sexta-feira, 18 de maio de 2012
mistério, digo eu.
obviamente que tenho nada, absolutamente nada, contra Lisboa ou contra os lisboetas. gosto muito, até, da elegância com que pronunciam as palavras como se estivessem constantemente a fazer biquinho à boca fechada; gosto tanto da luz, da claridade e da largueza das ruas; gosto muito, também, do maneirismo a roçar o espanhol, aquela coisa de esticar o dia noite adentro de convívio. gosto de muitas mais coisas. só não gosto que o sitemater insista em dizer que estou em Lisboa, não obstante a elegância, a luz, a claridade, a largueza e a festa - não gosto porque sou do norte, nascida e crescida no Porto e Vila do Conde escolhida, há três pares de anos, para viver. e como nunca rejeito nada daquilo que me faz, que me faz ser, fico ofendida com isto de aquela coisa afirmar com convicção que estou em Lisboa, como se tivesse o direito de mexer na minha identidade, alterar-me o sotaque, acrescentar-me pastéis de belém em vez de natas, fazer-me um biquinho quando sou portadora de uma bocarra. e depois ainda festeja, ignorando o que quero, como se eu gostasse de foguetes e de canas. por que caralhos é que isso acontece, não sei: é um mistério. e o que vale é que gosto de mistérios.