quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Quando o trabalho se torna em um vício: os trabalhadores compulsivos.


Não é que a família não exista, existe – mas não é uma prioridade. Nem os amigos – a não ser, claro, os colegas de trabalho. E a vida afectiva a dois, essa, resume-se a umas horas contadas, bem contadas, mero indicador de que se tem, e se consegue, tudo. Os trabalhadores compulsivos, vulgos workaholics, andam aí e têm vindo crescer nas últimas décadas, o que se torna um paradoxo em um mundo onde cada vez mais há falta de emprego.

Quem são, afinal, os trabalhólatras?

Os trabalhadores compulsivos pela altura de férias, por exemplo, ficam desnorteados e sem saber o que fazer (o que é o lazer?) simplesmente porque não estão a trabalhar. Mas comecemos pelo princípio. Há vinte anos rompia a globalização, a competitividade roncava entre as nações e as empresas, assim como a necessidade das pessoas demonstrarem – a si próprios e a outros – valor, o máximo de valor. É impossível não referir aqui que, na minha modesta opinião, não é o trabalho que dignifica o Homem mas o Homem que dignifica o trabalho. Salvo raríssimas excepções, o trabalho não passa de uma caixinha de processos minuciosamente controlados e monitorizados, com imputs e outputs - num espaço e num tempo -, devidamente expectáveis. E quando, nessa caixinha, aparece a alegria ou o amor ou o prazer, já não estamos a falar de trabalho. (ainda estou a aguardar que me expliquem em que dimensão é que a alegria, o amor, o prazer são remunerados através de uma folha de salários ou de um recibo verde)


O trabalho faz parte de uma rede social, mesmo enquanto actividade individual, absolutamente necessária apenas para se ter dinheiro, carcanhol, guito, que, por sua vez, alimenta a rede social. e é só isso, e é bom que tenha consciência disso - não é o trabalho que o faz feliz nem o dignifica. Desmonte um dia de trabalho e saque-lhe a tal alegria, o tal amor, o tal prazer (se está difícil, passe para uma semana ou depois para um mês) e verifique lá se nos momentos em que sentiu o trio de que falo, ou alguma parte isolada, não estava a agir enquanto gente ao invés de agente social. É verdade, convença-se: apanhar a carrinha de caixa aberta às cinco da manhã para chegar à obra às nove, debaixo de sol e de chuva, não dignifica ninguém; nem passar um dia inteiro sentado numa cadeira - ainda que ergonómica -, por si só, em frente ao pc; nem prescrever um medicamento, ao ser mais uma ajuda naquela viagem de sonho, sem saber porque verdadeiramente o paciente sofre; nem dar uma aula sem aquele brilho de sabedoria que marca o outro lado. Nem nada. o trabalho não serve para nada quando não passa de um tudo, porque não é só se deixar de respirar que morre: se deixar de trabalhar também. Perdas e ganhos contabilizados, os trabalhadores compulsivos ganham doenças e tristeza perdendo tudo e todos à sua volta. Adiante.

Conhece trabalhadores compulsivos? Conhece alguém assim? Pois, eu também. Vamos chamar-lhe Filipa. A Filipa é casada e tem um filho de três anos. Estão de férias e a cada dia de férias que passa a Filipa está com um ar mais cansado. Estranho? Não: ela pertence ao clã dos trabalhadores compulsivos. Explico. A vida dela é uma verdadeira rotina instalada tendo como ponto de referência o trabalho. Então o que fazer perante tempo livre? Stresse. A Filipa entra em stresse perante a possibilidade de não ter de trabalhar e de não ter um ritmo alucinante e, curiosamente, sofre das mesmas angústias e cansaços como se a trabalhar estivesse: dorme pouco e mal, faz refeições fugazes e com pouco valor nutritivo, é incapaz de se libertar do telemóvel e sente um medo gigante de falhar com o filho e com o marido. Resumindo: a Filipa está de férias e vive impaciente, ansiosa, stressada, intolerante e alheada (confira aqui e aqui) daquelas coisas que dão alegria à vida.

Se tem cura? Tem, claro – bastará que as Filipas, os trabalhadores compulsivos do mundo, queiram ser gente para dignificarem a vida. E o trabalho.

recado a um Joaquim José

80ção! 70s 3passar-me, 10iste: 100 romance nem adianta dizeres 20 ver. 5'um caneco! estamos em 7embro e nada. já sabes, 7 atrasas mais - com menos ficas, 15é.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Acabar de vez, não com o piropo, com a perseguição ao dito



Já muita tinta tem corrido acerca do piropo, assédio verbal em destaque, quando ele, o piropo, não é mais do que um elogio tantas vezes confundido com palavras incómodas – ruído e malina – de cariz sexual e ordinário. Chamam-lhe, agora machismo, atalho de chauvinismo, quando na verdade existe para, neste contexto de homens versus mulheres, marianizar a coisa. Mas o que faz de um piropo um lugar arejado, aquela brisa que pode refrescar um momento ou um dia ou uma memória? 

Um piropo para mim, outro piropo para ti…

Olá. Olá. Até um olá pode bem ser um piropo, é verdade. Um piropo é, na realidade uma forma de expressão intensa – intensa porque genuína utilizada mais comummente na oralidade. E na oralidade cabe tudo, a oralidade é rica (tão rica que o Saramago sentiu vontade de colocá-la esticadinha na escrita), e quer-se – neste contexto – de chinelo e areia no pé, descontraída e espontânea. Um piropo pode ser, ou não, pronuncio de conquista – apenas expressão de agrado leve: o que é, senão uma leve expressão de agrado, uma queca ocasional? Ou também, conquista ininterrupta, pode durar uma vida inteira – o piropo pode ser um amor correspondido e vivido nos dias e nas noites. O piropo de um olhar, já pensou? Aquele olhar que mata, ou antes que faz viver, inesperado, cruzado com o seu de forma vadia. Ou simplesmente um bilhete com um número de telefone, ou email, deixado cair da cadeira de uma esplanada qualquer – um piropo é, como já disse, uma forma de expressão sem tempo e espaço definidos porém bem definido como um elogio ao outro se quer. Mas também pode ser um poema: já alguém lhe escreveu um poema cheiinho de metáforas e encruzilhadas para desmontar? Ou apenas de cinco linhas breves e rectas e penetrantes? Pois. Quando é um poema trata-se, garanto, de um piropo em potência – olhe, é um piropo a querer andar de mercedes. Se resulta? Vai-se lá saber…

Um piropo pode fazer rir quando lhe dizem que as suas meloas devem ser sumarentas. Mas também pode fazer chorar se lhe disserem que é bonita demais para sequer ousarem tocar-lhe. Um piropo pode aproximar – se quando apanha o bilhete escrito acaba por ligar – ou fazer fugir, se no bilhete está escrito que um estranho gostava de ter um filho seu. 

