quarta-feira, 31 de agosto de 2022

e se eu não souber tocar, tocá-lo, penso vezes sem fim, será que vai gostar de mim?, insegurança em bicos de pés, cala-te já, ouço-me no repente, porque tocar é a extensão do sentir, olha, é um monte, um monte?, sim, percebeste muito bem, em cima do monte estás mais perto do céu, 

tocar quem se ama é o monte e é o céu

o ronte e o réu


e sossego, desassossego que se acalma

com um pé na insegurança

e outro na segura dança

sagrada-profana

, a dança que é do corpo e é da alma

o que mais posso fazer

acordei e pensei de imediato em algo que considero muito interessante como se tivesse acabado de ler, tinha acabado de acordar, e se dormir também for - e é - ler?, penso depois, como estava a dizer, pensei em uma coisa simples. quem se mete a jogar comigo, perde sempre. e perde por uma razão que me é óbvia: não sei jogar. depois pensei, mesmo agora, agora que já recomecei nas tormentas do dia, dos dias, que essa é a principal razão pela qual as pessoas odeiam, me odeiam, perdem sempre comigo. sorrio. o que mais posso fazer senão fazê-las, sem fazer, perder?

domingo, 28 de agosto de 2022

a ver se a lua me manda um sinal

essa é que é essa, ando a sonhar com o romem há anos a fio e todos os dias, de lá para cá, apanhava um bocadinho de terra sem ninguém saber e sem, no entanto, criar expectativas de transformar a terra em uma montanha. não sei se tenho coração de sábio mas sei que nunca se maculou, tão perfeito é o coração - o meu e o dos outros -, o coração que nasce pequeninho, imagino-o a nascer como os pintos: a casca a estalar, depois uma arranhadela aqui e outra acolá e a cabecita de fora a respirar e já está. como estava a dizer, o meu coração maculado andou sempre a bater, às vezes tolinho e outras a trote, sei lá eu, tantos dias e tantas horas sem contar e sem esperar esperando, sem fé e a acreditar - só em segredo a dançar. e se quando chegamos a um lugar é nesse lugar que estamos e não queremos estar? sim, pode acontecer o romem ter chegado ao lugar que não quer por não ser, sequer demasiado, bom. porque o lugar que fica no meio, espalhado e misturado e enraizado do coração, no meio como quem diz nele todo, pelo meu falo, é também o lugar que se espalha pelos rins e pelos pulmões, pelo cérebro e pelas frutas sumarentas do prazer, por mim falo, e sendo assim tudo se torna em um só e no verbo acontecer a querer rasgar a pele, mesmo a mais sensível. e como estava a dizer, esse lugar de lugares sentidos é de madeira-pedra e de cristal e poderá haver quem não o queira, afinal. acordo de hora em hora, às vezes, espreito o céu acompanhada pelos mosquitos atrevidolas, tonta és - ouço a roz -, a ver se a lua me manda um sinal.

sábado, 27 de agosto de 2022

como com o prefixo de portento

sem nunca ter saído do lugar, viajei intensamente por dentro, todo o movimento é por dentro na espera e na esperança de também por fora ser. passo anos e meses e dias a ficar no mesmo lugar que embalo ao segundo como se fosse um karma por ser, por ser porque desde sempre fui eu a escolher sem escolher como me quero ser, sou e já está, nada me pode fazer deixar de ficar neste lugar encantado de céu e de inferno, primavera e inverno, lugar ansioso e sereno de outono por vir. porvir.

porque a forma como os outros nos tratam é o karma deles e a forma como nós reagimos e nos sentimos é o nosso karma. e eu, só de o sentir e de o pensar, enrolo as pontas dos dedos dos pés, jeito mansinho de tensão,  só quero o rarma por dentro e por fora e em mim. o rarma sempre é a minha maior atenção, tensão e atensão, invento, atensão como com o prefixo de portento portanto.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

tocar

o meu tocar. pego em um copo para beber, desliza pela minha mão e depois o limão parto em duas metades para espremer umas gotas para a delícia do puré e aperto-o até se desfazer; a esfregona, espremo-a e parto-lhe o pau sem dar conta; preciso de arrastar o fogão pesado e já está, nem preciso de esforço. e a máquina, !ai! a minha máquina de costura que me deu nos nervos, fio que parte na agulha vezes sem parar, o fio está tenso, menina, é a tua tensão a passar. verifico os botões, troco as linhas, experimento outra e outra vez, parto as agulhas, !mais três!, desligo-me, desligo-lhe a luz e a corrente.

porque tocar é sempre sobre e como sentimos, não há segredos. tocar é uma forma de expressão, o corpo inteiro a falar e a reagir perante o que estamos a tocar. tocar.

