quarta-feira, 10 de abril de 2013

a propósito de uma notícia

que raio de máquina pode entrar em uma cozinha sem ser para lavar a roupa, ou a louça, refrescar ou congelar, fazer os sólidos passarem a líquidos ou até aquecer rapidamente? é uma pergunta estúpida na modernidade, eu sei, visto que são poucos os que vêm, e fazem, da cozinha um encanto. cada vez mais a repulsa pelas cebolas e pelo peixe a amanhar é maior - será, até, uma questão de imperialismo das mãos e do cérebro relativamente aos tachos e às facas e às miudezas de perícia, um caminho interdito à inteligência. 

e as mulheres são as primeiras a saírem para a rua a reclamarem pré-cozinhados e já-confeccionados e, imagine-se, a tal máquina, o raio da máquina que se chama bimby. bimby, veja-se lá isto, o caralho da máquina chama-se bimby, podia ter sido bambi - tamanha a ternura que inspira às mãos e cérebros imperialistas de facilidade e rapidez -, mas é bimby. e é vê-las gaiteiras e orgulhosas da criada rápida e eficiente: duas colheres disto, um vaso cheio daquilo e depois quando estiver apita. uma miséria de cuspir mesmo no prato onde de seguida os vão, os resquícios da bimby,  comer. tudo se perde nessas cozinhas: perde-se a alquimia, a criatividade, o cheiro, o talento dos dedos. perde-se a magia que é transformar e recriar. perde-se, enfim, a sedução dos alimentos que querem, sim, ser seduzidos. perde-se tudo - até a vergonha de se ser incapaz de assumir que as mãos e os cérebros imperialistas de facilidade e rapidez são bimbys: uma colher certa disto e mais outra daquilo só pode mesmo resultar nisto.

valha-nos a música que é para beber até esquecer.



há que tempos

não ouvia isto



e decidi, simplesmente porque sim, substituir sempre a expressão sou toda ouvidos por sou um orelhão.

seca e dura

olha lá, a gripe aviária não anda a pôr-te os olhos em bico?

risota pegada

César das Neves saiu do armário

faladuras



de repente, aquela lembrança, aquele paranço naquele momento, aquele movimento de ir - imagino sempre o ir para trás como a rebobinagem do VHS, com os barulhos e tudo -, e ficar. e depois de sair para os moinhos se moverem, arregaçar as mangas e meter as mãos na massa. desta vez é para fazer uma torcidinha bem comprida, fôfa e crocante ao mesmo tempo, que os tempos a isso convidam: desta vez acabam-se os papos secos, qu'isso não é daqui é de lá, e fazem-se tenras regueifas húmidas e vitaminadas e a fumegar.

terça-feira, 9 de abril de 2013

apolíneo

tarde de chuva é península inteira a chorar, cantavam eles - e ainda cantam -, e bem. penso que é mesmo para isso que as canções servem: para nos remeterem para lugares ou sítios, parecem iguais mas são apenas semelhantes porque o sítio pode ficar em um lugar mas o lugar nunca tem sítio, da emoção. e é por isso que a emoção é, não apenas um reino - sequer um mundo - um universo repleto de inteirice. só me vem à cabeça chamar a este universo de apolíneo, tamanha a beleza das emoções - boas ou más, apenas emoções. acabo, inclusive, de descobrir uma definição de vida: viver é sentir emoção. ou de morte: morrer é deixar de sentir emoção. e a adrenalina? a adrenalina, prima postiça e muito afastada da emoção, é o cérebro zangado - e invejoso, o ego pastichado de mulher - a querer fazer parte do universo. 
mas o que é seu a seu dono.





segunda-feira, 8 de abril de 2013

o nome da rosa



ter a rosa, conceito universal e particular, no nome é fantástico. e é fantástico porque começa logo por levantar a célebre questão: os conceitos são reais ou apenas palavras? realismo, existência objectiva, conceitualismo, representações intelectuais, ou, pura emissão fonética, nominalismo?

Umberto Eco, no romance, relembra precisamente a problemática entre o que é essencial, existência única na realidade - e por isso mortal, passageira e transitória -, e universal enquanto conceito imortal, eterno e imutável. ora está-se mesmo a ver que no meio de tanta contradição, como teia de delícia da descoberta, o nome da rosa dado a alguém merece destaque: é que do universal para o particular apanha-se a imortalidade mortal do eterno que é passageiro e também imutável na sua essência. complicado? não, nadinha, são simplesmente assim as teias - por isso é que apenas as aranhas as sabem, e conseguem fazer.

os nomes têm sempre uma narrativa por dentro dos nossos, e aos dos outros, olhos. e é por isso que é preciso parar para pensar no que eles sempre nos contam e sugerem: navegar nos nomes é preciso.

a opinião da Olinda

há mais marés do que marinheiros, ouve-se dizer. ou que o último a rir, ri melhor. mas agora será oportuno reinventar os dizeres: há mais péssimos comentários do que comentadores. e o último - que foi primeiro - a comentar, comenta melhor.

domingo, 7 de abril de 2013

não perder



o dicionário da Idade Média, Jorge Zahar Editor. mais do que ninho de trevas, Idade Média, berço da modernidade.

e isto liga com isto.

sábado, 6 de abril de 2013

chocada, diz ela

pede-lhe que saia de casa porque quer estar, estar é zimbrar; saltar à espinha; coçar a micose das pudendas, com a namorada. mas não é assim um pedido directo nem informal nem corado - não. é daqueles pedidos mascarados de ordem, a pretexto de falta de percebas dela, de palavras mal amanhadas que soaram mal. vamos lá ver, não soaram mal pela resolução do assunto em questão - não. soaram mal por serem contornionistas e secas e vestidas do que se quer nu. e ela ficou chocada, pois claro, arranjou-se à pressa e ligou a um punhado de amigas a ver se estavam disponíveis para almoçar - não esquecer que o sábado de manhã é aquele dia em que as esposas e as mães convencionais limpam as casas e mandam os maridos arrumar as garagens ou fazer puzzles com os filhos - e não estavam. depois lá uma se afeiçoou ao choque dela e a recolheu para umas boas horas de frete - frete porque não é fácil andar de aspirador na mão ao mesmo tempo que prestar atenção. e depois, já de tarde, quando chegou a casa viu a persiana fechada e resolveu aguardar à porta, na rua, expectante por algum sinal que lhe indicasse se o momento para entrar em sua casa seria oportuno. entretanto, desde a manhã até quase ao final do dia, houve cinema forçado, visita forçada a uma amiga e desfolhar forçado de livros. houve, enfim, uma vontade enorme, imensa, de que tudo fosse como antes: como era antes de não ser dona do seu nariz. 
chocada, diz ela. ela que, afinal, sou eu.

duas versões

está um sol magnífico e hei-de sussurrar-te ao ouvido para me cheirares como um cão.
está um sol magnífico e hei-de cheirar-te como uma cadela.


