terça-feira, 13 de janeiro de 2015


que palavra tão especial descobri!. é a fonética que a faz especial. repara bem: o cri, em alta voz, exige um movimento de língua invulgar - uma especificidade álacre.
comecei a ouvir a melodia só por causa destas palavras: e se amor não é amar?. depois, quando chegou a vez da voz, fiquei com ganas de aliviar a tripa. também acontece.
cada vez há mais coisas que não entendo, que não sei. ao mesmo tempo, cada vez sou menos aflita - não por querer saber - por não saber porque não entendo e porque não sei. será coisa da meia idade. bem visto, e se viver até aos oitenta, apesar de ter sempre a sensação de que o mundo precisa tanto de mim que vou viver sem rugas até aos cento e vinte anos, já estou na meia idade. não sei bem se agora o tempo passa mais a correr ou se aumentou a minha vontade de vê-lo passar - até porque só quero mesmo, sempre quis, o tempo de ficar.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

quem me dá este castelo
p'ra eu por fora me isolar?-já que por dentro
, no jardim,
não faltam flores. cheirar



quando fazemos muitas perguntas quase ninguém gosta. principalmente no mundo do trabalho.querer saber parece querer significar remar contra a maré. mas a questão reside mesmo aí: o mar é uma imensidão de correntes e de inconstâncias e de ondas ora revoltas em orquestra ora mansas de pifarinho. gostar mesmo, as gentes, gostam de águas paradas: ainda não descobriram, nem descobrem - a personalidade quieta não lhes permite -, que no fundo do rio tudo se faz lodo.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

outra vez: apetece


cão, festas e poios

mais feminina ela não pode ser. o olhar é tremendamente meigo, os cabelos são longos e morenos, abana constantemente o rabo farto e quando vê um poio ao longe dá-me imediata indicação para atravessarmos para o outro lado da rua. ademais, usa um corpete às bolinhas com uma fita, bem à moda da eternidade, lilás. então por que caralhos é que algumas pessoas, quando por nós passam, perguntam se podem fazer festas ao cão? ora apanham logo com um não, que é menina e que só gosta de carícias.

domingo, 4 de janeiro de 2015

ser católico


parece-me excelente o serviço público que o Rui Dinis apresenta há mais de uma década. tenho, no entanto, uma coisa a dizer: não fazendo ideia da quantidade de música feita em Portugal e por Portugueses, desconhecia igualmente que na sua grande maioria é ausente de portugalidade. é como se a música feita em Portugal fosse, e é, com as devidas excepções, uma espécie de estrangeirismo.

mas retiro-lhe, obviamente, a esta constatação, a densidade. porque o que importa é a música, essa energia cheiinha de leveza sem fronteiras.

sábado, 3 de janeiro de 2015


ah! eu digo isto, uma questão de estado de espírito do ADN, desde que me lembro de começar a pensar! é desta que jogo no euromilhões e me salvo! vou já celebrar o acaso da vida e da morte:


sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

ah! esta jobóia é fixe!
que cultura individual é esta de uma mulher que se permite engravidar e abandonar a sua cria, ainda com o cordão umbilical pendurado, na rua? que cultura colectiva é esta que permite que o sexo, prazer é com certeza outra coisa que não tem que ver com impulsos biológicos, se sobreponha a tudo o resto? na maioria das vezes o aborto aparece como a alternativa perfeita. em outras, o abandono de uma parte de si mesmas transforma estas mulheres - em ambos os casos por uma irracionalidade fodida - em monstros e as crias, ou projectos de crias, em vítimas vitalícias ou vítimas por viver. esta é uma tristeza atemporal mais moderna do que nunca. o tempo passa e o Homem não avança: regride naquilo que é essencial. que vergonha.

o amor e outros azares, ai que bom!

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

amor de porcelana. também. e duquesa fresquinha.

detestei. em vez de sair relaxada e tranquila, a irritação e a vontade de partir tudo vingou. se me aparece outra vez à frente, desisto. porque desistir também pode ser escolher o melhor. que vá berrar e perguntar coisas óbvias, durante uma aula, à conicha que a pariu.




segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

podem acreditar aqui na Olindinha: um sumo da mistura de quiuí com dióspiro fica excelente. fica polposo e pouco doce.

sábado, 27 de dezembro de 2014

que escândalo! no dia em que deixar de me escandalizar, e revoltar, perante situações de pura miséria humana - a da exploração profissional - é porque já não estarei em mim.