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

o meu dedo em riste para ela

a propósito deste pedante, também tenho lá onde trabalho uma c, c de coleguita que diz que tem um milhão de seguidores no instagram. até aqui tudo bem, as pessoas gostam de seguir tendências de cinismo e isso é lá com elas. no outro dia, estava eu a comer os meus tomates com bolachas de aveia, ao lanche, e reparei que ficou a ougar as bolachas, reparei porque ficou colada nelas. ofereci-lhe uma das três que tinha para comer ao que me responde: nem pensar, não posso, mas não podes porquê, está bem, vou aceitar desde que me prometas que não contas aos meus seguidores que estou a sair da linha. a minha vontade era mesmo dizer-lhe que é feia, mesmo feia, feia pela forma como vive e feia de rosto, parece um reflexo de cara nas bolas de natal, mesmo com a maquilhagem que usa para melhorar, e obrigá-la a vomitar a bolacha que lhe dei. ri-me. depois lembrei-me de outra coisa. como já é a terceira vez que chumba para ter a carta de condução, apeteceu-me dizer-lhe que deveria dizer ao milhão que a segue que a tendência é andar a pé por incapacidade cognitiva de perceber, segundo relatou, que não se pode encostar à berma na via de cintura interna mesmo que seja o avaliador a mandar. essa candida, candida por eu achar giro atribuir-lhe o nome do fungo dos genitais, é a mesma que faz do namorado um criado, da avó com quem vive e a criou um empecilho e uma das que quer saber, porque quer, que perfume uso e qual o milagre que meto na pele para ter a sua como a minha - mal ela sabe que não gasto um cêntimo nesses cremes. ora esta influenciadora, assim se considera, é a maior. mas só se for a maior lá da cadeirinha da sua sala da sua casa quando se dedica a ser uma pedante e com sotaque de tia de cascais a exibir-se e a mentir para um milhão. no outo dia, num outro dia, apanhei-a a ir à confeitaria buscar um lanche misto e com chouriço, são enormes, e a comer às escondidas. fiz de conta que não vi, não a envergonhei, só me ri.

entretanto o meu dedo em riste para ela foi na bolacha que lhe dei cheiinha de boa vontade. se foi.

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

no amor somos sempre quatro

como é que um casal que se ame poderá fazer sexo com outras pessoas? como é que alguém que ama outro alguém consegue fazer sexo com outro alguém que não é o alguém amado? ora nesta minha cabeça que muito estimo, isso não se coaduna com amor nunca e em tempo algum, dá-me nos nervos que usem a palavra amor no meio da porcaria, dá-me logo gana de lançar uma bomba e explodir com quem fala em amor assim. como se o amor permitisse desejar outro que não o amado; como se o amor permitisse tocar outro que não o amado; como se o amor permitisse pensar em outro que não no amado.

sim e sim e sim. no amor somos sempre quatro além dos dois: desejamo-nos e, por isso, também desejamos o amado; tocamo-nos e, por isso, também queremos tocar o amado; pensamo-nos e, por isso, também pensamos o amado. amamo-nos e por isso também o conseguimos amar.

é, portanto, uma conta fácil de fazer: no amor somos sempre quatro perante o três de eu+ele+nós que resulta em unidade amorosa. e quem me vier com histórias de nojo, nojo por quererem meter o amor em outros números que não os que considero, leva com bombas para desaparecer em pedacinhos ao estilo iogurte de morango. está dito.


o cabrão e a bolinha

 quando o cabrão do médico do hospital me fez a consulta para pedir a ressonância magnética ao fígado que a médica querida com nome de fruta vermelha pediu, pediu porque está com receio que a diabetes possa ter provocado a bolinha milimétrica que lá aparece, a médica que nunca antes me receitou qualquer medicamento porque nunca antes estive doente, como estava a dizer, o cabrão do médico armado em engatatão esqueceu-se de solicitar anestesia para mim depois de me ter perguntado se aguentaria trinta e cinco minutos fechada no tal caixão psicadélico e eu ter dito que achava que não, que não conseguiria. como se esqueceu - ou fez de propósito depois de eu lhe chamar ignorante por conta de me perguntar se o meu pai não era diabético por ser obeso, o meu pai é e sempre foi elegantíssimo -, e estou ansiosa para despachar este assunto da bolinha milimétrica, lá terei de ficar acordada e a sonhar. se vir que não consigo, peço que me deixem sair e está resolvido.


