não sei quando e onde vi, o mais certo é ter sonhado, mas eram duas mulheres e um só homem, todos sexagenários. elas disputavam-no e ele, confuso, não sabia a que escolher (às tantas aquilo que dizem por aí de o amor já não ser para certas idades foi por onde lhe pegaram, ao argumento). depois sei que tinha um sonho: desde cedo, e de sempre, quis abrir um negócio que surgia de ideias estranhas e que nunca conseguiu concretizar. a certa altura, a possibilidade de o fazer - perante uma nova ideia estranha - surgiu e ao mesmo tempo uma delas encheu-se de coragem para lhe pedir namoro, uma espécie de solidão acompanhada a pastichar o amor (afinal o argumento deve ter-se baseado nas tais idades certas, concluo), e ele aceitou. enredo adentro, a família que sempre desprezou as ideias estranhas de tão bizarras não perdeu a oportunidade de, também desta vez, lhe chamar lunático e inconsequente - a recentíssima namorada concordou com o desmancho familiar. e ele, desesperado por tamanha traição, terminou a curta relação. já conformado com a ideia de cafoné e joanetes mimados, correu à procura da outra mulher que estava de partida para lugar incerto, certeza apenas havia da despedida, que lhe espremesse o desgosto. e encontrou-a. perguntou-lhe assim: tenho esta ideia para um negócio, o que te parece? desfeita em lágrimas, pela vontade proibida de o abraçar e pela partida forçada pelo orgulho, ainda assim respondeu: parece-me tão bem que consiga concretizar, pelo menos uma vez na vida, o seu sonho! vá em frente, desejo-lhe sorte, mas agora tenho de ir. e ele ali, naquele instante tão maduro como verde, apaixonou-se por aquela outra mulher. pegou-lhe na mão que acariciou, arrumou-lhe a madeixa cinzenta da testa, bufou-lhe ternura para os olhos e disse-lhe mesmo na altura em que passava na rádio esta, aquela ali em baixo, canção: quer casar comigo?
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