que me cortem os pés, as pernas
o horizonte, o olhar
esganem-me os quereres
sufoquem-me as ganas
dilacerem-me os tons de sim pintados
nãos bordados
mas não, não me matam a voz
nem me fazem calar a timbre justo.
nem isso nem atirar, aos tiranos, cuspo


quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

queridos leitores

ontem andei mais de uma hora com a ponta do nariz borrada de chocolate quente que entretanto secou. pensariam, os transeuntes, com certeza, tratar-se de merda. isto porque ninguém teve a coragem de me avisar. isto trouxe-me riso, muito, mas também reflexão.

o que vos quero deixar aqui e agora, como sempre, é um pedacinho - mas apenas um pedacinho porque preciso dela toda para continuar - da minha esperança para um mundo melhor com melhores pessoas. e não será por acaso que o pai natal, que não deve ter as tensões a dezoito porque não se cansa, é gordo: a esperança ocupa espaço.


foi em novembro

grelos e outros
dracular
piratar
magia disney
democracia sensual

Brasilidade, Shakespeare,

tecnologia

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

o guardador de vacas magras e de pesadelos



já é o terceiro passarinho que encontro morto, ali na zona da mata, morto de frio. e fiquei a pensar se vale mais morrer de frio ou de calor. cheguei à conclusão de que morrer de frio é uma morte bem mais aconchegante.

domingo, 21 de dezembro de 2014

há meia dúzia de dias lá fui eu verificar outra vez e enchi-me de felicidade: chamem-me vaidosa e presunçosa mas a verdade é que o meu querido Rentes de Carvalho ouviu-me e consolou-me: que é isso de o Tempo Contado acabar? e depois de muito tempo, talvez a pensar ou a ganhar vontade, voltou. gosto de pensar que também foi por mim e que as cartas, para o caso uma carta electrónica, ainda são mágicas.


está na cara se há saúde


sábado, 20 de dezembro de 2014


olha que descoberta cheia de graça e de curiosidade

puta dum corno, dos diabos freira,
eu me assento, por não mais aturar-te;
tu cá ficas, cá podes esfregar-te
com quem melhor te apague essa coceira;

última tu serás, sendo a primeira
que de mangar em mim se achou com arte;
mas eu nisso mijei que em toda a parte
bem se sabe quem é Clara-Ribeira:

vai-se, surrão, injúrias das mulheres,
vai fornicar na praia, e não se diga
que não achas colhões quanto quiseres:

tanta luxúria os ossos te persiga,
que ainda os mesmos que comeres
se convertam em porras na barriga

(soneto CLXXVII de Antonio Lobo de Carvalho, século dezoito, dedicado a uma freira do Porto)

gosto tanto de ovos estrelados como das risadas das gaivotas.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

paradoxal e real: como é que um grande machista como Mahler compunha música rendilhada, tão alusiva à alma feminina, desta? um dos grandes pilares do machismo é o medo tremendo do poder feminino e do seu indesvendável mistério que o homem vulgar apenas consegue contemplar de fora...
bem giro

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

  

Bordalar é sempre ganhar tempo.


acabei de marcar encontros imprevisíveis. ela vive do outro lado da rua sozinha, apesar de o filho a visitar todos os dias sem falhar. queixou-se-me, no entanto, um dias destes, quando lhe perguntei da japoneira tão linda que lá tem, de tantas vezes ter frio nos pés e não conseguir calçar as meias. depois também é surda e não ouve nem a campainha nem o telefone quando tocam. ora sendo assim torna-se complicado ajudar. também o orgulho a impedem de pedir ajuda e tantas vezes faço de conta que quero gabar-lhe as flores do jardim só para perguntar se tudo está bem quando saio para passear a cadela. hoje, mesmo agora, fez-se-me luz. combinei com a dona Isabel que sempre que precisar de ajuda pode colocar um lenço amarelo fora da janela. desta forma, passo a ir à janela mais amiúde e vejo que precisa de mim. a partir de agora tenho encontros imprevisíveis.

