segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

como não querê-lo na vida? pois claro que é na vida, eu queria ter estado lá, deu-me aquela coisa e fui procurar a saber se havia novidades, escrevi no google sabichão e fiquei nervosa de vontade, como estava a dizer, eu queria ter estado lá a ouvir sobre o ostjuden pela sua exclusiva voz de gengibre com mel, ouvir também pelos olhos, tanta atenção, arregalar os olhos sorridentes quando os dele se cruzassem comigo, código secreto, e depois bater muitas palmas, correr para abraçar e beijar. e até pensei no petisco depois: chegar na casinha e preparar gambas em azeite e alho e piri-piri com ninhos de ovos e espargos frescos sem esquecer da tacinha toda mimosinha com o molho agridoce para mergulhar os bichinhos. e depois, o ar do seu respirar atrás no meu dorso, anda, deixa isso, e sermos jardineiros nas estrelas das mais bonitas flores do universo inteiro. e em verso 

sem eira nem beira

com a ternura sempre à beira

domingo, 26 de fevereiro de 2023

 é a camisa das amoras

 que me habita

 por dentro e por fora

minha amora tecida

de te ser

as férias terminaram e serviram para os meus nervos se expressarem em todo o seu esplendor: a seborreia explodiu, alergia nas mãos fez-me coçar até fazer feridas, a diabetes ficou tolinha e o braço tem momentos que perde toda a sua exuberante força de que tanto me orgulho. sou um corpo encolhido e parado. mas pelo menos as insónias foram à vidinha delas e já durmo a noite inteira. estás como um farrapo, moça, para recomeçares a trabalhar e a aturar malucos ao vivo. és um bicho de uma raridade comovente em um amaldiçoado vinte e três de fevereiro, não dá para escapares disso, é para sempre.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

 estava o céu azul

da cor das botas minhas

saltos a enterrar

mas o céu não passa

faz pandã com o mar

um sossegado está

e o outro faz sossegar

cócórócócó sou eu que estou a dizer porque o galo deixou de cantar mais cedo já há uns dias. se calhar o galo de antes é o que agora pasta com as chibas no campo grande que vejo da cozinha. tinha pensado, quando vi, vão-se matar, ou ele a elas ou elas a ele, mas não. cada um vai para um lado diferente, tenho apreciado, mesmo as duas chibinhas não gostam de muita interacção, de quando em vez lá se juntam na brincadeira e mais nada. de maneira que o galo ali, no meio de tanta erva e sem paredes que lhe prendam o cantar, nem pia. tratar-se-á de um verdadeiro macho-galo, concluo, às tantas só cantava de galo lá mesmo no capoeiro onde havia galinhas para o aplaudir. mas também pode dar-se o caso de o seu cantar ter sido sempre, afinal, a cantiga de ralhar para as fazer trabalhar: andai, preguiçosas, cagai os ovos do dia. estou a pensar seriamente que o galo tinha um acordo chorudo com o homem da capoeira e agora mudou de dono. agora o galo que antes cantava cedo é o pseudo pastor das chibas que dele se fartam de rir de sol a sol. anda, galo-macho, cada um tem aquilo que merece.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

chega a ser ridículo, penoso. arranjar explicações, massacrar a alma fresca, cansá-la, infernizá-la com dúvidas para o que não tem explicação. não existe explicação para quem não quer explicar; não existe explicação para a ausência, para o abandono, para a crueldade. não existe explicação para o não querer. porque dizer que ou se quer ou não se quer foi fácil - foi fácil porque é mentira. porque dizer a verdade é que é difícil, dizer a verdade é um acto de amor. e quando não há amor não pode haver verdade.

 desejar o seu sorriso

como se deseja a brisa da manhã

croché com linha de orvalho

na boca direitinha

amanhã tenho de ir ver e cheirar e sentir o mar para me livrar da entropia que me anda a assaltar dia para dia, invade-me a cabeça e oprime-me o coração, fico vazia, cheia de dor e de confusão, uma espécie de cola pegajosa que se gruda em mim, isto e aquilo, resolve menina, aqui e acolá, corcunda de dores as minhas costas, parece não ter fim. amanhã tens de ir ao mar, ouço-me de repente, tens de soltar as correntes fortes e opressoras nas  águas do gigante mar, tirar as meias, chapinhar, sentir o vento com sal no nariz, saltar, croquetar nas areias, respirar cheia de graça, regressar. amanhã tens de regressar a ti, menina, assim não podes continuar - como se fosses uma bomba que puseram em ti para um dia rebentar.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

 já chegou o meu Solmi, mesmo hoje, notícia boa ao regressar. ao menos isso. se eu conseguisse pensar agora, ler é sempre pensar, pensar e sentir, está bem, mas não consigo, fui engolida pelo frenesim dos tolos hoje, ontem também, ouvidos frágeis os meus que querem rebentar, não pode ser, se foste engolida esfaqueia-lhes o papo, sai, anda, pega na faca, desfaz-lhes as entranhas e sai. sai para respirar e chora como se do ventre acabasses de sair, anda, vem à superfície, chora até adormecer porque amanhã há outra manhã. até amanhã se o teu amor quiser. ademais amanhã pode ser dia de dias ramor. não sei, só nascendo de manhã amanhã, lá está. !ai! coração descontrolado que não te consigo parar. e se eu arranjar uma zebrinha bonita só para em cima dela me veres passar?

 andam-me os nervos à flor da pele

e quem disse que a minha pele deles gosta?

gosta não

gosta não

a minha pele gosta da flor

e ralha-me por isso

menina, estão a cair nervos nas pétalas minhas

vê se atinas

ignora as afrontas a laborar

estais tão picadinha, menina minha

descansa, vem descansar

vem-me regar