rodeiam pensam e dizem ou dizem o que não pensam. (é tudo à grande, tudo à grande)

para quem fica, para a grande maioria de quem fica, porque lamentavelmente as grandes fatias cabem sempre aos desvirtuados, a morte de alguém passa a ser o grande momento de glória - da Dra.Marta ou da Zefa, do Tono ou do Eng. Mascarenhas -: a de levarem a cabo todos os esforços para serem aplaudidos e ganharem, sebo nas mãos de tantos apertos, reconhecimento. e depois vem a parte em que a morte do morto vem relembrar a falta que fará a cada um e não a falta que fará enquanto gente. ou seja: a lengalenga do coitado, vai fazer-me tanta falta e agora quem me dará conselhos, quem me fará isto, quem me fará aquilo - é mesmo conversa típica dos vivos que passam a vida a encornar e, neste caso concreto, fazem do morto, à letra, o verdadeiro corno manso da vida. um morto que foi um verdadeiro vivo é um morto que merece a maior fidelidade do mundo: a fidelidade de continuar a ser, sem esforço, o amor, de corpo e alma, para a vida.

eu aviso, desde já, o mundo que quero uma festa quando morrer. podem chorar ou rir, como apetecer, a ouvir samba ou kizomba; e quero comida, muita comida da boa porque não serei, estou certa, uma morta de fome. e nada de caixões que dá-me os calores e passo-me: se querem adorar o meu corpo, embalsamem-me e pendurem-me e vistam-me o vestido mais cor-de-rosa e mais decotado que eu tiver. e as garras quero-as, como sempre, pintadas e brilhantes - as das mãos e as dos pés.

(em relação à alma, não se preocupem: só precisam de masturbação na morte as almas que foram murchas na vida)

sábado, 16 de abril de 2011

seiva, lágrimas e suor


chamam-lhe água mas é seiva: reflexos dos veios do caminho;
chamam-lhe água mas são lágrimas: lustre viva do fundo sozinho;
chamam-lhe água mas é suor: líquido amniótico do prazer em amor;
água, chamam-lhe, do pé, lisa, viva: água que não é nem mais nem menos - senão vida.

cataratas de urinagara

pensar que, já em final natural da vida, toda a urina libertada, por cada gente, daria para montar uma catarata de águas mornas e em tom de chá. que imagem tão bela, de repente. bela e insólita.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

viva o Talinhos!

tenho a certezinha absoluta que Tales de Mileto havia de me abençoar: ele era o máximo e sabia, tinha a digna sabedoria, reconhecer os seus semelhantes.

(e haviamos de comemorar as conversas com cigarros gregos de mentol. que maravilha. ai que grande sorriso de narcisismo)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

liberdade: mas muita

por aí, por aqui, vou ouvindo que os cães têm de cacar acolá e sentar quando os mandam e comer fora das horas dos outros de duas patas e andar ao lado e, e, e. cadela que é cadela caca, desde que no exterior porque não é burra para cheirar o que caca, onde e quando lhe apetece; não obedece a ordens - simplesmente ouve pedidos; e come quando tem vontade e, se preciso for, em cima da mesa; e não anda com trelas nem ao lado - anda ou corre como se sentir melhor. e, no final, porque os cães são o reflexo dos donos, sim, é o chamado MKT pessoal canino, é eleita - pelo respeito que consegue dar e receber no meio de tanta liberdade - miss delícia: por quem passa ou por quem fica.

mas quem é que a quer domesticar? eu, não. e quem não estiver bem que apanhe o quinze e que vá apreciar as jaulas do canil - aqui vive-se em liberdade: mas muita.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Portugal, também Lisboa: asas e anzol


pertencem, janelas assim, às cidades das asas - cidades sem nome, ricas de céu e de sol, de onde do cume se lança o anzol. são janelas, filhas das casas amarelas, que de cima vêem o mar - Lisboa veste-lhe as penas, almas que são grandes: almas que valem por não serem pequenas.

será?

acho que estou com lepra.

terça-feira, 12 de abril de 2011

muito alto - contrabaixo

são como formiguinhas frenéticas os dedinhos deles que fazem música. e, depois, o tecto pintado e o candeeiro de cristal, como que alado. e os camarotes pequenos - que enchem os corações, dos outros, amenos, de alegria: ao contrário do coração, quente e brilhante, da tia.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

tomaraquecaia para a certezaquelevanta

 uma reina sabe sempre amansar as cobras e atiçá-las até ao ponto das cobras ficarem convictas que estão a enganá-la. e depois as cobras cospem o veneno e a reina, imune às cobras, dá-lhes beijos de verdade para lhes afagar a mentira. toda a gente sabe que as cobras são a mentira pegada e as reinas a verdade sagrada.