e depois a bruxa da velha do lado, a única pessoa com quem não falo desde que aqui cheguei faz este natal três anos. e não lhe falo porque desde o primeiro instante que me lançou um daqueles olhares gelados e de desdém. não me enganei, é a bruxa mais bruxa do universo. ontem quando cheguei com o meu pai, já passada das dez e meia da noite, o cão que decidiu escolher esta rua para morar estava deitado à porta dela a tremer de frio. vim a casa buscar um cobertor, cozi massa e grelhei um bife para lhe dar. hoje a bruxa falou para mim pela primeira vez, criticou-me o gesto além de se ter arrependido para o resto da vida de o ter feito. chamei-lhe indelicada e hipócrita, já que a caridade do domingo dela é igual aos excrementos que o cão faz. dei-lhe mais uma ruga vincada, trouxe-lhe o sangue ao peito e ao rosto, desconfio que lhe desfrisei os cabelos arranjados. envergonhei-a e obriguei-a a engolir-me de vida - da vida de um cão que podia também ser de alguém sem abrigo. fodia-a toda. delícia.


durante a noite senti o cheiro da serra, a serra que me viu tornar-me mulher. passava horas no parapeito da janela que dava para a varanda que dava para a serra e não invejava as corridas de bicicleta e as risadas da rua. quem atenderia o telefone preto e brilhante junto às plumas bejes enquanto o pai trabalhava e a irmã mais velha estava na escola se tocasse a dar boas ou más notícias? era um dever que nascia ali, mesmo ali, e me levava aos esteiros e à severa e ao amor de perdição no parapeito da janela de peito para a serra - este dramatismo que me tatuou para sempre e que tanto repugna as gentes.

um dia a serra ardeu e só voltou a ser verde já eu estava na universidade e tinha de apanhar três autocarros para chegar à foz depois de almoçar salmão grelhado às onze da manhã. mas quando começou a arder, eu ardi com ela. que é isso de não ver para não sofrer? - pensava. e não quis ir à escola. quis sofrer com ela, com a serra que me acompanhava à janela. e hoje, na noite, senti o cheiro dela.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

os amantes das selfies têm agora mais um motivo para exaltarem o seu narcisismo. bem visto, e em bom português, cagar purpurinas é mesmo o brilho que faltava à fotografia.
ai que riso! também pode dar-se o caso de as namoradas serem fraquinhas, então e a intensidade?, por não conseguirem nem fazer-te falar nem sangrar.


ai que riquezinha erótica do século dezanove!

nela amo tudo, verdade. até as flatulências mal cheirosas que de quando em vez se  fazem sentir nas pantufinhas cor de rosa que lhe calço sem, pois claro, calçar. amo-lhe a baba e a ponta do nariz pinguço; amo-lhe tanto pêlo moreno e as garras afiadas que m'arranham a face com a gula de mim; amo-lhe o paranço dos dias apagados pela indisposição; amo-lhe os olhos brilhantes e expressivos e contadores de tudo o que me quer mostrar; amo-lhe o rabo abanador de alegria e a língua, rolinho de fiambre tenro, que me acorda e me deita. e quando me dá a pata, esgar espontâneo de mimo, para eu beijar, amo-a porque me derrete.

ah, DIY, sua Besta!
se forem chineses ou africanos não podem, que é isto de termos por cá uma ninhada de ratos amarelos e pretos? mas incentivar, por necessidade, a emigrar - seja para onde for -, é o que o governo faz mais. estaremos perante uma nova raça vigente: a raça europeia, uma raça superior a todas as outras. é europeia e está grávida? então pode entrar para vir dar à luz junto do pai da criança que certamente fará de tudo para sustentar a família. até porque portugal tem, neste momento, um saldo tremendamente positivo no que à balança de nascimentos diz respeito: nascem cada vez menos e há a tendência crescente de as mulheres emigrarem a gravidez - logo se as grávidas europeias, e não esqueçamos as brasileiras talvez por acordo Ipiranga -, fizerem nascer cá os filhos fica tudo muito equilibradinho. bebés chineses e pretos é que não, que nojo.

até a vergonha cora de vergonha.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

optimização de recursos naturais


coisas bem boas

esta
e esta
e mais esta
e esta também
acham que fazem muito por ele. dão-lhe comida e deixam-no ficar preso a um cadeado à entrada da garagem. primeiro, quando ainda eram apenas um casal - o que é obviamente discutível mas não vem ao caso, um casal só é casal mediante requisitos bem específicos -, chegou a dormir no chão aos pés da cama do quarto. depois nasceu o primeiro filho e passou para o corredor. o segundo filho veio colocar o cão no terraço e em tempo de mudar de casa, para mais e melhores assoalhadas, o terceiro filho a caminho, ficou definitivamente fora - fora de casa e fora da vida deles. apanha o calor do verão e o frio e a chuva do inverno o cão. durante a primavera é bem capaz de confidenciar às flores que rebentam nos vasos que esta família o abandonou - não aquele abandono explícito de que infelizmente nem de memória precisamos por ser o prato do dia -, um abandono hipócrita e eficaz. há anos que aquele cão não sabe o que é uma carícia e não sente o calor de um abraço bem dado. mas persiste. talvez viva na esperança de um dia voltar a ser querido. porque ele não sabe que é ali que vai morrer, do lado de fora. porque é do lado de fora, à margem, que a dignidade é tratada pelos hipócritas.