sexta-feira, 5 de abril de 2013

flash romântico

o miúdo, que apreciava enquanto esperava, tinha um apito de madeira. lembrei-me, entretanto, de um pequeno filme: o menino já era um homem e, apaixonado, soprou no apito de madeira, a madeira que absorve tudo inclusivé a saliva, e enviou-lhe como presente com o seguinte bilhete:

toma-o, meu amor, em teus lábios de seda e sente-o como meu - já que está carregado de beijos.

o teste da linguagem dos excrementos e das perguntas em manada

percebermos, em um primeiro contacto, qual é a tolerância de alguém a nós é bom. muito bom: dá-nos uma espécie de bola de cristal da hora ou do dia seguinte. não é que eu não goste do mistério e da descoberta, gosto muito, mas há um pequeno teste que só as pessoas, homens ou  mulheres especiais - as que valem a pena - conseguem passar. e a isso ninguém que me aborda escapa.

quinta-feira, 4 de abril de 2013


ó Relvas, ó Relvas

demissão à vista. adiantou-se.

acontece

é um carreiro, um potencial caminho das cabras - digo potencial porque nunca lá vi uma -, de largura não mais que dois metros, pedras estendidas - e emmusgadas, palavra inventada agora - ao sol e ao que o tempo quer, onde me sento quase todos os dias aquando do passeio da deusa. e é lá, por entre formigas frenéticas e flores despenteadas e bichesas frágeis, que descanso o cansaço dos dias de doença e afazeres de enfermeira postiça e de filha legítima, lá e aqui, que desfaço tristezas e trituro amarguras. mas nem todos os dias são dias - há uns e outros que de tão pequenina me sentir a alegria não cabe no entrar. acontece. e não a forço, a alegria é livre.

mixórdia

aos cães, a maldade chega-lhes pelo nariz: quando uma pessoa é ruim, eles nem lhe chegam, ficam de longe a mirar e a pensar que vá para longe, nem um ladrar desperdiçam, como são sábios os cães. e foi uma boa opção, a de quebrar a resistência, a de aderir ao LinkedIn: trata-se, de facto, de coisa séria e respeitável e cheia de bom gosto e ainda só me deu nos nervos ao de leve, coisa pouca, o que quer dizer que veio para ficar. além disso, vê-se mesmo bem quando um concurso público possui credibilidade: os documentos são entregues em carta fechada e fornecem o respectivo comprovativo de entrega. não é como foi com os outros azeiteiros que me fizeram percorrer quatrocentos quilómetros para me excluirem, invejosos, merdosos e pestilentos, lazareto d'abrigo.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

de papo cheio aos papos a encher

apreciar como e o que as pessoas comem pode ser um exercício fascinante para depurar características da raça humana - o que, de resto, só poderá acontecer, com a devida isenção, se se tiver o estômago já forradinho.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

alfazema ou mofo

há três meses, contentamento, excluiram-me, lágrimas e senão, sem razão. ou talvez não. talvez soubessem, os deuses, que por cá havia de abrir uma gaveta para mim. ou talvez eu precise tanto dela, da gaveta, e seja por isso que decidi pensar assim. o problema é que decidir pensar em gavetas tem tanto de alfazema como de mofo.
a insónia é inimiga do dia.

domingo, 31 de março de 2013

dar o pito

é a segunda vez esta semana que leio a expressão dar o pito, que já não ouvia há muito tempo, e achei piada. bem analisada, dar e pito, permitem-me concluir tratar-se de um engano de utilização. palavras usadas em tom de escárnio e graçola que pretendem designar oferenda por tudo e por quase nada merecem atenção e fino destaque em próximas utilizações: recomendo. ora dar é, não atitude gratuita de peso de apesar de não ser inteiro é parcial e o que interessa é o menos mal, algo de imensamente grande e generoso e com uma confiança e intimidade enormes por dentro. mais: dar pressupõe entrega, aquela rendição, o maior elogio, ao outro - o que deve acontecer muitas vezes mas não com muitos ou perde-se a essência da coisa que coisa sem essência é simplesmente nada. e o pito, ai o pito, o pito, esse calão divertido de se ouvir e dizer, é a alma do corpo da mulher, a fruta sumarenta que sacia a sede. dar o pito é, então, convençam-se, uma coisa nobre, nobríssima, e é por isso que deve ser dita, ou escrita, com uma coroa dourada por dentro.

sexta-feira, 29 de março de 2013

dica esperta

sabias que se esfregares os dentes, de quinze em quinze dias, com bicarbonato de sódio este funciona como branqueador? ah pois é - não serve apenas para retirar as manchas dos tecidos e das louças nem para desentupir canos nem para combater a acidez se ingerido antes das refeições, nem para acabar com os odores do frigorífico, nem para tirar cheiros das carpetes nem para livrar as baterias dos carros da corrosão.

não podes deixar de apreciar

 um realismo familiar e europeu

ao negro e ao nada

um passado de traição nunca perde actualidade

alho-de nápoles

?ossi marezif sele euq é omoC

José Sócrates no reino da estupidez

 a grande felicidade

música contemporânea

a posta numa alternativa biruta

coisas privadas

i am a camera

Thomas em Brooklands School ou a floresta na cidade

a sala de cinema é um antro de vício

da narrativa e da guerra das trincheiras

vamos lá ver se passarei a ser persona non grata no núcleo duro da brigada anti-narrativa.

ai cio polícia fosse vivo

ouvir dizer que uma mulher atrapalhada é pior que um polícia vivo deve ter o que se lhe diga, ainda por cima vindo de uma senhora idosa. só não sei bem qual será a teoria dela visto que o disse em um cemitério, esgar de riso, ao ver-me encher um balde com água enquanto apanhava um molho de flores que terá deixado cair no meio de tanta chuva. geralmente as velhas assanhadas, não é que goste muito de utilizar a palavra velho para me referir a gente mas neste caso não quero fazer sobressair a idade mas a usura que lhe descobri no olhar, como aquela, quando dizem uma coisa assim, ou seja, quando vão para os cemitérios ou igrejas aguardarem por uma alminha que se lhes afigure digna dos seus desabafos acerca dos falecidos, será porque andam com o cio, cio mascarado de roxosidades em véspera de sexta-feira santa. então disse-lhe assim:

cio coveiro aparecer pode ser que a ajude. ou então cio senhor que anda a desentupir os ralos por conta da chuva aparecer, diga-lhe do que precisa.

e ela, com a tal usura no olhar, descaindo-se da profissão do marido que foi mesmo polícia, lá se foi calando ao ritmo dos meus "pois, de facto, faz bem".  de uma coisa eu sei: antes o polícia estivesse vivo para afinfar a velha do cio. é que se assim fosse nem ela estaria ali naquele dia e naquela hora e nem eu demorava o dobro do tempo nos afazeres.

sugestão para quem gostar. e puder ir.


Luís Miguel Fontes, Contratenor, tem o prazer de o (a) convidar para os seus recitais de Páscoa 2013.
 