( e hoje há concerto lindo, muito lindo: e ele merece um vestido - tomaraquecaia - cor-de-rosa-sinhã)

é ouro. é, somente, tesouro, semente.

passadeira ondulada em ouro, tesouro, onde me levas tu?
sigo-te num mar ardente, sorriso de céu contente, cegas-me de olhar nu?
ondas a passo, sem tempo nem espaço, a caminho de lá - a compasso onde se perde, perdido, o choro do sol em sentido e se ganha, bandido, o sorriso do sonho de gente, emergente, nos lábios dos olhos da mente.
é ouro. é, somente, tesouro, semente.

domingo, 10 de abril de 2011

saltar, saltar

as vulvas são vurras

os homens são mesmo engraçados: fogem, cagões, das mulheres inteligentes como do roço da pila de um paneleiro no cu: sentem que podem ser enrabados perdendo, assim, a masculinidade - e o que mais é ser homem, vão-nos mostrando eles, orgulhosos, senão foder e enrabar vulvas?

(ai que riso. não deixa de ser divertido assistir, na plateia, a filmes assim)

sábado, 9 de abril de 2011

lenteiro

a palavra do dia do priberam é lenteiro. eu havia de ser linguísta, e ser consultada nestes assuntos, e colocava como sinónimo de lenteiro vulva. depois abria, em vulva, um link onde mostrava um gráfico de queijo, de leitura fácil, afecto ao sinónimo, com uma fatia quase total.





sexta-feira, 8 de abril de 2011

cada cérebro a sua cabeça e cada cabeça a seu pescoço

já se acredita que num futuro próximo, muito próximo, faremos download, e colocaremos na internet, do nosso cérebro.

que puta de descoberta, que dizem maravilhosa, é esta? sou de recusar sair do lugar onde estou - assim como responder à questão que, talvez em breve, se seguirá: penso logo existo - mas onde?

éticar

ter ética é amar: ser ético é afirmar as acções e não as palavras - é a possibilidade humana de reconhecer o outro como alguém importante e de, ao mesmo tempo, reconhecer-se nele. é o amor que nos escolhe e não pode ser o contrário, porque o amor não é um jogo: ele exige reverência, respeito, dedicação e honestidade.

(à minha moda, Tolstoi disse: chiça-penica, não faças nada que contrarie o amor.)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Leandro Konder e uma 'aventura' com os sete - a não perder




Leandro Konder põe a nu, sobre o olhar de filósofos, escritores e poetas, usando figuras ilustrativas e epígrafes extraídas de músicas brasileiras, o que Sócrates, Marx, Camões, Balzac. Dostoiévski, Guimarães Rosa e Drummond disseram sobre o amor - esse belo e grande impulsionador das acções humanas que "teoricamente viria para mostrar aos seres humanos como equilibrar a psique, como lidar com a ida ao outro (alter) sem se alterar demais, a ponto de perder sua identidade. Muita gente teme a 'aventura' do amor e prefere renunciar a ela. O prejuízo é grande: o conhecimento da condição humana sofre com a perda da posssibilidade de viver uma experiência humana fundamental", diz o leandro, e insubstituível - digo eu.

concluirá o leitor o que quiser - ou como quiser concluir em paralelo com o que, de facto, conclui -, a literatura não pode ser de outro jeito, e eu concluo assim: o amor é a única experiência verdadeiramente verdadeira, autêntica, que permite a transição do estado imaturo para a maturidade efectiva do que é ser homem e do que é ser mulher; é no amor, e na extensão de cada um no outro, que se consegue ser. e o que é o não ser a não ser a anulação de si próprio?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

em abril mergulhos mil

há quem pense duas vezes antes de agir. mas quando o assunto é mar e sol e areia o melhor, mesmo, é agir duas vezes antes de pensar.

