sexta-feira, 22 de novembro de 2013

velhos d'amar

Velhice - o que é, afinal, a velhice?-, aquele estado de caminhar sem parar mesmo quando os passos ficam mais lentos e curvados e tremidos. A velhice apresenta-se, na modernidade, como condição menor apesar de atingir a maior idade. E tem vindo a crescer o número de velhos ou, melhor, a esperança média de vida. Se assim é, se vemos a vida a aumentar porquê que não damos mais, àqueles que são os que sabem mais da vida, aos velhos?

A Velhice e o estigma da palavra

Há uma conotação absolutamente negativa associada a velhos e a velhice - as palavras são usadas para designar inutilidade ou fedor e, talvez por isso, já se considera tremendamente cruel pronunciá-las. Os velhos são velhos. As árvores grandes e grossas também são velhas. As nações são velhas. O pai natal é velho. A calçada portuguesa é velha. Sim, eu sei, é por isso que os velhos vão para os lares e as árvores são para fazer papel e as nações são para aguerrir e o pai natal é para mentir e a calçada portuguesa é para substituir. São o caralho! Sim, ouviu mesmo bem: são o ca-ra-lho. Os velhos, a velhice, são para amar - por isso a vida tem dado cada vez mais esperança à vida (não sei se percebeu que se está prestes a fazer quarenta anos já está na meia idade); os velhos são a frequência acumulada de sabedoria naquilo que é o gráfico da vida. Entende que a velhice não é para viver só nem em simulações rascas, lares, daquilo que deve ser um lar? Vá já imediatamente buscar o velho que tem na sua vida e ame-o. Já! Amar a velhice quer simplesmente dizer atenção, paciência, resiliência - quando dá conta está a amar, a preencher a vida de alguém que já em muito preencheu a sua (a sua que provavelmente vai continuar depois de a outra deixar de viver).

Repare como acontece tudo

Aquela árvore de camélias que está no quintal sabe de tudo e é por isso que continua naquilo que é o viço das flores e das cores; As nações têm vindo a aprender que o respeito pela Cidade, que é liberdade e democracia, é o que as faz viver; O pai natal, esse barbudo antigo, existe mesmo, não é mentira, representa o cheiro bondoso do avô (ou vai dizer que os avós morrem?). E a calçada portuguesa, aquela pedra de tempo pisada tão linda, é para manter e prender os bicos dos tacões no encanto - ou prefere cascalho batido sem fado e poesia a cada canto?
O que é velho é bom. E velho é, sim, uma palavra magnífica de dizer por ser também de viver. A velhice colecciona tempo contado a viço de Homem honrado - ou então encontra no viço passageiro a alegria de um sorriso inteiro (e mesmo que seja sem dentes, sim).
Estamos, então, entendidos: a velhice serve para ser amada. Ou pense em como a vida se prolonga.

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