domingo, 7 de maio de 2023

 cismei que tinha de pendurar parte da colecção de casacos, o sempre em pé do boxe, que agora não posso fruir senão rebento com os tendões de uma vez, já não os podia suportar e nos armários não cabiam. tens de parar de comprar e de fazer roupa de todas as cores, rapariga, precisavas de um quarto de vestir, pois precisava mas não tenho, já tive mas agora não tenho porque o escritório é para os livros e para as telas e para as tintas e para os tecidos e para as rendinhas, e para os vernizes e para as lãs e para as criquices bonitas que arranjo para restaurar e para os chapéus e para os manuais que já fiz e outras coisas e não cabe mais nada. então passei o dia a mudar coisas, a inventar espaços, a arranjar um móvel de madeira que comprei por dez euos para guardar as cuequinhas e as meias, pintei-o de branco a parecer velho e pensei nas minhas cuequinhas com as dele, alternadas, todas certinhas, de todas as cores, havia de cheirálas, cheirálas assim mesmo sem travessa, sempre depois de as lavar com perfumador de rosa mosqueta, entretanto montei o cabide para pendurar os casacos curtos de inverno e meti os compridos no armário. são tantos, tantos, mas uso todos, talvez consiga trocar de roupa dois meses sem reprtir, pensei, e sorri, assim é como eu gosto senão enjoo-me de me ver, e foi então que nos entretantos vi aquele pedaço de céu no olha o passarinho do evento, fui cuscar, mas que vem a ser isto, como ousaram não o convidar para falar no programas das festas, a voz maravilha que faz perder a respiração onde não cabe uma ervilha, quem perde são eles, invejosos, e aquela da porta azul, pois claro, ganhou o prémio e está na berra, deve ter consolado os olhinos, sei de nada, como poderia saber, mas algo me diz que gosta dele - e se algo me diz é porque há alguma coisa a dizer, adiante, então eu queria ajeitar o colarinho, passar a mão a sacudir de fininho algum pelinho da juba bonita, e passar os dedos desde a testa até à boca, abraçar e apalpar-lhe o cu como quem diz vai lá e diverte-te muito, diverte-te como quem diz alimenta-te dessas coisas boas que te fazem dar-nos estrrrrrelinhas de sabedorrrrrria. como estava a dizer, virei tudo do avesso, cansei-me de caraças, suei como uma porca com pêlo de ovelha e, no fim, o banho frio e a sandes de coelho assado com suminho de laranja e limão devolveram-me a saúdinha. agora amanhã é preciso trabalhar, tornar visível o amor, como acabei de ler, trabalho é trabalho e nós é que o dignificamos. não tenho grandes ambições a trabalhar a não ser não estar triste nem revoltada. o que me importa é o amor. eu já limpei retretes quando fiquei desempregada e deixava-as a brilhar sem saber que cus iriam lá pousar e se esses cus algum dia iriam reconhecer o meu brilho. isso interessa para nada. eu quero é o meu amor para ser amor a dobrar e depois a triplicar. cala-te, agora e dorme. esta noite acordaste outra vez áquela hora da madrugada.

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