quinta-feira, 1 de maio de 2014

risota sobre a porquinha que pensava que vinha à horta

apareceu uma única vez para forrar o papo com boa comida porque lhe deu jeito. durante a casa dos vinte e até meados da dos trinta viveu por debaixo da minha asa: a única amiga que nunca a deixou ficar mal. depois apanhou a asa de um qualquer com quem se amancebou e encheu-se de vaidade.encher-se de vaidade significou fazer um valente poio em cima de mim. passou uma mão cheia de anos e reencontramo-nos lá na cidade do sol e das árvores e da areia e do mar. coração limpo, como parva que sou, perdoei. depois caí em desgraça e perdi quase tudo - tudo menos a dignidade e a força e o bom humor e as lágrimas. desde o natal de 2012 que a única vez que apareceu foi para forrar o papo com boa comida porque lhe deu jeito. fez festas no quintal, muitas, no quintal onde metade do que lá está fui eu que lhe dei, e nunca me convidou. nunca. nunca me deu companhia nem abraços durante a barbárie. nunca. agora sabe que tenho trabalho e é só. mas deve julgar que ganho outra vez rios de dinheiro, como antes, porque não pára de me ligar. liga para o fixo, nunca para o telemóvel. talvez porque no fixo possa justificar a falta de dinheiro, não sei. o que sei é que não atendo: ou porque estou concentrada ou porque não estou ou porque não me apetece. não faz parte das minhas boas práticas ignorar um contacto. mas neste caso dá-me riso. a minha cadela abana o rabo quando me rio bem alto: rimos as duas à fartazana, portanto. e rio muito ao ouvir o telefone tocar e não atender. é uma vontade tão limpinha de não atender que me dá gozo. não é maldade nem vingança, não uso disso, é mesmo espontâneo. e tudo o que é espontâneo só pode ser bom.

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