   Hotel Infante Sagres, sexta-feira dia 29 de março pelas 21h30
       PRAÇA D. FILIPA DE LENCASTRE, 62 | 4050-259 PORTO | PORTUGAL 
 
 
     Acompanhado a piano por Jairo Grossi 
  
     Canções: De Henry Purcell e Benjamin Britten  
     Árias: De A. Vivaldi e J. S. Bach
 
 
 
   Palace Hotel do Bussaco, sábado dia 30 de Março pelas 21h30
       MATA DO BUSSACO, 3050-261 | LUSO
 
      Acompanhado a Piano e Harpa por João Carlos Soares 
 
     piano -  Henry Purcell e Árias de A. Vivaldi
     Harpa - canções do Cancioneiro Portugês e Espanhol de entre os Séculos XIII/XVI
 
  
Obrigado.

fantasia frustrada

na sala de espera do hospital, ontem, uma criança para a outra:

clarinha, clarinha, queres vir comigo à casa de banho?
clarinha, clarinha, queres vir comigo à casa de banho?
clarinha, clarinha, queres vir comigo à casa de banho?

(repetir aí mais umas trinta e cinco vezes seguidas para sentir o verdadeiro efeito)

na mesma sala do hospital, ontem, uma criança que há em mim para outra criança que há em mim. em silêncio:

porquê que não se metem as duas dentro da retrete à espera que venha um cagalhão colorido armado em chupa-chupa fazer-vos felizes e caladas?

(repeti aí umas cinquenta vezes. é que a iteração por vezes torna a fantasia real o que, lamentavelmente, não aconteceu)

quinta-feira, 28 de março de 2013

mixórdia

se eu tivesse um campo com couves aproveitava, não apenas as couves, tudo: deixava umas e outras ganharem flor e depois colhia-as para meter nas jarras pela casa e na campa. são de um branco pálido com uma leve manchinha amarela, as flores das couves, que lhes dá viço e alegria e têm a perna longa, são esticadinhas em forma de sino. e se eu tivesse um pouco menos de bondade e de paciência fazia exactamente o contrário das couves: não deixava nascer a flor e fazia a minha mala, aquela quadriculada de bege e castanho e vermelho sangue de boi, fugia para longe, abandonava a vida dos outros para ir em busca da minha, fugia de dentro para fora. assim não, assim só posso fugir de dentro para dentro. valha-me a outra senhora, ai que riso, uma qualquer que não conheço, que se cruzou connosco na rua e parou a pôr-lhe a mão e o os olhos e o sorriso em cima, elogios a dançar no ar mesmo diante dela, dela que é a minha cadela, e depois disse: sabe, é que eu sou louca por gatos.

bem-vindo, Sócrates.

pouco me interessaram as palavras: fixei-me na narrativa dos olhares e das vozes e das posturas. e quem não viu o que eu vi, que foi um homem a querer justiça pela consciência do povo, não vê nada - antes anda com duas palas como os burros que são obrigados a puxar carroça.e adorei a repetição da palavra narrativa, sim, talvez agora o povo a fixe, e lhe saiba o significado, para depois, então, lhe encontrar o sabor.

quarta-feira, 27 de março de 2013

make me wine

a propósito deste belíssimo texto lembrei-me de reforçar a ideia, escrever é sempre reforçar pensamentos, de que o que não se desenvolve com naturalidade, o que não anda, é porque não é para nós.

ai que triste é viver em um mundo assim, em alexitimia, Esther!

não obstante o interesse e a importância da política, há um pequeno grande pormenor que a desvirtua: os apaixonados, mais obcecados, que dela fazem o seu respirar, alimentam ódios de estimação e propagando-os - lançando-os na viralidade - exaltam a felicidade da paixão como se a paixão de um grande amor fosse feito de grandes coisas, abstractas, e não de poesia de horas e de dias e, enfim, de uma vida. a política, quando sentida como uma amante, é uma ofuscadora da verdadeira importância da vida que reside na ausência de alexitimia, essa coisa brava que possuem as pessoas(?) emocionalmente surdas.

confusos a respeito dos seus próprios sentimentos, os alexitímicos ficam igualmente desnorteados quando as outras pessoas lhes falam dos seus sendo esta incapacidade de registo de sentimentos fortíssimo indício de défice de inteligência. chama-se empatia às raízes da solicitude que nascem da sintonia emocional e da capacidade, e habilidade, de sentir e expressar emoções. note-se que a ausência de empatia revela-se nos psicopatas, violadores, pedófilos e também nos político-maníacos (acrescento).

e porque raramente as emoções, na sua completude, conseguem ser traduzidas por palavras e sendo a palavra o registo mais forte dos políticos e dos político-maníacos, chega a conclusão de que a chave para intuir os sentimentos dos outros, depois dos seus, está em canais não-verbais: no gesto, no tom da voz, na expressão facial, na postura, enfim, na beleza que os sentidos permitem sentir para depois, e só depois, serem regados, e eventualmente enriquecidos, a palavras.

e vem isto a propósito deste artigo e da forma como as pessoas vivem a política e das pontes que fazem quando passam de um tema tão vasto e aliciante como a sociologia e psicologia, variantes da educação, para a verdadeira miséria humana que é injectar veneno gratuito nas cabeças que, de tão ressacadas de alegria e amestradas a raiva, conseguirem apanhar. ai que triste é viver em um mundo assim, de alexitimia, Esther!


terça-feira, 26 de março de 2013

olhos de lince que se cruzam

estes com estes e com estoutros.

(des)consolo

sempre que nos dizem que um dia a vida nos há-de sorrir é uma tristeza do caralho.

as estrias são rugas

a capacidade de nos surpreendermos, mesmo antes de conseguirmos surpreender os outros - muitas vezes nem sequer sabemos se o fazemos porque os outros fazem questão de não nos deixarem saber -, e de os outros nos surpreenderem, é surpreendente. é precisamente no oposto do uso de derivações da mesma palavra que consiste a surpresa: inesperadamente, ou não, conseguimos, tentando ou não, aquilo que, sabendo ou não, nos faz sentir bem. e mal também. a surpresa é assim uma espécie de destino não predestinado. mas espera lá, isso significa uma capacidade imensamente elástica de adaptação que precede a aceitação. pois. exacto. nunca sabemos é se conseguimos esticar e olha, que grande surpresa: esticou e não rebentou. há, porém, uma grande probabilidade de aparecerem estrias, as estrias da surpresa, que ficam bem marcadas, sabes? pois. mas se conseguires ver nas estrias as rugas, não do tempo, do mistério, terás uma surpresa. ui, e é mesmo isso, que grande surpresa, acabaste de me surpreender.

segunda-feira, 25 de março de 2013

zetética da perversão

a taxa de natalidade está a diminuir. e o trabalho sexual está a aumentar. se considerarmos a procriação como um indicador de amor, também pelo sexo, podemos concluir que a crise anda a foder o amor em anal ao mesmo tempo que deixa as pernas bem abertas, de frente, para o sexo vadio e roto. a crise é uma puta zetética da perversão.

domingo, 24 de março de 2013

a murro de vontade

mas de onde terá surgido a convicção de que as batatas a murro assim se designam pelo pormenor agressivo, apertadelas de esmaganço, da sua confecção? nada disso. as verdadeiras batatas a murro são aquelas que, de tão deliciosas, provocam uma onda de murros mentais, a ver quem come a última, na mesa.

sábado, 23 de março de 2013

ssssssssssssssssss

a opressão difere da repressão mesmo ali, estás a ver, naquele ponto em que a primeira é uma manifestação de privação vital e a segunda uma privação de vital manifestação. sim, eu sei, é uma grande pressão - até nas palavras.

sexta-feira, 22 de março de 2013

dica esperta

olha lá, porquê que não fazes o teu gloss em casa? não tens morangos no frigorífico nem um bocadinho de beterraba? tens? então faz assim: corta em pedacinhos e esmaga muito bem e rega com meia colher de bom azeite - vais acrescentando pedaços à papa até ficar consistente. e depois mete em um boião, daqueles que servem para meter na mala de viagem, e deixa no frigorífico a ganhar consistência.

experimenta e vais ver que não queres outro. isto até merece uma cantiga.


cobras

mais uma semana como esta e a cobra cuspideira poderá ter-me ao jantar: ofereço-me.

