sábado, 8 de outubro de 2022

que me saiu do lombo e do coração

às vezes lembro-me da dona N. e lembro-me de ela já não se lembrar de mim. passaram alguns meses e agora sou eu quem não quer lá ir, é como se tivesse morrido. porque nas férias da sobrinha, eu adivinhei, estava à espera disso, mandou-me uma mensagem, está muito bem, já passaram alguns meses, como quem diz vou de férias e podias lá ir. mas não disse, não me disse que a pessoa mais importante dos últimos seis anos da vida dela podia ir visitá-la quando quisesse. queria usar-me para lhe tapar um buraco. e como eu só faço o que sinto que devo fazer sem interesses escondidos, entendo que não é agora, passados mais de quatro meses, que estou bem esquecidinha na sua memória, para isso serviu o corte de choque quando a internou e me inibiu de a ver, que vou para sofrer. agora que sofra ela, a sobrinha que não sofre, quem não ama não sofre, nunca sofreu, nunca fez amor à tia, agora sofre porque o seu sofrimento é ter de gastar tempo para picar o cartão da obrigação e da aparência de cuidadora presente.

de maneira que às vezes lembro-me da dona N. e do tanto que lhe dei que me saiu do lombo e do coração, do meu tempo e da minha atenção. e fico tranquila.

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