Marco de Canavezes: Guardai-a porque a cana é boa às vezes!

Marco de Canavezes: Guardai-a porque a cana é boa às vezes!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

da música e da piada
as fadas, que não são fodas, são eternamente consoladoras. é, por isso, urgente que as fodas sejam fadas. ora este meu discurso à mesa de um jantar de família provocou a ira do meu pai e o meu riso perante as bocas abertas em redor: já não sei o que te hei-de fazer.

há que combater em todas as frentes e acabar, ou ir acabando, com o conceito-mor de que a realização social é rainha. en garde!

e acabei de descobrir isto: entra bem no ouvido e faz, obviamente, cócegas.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

podes rasgar-me toda, (des)Governo de merda, mas não me rasgas nem os sonhos nem a gana de te destronar.
o frio tem a espessura de um fio fininho e imagino-a a costurar, a ela, a natureza. de quando em vez lá pega na agulha e no dedal, molha ao de leve a ponta do frio e vai enfiando-o por aqui, por ali, e por acolá. tudo se cose, diz a sorrir, o ontem e o hoje e o amanhã.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

entre morrermos afogados por remarmos contra a maré e morrermos sufocados por remarmos contra nós mesmos, a segunda hipótese - água por todos os lados - fica fora de questão.

domingo, 7 de dezembro de 2014

rojões tenros e macios. não precisa de ser muito tempo antes, pode ser da noite para o dia ou da aurora para o meio-dia, colocar a carne em tempero e acrescentar-lhe um pouco de azeite - mas não é de azeite que parece óleo de tão fino, é azeite espesso. depois é cozinhá-los, há tantas formas, a gosto e comprovar-lhes a tenrice e a maciez por conta do fio de azeite: um mimo de acrescento que se fez.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

ora bem, não me custa nada partilhar que o segredo das minhas pataniscas de bacalhau está no adicionar - à massa de farinha,  água, ovos, salsa, cebola picada e muito bacalhau - um cheirinho de pimenta e de alho em pó e, verdadeiro segredo de fofura, leite.

e como demoram bastante tempo, não a fazer, a fritar convém ouvir uma musiquinha para afastar o enjoo.



a verdade é que quem vive apaixonado, seja pelo que for, pessoas e coisas, inclusive pelo seu trabalho, não vai longe. são outros os parâmetros que contam e são socialmente aceites. puta que pariu a humanidade sem paixão.
enguias de escabeche, pupilas do senhor reitor e carnaval
doçuras e travessuras

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

eu bem sabia que tinha de haver uma boa explicação para os meus gostos exóticos.


são as relações humanas que fazem toda a diferença. enquanto um trata as pacientes por princesas, beija-lhes as mãos, coloca questões para que pensem e deem respostas que ao mesmo tempo as consciencializa - o outro faz uma espécie de frete, queixa-se da vida, exige respostas directas e imediatas: é um bronco.

ora se um merece a devolução de toda a atenção e ternura, o outro merece que lhe lembrem o preço do exame. o outro, este último, merece corar de vergonha para reflectir sobre a sua prática médica e sobre o quanto vale um sorriso quando alguém se vê rodeada de tubos e de máquinas a entrarem dentro de si.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014


o que é feito dos repolhos de antes, que saudades!, aqueles densos que se punham a saltear no tacho com azeite e alho e pimenta e não sumiam? agora são ocos, vou a ver e ficam no fundo do tacho. um repolho inteirinho mal cabe na cova de um dente. estou a exagerar, está bem, cabe na cova mas não cabe em um prato bem cheio sem acompanhamento de hidratos e carne ou peixe. anda tudo marado, é o que é, até o repolho. lembrei-me, de repente, assim: as hortas andam por um fio e no repolho não me fio.

(deixa-me mas é estar calada que com a má sorte que tenho ainda me começam a fazer esperas à porta de casa com sacholas e baldes de estrume e - pior ainda - com unhas cheias de lodo a tocarem-me na pele.)
achei piada ao soldado postiço pendurado na avó: em em vez de falar português, fala googlês.