ó meninã, fuja daí qu'ainda onte matei uma cobra e a outra foi para aí mesmo onde está agora.
e eram grandes as cobras?
não muito mas estou-lhe dizendo para sair daí, não tem medo, não?
não. acha que que eu caibo dentro dela inteirinha?
ó menina, olhe que não estou brincando, saia daí, são venenosas.
oh deixe lá isso, elas terão mais o que fazer do que quererem-me, mas obrigada por avisar.

néctar da inteligência

sobre José Sócrates como, já está quase, comentador: aqui e aqui.

sobre o que é ser, poesia em bicos de olhos e de ouvidos e de dedos, músico. é só ir lá.

quarta-feira, 20 de março de 2013

dupla de portugueses vence projecto relativo ao tema "Animals" dos Muse

ver e ouvir e ler aqui.

a carta. já!

ontem recebi uma carta carregada de notícias más. abri, li e pousei-a. deitei o envelope fora por não gostar de envelopes que não estejam inteiros. fiquei nervosa, até porque é necessária uma resposta desagradável também mas que tem mesmo de ser. hoje a carta, como se nunca tivesse existido, desapareceu. se foi obra do além para me mostrar que as coisas más são para fazer desaparecer, eu agradeço. muito. mas preciso da puta da carta para responder à entidade incompetente, não posso - nem quero - passar por ovelha do rebanho dos cretinos.

língua atrevida posta a calar

cabelos branquinhos, pele morena, vivacidade contagiante, olha-a fixamente nos olhos e depois pergunta-lhe: não tira o casaco? não, estou com uma camisa chegada ao corpo, apenas. e as palavras inocentes dela pareceram incendiar-lhe a imaginação, sentiu ela, quando durante toda a consulta ao pai, cuja conversa fez descobrir a mesma idade e os meus sítios onde jogaram à bola, irrequieto continuou a insistir para que tirasse o casaco. mas os instintos atrevidos não deveriam sair para o trabalho de consultar doentes - os instintos atrevidos deveriam ficar em casa a amarem a mulher que a aliança escolheu e que, com toda a certeza já não ama, só atura. ou então, na necessidade de irem trabalhar, os instintos atrevidos deveriam ser conscientemente travados - porque ela, e o que interessa é ela, não gostou. não gostou principalmente por não poder, língua atrevida posta a calar, o coração do pai não pode pagar, pôr o médico no sítio dele com uma resposta à maneira.

olha que bom gosto

do Bruno Almeida: primeiro por vir aqui comentar e depois por trazer isto:


terça-feira, 19 de março de 2013

olha que delícia


na aurora

e ela, ainda em pijama - vir cá fora em pijama é uma delícia porque mostra uma intimidade, com a vida e com ele, despojada de vaidade reles, já que o amor recomeça depois de se levantar da cama e se deitar o sexo -, veio abrir-lhe o portão, daqueles portões à antiga que dão trabalho e precisam de duas mãozinhas, para ele sair. e ele, do lado de dentro, abraçou-a e beijou-a e foi. ela ficou, talvez não tenha para onde ir ou simplesmente prefira ficar a vê-lo a ir e a vir, a sorrir. não posso saber, obviamente, mas tenho a impressão que um dia destes, talvez ao fim de semana, verei ele - sendo beijado e abraçado no ficar - com o mesmo sorriso e abraço no ir dela. enfim, um casal em cheio. aliás, isto remete-me para uma das grandes lacunas da lenga-lenga: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença e também, entre outras que agora não vêm ao caso, na aurora e no crepúsculo.

segunda-feira, 18 de março de 2013

twoo merdinha seca ou twoo que disparate

foda-se, puta que pariu, que merda é esta de andarem a adicionar o meu email ao Twoo que todos os dias recebo convites?? que caralhos passa pelos cornos destes gajos em acharem que algum dia, na cabrona da minha vida, iria fazer parte de algum tipo de rede deste calibre de pesca??
pronto, está cagado. agora podem passar para a threee.

(agora a versão fina)

caramba, que chatice, por que raios andam a adicionar o meu email ao Twoo que todos os dias recebo convites? o que passa pela cabecinha de alfinete dos rapazes em acharem que algum dia, na minha vida tão gorda de mistérios , iria fazer parte de algum tipo de rede de conhecimentos genitais??
pronto, está desabafado. agora podem passar para a threee.

spectacle

informação fresquinha disponibilizada pelo JotaPêdaCosta.

risadas a solo que engolem a densidade dos dias

tenho de encomendar o cabrito, dizia a senhora, vou à Póvoa de Lanhoso - lá é que são bons. e são pequeninos, não são...como se diz...

minha senhora, desculpe intrometer-me na conversa mas é impossível não ouvir: pequeninos são cabritos e se forem grandes são cabrões.

(a cara de tacho da senhora, entretanto, quase que dava para meter um cabrito inteiro dentro)

silvas

tive mesmo de ir apalpá-las, atravessar o caminho terroso, silêncio que se acaba por debaixo dos pés, para fazer coincidir os olhos com as mãos: é a maneira como se apresentam, tenras, brilhantes, lisas, sem resquício de erosão de sol ou de vento, só de chuva, como se estivessem molhadas de borrifadas, como fazem as floristas, tamanha a perfeição que até esqueci que as silvas, ai!, picam.

domingo, 17 de março de 2013

imperdível

o feitiço do pensamento mágico

pequena história

nasceu apenas para ver, e fazer, viver. e embora soubesse que era muito sabia-lhe a muito pouco. esperava que um dia se cansasse de ver e fazer viver para finalmente, no que lhe estava desde sempre interdito, agarrar no verbo e meter-se por dentro dele. um dia nunca o cansaço lhe chegou e sentia estranheza, deslocação, não-pertença. mas era, não a vida, simplesmente a sua vida. e isso fazia toda a diefrença: afinal tinha algo de absoluta pertença que era um pronome possessivo no feminino singular, uma pequena maravilha.

renasce, Quino.

.

