um piropo pode transformar-se em assédio sexual quando, repetido e repudiado, passa a insistir. ontem fui assediada por um sapateiro e um sushi man. sem ter qualquer ligação, adoro sapatos e nunca porvei - nem tenciono provar, comer peixe cru manipulado pelas mãos mete-me nojo - sushi. adiante. como estava a dizer, um piropo é um inofensivo piropo. quando o piropo não é aprovado deve parar ali, tem de haver noção de que deve retirar-se e ir à sua vidinha. o piropo que continua quando me sinto incomodada e mostro-o passa imediatamente para outra categoria e acaba muito mal: o piropeiro ouve o que não estava à espera e ficará humilhado no seu propósito. entre o sapateiro e o outro o mais badalhoco foi, e será para sempre no que me diz respeito, o sapateiro, o sapateiro que ainda juntou aos seus apetites a velha cantiga do mas olha que sou casado. andar na rua cansa; andar na rua e ser assediada deixa-me de rastos. eles não sabem mas eu regressei à empresa com as mãos cheiinhas de sangue, estas mãos que tanto dão como tiram vidas, estas minhas mãos fazedoras de justas acções. bonitas e estilosas são as minhas acções, cabrões, é o que eu penso depois que passam a linha que só eu estabeleço. eles não sabem nem nunca vão saber. sabem apenas do que lhes dei: desaprovação, desprezo, nojo. e depois não tenho a quem contar, nunca tenho a quem contar quando preciso contar, as amigas estão ocupadas e o ramor parece que não existe, não se quer existir, na sua saga de real ficção. estou sozinha.
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