dinheirar é ca(n)sar - quem fica com o n sou eu, que não sou puta

e depois há o dinheiro. o dinheiro - aquela coisa nojenta que anda de mãos em mãos e que, ao que parece, é a coisa mais importante do mundo. o dinheiro é tão importante que se sobrepõe aos valores, ao amor, ao pai, à mãe, ao filho. vive-se, mata-se e morre-se por dinheiro; fode-se por dinheiro; casa-se por dinheiro; divorcia-se por dinheiro. há quem sorria - e quem só ria - por dinheiro e também há quem chore por ele. o dinheiro não move apenas montanhas: o dinheiro move ancas, bocas, olhos, pernas, pés, mãos - o dinheiro move, acima e abaixo, tudo. o dinheiro faz com que alguém que faz poesia venda alma e o corpo da tia - e a alma e o corpo dele próprio; o dinheiro faz com que uma morena fique loira e com que uma loira fique, para sempre, loira. o dinheiro é o melhor amigo dela - o dinheiro é silicone.

(agora fiquei com vontade de cantar. o quê? o dinheiro só pode pedir um fado. mas o fado irrita-me, faz-me comichão, vou cantar uma marchinha)

o dinheiro, o dinheirinho
é tudo o que um dia ele queria
lavar as notas no rio e engomá-las com mestria
trazê-las como uma árvore
carrega as bolas de natal
para ver as bocas abertas
a fazerem sexo oral
nananananananã

(pronto, já me cansei. isto não está a correr bem. falar de dinheiro cansa-me; cantar de dinheiro cansa-me; escrever de dinheiro cansa-me. vou é lavar-me toda porque os meus dedos já cheiram a merda)

terça-feira, 5 de abril de 2011

tatoosquitos

muito eu gostava de ser mosquita para perceber o cérebro dos mosquitos, ou os mosquitos não têm cérebro e só sentem?, se assim for estão desculpados, e descobrir porque tanto gostam de pousar nos vales e nas colinas e nos montes. primeiro vêm de mansinho, sussurrar-me aos ouvidos zes baixinho, e depois começam de cima para baixo ou de baixo para cima - a sentir cada pedaço até tatuarem o desejo. tesão de mosquito não sei se é, não sou mosquita. mas um dia, numa noite inteira, vou segurar o sono, e a luz, e ver tudo. 

(e não, não será pornografia porque de uma coisa eu sei: no reino dos mosquitos não existem frustrações.)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

bacalhau à Sinhã

é simples, rápido e nada gordo: corta batatas suficientes para encherem uma assadeira grande, a comida nunca é a mais porque depois podes congelar, e põe a cozer com bacalhau às lascas e ovos - tudo junto para se misturarem os sabores - e nem precisa de sal. quando as batatas estiverem quase, quase, cozidas, acrescenta um saco de legumes chineses. coa tudo e coloca num recipiente onde acrescentas pimenta q.b. e um fio de azeite prolongado e não esqueças de cortar os ovos aos gominhos. depois de misturares espalha tudo pela assadeira e cobre com maionese (se não há podes fazê-la e fica mais saudável: tira as gemas dos ovos e tritura com azeite e sal). decora com azeitonas pretas e raminhos de salsa e leva ao forno (com ventoínha a 130ºc) aí uns quinze minutos. e já está. eu disse que é simples, rápido e nada gordo.


(depois come no pátio ou na varanda enquanto olhas para as árvores)

Ella, tu, eu

esta Bebe é de tirar do sério - faz, cócegas na alma, sorrir. viva a Bebe que eu tanto gosto!

(bebe, tens de beber)

reina 4ever

não sei bem porque pensam que eu possa ser plebeia quando nasci para ser reina.