- = +

quando o menos é, sem dúvida, mais.

sábado, 16 de março de 2013

cidadania e deficiência

2013 é o ano da cidadania, parece ironia, e o país - à semelhança daquilo que os deficientes motores encontram diariamente - transformou-se em uma valente barreira arquitectónica. ora um deficiente não é mais do que uma pessoa comum com algumas limitações funcionais. e o que somos todos nós, a não ser deficientes que ora não conseguem trabalhar ou honrar compromissos pessoais e sociais, senão deficientes? e o país, esse local por agora meio indefinido, não é aquele que nos coloca entraves à mobilidade funcional? rampa, é isso, portugal precisa de ser uma rampa.

excelente

isto + isto + roupa?

sexta-feira, 15 de março de 2013

telefone

o telefone irrita-me profundamente: farta-se de tocar quando eu estou sem tempo sequer para me coçar. e nem o ouço. depois lembro-me que ele existe e vejo, sem ter ouvido, que esteve a funcionar. e já não vou a tempo: quem quiser que ligue outra vez - ou então que pensem que morri.

quinta-feira, 14 de março de 2013

mulher.

(foto apreciada e trazida daqui)


seiva que teima
coração que escalda
paixão qu'é alma
amigamanteemãe. diga, o que quer?
é mulher. pum. flor de lis.
(ja disse tudo e não se retira o que diz a quem diz)



tum-tumtum-tum-tumtum-tum

a senhora teve um ataque cardíaco, tanta tragédia junta esgota, a este princípio do ano chamo-lhe coração, e morreu. sim, é verdade. ela não morreu d'amores mas morreu do coração, que estranho, pensar que os corações não batem para sempre. agitação, confusão, tristeza, irritação: mas eu tenho de irrigar o meu coração que bate como um amansador de bifes, parece que dispara, e dispara, com ganas de ser. e de estar.



terça-feira, 12 de março de 2013

culinárioterapia





- 1 colher de sopa de manteiga;
- 2 latas de leite condensado;
- 1chávena de chá de chocolate granulado;
- 4 colheres de sopa de chocolate em pó.

em uma panela junta o leite condensado, a manteiga e o chocolate em pó. mistura bem até incorporar tudo. leva a lume brando, mexendo sempre, e quando a massa começar a desprender-se do fundo da panela (o tempo varia de acordo com a panela) passa-a  para um prato untado com manteiga e deixa arrefecer. unta as mãos com manteiga, consola-te a apalpar a gordura, e enrola os brigadeiros, passando-os no granulado. coloca-os no carinho das forminhas de papel.

chocolate da história: come brigadeiro, doce não pode ser mais, qu'é gostoso e é inteiro.

lua sentada


(fotografia apreciada e trazida daqui)

soltam-se as vozes, assobios escondidos no tempo a ficar, d'apregoar o sol que caiu e partiu ou a lua que julgam caducar. gosta menina? se gosto!, coisa linda! então nem precisa correr: está aqui sentada, pode apanhar.

segunda-feira, 11 de março de 2013

quando deus se revelou um idiota

e deus, cansado dos disparates na terra, desceu em tronco nu e de chinelas, espreguiçando-se: já não vos disse que cada um tem o que merece? agora tu, vá, apontando-me o dedo, tu vais novamente para o fim da fila. surpreendido com a falta do meu esgar surpreso pegou no jipe e veio até mim: então tu não estás triste? não. se não me dás valor é porque não és para mim e logo não te mereço e isso significa, como dizes, apesar de confuso, que tenho o que mereço. coçando aquele pedaço saliente que tem, de tanto ouvir, atrás da orelha, furioso, concordou : só porque percebeste o esquema da coisa, sua atrevidolas, vais avançar duas filas para trás. sim, concordei, também prefiro o buda.

domingo, 10 de março de 2013

peixe

"o que o homem tem do pássaro é inveja. saudade é o que o peixe sente da nuvem"
(Mia Couto)



sentado a pensar, talvez enquanto se libertava - porque o querer é sempre libertação -, começou a fazer desenhos na terra: primeiro com o dedo e depois com o ramo de ponta afiada qe estava mesmo ali ao lado. saiu-lhe uma linha torta e depois outra e depois a linha fechou-se redonda. começou, então, a imaginar como seria bom conseguir meter-se por dentro dela ao mesmo tempo que desejava que ela fosse, para servir assim os seus intentos, por fora dele . tornou-se mesquinho naquilo da linha fechada e logo arranjou maneira suficiente para lhe dar corpo e resistência. e depois, desconsolado com o seu consolo da linha fechada, olhou o céu que se desenhava sem linhas e apenas por contornos instáveis e disformes, sempre em movimento, não lhe apreciando a beleza mas apenas cobiçando-lhe a pertença, quis ser um pássaro. 

um dia o homem morreu. o céu e um peixe foi o que restou.

sábado, 9 de março de 2013

e tu, já provaste WC pato?

embalagem em uma mão, correria para destapar o feijoada nos pés, e o telefone que começa a tocar em outra só podia dar nisto: nisto de segurar tranquilamente no telefone e atender a chamada com a embalagem cuja extremidade superior desembarcou na boca quando disse sim?. a questão é que provei o detergente, entretanto do outro lado alguém se fartou de esperar que a não tranquila de mexesse, e sabe a chicla de mentol. sabe bem e mal não deve fazer.

zimbrar

saímos à rua e dois cães dirigem-se para ela convencidos do truca-truca garantido. ela olha-os aos dois e depois, um a um, cheira-os e olha-me a dar-me sinal de pira: socorro!, vamos pastar o campo de malmequeres, rápido, que querem estes?, o cheiro nada me diz! inhaaaccc! e corremos ambas na direcção oposta à do truca-truca dos dois cães-gajos que se nos atravessaram à frente.

a propósito do truca-truca - no minho, lá para os lados dos acos de valdevez, diz-se zimbrar com a naturalidade que é típica daquelas gentes. passei lá boas temporadas em casa dos Ventura, pais de uma grande amiga. e quando o irmão de noite saía dizia-lhe a mãe, mais séria, e o pai cheio de brilho na boca: se vais zimbrar vê lá se não chegas de manhã. e no almoço do dia seguinte o rapaz era gozado e espremido nos seus zimbranços até acabar de comer. uma risota.

sexta-feira, 8 de março de 2013

bloco de notas



por detrás da ordem de s. francisco, mesmo nas barbas da medicina nuclear, há ruas estreitas e casas ougadas de caiar com mulheres tristes, rostos de roupa encardida que estendem ao sol, e homens com olhar de ilusão que, na matança do bicho, sossegam as tardes. e depois há gaivotas que riem do guardador de carros do centro, corado de vê-las colorirem-lhe o passar quase parado. e há turistas, muitos, que palreiam entre si pelo cruzar dos olhos no palácio da bolsa e no rio. ai o rio, de prata ostentado, que os faz quererm voltar: a Douro vestido é que és, pensam, a correr em lentidão na calçada rumo ao mar. e a vida segue, de mansinho, por detrás da ordem de s. francisco mesmo nas barbas da medicina nuclear: há paciência que baste e muitas horas para esperar - e esperar que o coração que de lá vem ainda demore muito para parar.

voar


(foto apreciada e trazida daqui)

pelos pés entra luz
sintonia dos vales e colinas
voar
que a hora ao passo não se acinzenta
, não,
assim se fizeram, e fazem, alegrias
falares mudos de ouvidos faladores
são valsas e tangos de vida
é dançar!, não vês?, é dançar!


