segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
acham que fazem muito por ele. dão-lhe comida e deixam-no ficar preso a um cadeado à entrada da garagem. primeiro, quando ainda eram apenas um casal - o que é obviamente discutível mas não vem ao caso, um casal só é casal mediante requisitos bem específicos -, chegou a dormir no chão aos pés da cama do quarto. depois nasceu o primeiro filho e passou para o corredor. o segundo filho veio colocar o cão no terraço e em tempo de mudar de casa, para mais e melhores assoalhadas, o terceiro filho a caminho, ficou definitivamente fora - fora de casa e fora da vida deles. apanha o calor do verão e o frio e a chuva do inverno o cão. durante a primavera é bem capaz de confidenciar às flores que rebentam nos vasos que esta família o abandonou - não aquele abandono explícito de que infelizmente nem de memória precisamos por ser o prato do dia -, um abandono hipócrita e eficaz. há anos que aquele cão não sabe o que é uma carícia e não sente o calor de um abraço bem dado. mas persiste. talvez viva na esperança de um dia voltar a ser querido. porque ele não sabe que é ali que vai morrer, do lado de fora. porque é do lado de fora, à margem, que a dignidade é tratada pelos hipócritas.
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