Já pensou no que seria a vida sem romance? Tudo isto que acabei de dizer é, não se iluda, romance. E poesia – ou não fosse a poesia a beleza do pormenor. E o que é um piropo senão um pormenor e, por isso, poesia, romance? É isso. Agora já sabe que é um romântico mesmo que tenha estado convencidíssimo, até agora, de que isso é coisa de donzelas e de maricas. 

Ou vai dizer que nunca piropou?









não é a brincar a forma mais séria de educar Segurança?

Sabemos todos serem as crianças a base daquilo que queremos que seja o futuro: o lugar mais seguro do mundo. E nascem, e crescem, cada vez mais e melhores, as iniciativas que promovem a Segurança. Interessa levá-la o mais longe possível e, para chegar ao reino do que é pensar para ser, a brincar. Diversão e aprendizagem, educação para a vida, é a aposta que fazem os que sabem que a importância começa onde termina a convencionalidade daquilo que é comunicar.


Se não lhe parecia ser possível cantar e jogar para fazer Segurança, leia isto:

Esta campanha de sensibilização que me chegou através do João Pedro da Costa levada a cabo pela gigante agência de publicidade McCann com o objectivo de promover a Segurança Ferroviária mas não só - já que o alerta da música e das imagens nos transporta a todos em geral, e às crianças em particular, para outras realidades de perigo e risco. Além de a música nos remeter para um ritmo e letra facilmente apreendidos, também a cor e as formas animadas são de uma simplicidade cativante. E depois há os jogos, ferramenta igualmente certeira, que chegam daquela maneira divertida e eficaz à Segurança por dentro do cérebro dos nossos traquinas.

Por cá podemos orgulhar-nos de já ter sido desenvolvido um projecto semelhante, de sensibilização da comunidade civil, para a problemática da Segurança e do acidente. Chama-se Tó & Kika, no âmbito do projecto Prevenir para Inovar, iniciativa da AEP (EURISKO). As actividades desenvolvidas assumiram diversas variantes desde workshops, seminários, acções de formação/treino, exercícios de simulação de emergência, análise de riscos das instalações, realização de ateliês de pintura e escrita, exposições, sessões de jogos, entre outros, sendo que o objectivo principal foi o de fazer com que as comunidades escolares se consciencializassem sobre a temática da Segurança e da Prevenção – na escola, em casa e na rua.

O resultado? O resultado deste tipo de iniciativas só pode ser, pois, excelente! Por cá, conseguimos o envolvimento das crianças, dos pais, dos professores, e demais funcionários das escolas, e também da protecção civil, bombeiros, polícia municipal e sociedade em geral – até pela publicação da BD Tó & Kika, durante muitas semanas, no Público - para o bem comum que é a Segurança. No caso do vídeo Dumb Ways to Die, terá tido já 60 milhões de visualizações no You Tube e premiado com um Cannes Lions e 7 Webby Awards.


Será caso para dizer: obrigada a todos os que promovem o lema de que mais vale prevenir do que acidentar – porque a Segurança não quer morrer. Nem de velha.

linha de todos os dias

tolerar a trovoada é apreciar o sol.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Canal180

O tal canal, não há memória de um outro igual, é especial

E é o Canal180. Tomei conhecimento da sua existência através deste blogue sobre videomusicalidade. Definindo-se como o primeiro canal nacional sobre cultura e criatividade, explora as várias plataformas digitais para nos fazer chegar conteúdos originais e criativos do mundo artístico: séries documentais, música, vídeos, ilustrações, cinema, arte urbana. Apresenta-nos uma espécie de cardápio de criadores e de obras – é só escolher.

Mas não estará em falta, neste Canal, a arte da escrita - da escrita criativa?

Mergulhada no interesse das águas do Canal180, onde cada link atrai a abertura do link que se segue, descobrindo mais e mais sobre aquilo que são as artes visuais deparei-me com (a meu ver) uma falha: nada de referência a conteúdos ou criadores das letras que parece que dançam (e dançam) e que cantam (e cantam) e que vivem (e vivem) e que morrem (e morrem). Falo, como não poderia deixar de falar, de literatura e de escrita criativa.

Enquanto desfolhava, sim desfolhava e não folheava por conta da imaginação que não pode nunca ser esquecida, cada link do Canal180 percebi que faltava ali qualquer coisa, sempre qualquer coisa, para abrilhantar ainda mais o projecto. Tudo o que os olhos vêem e os ouvidos ouvem e o coração sente serve de estímulo à verbalização. E qual é a arte de verbalizar, oratória de dedos, a cor e a forma do mundo? Exacto: é a escrita. Já pensou no quão magnífico seria poder ler uma ilustração? Na verdade estaria a fazer duas leituras em uma só – a da imagem e a da imagem escrita consoante o recanto desta ou daquela paragem criativa dos criadores. E um vídeo? Quantas vezes uma música, que já possui uma letra, nos leva onde também o vento vai que é o infinito? Já pensou como seria maravilhoso reescrever um vídeo que já está escrito?

Seria uma ponte, sempre uma ponte, uma ponte é uma amiga, uma união de artes que só poderiam resultar em força, em caminho, em criatividade acrescida e em originalidade aumentada. Este, mais completo, mais justo, é o tal canal que é bom. Mas, porque não, há sempre espaço para mais uma arte, pode ser ainda melhor.


Consegue imaginar, por exemplo, no programa de A Música Portuguesa a gostar dela própria, algo como agora faça-se silêncio porque se vai cantar, e ver e ouvir e escrever, o fado. Que completude! Que alegria!

o sexo e a idade

vai fazer noventa anos. noventa anos é muita frutinha, penso, muitos sorrisos e muitas lágrimas e muitas reflexões e muito amor e muito tudo. mas também são tão poucos! olha as árvores, aquelas reinas centenárias, que quanto mais velhas com certeza que mais rimam com beleza. na verdade ela continua a ser como era há vinte anos: o mesmo penteado de cabeleireira ao sábado, aquela banana de cabelo ripado, a mesma maquilhagem e o mesmo tom de batom, o rosa velho, as caminhadas para todo o lado, os livros que devora, o sudoku. ah, e os scones maravilhosos que faz sempre para o chá. e diz: quando eu ficar tolinha, ou inválida, deus pode levar-me porque não vou para casa de ninguém. vive sozinha e feliz, o marido morreu há mais de uma dúzia de anos e foi um consolo: passou grande parte da vida com amantes e, já velho, adoeceu. ora ela serviu apenas para a doença e também para lavar as toalhas cobertas de perfume das outras. então morreu e ela ai começou a viver. amou -o daquela forma que se ama a mobília e os bichos da madeira: quando estiver tudo carcomido vai fora e, no entanto, esqueceu-se de se amar. terá sido um amor de mãe, não de mulher. e eu disse-lhe: agora precisava de amar um homem e ser amada como mulher. à séria. e ela respondeu-me: agora é tarde demais: os homens velhos já só sabem amar também como fazem os pais porque o sexo, a parte sensual do amor, já o gastaram com outras. e depois vi o filme todo, RPG, que veio mesmo a calhar. os Homens só querem ser jovens por causa dos prazeres de sexo. (uma foda). por sexo os Homens estão dispostos a tudo. (outra foda). os Homens quando acreditam conseguem tudo - menos foder. (outra foda).  

e quem, sendo jovem, não conhecendo os prazeres do sexo - desejará ser jovem quando velho for?