(a letra é de plebeia e o som é de rainha)

domingo, 3 de abril de 2011

a verdade: ternura é hermafrodita

nasceu com os dois sexos e os pais podiam bem ter-lhe chamado Asbrúbal ou Glicínia mas não, não: decidiram chamar-lhe Ternura - pela capacidade que mostrou, mal saiu do ventre, ao recusar-se a chorar, em ser superior às reles e básicas características do que é ser homem e do que é ser mulher: recusou-se chorar porque, quando nascem, todos os bebés choram por não quererem sair da ternura e da beleza do mundo do dentro. Ternura nasceu com ternura suficiente para enfrentar o mundo desternurado que é a luta, dos homens e das mulheres, pelo poder.

(sim, é verdade, a ternura é hermafrodita - tal e qual Ternura)


Participação para "Fábrica de Letras"

batatas e grelos

pensando bem, a areia está suja pelo que as marés lhe trazem e deixam ficar. mas as marés não usam sapatos nem garrafas de plástico nem pensos. devo concluir que as marés têm costas largas ou, então, que as gentes têm almas estreitas - é como andarem com a gasolina na reserva uma semana para aproveitarem a promoção quinzenal de menos seis cêntimos quando a promoção semanal é de menos cinco cêntimos. e depois a casa sapo, óptima para repasto, lá para os lados de penafiel, está cheia.

(a lógica da batata faz tanto sentido para mim como o arroz de grelos faz para o chá da pérsia)

sábado, 2 de abril de 2011

porque no amor e na arte, o triângulo é virtuoso

hoje estou disposta a celebrar a minha descoberta com um quilo de maçã bravo de esmolfe: li, ontem, que quando existe amor profundo (o que é coisa rara, muito rara, tão rara como cacar polvinhos cor de limão-tenro-bravo-esmolfe), porque o amor que se vê e se fala por aí é amor de superfície, é não-amor, o homem faz do ver e do pegar e do chupar das mamas da mulher uma arte e um êxtase. e eu já descobri porquê. é que o amor profundo é um triângulo onde cabe o amor físico, o amor mental e o amor espíritual. reunidos os três vértices o homem, em amor profundo por uma mulher, sente-se criança de novo, um bebé, e acrescenta, com espontaneidade e inocência e ingenuidade, ao tesão o desejo de aconchego e alimento. esta componente espíritual, acrescentada à mental e à física, é amar como só pode ser amar. porque no amor e na arte, o triângulo é virtuoso.

(e escolho este fundo para a minha descoberta)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

pilas encelulitadas

uma coisa é certa - queria ter uma praia só para mim, interdita a pés e a olhos e até a sonhos. assim, e porque lamentavelmente as mentiras nunca são demais, a praia é o local mais certo - por cultivar o incerto - para, havendo vontade, uma mulher ser alvo de tentativas de engate.

(nunca tinha visto um homem, de boa aparência, com celutite do cérebro a sobrar também para as coxas. será que lhes cresce, a esses, mais o nariz ou a pila? será que também a pila tem celulite? eu acho que homens assim esforçam-se por transformar a gordura da pila em massa muscular com este tipo de exercício. será que neste momento ele está a colocar detergente da louça nos calções para arrancar a gordura das natas? que carago.)

alegrez

num mundo esquizofrénico, entre a tristeza dos pobres e a tristeza dos ricos, distinguível apenas pelas roupas que vestem e as coisas que têm, só mesmo a alegria ri de si própria - porque anda nua. bem visto, a alegria deveria chamar-se, pelo seu estado natural de nudez, alegrez.

(está decretado)

quinta-feira, 31 de março de 2011

aMar o Mar

é nas águas que as pernas se abrem
,que a alma visível se enrosca,
,que as forças meiguinhas se tocam,
nuas nos poros molhados
,sem engano,
do corpo invisível cansado.
chamo-lhe imensidão
, refresco afinado à tensão,
sal dos dias contados
sem engano.
toque leve e bravio dos montes
, como se mãos que pegam em fontes,
som ouvido.
som cantado.
e com sol e com sal elas fecham-se assim
, esperma de mar que fundo afunda em mim,
as pernas da alma visível
que molhadas respiram - enfim.

quarta-feira, 30 de março de 2011

fruta, tremoços e flores

se gostasses, Homem, mesmo, mesmo, de fruta e de tremoços e de flores - comias tudo.

