não tenho dúvidas: estar, e não ser, no ser não se pode deixar que caibam os rótulos que a sociedade inventa, desempregado é uma doença - não para todos os que estão por conta de ser precisa muita força e desenvoltura física e sobretudo mental para gerir o estado - para a sociedade. e uma doença contagiosa, da qual não se querem aproximar ou recomendar relações próximas. o desempregado ora é um inútil ora é um condenado à subserviência tamanha a quantidade de direitos que perde e deveres que adquire. o desempregado é uma espécie de persona non grata a quem se fecham todas as portas precisamente por já se encontrar do lado de fora. o desempregado é aquele a quem tem de se, não humildar, humilhar. e o desemprego é a variável mais frágil para a estatística de uma sociedade justa. porque injusta.
mas o desemprego também tem um aspecto muito positivo: permite-nos aferir com minúcia quem exactamente se está a merdar para nós - coisa que muitas vezes nem durante uma vida inteira sabemos. o desemprego é amigo das descobertas. ah! por uma vertente mais espiritual da coisa diria que é uma experiência absolutamente positiva de tão negativa - isto se o desempregado ainda conseguir fazer reflexões e paralelismos durante o seu dia vazio de ganhos e proveitos, claro. ser desempregado é, vivendo no tempo que só passa, não viver. e quem for desempregado crente, bem crente, há-de acordar e dizer: este é o meu dia sem alegria porque Deus não quer. bem visto, o desemprego é uma lâmina para os movimentos religiosos. já para o governo que não travou, nem trava, o surto da doença o desemprego pode ser uma mais-valia: quando se dá fome aos animais eles respondem, em uma primeira fase, com raiva. mas a pouco e pouco, a desnutrição começa a passar da carne para o intelecto e o desempregado acabará por se render àquele que pode alimentá-lo - e passa a apoiá-lo. creio ser essa a condição das massas por cá: a fome e a enfermidade física e mental, sequestro em gerúndio, apoiam a psicopatia do governo. é a síndrome de estocolmo.
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