domingo, 21 de agosto de 2022

ebriamente embriagada

o sns deu-me uma médica fantástica, adoro-a. também porque tem nome de fruta vermelha, sorrio. como passei uma vida inteira sem fármacos, agora quer ver se a repentina diabetes me está a fazer estragos e então pediu, pediu e logo se apressaram a satisfazer-lhe a vontade, a vontade como uma ordem, que me metessem em uma espécie de caixão psicadélico para ressonar a frequência e intensidade nuclear. amanhã bem cedo, passará pouco depois das oito e meia, serei uma camundonga, portanto. estou ralada de preocupação porque não sei ainda como vou conseguir, se não tem janelas para abrir, como vou respirar. terei de me transportar para um campo com o riacho e as flores e as borboletas que me hão-de pousar no ombro e no nariz. depois tentarei subir à árvore que pintei e com o coração bonito e brilhante nas mãos, não será fácil mas está decidido: serei uma camundonga amorosa e livre, ebriamente embriagada e feliz.

às vezes, muitas vezes, fico com medo que o mundo acabe. de repente. não tenho medo de morrer, tenho medo de não ter tempo de river.

ouço trovejar, fico feliz. entra-me a frescura da manhã pela pele e pelos ouvidos,

nunca é cedo demais para falar com o trovão

pssst

abana tudo, abana isso tudo aí

orienta as gotas de cair, Senhor T

só quero o que é de ficar

ficar muito bem e muito bom e com queijo

figos também

cheiro de flor

sábado, 20 de agosto de 2022

tirar-lhe a tosse

às três a comichão começou a atacar e lembrei-me do gel de aloe vera. é estranha, muito estranha, a sensação que provoca: um ardume quase insuportável durante uns minutos para dar lugar a bem estar. arrisquei. mas e o mijo? o mijo é ácido e cada vez que passa pela carninha aberta é um desespero. e como estou sempre a beber água, o calor chega-me muito antes de para todos chegar, estou sempre a arder. vou aguardar mais uns tempos, evitar ir ao hospital, e não perco a gana de apanhar o bicho que me fez mal, tirar-lhe a tosse: se for de terra vou esmagá-lo até se confundir com a madeira do chão e se for do ar vou dar-lhe a lembrança eterna da tatuagem na parede ou no tecto desse tarado insecto.




sexta-feira, 19 de agosto de 2022

rremédinho milagroso de acabar definitivamente com a bandida comichão

 há-de ter sido um bicho tarado, penso nos intervalos, durmo sempre sem calcinhas. mas, quer dizer, também durmo sempre tapada, não consigo adormecer sem estar aconchegadinha. só pode ter sido um bicho tarado a ter andado a rabiar nas minhas pudendas durante a noite de ontem. que dia terrível, horrendo, só comichão e ardor, coço com a pontinha dos dedos apertando as carninhas frágeis ao de leve, mas como fariam as que usam garras de gel, penso nos entretantos, só não consigo soprar e as coxas a amparar as fímbrias do ar fresquinho da ventoínha foi a solução que arranjei. depois a água com o sabão não resultou, coçar, coçar, fez sangue e inchou, desespero total até me lembrar do betadine em espuma para lavar, !ai! que bom, talvez a solução tenha matado as bactérias que levo ao coçar para matar a conta da taradice do bicho que andou a rabiar. como estava a dizer, só pode ter sido um bicho. e se ele se escondeu e esta noite queria outra vez atacar? então pouco dormi, estive de sentinela: não vais pousar novamente nas minhas frutas porque estou à janela. e ri-me muito, muito, só pensava no rremédinho milagroso de acabar definitivamente com a bandida comichão: os rolhos, o rariz, a roca, as rãos, os redos e a rila. !ai! que riso