(e não deixavas as cascas nem os caroços. e as flores, nem as deixavas secar: mastigavas as pétalas suaves e guardavas o seu perfume. e os espinhos, Homem, haviam de ser cócegas, picadinhas gostosas, palmadinhas gostosas em ti.)

terça-feira, 29 de março de 2011

130kg de merda a quem os merece

assiste-se à maior crise de sempre. e não, não falo de crise económica nem tampouco da política - falo da crise de valores. esta gentalha não vale a ponta de um pintelho, e não é dos meus que são preciosos, e é por isso mesmo que não dá valor ao que e quem, de facto, o tem. um formador acabou de de ser excluído de uma equipa - após finalizar uma formação cuja avaliação foi boa - com o argumento de não ter uma boa imagem. penso: não se lavou e cheirava mal e levava maracoto no cabelo? os sapatos estavam rotos e viam-se as meias também rotas e o chulé passou de fininho? não lava os dentes nem vai ao dentista e quando falava tresandava um hálito a pato podre e os olhos fixaram-se, não no que estaria a dizer, mas no castanho da dentição? usa óculos e apareceu com eles colados a fitacola e as lentes levavam macacos que saltaram do nariz? tem uma pila tão grande que a levou aconchegada ao pescoço e dispensou o cachecol? 

não, não, não, não não. o senhor foi dispensado porque pesa 130kg.

 
(e se eu pesasse 130 kg e fosse dispensada do que quer que fosse, havia de cagar 130 kg de merda em cima de quem me dispensou. quero agitar as águas e vou descobrir quem é - contar-lhe a verdade, que não sabe, e fazê-lo cagar-se todo. literalmente.)

desBottonada

como diz Botton, a inveja funciona assim: se formos pequenos e vivermos entre pessoas da mesma altura, não somos atormentados por questões de tamanho; se houver alguém que cresça mais do que nós, sentimo-nos perturbados e surgem sentimentos de privação - mesmo o nosso tamanho não ter alterado um milímetro.

(ora bem, existem teorias reais que alimentam, bottonam, a realidade. serei desbottonada desde a nascença por nunca ter sentido vertigens Kunderianas?)

segunda-feira, 28 de março de 2011

púbisteiro

um azeiteiro é aquele para quem ser piolho - ladro é um elogio.

casamente

não, ele não tirou a aliança do dedo porque é um cabrão - mas porque está a ser sincero.

a arte sac(r)a

a arte sacra, em ouro ou prata, serve a liturgia. e a liturgia não passa de uma casquinha estética, um esconderijo, por ser precisamente uma obrigatoriedade pública. vai daí, não entendo muito bem porque ainda roubam carros no porto para assaltar, expeditos, ourivesarias em coimbra: não faltam igrejas, de norte a sul, de portas bem abertas.

domingo, 27 de março de 2011

vir? não: ir em pobreza

curiosamente, após ouvir falar em moteis, não percebo o fascínio das gentes, se algum dia for a um será para - a rir - fazer uma crónica, o dicionário diz assim: Hotel nas imediações dos grandes itinerários rodoviários e especialmente preparado para recolher e guardar as suas viaturas.
 agora vou ver o significado de viatura. já está:  Qualquer veículo para transporte de pessoas ou de coisas.

(já sei de onde vem o fascínio: o motel é fascinante para quem transporta sonhos, e os sonhos são sempre privados, frustrados e, por isso, faz questão - ao recolhê-los e guardá-los - de os deturpar em locais absolutamente públicos. os moteis são o parque de estacionamento rico dos sexos pobres.)

sábado, 26 de março de 2011

intestérebro

os panados podem, sim senhora, ser uma arma de arremesso ao sol quando alguém abre um recipiente com fêveras temperadas a cru.

quinta-feira, 24 de março de 2011

semi-nários

não sei bem se é muito bom sinal quando a única coisa interessante que se fica a pensar, em jeito de balanço, de um seminário é por que caralhos o recinto tem o nome de sala Henry Tillo. e pergunta-se e ninguém sabe responder. e pesquisa-se e quase não se encontra. quase. parece-me que já morreu e que foi presidente da Associação Portuguesa de Têxtil nos anos 90 (digo eu que tiro pelas entrelinhas do quase nada que fala sobre ele).