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Foi você que pediu um estágio?

Surgem, neste Governo, como ervas selvagens, os estágios profissionais. Trata-se, à primeira vista, de uma forte tentativa de reduzir a taxa de desemprego por ciclo virtuoso: o estado apoia as empresas na contratação, a chamada medida estímulo 2013, que por sua vez fomentam a criação líquida de postos de trabalho. Bem sei que parecem ser coisas distintas falar de estágios profissionais e depois metê-los no mesmo saco da tal medida – parecem mas não são porque, na realidade, ambos resolvem uma pequeníssima fatia de problemas de uma outra, ainda mais fina, da população desempregada.

Quase vinte anos de carreira – quer um estágio?

A frequência de anúncios ao abrigo da medida estímulo tem vindo a aumentar dia para dia e a resposta, ou candidatura, aos mesmos está dependente de uma série de requisitos para o tal estágio – que é como designam, entidade empregadora, o tipo de trabalho: estar abrangido pela possibilidade de estágio na asa da medida estímulo 2013 que significa exactamente estar na penúria das penúrias sem descontar para a segurança social há mais de um ano. Ou seja até quem tem trabalhado, e pouco, e mal, precariamente, a recibos verdes está inibido de candidatar-se à oferta de emprego. Quer dizer o estado financia as empresas e estas, por sua vez, exigem experiência e competência e disponibilidade mas, ao mesmo tempo, recrutam pessoas que para cumprirem com os requisitos exigidos só podem ser extraterrestres. Exagero? Sim, um pouco – mas só no conteúdo e nunca na forma de sentir a injustiça.

As empresas, que aproveitam o financiamento – e sem olharem ao perfil académico e de experiência no mercado de trabalho do candidato -, estão a ser estimuladas a dar uma migalhinha aos desgraçados (desgraçado, anote aí, é o que é sozinho a tratar dos filhos ou  o que sustenta a casa porque o outro está desempregado ou é ignorante ou é nada disto que disse, pelo contrário, até tem quase vinte anos de experiência e trinta de formação mas no último ano fez uns descontozitos para a segurança social) e aos que têm necessariamente de cair em desgraça para poderem concorrer à tal oferta de emprego que exige candidatos com disponibilidade de eleição ao abrigo da medida. E a minha pergunta é a seguinte: o Governo não sabe que grande parte da população desempregada tem formação superior? E que uma empresa é tão mais considerada desenvolvida quanto maior for o número de quadros superiores? E que a qualidade está directamente relacionada com a excelência que por sua vez se traduz na aposta na investigação e desenvolvimento que por sua vez faz a vantagem competitiva e a expansão da empresa e o contributo no saldo positivo da balança comercial para o país? Que vem a ser isto de chamar estágio a um emprego? E que vem a ser aquilo de darem a entender aos empresários que o capital humano não tem valor monetário agregado e que pode ser pago a miseráveis IAS (valor do IAS em 2023 - €419,22)?


Estágio, estágio, estágio, estágio. É preciso emprego, neste país,  não é estágio – aquela coisa de experienciar a novidade do mercado de trabalho para colocar no CV para, talvez um dia, se conseguir um emprego. Perceberam?

o festo da rotina

quinze dias passaram a voar- vejo-os agora de tapete lá no alto, aos saltinhos, e em risota, como que a troçar -, uma mini viagem à volta da anarquia gostosa que é viver sem regras. a rotina regressou a casa, tristeza, mas faz todo o sentido que assim seja, malas arrumadinhas na mão, cabelos bem escovados e calças de festo perfeito, afinal de contas esta é a casa dela e quem cá ficou, erradinha e tortinha, fui eu.

sábado, 31 de agosto de 2013

dois ponto dois

decidi tentar - mais uma vez, desta vez decidida a conseguir convencê-lo, e tudo devido à pressão dos pneus que não está escrita em lado algum e tive de descobrir os números exactos, dois ponto dois, porque bem visto para convencê-lo terei de fazer a pressão certa, nem mais nem menos, a adequadíssima, a buriladíssima, a única - convencer o meu pai a ir para a universidade sénior. 

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

súbito

na vida
tudo chega de súbito
o resto
o que desperta tranquilo
é o que
sem darmos conta
já tinha acontecido


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

That's all folks!

Os EUA são, de facto, omnipresentes

A toda a hora alguém acorda com um sonho, acordar com um sonho é aquilo a que chamamos esperança, um sonho cheio de luzes: ir para os EUA. Mais: o mundo nasce todos os dias a pensar em american-english. Ouch. Quem quer realizar um sonho vai para os EUA – e quem quer endividar a alma também. Os EUA estão, oh my god! em todo o lado: na luta pela escravidão e também pela sua abolição e contra o racismo e a favor de intervenções militares em países de outro mundo e no esperma da sala oval e no dia das bruxas e no cinema e na cadeia McDonald's.

Mas serão omnipotentes?

Quase. A indústria cinematográfica dos EUA é, sem dúvida, uma das maiores, e mais influentes, do mundo – não fosse Hollywood o símbolo do sucesso. Tenho, aliás, a convicção de que se a Linda de Suza, a nossa Teolinda Joaquina de Souza, tivesse rumado aos EUA com a sua mala de cartão, em vez de França, estaria hoje a dar continuidade aos papéis da Elizabeth Taylor na Universal Pictures. Ou então não teria passado de uma IT-Girl, o que nós por cá chamamos de pita que usa saias que mais parecem cintos e que bebe penicos de álcool e outras drogas, à boa maneira americana: plus chic, plus mode, plus de glamour. Mas não foi sempre assim. Já houve um tempo em que o espectáculo era outro, ora triste ora contente, nos EUA. Houve um tempo em que a escravatura não era como a de hoje – de fama e sucesso -, tinha que ver com a cor da pele preta explorada nas plantações do sul. Mas depois conseguiram abolir a escravatura, viva!, e conseguiram fazer dos EUA, UCB, United Colors of Benetton. (Mas isso é de origem italiana, Olinda. Ó, isso não interessa nada – o que conta é pronunciar em inglês americano, ignorando os tês). Por falar em cor, torna-se impossível não lembrar a da sala oval: rubra. Não, não me refiro à decoração. Adiante. A esta altura o leitor já estará com fome, está calor, é Agosto, o cinto já está esganado e, deixe-me adivinhar, vai passar no McDonald's. Como é que acertei? Ora como Portuguesa que sou conheço bem alguns pratos típicos. Além da particularidade de este prato ter algumas variâncias, como é o caso mais recente da bifana com sabor a sabonete de glicerina, é bastante económico e saciante: como o Governo quer. Além disso esta comida é confeccionada aos mais altos padrões de qualidade de HACCP o que constitui, para os EUA, uma vantagem altamente competitiva: ninguém fica de diarreia nem morre de E. Coli no McDonald's, excelente! Mas morre mais cedo. É. Mas também não morre sem festejar o dia das bruxas entre, oh yeah, doçuras e travessuras. Aliás, não servem as abóboras do Minho (não confundir com jerimum que aqui diz ser sinónimo mas é mentira. Porquê que é mentira? Porque o jerimum é usado apenas para confeccionar doces) para outra coisa  que não esquartejar e desmiolar para incendiar - são elas e as políticas altruístas, e intervencionistas, dos EUA.  O que é importante é americanizar tudo, não esqueçam. That’s all folks!




