li, algures, que na escuridão todos os corpos são iguais. apesar de perceber o contexo, o artigo falava da preferência (pouco atilada) de algumas mulheres pelo escuro na hora da intimidade sexual, não posso concordar. vergonha implicita do seu próprio corpo e absoluta falta de cumplicidade com o homem a quem supostamente se estão a entregar será a minha explicação e depreendo que deixam o acontecimento nas ruas da fantasia, da dele, e daí todos os corpos serem iguais - o homem, efectivamente, estará a possuir aquele corpo que na verdade corresponde a um outro de uma qualquer outra mulher que não aquela mas a que vagueia na sua imaginação. e é só nesta, e apenas nesta, perspectiva que consigo entender o tal chavão de que na escuridão serão todos iguais, os corpos.
na minha verdade a escuridão não é, não pode ser, tão determinantemente comunista - se os olhos abertos são mesmo os guardadores do desejo, a luz do tantrismo que é a intimidade sexual, o toque e o cheiro são assessores inseparáveis. conhecer cada canto do corpo do outro, como se de olhos vendados, é o desafio dos que sentem o sexo como uma arte; captar o cheiro do lugar onde mora o outro, o lugar que é o corpo, é de uma alquimia que distingue o prato gordurento do dia daquela refeição, absolutamente maravilhosa, gourmet. é preciso estilo, para tudo é preciso estilo: até a sexualidade requer estilo.
e o que é, afinal, o estilo - não é ser sobejo apuro no sentir, no pensar, no dizer, e no fazer?