quando encolher não é oposto de expandir

o meu editor do blogue é inconstante. mas isso também faz dele delicioso - nunca sei quando tenho comentários abertos ou fechados, ou se o rascunho que estava guardado aparece hoje ou hoje com data de ontem. enfim: as minhas directrizes para nada contam, só a sua vontade. também que interessa isso se o único motivo para que existe é emitir ondas - das minhas e das suas próprias - e assim tornar o mundo um pouco mais pequeno? é isto: encolher o mundo é expandir a alma.

quinta-feira, 7 de março de 2013

ler e passar

isto.

encantamento

dizer de alguém ser fascinante, isto não está muito bem estruturado, quero dizer a frase - mas é assim mesmo, desestruturante em termos de abalo -, que provoca o que é ser fascinante e fascinar pela simples existência. (se não dá para entender a frase à primeira, podes sempre tentar à segunda ou terceira)
mas há outra outra palavra que gosto mais: encantar. que vem de ser encantador e vai para encantamento.

grito do espirranga

amiúde espero que ela comece a malhar como se amanhã não houvesse, ela a chuva, e lanço-me para a rua senti-la até me chegar aos ossos para depois vê-la entrar-me mansa para aquele espaço impalpável e invisível que sai do fundo, bem do fundo, rumo à explosão a que chamam espirro. e os espirros são tão poderosos que exigem que as pálpebras, ai as pálpebras! essas marotas do piscar!, se fechem como que a escutar uma voz que aquece e estremece ou um poema ou uma canção. e o corpo, essa alma material, consolado pela espécie rara que é o grito do espirranga, agradece-me.

prioridade no cemitério

os potes, aquelas jarras estranhas das campas, são disfuncionais: aquela coisa com buracos por onde devem ser metidas as flores, onde cabe um dedo mindinho, é boa para esconder - que foi o que fiz. as flores ali apertadinhas, encostadas umas às outras, e aos verdes, sem conseguirem sequer espreguiçar-se. na campa da minha mãe e da minha avó não há cá repressão, pensei, e a minha tia que me perdoe ter escondido a coisa. e ter partido oum vidro. e ter mudado o retrato do sítio. mas é que eu tenho prioridade: ela lá só tem a mãe e a irmã e eu tenho a mãe e a avó e uma fatia grossa do meu coração.



quarta-feira, 6 de março de 2013

porque já chega de amor com morte: amor com paixão.



Acto IV alterado

Numa sala do palácio do faraó perto da cela de Radamés e da sala de julgamento: Amneris, ainda apaixonada por Radamés apesar de este ter tentado fugir com a escrava,ordena que o preso seja conduzido à sua presença. A filha do faraó tenta convencê-lo a pedir clemência das acusações que lhe são imputadas, mas o militar nega-se.
A princesa egípcia comunica-lhe então que Aida ainda está viva, ao que Radamés responde que está confiante de que sua amada consiga voltar à sua pátria.
Desesperada, Amneris faz-lhe uma última proposta: promete liberta-lo se ele jurar que nunca mais verá Aida, mas Radamés sai, sendo levado para a sala do jugalmento.
A partir de um local distante, assiste desesperada ao interrogatório. Radamés não responde às acusações proferidas por Ramfis e pelos sacerdotes, e é condenado à pena de morte reservada aos traidores da pátria: ser enterrado vivo. A princesa egípcia, louca de desespero, amaldiçoa os sacerdotes.

O cenário aparece agora dividido em dois planos. No superior aparece o interior do templo de Vulcano. Em baixo, a cripta onde Radamés aparece vivo. Radamés se despede da vida e da sua amada para sempre, e então aparece Aida, que conseguiu entrar no túmulo, não para morrer ao seu lado, com uma estratégia de resgate. A escrava reencontra a vida nos braços do seu amado (e gozam com tempo e espaço a paixão que se esfrega no amor mesmo antes de escaparem, almas em fogo e corpos em água, semi-nus) enquanto Amneris reza por Radamés no templo. Ao longe soam os cânticos dos sacerdotes - convencidos que ambos estariam mortos. Fim do 4º ato de Aida. (terá vindo daqui o conceito "estamo-nos a foder para os outros")

só não pode cheirar a aglomerado de gente

e a mim, ninguém me dá um porco bem grande e gordo?

perceber é triste

perceber que não estão interessados em discutir o que é o anonimato e a identidade é que é triste.

a gota assassina

a verticalidade de uma gota de chuva, milimetricamente estudada pela nuvem, pode - ainda que por breves segundos- matar: se cair exactamente na ponta de um cigarro. socorro!, grita o prazer, acabaram comigo!.

pensamento ao minuto

isto da igualdade tem o que se lhe diga. quando se tratam terroristas da net da mesmíssima forma que cidadãos está-se a fazer prevalecer a democracia ou antes a proteger a própria imagem pensando apenas no que os outros pensam?

entrar de grosso

estive uma hora e dez minutos, mesmo agora, a tentar desinstalar um programa que cá veio parar e bloqueava-me o sistema de pesquisa. não tenho os nervos arrepiados porque para isso acontecer julgo que faltaria meio minuto mais para atingir o ponto de não retorno à calma. é bom evoluír com o cabrão, filho da puta, azeiteiro, sebadolas, paneleiro, boi d'areia deste computador. 

mas o que mais importa nisto tudo, desinstalações matinais inesperadas à parte, é a coisa da descoberta. às vezes não queremos deixar rasto e pimba: quando não conseguimos ir pela via discretinha - era o cabrão do tal programa a interferir na pesquisa - damos por nós lá no meio, escancarados, a pisar o passeio da denúncia: olá, eu estive aqui e nem sequer posso dizer que foi de passagem porque não ias mesmo acreditar. mas, se ajudar à emenda, posso adiantar desde já que só me apetece vir. quer dizer, não é isso que estarás a pensar - ou também será, visto que não faço ideia no que pensas -, esquece, já vim mais vezes, talvez saibas, não sei, tentei não tocar na porta e agora, olha, o alarme disparou - a casa é antiga, eu sei, entretanto tanta coisa deve ter mudado, mas a estrutura está excelente, os alicerces fortíssimos e as cores, humm, são um portento. não é possível recomeçares o projecto com o que és agora? o quê, ainda faço pedidos depois de assaltar uma casa? sim, quer dizer, claro que sim. espero não ter acordado ninguém, tá?

e é mais ou menos assim, de fininho, que saimos com a absoluta certeza de que não nos livramos de um: está cada vez mais tolinha, esta. 

mas o que seria da vida, da minha, sem tolices.

terça-feira, 5 de março de 2013

efeito protector


(será que o governo é disto que tem usado, e abusado, visto que a banhada só molha o povo?)

a compreensível falta de resposta merece uma total desprotecção. como esta:



tttiiiaaa

reconheço, sem evidências a olho nu, uma mulher grávida: vou ser tia pela terceira vez - talvez agora venha uma rachadinha para equilibrar a testosterona da sobrinhada.

a capa






sem ter absolutamente nada, pelo contrário é lindíssima, contra esta pintura que um comentador disponilibizou algures, é-me impossível não analisar certos pormenores: pés de menina e pernas de mulherão, a Betsabéia, deram-lhe também braços e mamas de homem - uma figura andrógena porém não andrógina se nos fixarmos no rosto e na postura. não fazendo a mais pálida ideia quem a pintou sei que cabe, mais do que como uma luva, como um anel, neste dedo.











jhj

segunda-feira, 4 de março de 2013

tapeçaria de Rogério Ribeiro

milhões de pontos encostadinhos uns aos outros - contados, descodificados, cores puxadas de novelos do tear vertical, nó a nó e ponto a ponto. 