os dois

escolhi chamar-lhe, por razões musicais, Samantha.

ontem vi uma raposa. dizem que foi um cão, que me enganei, mas não: ontem vi uma raposa que se assustou comigo. saiu de dentro do milho alto e maçudo e depois espreitou para cá - para cá no lado onde não se podia esconder. estava noite fresca e recente e talvez precisasse de sair para o outro mundo. às vezes o outro mundo está quando abrimos os olhos ou acordamos ou adormecemos ou, e porque não, saímos do meio do milho. orelhas arrebitadas e focinho bicudo, como tem de ser, olhou-me fixamente durante uns segundos. e eu a ela. depois pensou e desapareceu. suponho que terá pensado em não estar com alguém, era o que faltava, esperou o dia todo pela fresca e agora aparece esta. mas estou convencida de que vai voltar a aparecer - hoje à mesma hora, talvez. ou amanhã ou depois, que importa, desde que não pense, só sinta, e venha lamber-me as mãos e as pernas e os braços - os braços espero que lamba os dois.







quarta-feira, 28 de agosto de 2013

sabor

à maçã verde
não perguntes quem é
outra forma
não há
de lhe conhecer
o sabor

verão triste

entra de mansinho, vai entrando, em conluio com o clarão escuro do nascer do dia - sobe as narinas e aloja-se na alma. os sentidos despertam e choram, também se vestem para confirmarem a tristeza, e, já na rua, o céu é uma mistura laranja com cinza, nuvens desenhadas a rigor de fatalidade. por aqui, por aí, por todo o lado morrem árvores e arbustos, ervas e caruma. por todo o lado o vento, mau conselheiro, exalta os ânimos. por todo o lado é verão. e o verão é, por isto, triste.

sábado, 24 de agosto de 2013

felicidade-poesia

descalça-te, por favor, para ler isto.

(adenda ao post anterior)

: a expressão genuína que os do norte dizem e os do sul só pensam: foda-se!

o sul com os olhinhos no norte: que justa maravilha

quem gosta de blogues, e de blogueres, não sei se existe esta palavra assim mas é assim que gosto, como eu - de bons blogues, reforço -, tudo tem significância. aliás, no mundo tudo é para ter significância com excepção do que excluímos de significado e aí, não existindo, nada significa. desde os autores aos conteúdos, cada blogue é um amigo (e agora é impossível não lembrar a canção: que devemos bem tratar...) ou, melhor, a casa de um ou mais amigos, que frequentamos e tantas vezes nos sentamos a conversar. também os há que, apesar de sofá na sala, nunca, ou poucas vezes, estão com pachorra para conversas - tantas vezes lançamos perguntas e nem sequer nos respondem: olham-nos mas ficam calados. talvez a vida não lhes corra ou tenham dores de garganta ou barriga ou de dentes, quem sabe, mas disso alguns padecem e assim hão-de morrer. a verdade é que ao mesmo tempo que fazem destas suas casas espaços de exposição e discussão de ideias também as não asseiam - deixam acumular lixo e nem sequer abrem as janelas. isto é curioso para quem deixa a porta aberta. adiante. mas o pormenor que mais me fascina é aquele do você, está a ver? se são visitas esporádicas, entende-se. se são amiúde, com chá e biscoitos e prosa, onde é que cabe a distância fria e merdosa do você? também é verdade que no sul há bem mais merdeiro do que merda em relação ao norte mas podíamos todos melhorar isso: os do norte a continuarem a ser excelentes hospitaleiros e os do sul a reduzirem a taxa de merdices pondo o olhinho no norte. parece me justo.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

o criador

o criador apresentava, finalmente ao mundo, a nova gama de vaselina que, dia após dia, durante sete longos anos, tinha preparado. um pouco mais de óleo de rícino aqui, um cheirinho de petróleo acolá até a parafina líquida estar no ponto: não num ponto qualquer mas no ponto de exclamação das gentes perante a novidade que vinha aí.

(vir é sempre bom e a espera do vir pode, de facto, surpreender)

começou por testar o seu bebé (aquilo que fazemos com amor é sempre um rebento em branco) junto de vários estratos sociais. visitou muitas, muitas, casas e foi oferecendo amostras para, na semana seguinte, recolher informação sobre a textura e a utilidade que lhe dariam. numa casa, foi recebido por um senhor abastado que tinha descoberto uma utilização medicinal – aplicava a vaselina nos joelhos e cotovelos dos filhos sempre que se esmurravam e estava bastante satisfeito com a sua suavidade; na segunda casa tinham-na usado, na mecânica, para lubrificar os rolamentos da bicicleta e do aparador da relva; numa terceira casa, um operário, barba desfeita e hálito de intestinos de pato, disse-lhe que lhe tinha dado um uso meramente sexual: besuntava, todas as noites, a maçaneta da porta do seu quarto para os filhos não a conseguirem abrir.

entre todas as residências que visitou, esta última foi realmente a que mais prendeu a sua atenção – não pela utilização em si mas pela tomada de consciência de que, sem dúvida alguma, é a inconsciência de cada um que acarreta tantas finalidades diferentes. 

ninguém, porém, tal como ele, se lembrou de simplesmente não experimentar, não sentir a textura, não dar qualquer utilidade à vaselina; ninguém, tal como ele, se lembrou de, simplesmente, lhe responder que se excluiu do teste sem, daquela parte sem parte; da parte de não fazer, de não usar – o que o deixava a encher-se, pelo vazio seu e só seu, de júbilo.

a parte sem era, foi, sem dúvida, aquela em que, por enchimento, se excluiu. excluiu-se sempre de tudo o que o enchia, do que o tocava – e tocava-se, isso sim. tocava-se para se orgulhar do sem que era, do que com tudo sem tudo era. e abandonou o teste porque a única experiência que afinal de contas lhe interessava era a de reconhecer, em si, a exclusividade, a consciência da inconsciência. pensava, por todo si, que por melhor que fosse a sua criação nunca iria de encontro a si.

(ouvia, amiúde, de si, para si, a graçola do “e si sou boa comómilho porque não me queres?” e ria, ria, perdido numa nuvem balofa que lhe dava sempre nota cem)

por mais que a criação fosse boa como o milho, não se cansava de gritar que não era galinha – detestaria, aliás, ser a típica galinha que vive a olhar os céus e a pedir a deus que lhe dê outro sexo porque o único que tem (e a utilidade que lhe dá) enfada-o. por mais que a criação fosse maravilhosa, não a queria, recusava-se a partilhá-la com a sua outra parte que não a de criador – consigo mas sem si, sempre sem si, percorreria os caminhos e até os atalhos da ciência, do laboratório, das ruas com casas com gentes lá dentro, como num ciclo – não vicioso – virtuoso que o ajudava, mais e mais, a reduzir-se, a desfalcar-se de si em honra de si.


