"o que o homem tem do pássaro é inveja. saudade é o que o peixe sente da nuvem"
(Mia Couto)
sentado a pensar, talvez enquanto se libertava - porque o querer é sempre libertação -, começou a fazer desenhos na terra: primeiro com o dedo e depois com o ramo de ponta afiada qe estava mesmo ali ao lado. saiu-lhe uma linha torta e depois outra e depois a linha fechou-se redonda. começou, então, a imaginar como seria bom conseguir meter-se por dentro dela ao mesmo tempo que desejava que ela fosse, para servir assim os seus intentos, por fora dele . tornou-se mesquinho naquilo da linha fechada e logo arranjou maneira suficiente para lhe dar corpo e resistência. e depois, desconsolado com o seu consolo da linha fechada, olhou o céu que se desenhava sem linhas e apenas por contornos instáveis e disformes, sempre em movimento, não lhe apreciando a beleza mas apenas cobiçando-lhe a pertença, quis ser um pássaro.
um dia o homem morreu. o céu e um peixe foi o que restou.