(uma beleza obscura, a tapeçaria, aos olhares passageiros e à desinteressada atenção poética por debaixo dos candeeiros de velas das paredes dos séculos dezoito e dezanove. após a segunda guerra mundial Jean Lurçat lançou-se na demanda desta arte semi-perdida, estudando-lhe a antiguidade dos processos e fazendo o cruzamento da sua identidade medieval com as formas plásticas do imaginário moderno.)

a minha preferida, do Rogério, é o pintor apoiado pela inspiração, de 2000, cuja imagem não encontrei. está vestido e sentado, em tons avermelhados, à oriental e uma figura feminina, e nua, envolve o artista. linda.


bola com nabiças e canção

bom, já sei, aproxima-se a hora do jantar e não sabes o que fazer. o quê, tem de ser leve para o estômago e para a carteira? está bem. pega lá nas sobras daquele frango estufado do almoço ou das carnes do cozido de domingo e fá-las em quadrados de ternura. vai ao frigorífico e vê lá se não tens fiambre ou paio ou chouriço. sim? óptimo. aquelas fatias de queijo também podes trazer. agora mistura uma chávena grandinha de farinha e uma de leite com três ovos e duas colheres de sopa de fermento. já está? pica também um raminho de salsa e acrescenta à massa juntamente com as carnes. agora pega na forma, se fôr de silicone melhor, e mete lá para dentro metade da mistura. stop. cobre-a com as fatias de queijo e continua a colocar o resto. mete ao forno e aguarda que fique dourada. e podes cantar:

comi uma bola
com carnes e com tudo
ficou boa, tão boa
e não fiquei um barrigudo

e uma sopa de nabiças? não te esqueças de aproveitar os talos porque dão óptimo sabor juntamente com a abóbora, a cenoura, o alho francês, o nabo, a cebola e a curgete. e quando estiver passada e meteres as nabiças - mete também um punhado de arroz agulha. há um mistério no casamento de nabiças com arroz agulha: a textura fica diferente e o sabor arrebita-se.



regras

regras para tudo, regras para tudo, e pergunto eu: também há horas marcadas para dar peidos?

terei sido criada ao som dos Rosa

os textos do João Lopes são sempre, de tão bem escritos, balsâmicos - ou porque nos remetem para o assunto em questão como se lá estivéssemos desde sempre ou, como é o caso, porque nos empurram para o tal sítio, aquele, que tendo ficado lá habita por cá.

os Pink Floyd viram-me crescer, já seriam eles bem maduros, e quando lançaram o The Dark Side of the Moon estaria eu a ser projectada, um ano pode ser o tempo exacto de elaboração de um projecto se excluirmos os três meses de ante-projecto previstos na concepção de quem é excelente parideira como foi a minha mãe. 1973 terá sido o ano da criatividade, muito riso à mistura, concluo.

mas como estava a dizer aquilo da escuridão com lua misturada entrou-se-me e entranhou-se-me, com toda a certeza, visto que quando tive autonomia para escolher o disco a rolar eram eles, os Rosa, que eu ouvia. hoje ainda ouço, de vez em quando, quando sinto vontade. aqui fica uma, uma porque escolher bom dentro de bom torna-se difícil, das minhas preferidas.



se te alimentas vais parar à cadeia ou a ex-cadeia alimentar

por cá, pelo ocidente, tradição histórica e religiosa em conformidade, come-se, inclusivé, a mão à vaca, as orelhas ao porco, as vísceras à galinha, a pele ao pato, a barriga à pomba, a dignidade à coderniz, o gluglu ao perú, a perna à rã, a barbatana ao tubarão, a costela ao javali, o penso higiénico à lampreia (...) e tem-se aversão de petiscar a coxa do cavalo - culinária desde há muito utilizada na europa. ora se o cavalo só servir para montar e embelezar carteiras - tal e qual como os touros que também servem para animar o povo, será justo arranjar fonte de adrenalina, que não no prato, para todos os outros que nos enfeitam os sentidos. e passamos, estômago não apenas por forrar mas também por poemar,  a estimá-los e a admirá-los. só. é pôr a bicharada em fungágá e esquecer a cadeia alimentar que está, de resto, démodè.

domingo, 3 de março de 2013

amor é, só pode ser, cão.

inspirada por este excerto
Paulo Varela Gomes, O Verão de 2012. Edições Tinta-da-China.
 
e por ela
 
choro. choro por saber da falta de abraços e pela arrogância da raça humana quando julga, e mal, que é superior a eles, aos outros, aos outros animais. ainda hoje, enquanto ela caminhava com aquele rabo farto e  pululante de vida, apreciava-lhe por detrás, o amor quando aprecia por detrás o amor é porque lhe faz frente e não tem outra direcção senão ir em frente, a coragem da sua existência: o que seria dela sem alguém que lhe conhecesse o olhar e o andar e o sentir e o pensar quando tudo o que ela não sabe é falar? e é por isso que, de certa forma, seremos nós uns privilegiados - mas apenas porque conseguimos expressar a nossa criatividade, não só, também, pela fala e pela verbalização. e com ela nem sequer preciso de falar; com ela sei que posso, incondicionalmente, contar; com ela aprendi, sendo sem reservas amada, a amar. 
 
e sorrio, sorrio muito. e é por isso que o amor só pode ser de cão: não por capricho, não, por ser insigne, alma de vento com sol e com chuva, estendida passadeira de flores e pedras pisadas, cheiradas, outonoinvernoprimaveraverão.

culinárioterapia




um bolo de laranja que se preze tem de levar a casca - não só faz brilhar o sabor como também o cheiro e, pela cor, os olhos. faz assim: pega na laranja e retira-lhe apenas as extremidades. depois, corta-a aos cubos e saca-lhe os caroços. o resto vai tudo para triturar.

sumo da história: até as laranjas são para comer inteiras.


estado nascente

como é que ele dizia, o alberoni, a propósito da cientificidade do amor? já não me lembro nem me apetece ir ver. mas falava de um estado nascente, de criação e mudança, tal e qual a perspectiva simples e de perfeito reajustamento como a de os desempregados trabalharem nas matas e na construção civil: que melhores imagens - senão a de controlar o fogo, ao mesmo tempo de manter perfeitamente limpa a zona envolvente, e a de escavar para, tijolo ante tijolo, construir algo durável - poderão haver para a cientificidade do amor e para o estado de ruptura com todo um passado endógeno e exógeno em alguém? isto aplicado às massas é grande e espelha a grandiosidade de um amor: o amor pela filha da putice.

sábado, 2 de março de 2013

contra o amianto

é nestes casos que as notícias haviam de servir para informar de facto  - e não apenas para cuspir obra feita, ou por fazer, dos governos. é nestes casos que interessa aproveitar um meio de comunicação, ainda por cima escrito onde a riqueza é maior tanto no que se diz como no que se apreende, para passar a informação da importância da retirada do amianto das escolas. aqui fica uma pequena amostra do estudo já efectuado aquando do Projecto PREVENIR Escolas.