**

passaram dez anos, entretanto, e o criador explora o sem si no expoente máximo: bate na porta das casas das gentes, sem mostrar alegria ou entusiasmo, e aguarda, sem agitação e curiosidade, que adivinhem, sem consciência, ao que vai, qual o produto que quer testar e o que pretende saber. pretende, agora, sem fim e sem cabo, dar um novo significado à palavra sentir.

a chuva do Bidarra

também cai aqui. e lá.

vinte mil pessoas e um funeral

cheiinho de flores viçosas. e contadas.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

nascia a ideia da Europa no século dezanove. valeu a pena?

estamos agora no século dezanove, façamos uma breve viagem, e bismark, o homem alemão da política pela força, falava em “falar europa”, prelúdio do discurso de renouvin – decano das relações internacionais de solidariedade entre povos -, que apresentava ao mundo o problema da criação europeia como federação ou comunidade. e dizia problema pela sábia visão da diferença daquilo que era, e continua a ser, o discurso (com tudo o que os vocábulos comportam em termos míticos, linguísticos, estéticos) e a acção que implica sacrifícios, opções, integração no real organizado e dependente das circunstâncias.

sem querer esquecer qualquer outro contributo importante no percurso da ideia da europa é impossível não referir emeria curcé que publicou, em 1633, o livro "nouveau cyrée", em que defendia a criação de uma assembleia permanente de arbitragem, que ao mesmo tempo garantiria a paz e favoreceria o desenvolvimento das trocas internacionais; e depois o “grande desígnio” que sully, seu conselheiro, atribuiu a henrique iv defendendo a europa em quinze estados e um conselho comum; e william penn quando publicou, em 1693, o "ensaio pela paz presente e futura da europa", no qual considerava que deveria ser constituída uma assembleia de  representantes dos estados europeus que tomariam decisões por maioria de 3/4 dos estados - as decisões tomadas poderiam ser impostas coercitivamente por uma  força armada a formar; do abade de saint-pierre, 1712, em "projecto de paz perpétua", defende a criação de um parlamento europeu que teria competências legislativas e judiciais; ou de kant, espírito liberal individualista, onde os colectivos identitários que denominamos de nações deviam ser diluídos em troca de uma “pacífica” colecção de indivíduos sob o mesmo estado federal; ou quando, em 1849, victor hugo lança um apelo a favor da criação dos estados unidos da europa.

poder. generosidade. solidariedade. coerência. todos estes homens, estadistas ou pensadores, que importa?, projectaram – muito mais do que um continente de força – valores. curiosa e lamentavelmente assistimos, mais de cem anos depois, a um problema – ao mesmo problema que renouvin, o decano lá de cima, explanou: a união do discurso não acompanhou a acção: ficaram, têm ficado, de lado os valores – vence o poder. os sacrifícios de uns são a glória de outros; as opções de alguns são ganância e de outros circunstância.
existe comunitarização de todas as matérias?
as decisões em domínios cruciais são adoptadas por maioria?
a comissão tem um grande poder de iniciativa?
o parlamento europeu tem um enorme poder no processo legislativo e exerce um efectivo controlo político?
o tribunal de justiça tem real competência perante todas as matérias?

valeu a pena?

Espirito Empresarial Responsável + boa vontade+ esperança


ouvi assim

as palavras, algumas, deixam a alma lavada.

(sim, é verdade, mas e as outras, outras, não são pêlos soltos e esquecidos, porque imprestáveis, no bidé?)

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

viveliotecas

as bibliotecas já não são o que eram: são, têm vindo a ser, melhores. as primeiras, materializadas em placas de argila, onde se registavam contas de tempos e de trocas comerciais, datam de há 3000 anos antes de cristo. a primeira biblioteca pública de que há conhecimento localizava-se em atenas e constituía, na graciosa grécia clássica, além de consulta de manuscritos, local de encontros para discussão e elaboração de projectos. na história ficou igualmente a biblioteca de alexandria – espaço com milhares de rolos de pergaminhos para leitura, oficina de copistas e arquivo de documentação oficial. mas terão sido os romanos os primeiros a fazerem das bibliotecas públicas instrumentos de dominação intelectual - propagando-se, assim, as bibliotecas particulares como símbolos de riqueza e prestígio -, uma moda.

foi nesta época que os copistas começaram a surgir em massa – trabalho desempenhado por escravos – assim como os codex em pergaminho que substituíram os, até então, rolos de papiro. seguiram-se guerras e destruições que travaram a expansão das bibliotecas e a concentração dos resquícios manuscritos em mosteiros, conventos e castelos feudais: aqui aqueles eram conservados, copiados, traduzidos e ilustrados mas também monopolizados e tornados inacessíveis ao povo. no mundo árabe a expansão destes locais foi impressionante durante a alta idade média, fazendo a delícia de professores e estudantes no reino da matemática, astronomia e filosofia.

 com o surgimento das universidades, na europa, os livros passam a ser um luxo intelectual, apesar de acorrentados para inibir o roubo, partilhado. o livro reencontra o simbolismo de riqueza e de prestígio na idade moderna que gutemberg, esquecê-lo é pecado, em muito contribuiu. que maravilha. nascia o primeiro livro impresso que vinha a permitir a transmissão do conhecimento a uma escala nunca antes vista. apenas, no entanto, no século dezassete as bibliotecas viriam a ser públicas quebrando-se a excepção de frequência a sábios. é no século dezoito que surgem as bibliotecas nacionais e no século seguinte é fundada a maior biblioteca do mundo, nos eua, a do congresso. aos antigos conceitos e actores do mundo do livro juntavam-se o autor, o impressor, o livreiro, o editor, o bibliotecário e, finalmente livre, o leitor.


mudaram-se os tempos, assim como as vontades e as necessidades: o combate ao analfabetismo e a cada vez maior preocupação com a educação deixaram, de vez, as portas abertas ao livro no século vinte, século que fez desenvolver, e instituir, um novo mundo ao mundo do livro. nos nossos dias as bibliotecas não possuem apenas um carácter documental e informativo in loco – antes deixaram que o tempo lhes refrescasse as tecnologias e os recursos e, ninguém lá longe alguma vez imaginou, entra-nos casa adentro, espaço físico superado, por via virtual. e esta, hein?

terça-feira, 20 de agosto de 2013

refas­te­lado, não irado, é como não diz a cobiça — de quem não tem olhos de lince: uma injustiça.


ai que bom!



gang dos cotas

raramente um programa de riso me faz rir e há muito tempo que não gargalhava a ver um - chama-se gang dos cotas e além de promover o riso, ai o riso!, promove igualmente o trabalho sénior. e lá estão eles, sete actores séniores e malandros a mostrarem que são bons e os melhores. a componente do inesperado e, ao mesmo tempo, do inesperado com banda sonora foi a que me cativou. e depois a naturalidade com que fazem aquilo vem dar-nos a certeza de que a idade em frequência acumulada é fonte de experiência e sabedoria. façam mais. quero mais.


