terça-feira, 13 de setembro de 2022

até quando a chuva quiser

é muito muito raro usar secador no cabelo, tão raro como usar guarda-chuva, ora a chuva não precisa de ser guardada mas sim fruída, e por essa razão, essa razão de não usar o segundo é que tenho o primeiro lá numa gaveta no meu local de trabalho. pode acontecer chegar como quando se sai do duche, acontece imensas vezes, e ter de ir a uma reunião de seguida. quase sempre também ignoro o protocolo e uso amiúde a mesma desculpa: acabei de ficar encharcada com um aguaceiro que me apanhou desprevenida, minto, e minto porque não me apetece explicar que adoro sentir a chuva a dar-me na cabeça e depois as pontas dos cabelos ficam fôfas quando secam e a cheirar intensamente ao meu perfume. como estava a dizer, lá está o secador na gaveta e hoje usei-o: a colega chegou molhada até aos ossos, meias e calças a gelá-la. então eu chamei-a, sequei-lhe as meias e depois as calças, entretanto o secador cansou-se e parou e dei-lhe um tempo. voltei à carga e acabei por deixar a menina confortável. não que mereça, às vezes também é cabra, mas mereço eu sentir-me bem: não conseguiria concentrar-me sabendo que ela poderia ficar doente. afinal sempre tens utilidade, disse eu ao secador em pensamento, hoje dei-te mais andamento do que em uma vida inteira, isto mesmo antes de lhe enrolar o fio já espreguiçado e de o arrecadar até quando a chuva quiser fazer mais uma vítima.

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