A cobertura dos edifícios escolares e das zonas de circulação entre os edifícios, em uma grande parte de escolas mais recentes - quero dizer que não pertencem à tipologia do Plano Centenário - é de fibrocimento, contendo amianto na sua composição. Todas as variedades de amianto são agentes cancerígenos da classe 1, ou seja, sabe-se que provocam cancro no ser humano. A Directiva 83/477/CEE é a relativa à protecção dos trabalhadores contra o amianto.

Existe o perigo decorrente da inalação das fibras presentes no ar quando estas se libertam - as fibras microscópicas podem depositar-se nos pulmões e neles permanecerem por muitos anos podendo vir a provocar doenças mais tarde, normalmente várias décadas depois, isto se a ligação das fibras de amianto for fraca: o risco de libertação de fibras é maior devido à friabilidade do produto ou material.
Se, pelo contrário, as fibras estiverem fortemente ligadas num material não friável, a probabilidade de essas fibras se libertarem será menor.
 
Um determinado material libertará mais ou menos fibras de amianto consoante estiver intacto ou danificado. O estado dos materiais que contêm amianto pode alterar-se com o tempo, nomeadamente em função dos estragos, do desgaste ou das condições climatéricas.

CONSEQUÊNCIAS DO AMIANTO PARA A SAÚDE

O amianto é perigoso ao dispersar-se no ar sob a forma de fibras muito pequenas que são invisíveis a olho nu. A inalação dessas fibras de amianto pode provocar uma de três doenças:
- Asbestose, uma lesão do tecido pulmonar;
- Cancro do pulmão;
- Mesotelioma, um cancro da pleura (a membrana dupla lubrificada e lisa que reveste os pulmões) ou do peritoneu (a membrana dupla lisa que forra o interior da cavidade abdominal).

A asbestose dificulta severamente a respiração e pode ser causa coadjuvante de morte. O cancro do pulmão é mortal em cerca de 95% dos casos. O cancro do pulmão pode igualmente sobrevir em caso de asbestose. O mesotelioma não tem cura, conduzindo geralmente à morte no prazo de 12 a 18 meses a contar do diagnóstico.

Apontou-se para o facto de a exposição ao amianto poder provocar cancro da laringe ou do aparelho gastrointestinal e suspeitou-se de que a ingestão de amianto (por exemplo, em água potável contaminada) pudesse causar cancro gastrointestinal e pelo menos um estudo conclui haver um risco aumentado no caso de ingestão de água potável com concentrações de amianto excepcionalmente elevadas. Contudo, estes indícios não foram confirmados de modo consistente pelos resultados de estudos relevantes.
A exposição ao amianto também pode provocar placas pleurais. As placas pleurais são espessamentos focais, fibrosos ou parcialmente calcificados que se desenvolvem na superfície da pleura e podem ser detectados por meio de uma radiografia torácica ou tomografia computorizada. As placas pleurais não são malignas e, em princípio, não afectam a função pulmonar.

LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

A Lei n.º 2/2011, de 9 de Fevereiro visa estabelecer procedimentos e objectivos com vista à remoção de produtos que contêm fibras de amianto ainda presentes em edifícios, instalações e equipamentos públicos.

Prazos estabelecidos na Lei 2/2011
Prazos
Acções
Até 2/2012
O Governo procede ao levantamento de todos os edifícios, instalações e equipamentos públicos que contêm amianto na sua construção e resulta numa listagem de edifícios públicos que contêm amianto - a qual é tornada pública, designadamente através do portal do Governo na Internet.
Após 90 dias
No prazo de 90 dias contados a partir da publicação da listagem referida no número anterior, a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT), mediante os registos de concentrações de fibras respiráveis detectados e face aos valores limite de emissão (VLE) previstos na legislação que regulamenta esta matéria, propõe, para cada um dos casos identificados na listagem, aqueles que devem ser submetidos a monitorização regular com frequência determinada e aqueles que devem ser sujeitos a acções correctivas, incluindo a remoção das respectivas fibras nos casos em que tal seja devido.

Compete ao Governo estabelecer e regulamentar a aplicação de um plano calendarizado quanto à monitorização regular a efectuar e às acções correctivas a aplicar, incluindo a remoção dos materiais que contêm fibras de amianto presente nos edifícios, instalações e equipamentos públicos que integram a listagem referida no artigo anterior, bem como a sua substituição, quando for caso disso, por outros materiais não nocivos à saúde pública e ao ambiente.

O plano calendarizado referido nos números anteriores deve ser elaborado pelo Governo no prazo de 90 dias contados da apresentação da proposta da ACT, ouvidas as autarquias envolvidas nas acções a empreender
Obrigatoriedade de informação aos utilizadores
As entidades que gerem cada um dos edifícios, instalações e equipamentos públicos, constantes na listagem referida no artigo 4.º, têm de prestar informação a todos os utilizadores desse edifício da existência de amianto e da previsão do prazo de remoção desse material.

A listagem de edifícios públicos que contêm amianto ainda não foi publicada.
A escola deve acompanhar a publicação de legislação nesta matéria e monitorizar a sua implementação.

sexta-feira, 1 de março de 2013

fadinho para o 2 de Março

acabei mesmo agorinha de me inspirar com o Valupi e tenho de partilhar.

parteiros

houve uma coisa que me fez sumariar uma outra coisa: o que nos marca realmente? e, sem ser surpresa, uma conclusão surpreendente - pouca coisa nos marca apesar de acharmos sempre que os anos de vida em frequência acumulada é que valem. é nada disso, marca-nos aquele excerto do livro (nem sequer é o livro inteiro), aquela música, aquelas palavras daquela boca ou daqueles olhos; marca-nos aquele sorriso ou aquele choro - o olhar do filme; marca-nos aquele presente - aquele sentimento. obviamente que ser uma parte do todo não é ser o todo, isto à primeira vista. mas na fantasia, a realidade só pode ter uma leitura fantástica ou estar de pé é sempre, literalmente, andar com os pés para a cova, não será de todo assim: o todo pode ser uma parte na perspectiva da dominância: um livro é-me lindo se se me agarra em uma frase que se descreve; uma música é-me deliciosa se se me prende por um minuto de som ou palavras avassaladoras; o filme, o tal, tem aquele meio mais próximo do início do que do fim com uma narrativa especial; tu podes ser maravilhoso não obstante teres uns pés enormes com os dedos mais tortos do que a torre de pizza - aqui o exercício feito ao contrário.

é assim. o que nos marca é uma espécie de caricatura espontânea que fazemos do que nos chega através dos sentidos. o que nos marca é o que incontrolavelmente sentimos (pensar e falar também é uma parte do sentir); o que nos marca inteiros são as partes. e é por isso que somos inteiros.