Nós, os estúpidos

mais um textinho maravilha

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

esperança

e a lua gorda de esperanças não é a melhor esperança que há?

Judite Cabra Sousa



não havia, certamente, nada mais interessante a explorar, em horário nobre, do que a vida de um puto que nasceu e há-de morrer rico: eis a primeira miséria. depois começam as perguntas em tom sarcástico e esgar de nojo, uma atrás da outra, como se ter dinheiro, muito dinheiro, fosse um crime horripilante - uma falha que desmerecidamente não sofre castigo. cabra. acaso a Judite vive de algum salário miserável e veste roupas da avó ostentanto, desta feita, valores anti consumistas? não. a cabra da Judite ganha uma fortuna mensal para dar aos portugueses notícias interessantes e que, de alguma forma, lhes aumente a bagagem de informação útil. ao invés, a cabra decide transportar a crise e a incompetência do governo para um miúdo que caga notas e que, por isso, havia de as distribuir por cá para a curva da recessão minguar; a cabra nem se lembra de que também ela é uma privilegiada e fútil - ou não daria importância à vida de alguém que apenas vive o dinheiro que tem da forma que melhor lhe convém - e invejosa. sim: a Judite além de ser cabra é invejosa.

(mas pode ser que para o ano o moço lhe pague a viagem e a estada para o seu aniversário. e um lifting ao cérebro, já agora,  que o saláriozinho dela não deve chegar.) 

parece pele triste,dura, enru­gada, de medo — ele fun, te gusta?, parece ser mas não é rochedo.

alguém


tempo que fala, calando, é tempo de ficar
tempo que fala, calando, é tempo de andar
só não é tempo a correr - como ao tempo que se diz que é o tempo a passar

domingo, 18 de agosto de 2013

guerra das trinchonas

vai lá saber-se porquê ando, há uma dúzia de dias, a receber convites de mulheres para exploração de intimidades em diversas e diferentes frentes da internet. andará o meu email a circular em uma espécie de guerra das trincheiras, trinchonas vá, da homossexualidade? a umas ainda respondi com graça e desdém mas a outras, às que se seguiram, decidi ignorar-lhes as pretensões - não por falta de educação mas por considerar que cortesia não é mandá-las a todas para a puta que as pariu, já que não me apraz o assédio sexual, per si, seja em que categoria de gente for. andor carrapatices!

a felicidade é relativa

espelho

sábado, 17 de agosto de 2013

manifestação dos pessoinhas

quando começam a rebentar os balões os pais zangam-se, não há direito. não há direito de as festas de aniversário dos pequenos serem, do início ao fim, para os grandes. tudo começa na escolha das comidas: camarão, frangos, empadas, rissóis e pataniscas, bolos gordos de creme, batatas fritas, refrigerantes, vinho, cervejas. está bem, há o bolo em pasta de açúcar do homem aranha e a mousse de chocolate mas e o resto? qual é a criancinha de três anos que pode beber um copo, seja do que for a não ser água, ou encher a pança de fritos ou lambuzar-se de marisco? pois. depois a música ambiente é aquela agradável à conversa, à conversa dos convidados dos pais obviamente, não havendo espaço para cantigas para saltar e berrar por conta de o barulho ficar insuportável. e depois há os balões, coloridos e de todos os feitios, que são interditos ao estouro. ora não é justo. as festas de crianças, e em particular as de verão, são para encher a casa de pirralhinhos que querem andar descalços e com a fruta de fora; são para encher e rebentar balões com água; são para enfartar as mesas, mesas proporcionais ao seu tamanho e não aquelas para eles inalcançáveis, de guloseimas e sumos naturais e as comidas preferidas; são para as vozes adultas se calarem a ouvir as barafundas dos pessoinhas. e é por isso que eu proponho uma manifestação dos miúdos a favor das festas de aniversário exclusivamente infantis. querem aproveitar as festinhas para estarem com os amigos, beberem uns copos e deitar conversa fora, querem? então arranjem tempo, pais. arranjem outro tempo - é que esse é deles e para eles. certo?

Moinho abandonado em 1866, Sorrento, Itália.

parece miragem, já foi moagem, mas é castelo de ver - para que servem os olhos, pérolas da fronte, senão para deslumbrar o ser?


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

se

se ela fosse molho era ele guardanapo
uma caneta preta em transparente acetato
cobria-lhe a pele caiada
adentro dos dias claros e afora madrugada
quicumba de sabedoria lhe sobrava
chiste sorriso
delícia
psilo de doce
paixão
lux
mão

identidade

este Valupi esgaça o anonimato como ninguém, é fabuloso e só me apetece dar-lhe beijos.

brisa-me

uma brisa de ar fresco maravilhosa.

terapia

há uma boa dose de gente que, sem dúvida, precisa de terapia da boa: ter a pia cheia de cuecas sujas para lavar deixando, assim, de se meter na vida dos outros. é a chamada terapia get a life acaso sejas um amante dos vocábulos estranjas para ornamentar a coisa.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

a propósito de uma conversa que ouvi

disse assim, uma para a outra: claro que vamos de férias para fora e em vez de uma batata come-se meia. 

ou seja, há pessoas que preferem cortar em bens essenciais do que nos acrescidos - tal e qual em parelha com o governo. não perceber que a saúde depende muito da alimentação é a mesmíssima coisa que compartilhar a ideia de que a reforma do IRC traz o consequente aumento dos recursos para investir no futuro. enfim.

foler

olha onde se chupa mais a literatura erótica: em Surrey.

sound + vision: John Turturro & Woody Allen

sound + vision: John Turturro & Woody Allen: Um homem recebe do seu amigo mais próximo uma sugestão inesperada para resolver os seus problemas financeiros. A saber: a venda de favores s...

socorro!

por aqui e acoli, confirma-se: a inteligência anda a ser vítima de bullying.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

pensamento das cinco e meia da tarde

não sei bem se o meu cérebro está mais cansado que o cavalo do Quixote ou que um órgão barroco.

descoberta

(Malinev Marinov - se não é assim, inventei)

quando era pequenina tinha amiúde o mesmo pesadelo: acordava sufocada depois daquela sensação terrível de cair numa espiral e nesses dias, nessas noites, julgava ser o pesadelo uma das piores coisas da vida - como se fosse, e era, um castigo que eu não podia, de todo, controlar. o que fazia de mim impotente. agora sei que pior do que ter um pesadelo e acordar sufocada é estar a dormir tranquilamente e acordar com realidades tristes e, um sufoco, não conseguir voltar a adormecer. 

creio que ainda sou pequenina, pelo menos até à próxima descoberta.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

panelaterapia

tens pão? então parte às fatias, em abundância, e enche - até tapar - o recipiente com água fria. deixa ficar. bastantes alhos partidos, ou esmagados, são precisos. mete-os no tacho com uma folha de louro e rega com azeite, carrega na generosidade. entretanto, porque ainda é cedo, esfia quatro lombos de bacalhau. então, mete o alho a alourar e de seguida o bacalhau. mexe lentamente e quando sentires que está a colar ao tacho é porque é horinha de juntares o pão em água fria. afina o sal e dá um cheirinho de pimenta preta. vai mexendo lentamente e desembaraça quatro ovos lá no meio até ficarem em fios cozidos. desliga. a salsa está picadinha? muito bem, agora só falta azeitonas pretas e muito apetite. no fim, vais esboçar um sorriso enorme e a língua teimosa não vai querer sair dos cantos para dentro.