e se um orador se fixa em ti, talvez se encontre no sorriso tranquilo sei lá, também dá que pensar no que poderia ser feito se ele não o fizesse. será que não lhe passa pela cabeça que um cabelo enorme pode muito bem enroscar-se no riacho por entre os montes e que é urgente mexer-lhe? ou que um glúteo pode ter uma comichona - irritado pela posição de delonga? ou que a chicla verdinha pode querer respirar e com a boca fechada só dá amargar?

(chiça-penica que eu gosto mesmo é de totalnários)

tarte contempo

não, não existem desculpas para não tomar um pequeno almoço diferente em casa. e a falta de tempo? sem tempo é a desculpa mais sem culpa que pode haver. explico: levantar, libertar águas e polvinhos e lavar as mãos. de seguida, pegar na massa quebrada e estendê-la, no que estiver mais à mão, no tabuleiro ou na tarteira. vá, vai ligando a fornalha. entretanto, só precisas do leite condensado e de três ovos e de um limão ou de uma laranja (escolhe consoante estiveres a precisar da acidez masculina ou da doçura feminina) e faz assim: espreme e raspa-lhe a casca e mistura no leite condensado, assim como as gemas dos ovos porque as claras vais batê-las à parte. finalmente colocas a mistura no fundo e as claras por cima. enquanto metes no forno, vais lavar as pevides e vestir-te. este seria o tempo que levarias a engonhar. quando chegares à cozinha, a tarte estará pronta e só tens de acompanhar com chá ou café, ou com o que te apetecer, e com um sorriso rasgado.

(não é o tempo que é escasso - és tu que foges dele)

quarta-feira, 23 de março de 2011

terça-feira, 22 de março de 2011

pelo ouvido vive o peixe

torna-se impossível não sorrir perante determinados sons. acontece, tanta vez, sentir molenguice ou desânimo e lembrar um som e procurá-lo e fazê-lo ouvir-se e já está. não digo ficar em festa mas os olhos, como se os dentes ficassem à mostra, rasgam e a boca, como se estivesse a ver tudo, canta.

(se se diz que pela boca morre o peixe, então eu atrevo-me a dizer que é pelo ouvido que o gajo vive)

sábado, 19 de março de 2011

espera acaixonada

e lá estava ela, corpo a tremer de frio e mente a zimbrar de quente, imóvel de fronte para o caixão. e assim passou a noite quando, bem cedo, alguém que chega pergunta: mas afinal quem é, ninguém a conhece, e o que faz aqui tanto tempo seguido? quando o conheci ele disse-me: estou morto por te foder. e eu, nunca mais me cansei de esperar.

quinta-feira, 17 de março de 2011

o povo diz que se um morto comer uma azeitona com caroço, eu como sempre os caroços: será que ando antecipada?, antes de morrer, no local onde for enterrado nascerá uma bela oliveira.


(há que comer uma azeitona com caroço todos os dias? e se for de manhã, para prevenir, melhor?durante a madrugada não será jogar pelo seguro visto que o acordar pode não acontecer? antes do enterro, em situações de engolimento omissas, deverá enfiar-se uma, das pequeninas, pela goela abaixo? e se se for tipo supositório? não será mais fácil colocar uma, ou até duas, ou até duas uma de cada cor, imediatamente em cima do caixão? e se o morto for cremado será que o caroço arde tanto quanto o silicone? e se for assim, tudo isto, portugal baterá a produção de azeite como nunca visto e será esta a salvação para a balança da nação? às azeitonas, às azeitonas, que o caroço está a crescer; às azeitonas, às azeitonas, deixem as gentes morrer. : e se o refrão do hino mudasse?)

quarta-feira, 16 de março de 2011

pé de feijão

ouvir uma história do arco da velha pode ser o início para uma fantasia de pé de feijão.