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

o crescimento do milho no campo, é milho feliz quando lá está

uma alface e um molho de espinafres, por favor; costoletas do cachaço e um frango do campo. a alface e o espinafre são seres vivos. a minha árvore de casa morreu ao fim, no seu fim de respirar, depois de quase duas décadas e eu sei que adorava música e que lhe mexesse ao de leve nas folhas bicudas e duras como se precisasse, e precisava, do meu amor. isto para dizer que morfar alfaces ou costoletas do cachaço tem o mesmo princípio activo: sobrevivência e satisfação. posso tanto imaginar a dor de uma alface a ser arrancada, brutalmente arrancada, à terra mãe - o seu choro, as suas raízes que se partem sem sangrar - como um porco a ser assassinado, o seu sangue a escorrer e os sons de dor em cada recanto da faca. a única diferença está na semelhança do porco comigo e será essa semelhança a ditar que serei menos assassina se comer alfaces e milho, eu olho e vejo o crescimento do milho no campo, é milho feliz quando lá está, do que se comer o porco ou o pito aos pedaços.

somos de matar para viver. somos de matar para viver.

sou cor de rosa, carago

por que raios e coriscos haveria eu de me fixar na significância das cores dos outros que, a certa altura, decifraram e publicaram? qual é a verdade absoluta desse dicionário que só a eles lhes disse respeito? ora cada cor assume, para mim, o significado que eu quero, que eu sinto. eu já disse e volto a dizer: não me moldo pelo que leio nem pelo que vejo - o que leio e o que vejo servem para reflectir e depurar e acrescentar, nem que seja acrescentar que nada acrescenta. sou cor de rosa, carago.

terça-feira, 16 de agosto de 2022

ide-vos foder, cangaceiros

a censura do FB é potente, digo já, agora não me deixa carregar nos corações as vezes que eu quero, homessa, manda-me avisos a bloquear-me, avisos que dizem ah e tal demora demasiado pouco tempo, ou seja, que sou muito rápida a clicar no adorar o que adoro. cabrões querem mandar em tudo, até nos meus corações. e então agora quando eu quero meter corações até vir a mulher da fava rica, que sou eu obviamente, obrigam-me mesmo a ser lenta, explico, o rato não se lá fixa à primeira, depois aparece tem a certeza que quer sair desta página? o comentário ainda não está finalizado. o que vai acontecer é que se vão acabar os corações como comentário, quer dizer, tenho de andar acima e abaixo ao ritmo dos cabrões que ententem que sou muito rápida e que esse procedimento de alguma forma causa-lhes azia, ferimento, escaldão. que têm que ver com os meus corações e com a mestria com que lhes lanço a seta? 

ide-vos foder, cangaceiros gestores do cabrão do FB.

o que vale é que aqui está a chover, essa maravilha fresquinha que me alivia a arreliação.

domingo, 14 de agosto de 2022

estou a regar, estou a encharcar, isto é um dilúvio

é verdade, verdadinha, apetece-me contar-lhe sempre tudo, o copo que me escorregou das mãos ao lavá-lo, pimba partiu-se, os filetes de peixe fresquinho aos montes, a roupa com cheirinho de lavanda, as telas novas em saldos, as malandrices dos meus pensamentos como !socorro! o meu pai é que é meu filho, vai ao bailarico e eu só adormeço a sério quando chega, preocupo, e se aluma espertalhona cabra de cidade lhe fizer mal?, ah pois. mas depois tenho de pegar no lápis para contar, queria os arregalados olhos e a voz hipnotizante, hipnotizante não é porque me pára mas sim porque me agita as minudências de todos os sentidos, a falar. estou a regar, estou a encharcar, isto é um dilúvio: eu queria era mesmo tudo inteirinho e direitinho. !ai! que riso.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

acordei muito cansada com vontade de chegar ao meio dia e meia, hoje, tanta vontade, passei a manhã a correr para chegar ao meio dia e meia e vir embora para casa almoçar e descansar e deixar de ver aquelas gentes até ao fim de agosto, delícia, o gosto do meio dia a gosto, poder ficar na sombrinha e escarrapachar-me a fazer coisas bonitas e a nada fazer também, nada como quem diz, nada que seja para outros, ogres são ogres, em troca de pão.