é açorda-maravilha de bacalhau, pois claro! e vai bem com este som à moda dos 80:


jefe

há dez anos, mais ou menos, esta canção estranha fazia, e ainda me faz, galopes de riso. na verdade, esta é a lengalenga que ensino aos filhos das minhas amigas mal começam a falar - não há um único que não saiba dizer: jefe, ven aca pa ca! e hoje, a menina que cantava isto quando vinha de Sanxenxo já está uma senhora adolescente. ontem lembrou-se de enviar para partilhar riso - e resultou.


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

como se distingue um homem altamente básico dos outros?

o homem altamente básico possui um grau de boa disposição directamente proporcional ao processo de esvaziamento dos testículos.

vinte filmes do AH para ver online ou descarregar


aqui

vento: matéria prima e obra






A Rare BBC Interview of Andy Warhol, 1981

The iconic artist on happiness, creative process, the allure of repetition, and the importance of going through the world with kindness.

olhos em chuva que fazem olhos de sol

há homens assim. acabara de completar setenta e seis anos, é um ano mais novo do que ela, mas aparenta bem menos. taxista de profissão passa o tempo fora de casa. foi sempre assim: duas famílias, um filho de cada uma, muitas mulheres reles, e uma só vida. cheia. não conta muitas histórias a não ser sobre Penafiel, a terra onde nasceu e cresceu - fala das vinhas cortadas a corridas e saques de fruta, das quelhas em terra batida e do arroz do forno a lenha. ela nunca saiu de casa nem deixou de ter o almoço pronto ao meio dia em ponto para ele, por causa dele, que vinha de trabalhar e de ir de seguida ter com a outra família que ela desconhecia. e hoje, entretanto ele teve de assumir o outro filho e fazer descair a mentira, ainda é assim. e ele resiste, como nunca vi antes, à idade: faz questão de manter a mesma alimentação, de fazer os mesmos horários com o táxi, de ler muitos jornais e encher de tinta as palavras que por lá se cruzam. recusa-se a fazer qualquer actividade onde haja um aglomerado de pessoas da sua idade. e é por isso que lhe chama velha quando se irrita, em enxurrada de palavrões, e repete, velha és uma velha. os olhos dela mantêm-se firmes mas molhados, talvez por se sentir velha. mas ser mulher é esta maravilha: conseguir, sabendo o que se é, não chamar velho ao homem mais velho do mundo para que os seus olhos, pequenos sóis de uma vida, nunca fiquem em chuva molhados.

domingo, 11 de agosto de 2013

estomas

desconhecia-lhes a beleza - e o nome: parecem rosas, ou talvez também camélias, mas não são. não têm espinhos como umas nem vestem tantas saias como as outras. senhoras e senhores, apresento-vos as estomas.


sábado, 10 de agosto de 2013

é proibido

não chupar os miolos aos peixes
não comer frango com as mãos
não abrir a boca quando se come chocolate
não lamber os dedos depois do marisco
não descalçar os pés debaixo da mesa
não deixar cair molho no peito
pois é.

coisas que fazem corar

Labirinto ou Alguns Lugares de AmorO outono 
por assim dizer 
                   pois era verão 
forrado de agulhas 

a cal 
rumorosa 
do sol dos cardos 

sem outras mãos que lentas barcas 
vai-se aproximando a água 

a nudez do vidro 
a luz 
a prumo dos mastros 

os prados matinais 
os pés 
verdes quase 

o brilho 
das magnólias 
apertado nos dentes 

uma espécie de tumulto 
as unhas 
tão fatigadas dos dedos 

o bosque abre-se beijo a beijo 
                                        e é branco 

Eugénio de Andrade, in "Véspera da Água"

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

trança

só quem tem paixão por cabelos compridos percebe a curiosidade por saber fazer tranças. sim, porque as tranças não são um penteado qualquer. as primeiras tranças percebem-se nas estátuas de Vénus de Brassenpouy e Vénus de Willendorf, vinte e dois mil anos antes de cristo, mas é na imagem da Cleópatra, no antigo Egipto, que elas aparecem perfeitas, lindas, inspiradoras, simbolo igualmente de riqueza e de proximidade das divindades. depois, no império romano, a forma arredondada com que elas enfeitavam os cabelos pelas tranças era deliciosa - tal como na Grécia antiga, idade média. igualmente os celtas e os chineses faziam delas rendilhados importantíssimos. ademais, a literatura e o cinema estão repletos de tranças e de significância, qual o pormenor que o sendo não a tem? a verdade é que hoje em dia o frenesim das cidades desmotiva o uso da trança - até os penteados são escolhidos levando em consideração, não a beleza potencial que um cabelo comprido oferece, o tempo de secagem e de arrumação. mas não lamento: cada um usa o que quer e eu não prescindo das tranças. vai daí, tinha muita curiosidade em aprender a fazer a trança embutida e a outra que é espinha de peixe. e agora já sei, iuuuuppiiiii!


retrato rápido de cada município

aqui

o governo anda preocupadíssimo com o apoio às famílias dos suicídas



T4 e T5 afinal é para todos

how brains see

anedota

afinal o desemprego está a diminuir

La Cage Dorée

viva Portugal, por entre o Douro e as vinhas e a alegria da mesa com bacalhau e vinho e riso - a família -, é o início por ser o fim. explico: é esta mensagem de união e de alegria tosca de que somos feitos que interessa agarrar. está bem, o português é aquele a quem custa dizer não, honesto, trabalhador, um aguentador por natureza - mas por uma natureza simples, como se quer. Portugal é o fado na voz e na vida, lágrimas imprescindíveis; é a soltura das palavras bravas, genuínas; é o riso dos parentes, porque presentes; é a mesa farta, porque grata. 

e é por isso que nós, portuguesezinhos, não podemos deixar que homens corruptos e sujos nos ofusquem o dentro - havemos de conseguir não deixar que Portugal deixe de ser aquilo muito mais do que isto: é ali, no fim do filme em fundo de Rodrigo Leão, que temos de ser e estar. e será essa a luta maior a travar - tornar intocável a nossa identidade, aquilo de que somos feitos, aquilo que nos faz - a todos - chorar e rir: aquilo que é sentir no peito o orgulho de ser português. não obstante a merda que o homem do poder fez.