(pode ser que um dias destes um feijão manteiga germine dentro de mim e venha desaguar nos ouvidos. e, depois, puxo e abana tudo cá dentro e, antes disso, digo: segurem-se bem - aos que estiverem a lanchar pendurados na árvore)

a munda

o mundo, o mundo no feminino, divide-se em duas partes completamente assimétricas: a parte maior, gigante, onde cabem as mulheres domesticáveis e a menor, em fimbriado, onde cabem as simplesmente amáveis: as mundas.


terça-feira, 15 de março de 2011

acoplar, dizem elas

no início eram as baratas, depois o homem, ou o homem e depois as baratas, já desde as cavernas, e depois tornou-se impossível umas coexistirem sem os outros. na verdade, o que de comum têm baratas e homens e  homens e baratas é a real capacidade de adaptação ao meio.

na verdade, e sempre na verdade porque não minto, a única diferença entre os homens e as baratas é o facto destas últimas nascerem com um par de cercos, nada que lhes seja imposto, com uma função verdadeiramente útil e nobre: olfactar, por um lado, e de serem capazes de sobreviver a um desastre nuclear, ao invés do homem, por outro. de resto, nem ao albinismo escapam.

acoplar, dizem elas sempre em tentativa de amizade; despegar, dizem eles sempre em tentativa de rejeitar a semelhança e provocar afastamento.

(não sei porquê: as baratas, prefiro chamar-lhes carochas, carochinhas, são de trazer por casa)



segunda-feira, 14 de março de 2011

néscisar, não: cavalgar

chamar burro, enredo por entre buzinas agressivas e filas cerradas, a um condutor pode ser, nos dias que correm, uma alta motivação para descarregamento de fúrias e frustrações: facadas e tiros. mas se lhe chamares néscio, dás-lhe tempo para ele só descobrir o seu significado quando chegar a casa ou ao dicionário mais próximo. e fica tudo, como deve ser, esclarecido e tranquilo, sobre rodas.

domingo, 13 de março de 2011

reinvento

dizem que não há sábado sem sol nem domingo sem missa nem segunda sem preguiça. não pode ser antes não há sol sem sábado nem domingo sem assado nem segunda sem pecado? é que eu também adoro a chuva e comida boa e dias certos pintados de incerto.

não, não me parece que exista talento em estado gasoso: ai que alento

sábado, 12 de março de 2011

questionpeare

tenho a certeza absoluta, fonte seguríssima intuitiva, que o meu querido Shakespeare, olhar debruçado sobre a geração à rasca, a nossa, a nossa salvo-seja que eu sou desenrascada, escreveria assim:

two beers or not two beers: that's the question.



sexta-feira, 11 de março de 2011

deixa a possessividade e não lhe chames crise

os portugueses drogam-se de possessividade todos os santos,  não fosse o nosso rabinho da Europa um país de católicos, dias: querem uma casa comprada, ainda que demorem trinta anos a pagá-la e que essa mesma casa valha, em juros, três vezes mais, para ser deles; querem ter um carro novo e giro - já não se vê gente com carros do tempo da mariacachucha: português que é português tem de ter "uma máquina" para ir lavar e aspirar ao domingo nem que para isso se individe até à ponta.

nunca se viu tantos casais desesperados por um T3 novo, a aguardarem a melhor altura, e a adiarem a alegria porque vivem crentes que a alegria não se aluga: compra-se. e são estes casais que, sem poesia, entre uma e outra queca falam assim: só a Polónia tem mais contratados a prazo do que Portugal, é a crise, e ainda bem que a Grécia rebentou senão passava-nos as palhetas, que crise.

(tu não me chames portuguesa se também te disseres, enquanto estiveres a lavar a viatura ou a mandar a pêra, português. antes disso, deixa a possessividade e não lhe chames crise.)

pega lá disto e mexe-te:


quinta-feira, 10 de março de 2011

mundisia

poesia por todo o lado, que maravilha, porque a poesia é como o leite que sai da teta. não, não é ilusionismo, tampouco lunatismo: a poesia é força, é vida, é saúde; a poesia pode e tem de ser a vida real.

(manifestem-se contra as infecções, que são as únicas possíveis, filhos de uma teta sem leite)