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

mas só existe um amor assim

siiimmmmmmm: é uma floresta poderosa de fogo que gera floresta de fogo sendo que o amor é a floresta, árvores fortes e vulneráveis e frescas - e a paixão é o fogo que me consome num ápice, ao segundo, sem me consumir e sem me esgotar, multiplica-se, !ai!, e que as árvores e os fetos e as pinhas e a terra e as flores faz crescer até ao infinito. mas só existe um amor assim e com paixão assim, ah pois é, não é comum. é o Ramor que eu quero.



mar e céu: sabedoria: sem princípio nem fim

bem visto o que pode aprender comigo se sabe tanto de tudo com tanto pormenor, fico maravilhada, absorvo e esqueço dos nomes das gentes e das terras e das coisas, só faço cruzamentos com outras descobertas, penso e relaciono e descubro mais. ora ele nada pode aprender através de mim, concluo, porque não sou como é, como ele é, mar e céu: sabedoria: sem princípio nem

fim

eu só sei cuidar das tranças

e das riças cabeludas

dar banhinhos frescos

massajar ombros e as coxas cansadas

passar creminho com o nariz nos pés

preparar petiscos suculentos e esfoliar a boca com a língua

passar o dedo nos cantinhos

soprar no rabinho

premir as partes moles da orelha

costurar mantinhas para os invernos

e pintar as cores das quatro estações

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

adoro a ironia, a linguagem dos macacos, ela impede-me de atirar com os sapatos aos cornos delas. quer dizer, na verdade ela impede-me de lhes furar, esburacar, toda a carcaça.

domingo, 7 de agosto de 2022

público dos cabrões

os cabrões do público andam a censurar-me os comentários. ora não tem jeito algum que sejam comentadores a fazer a gestão dos comentários, o que vem a ser isto, cortam-me o pio, pois claro, eu casco-lhes e eles degolam-me. e nem adianta reclamar porque também a reclamação fica à deles mercê. e quê, vão dizer que estão de férias a lavar os colhões e as conichas no mar, e tal, que não viram, estão é a boicotar a opinião e o meu trovão. cabrões - cabras e cabrões - castrados. castrados porque castradores. 

é assim, estes dois têm de ficar assim, só assim me fazem sentido por ser assim que sinto, já disse. isso deve ser por andares toda trocada de sonos e em privação. cala-te já, isso nada tem que ver com o que eu pinto, pintar não é pensar e por isso só pinto o que sinto. mas se estás tão aflita com o sono podes começar por não me atazanar ainda mais o casaço e dar-me apenas um abraço.




sábado, 6 de agosto de 2022

são pancas, menina,

há muito tempo que faço enxoval de camisinhas de cetim dorminhocas. compro as que adoro, sou capaz de passar uma hora a escolher, saco-lhes as minudências dos cantinhos que às vezes são meras invenções, invenções porque penso sempre que posso fazer um corte ali e acrescentar algo acolá. depois não lhes mexo, meto-as a lavar com amaciador perfumado de flores e arrecado-as na gavetinha que é só delas a repousar como se faz com a casquinhas e com o cristal. e uso as que adoro menos e guardo religiosamente as que adoro mais como se fossem, e são, tesouros que se apertam por apertar. são pancas, menina, são pancas, cala-te já, pancadinhas de amor com calor assim só podem ser de cetim. isso sim.

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

 contar-lhe sabe-me bem porque fico bem. de alguma forma, estive sempre sempre a ir ao seu encontro - o que eu andei para aqui chegar.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

menina, menina, recebeste uma encomenda dos céus

os sinos começaram a dobrar fininho

era o som do piano audaz

e lê em alta voz o pregaminho

tens de desenhar e colorir as pudendas de Zeus

e ela riu riu muito

com a satisfação intocável da epifania de como faria

e aviou de seguida em frenesim os céus

às pudendas de Zeus deu-lhe a merecida alma com penas e com cor

aspirou-lhes com a ponta dos cristais dos dedos

em cada recanto improvável

a dor

ofereceu-lhes a liberdade de viver em um ninho completo

completude libidinal de amor



terça-feira, 2 de agosto de 2022

!ah!

 se eu adorei o desenho e ele adorou a pintura, falta nadinha. não é?

herinha minha herinha

quando eu era pequeninha, quando eu era pequeninha, aprendi um mantra, não sei como nem quem me ensinou, como estava a dizer, aprendi um mantra que era para cantar sempre que passasse por uma hera. e cantava. e passava, havia um monte delas nas ruas por onde costumava passar lá naquela espécie de aldeia de frente para a serra de valongo. às vezes passava descalça, adorava andar descalça na rua e será por isso que tenho pele de sapo. depois nunca mais passei por heras. até hoje. mas agora tenho a certezinha de que vou passar a passar novamente.

herinha minha herinha

diz-me sim ou não

quem passar por uma herinha

e não a cortou

do seu amor não se lembrou