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

scones al cá & nela

300gr de farinha
1 colher de sopa de fermento em pó
1 colher de chá de sal
3 colheres de sopa de açúcar
8 colheres de leite morno
100 gr de manteiga

até aqui nadinha de novo: esmaga-se e apalpa-se com as mãos até a massa ficar consistente e macia. mas depois, antes de fazer bolinhas irregulares antes de meter ao forno a 150º, faz-se um buraquinho a meio, com o mindinho, e sopra-se canela - bem ao de leve - para dentro. aqui está a inovação. e deliciosa.

nova descarga

de trezentos e setenta e cinco. aqui.

e esta, hein?

Jesus, o "revolucionário judeu com consciência política".

uma ideia gira,

gira. espalhada por este gatão.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

caçadeira

a propósito desta notícia. à primeira vista é apenas mais um caso de salvaguarda dos direitos da criança e que não refere em que se baseia o tribunal para quarenta e oito horas depois de ser parida meter uma criança em uma alcofa e levá-la dos pais, da mãe. depois, bem vista e atendendo aos factos - e não apenas à interpretação que nos é oferecida pelo jornalismo sensacionalista e redutor - bem explicados pelo Quintino Aires, percebe-se que já não podem haver crianças, adolescentes neste caso, rebeldes - por um lado - nem autonomia de os pais castigarem os filhos - por outro -, nem sensibilidade por parte da segurança social naquilo que é inibir um recém nascido de ser amamentado e provar do calor materno. em que mundo é que os pais não podem atribuir castigos, privando-os do que querem ou dando-lhes o que não querem, aos filhos sob o argumento de humilhação? não estamos a falar de cortar um dedo mas do cabelo nem de a obrigarem a comer merda mas sopa - é isto uma humilhação sendo que todo o castigo tem obviamente a componente de humilhação porque de outra forma seria elogio? e a rebeldia de uma adolescente é, em que mundo, motivo para os pais decretarem uma filha delinquente e digna de viver fora do seio familiar? e em qual mundo, digam-me por favor, as agentes da Segurança Social aguardam que um bebé nasça para o retirarem imediatamente do colo da mãe por forma a evitar castigos humilhantes? de facto só mesmo uma caçadeira, penso, para acabar com esta miséria repartida. e depois os testes da universidade do minho a comprovarem que os pais têm perfil para serem pais apesar de precisarem de acompanhamento. desculpem? existem duas crianças, uma mais do que outra, a sofrerem com o desequilíbrio dos adultos - em casa, na Segurança Social e nos meios de comunicação social. e o pai faz greve de fome. o pai havia de sofrer de fome quando lhe dá o apetite de foder a mulher sem preservativo. e a mulher, a mãe, havia de sofrer da mesma anorexia quando não faz planeamento familiar. e os testes têm de ser feitos antes de haver pais e filhos porque, está visto, ser pai e ser mãe e ser filho é de uma responsabilidade que não advém apenas de ser fodida.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

descobri esta coisa belíssima


foguetes & Compª

creio ser Agosto o mês dos foguetes. em todo o lado e a toda a hora lá se ouvem os falsos trovões a anunciar que há festa e a verdade é uma só: onde há foguetes há farturas e carrinhos de choque e venda ambulante de singles e LP's. ó, disparate, isso era dantes - agora é tudo corrido a CD e se só gostares de uma, paciência, é da maneira que ficas a conhecer - mesmo mesmo com conhecimento de ouvido - o resto. depois há procissões e romarias e fazem-se  missas em alta voz que obrigam os demais a desejar o silêncio do fundo da voz dos pássaros ou do vento ou até dos carros a buzinar. Agosto não é só o mês dos foguetes afinal, também há os filhos que foram e voltam a estrangular a saudade. e para esses agora há-se ser uma alegria triste ver o pai fraco e em crise, maltratado. mas é como digo, uma alegria triste porque no meio dos foguetes e das farturas e dos carrinhos de choque e dos CD's e das missas o pai fica sentadinho a um canto. e ainda bem que assim é.

sábado, 3 de agosto de 2013

que delícia, que doçura, que bravura!

só mesmo quem se descreve assim:
O meu maior medo é que a morte seja tudo às escuras sem se poder ler. Pouco interessa deixar de ser humano, desde que não deixe de ser leitor. Ler é do mais feliz que tenho. Porque escrever é triste.
poderia dizer-me algo adorável como 
Há uma maneira de chora que é privilégio de genter forte :)

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

olha que bom:

a descarga dos cem

Homem do subsolo, personagem de “Memórias do Sub­solo”, de Fiódor Dostoiévski (Editora L&PM)

“Só creio naquilo que possa ser atingido pelo meu cuspe. O resto é cristianismo e pobreza de espírito. Não creio nos sentimentais encabulados, nos líricos disfarçados que se benzem quando os raios caem. Meu materialismo é integral. Nasceu no mesmo ventre que me concebeu. Mas voltemos ao irmão. Dentro da predestinação que fez Caim matar o inocente Abel e Jacó passar o conto-do-vigário em Esaú, o torturado irmão foi coisa que sempre desprezei. Nunca fiz indagações em torno de nossas diferenças. Sei, o problema é dos muitos que aguçam a ignorância dos sábios e demais desocupados que teimam explicar coisas inexplicáveis, como a vida. Não sou entendido em cromossomos. O que sei de genética é pouco mas divertido: está espalhado nos mictórios do mundo.”

delícia de rejeição


acidentes de trabalho?

não, nada disso: o álcool é potenciador da alegria e da pujança no trabalho.

(palavra de tribunal)

ai e ai

acho, como dizer, engraçado ouvir dizer que não querem parto normal por conta de a mulher não ter sido feita para sofrer. ora aqui está um belo argumento: o sofrimento. pergunta minha às mulheres em geral e às grávidas em particular: o trabalho de parto não faz parte do processo de gravidez que começa no prazer? bom, respondem-me então que se é possível minimizar a dor pode-se e deve-se. minimizar a dor. interessante. será dor a sensação - sim o sentir tudo literalmente - de parir quando parir é um acto de vontade e de responsabilidade e de amor? não creio. todas as fêmeas da natureza o fazem. e sozinhas. fracas, são todas fraquinhas as que monopolizam os ais de prazer e descartam os de dor.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

é mesmo isto


quem fica, morre

dez metros quadrados, dez pessoas. vozes altas que se cruzam em tentativa de conseguirem pelo menos uma - pelo menos uma venda que salve a manhã ou a tarde. uma toma valium para dormir e uma outra ao acordar. outra já não tem cabelo, usa peruca, de tanto que esticou o sistema nervoso. outra fecha os olhos e baixa a cabeça amiúde, tique nervoso, enquanto lê o manuscrito ao telefone. outra senta-se e levanta-se entre uma chamada e outra. outra e outra e outra. acresce ser o mês de agosto e as empresas estarem em fecho de férias ou fechadas. os três focos de luz artificial por cima das cabeças queimam os olhos e o ar. mas queimam, sobretudo, a sanidade mental de quem lá está - e de quem quer ficar.