terça-feira, 14 de outubro de 2014
algumas pessoas e bolos de pasta de açúcar têm bastante em comum: apresentam-se trabalhadinhas, coloridas e doces porém com recheio seco, descurado e a parecer saber a sabonete. que carácter tem a massa de um bolo de pasta de açúcar? é feito com antecedência e do mais básico que há; não importa se fica queimado ou cru ou se é fôfo ou está duro. o que interessa mesmo é como se vai cobrir e mostrar. e depois os otários curtem mesmo apreciar a pasta de açúcar, uma elaboração cuidada e copiada, sempre copiada, uma pasta por onde as mãos andaram a mexer e a remexer. por favor. antes uma regueifa do domingo com manteiga do que um bolo de pasta de açúcar.
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
domingo, 12 de outubro de 2014
velhotas e ciclistas juntam-se todas as semanas para me darem riso. por ser domingo. elas já não usam pichos como antes, cortam os cabelos, pintam-nos e metem laca até ficarem tesos de desejo - o desejo de irem passear à missa e verem-lhes os dedos molharem-se na água que parece de lavar os pezinhos. mas os cabelos não vão sozinhos, levam meias de vidro esticadinhas como se acabadas de passar por ajax. no caminho, cabelos em peruca, meias brilhantes e andares velozes deixam-se passar por ciclistas que carregam as frutas bem amassadinhas e fascismo: as frutas vão amassadinhas pela liberdade de viverem para si naquelas horinhas de domingo de manhã e o fascismo vai, talvez, no capacete rígido e protector: porque os ciclistas de domingo de manhã precisam de um tempo só para si, para descansar da semana inteira - as mulheres é que não. as mulheres, ao domingo de manhã, ficam a fazer mexer as máquinas, a passar a ferro, a entreter os miúdos e a preparar o almoço porque o papá quando chegar do ciclismo tem fominha.
sábado, 11 de outubro de 2014
ontem descobri que já tinha saído o número 3 da revista experimental, agora mais em dueto, ESC:ALA. e descobri por sorte, desta vez não tive lembrete, os lembretes são pequenas epifanias que passam bem por enganos. como estava quase morta de cansaço cliquei nas partilhas, calorias que não cansam, e decidi exaltá-la hoje. foi uma sorte, como estava a dizer, por tanto que gosto de a ler e ver e ouvir.
e destaco o texto do João Pedro da Costa por dois motivos: o primeiro por ser um exímio criativo que admiro e o segundo pela exaltação da memória. sendo a criatividade a tradução das nossas inteligências e vivências, quem me dera conseguir ver a minha mãe a lavar-se no bidé ou a estender a roupa nua. e adorava vê-la fazer um manguito ao meu pai. mas passaram trinta e dois anos e eu tenho apenas quarenta, não há memória que quisesse ficar.
resta-nos a todos beijar, celebrar a vida. porque o ódio é, não uma extensão do amor ao contrário do que diz a literatura frustrada, a sua ausência. uma ausência isolada que deve nascer, pela lógica, não sei do que nunca senti, da falta de criatividade.
porque só a criatividade nos consegue salvar da morte.
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
quer dizer, com os acentos vou ficando confusa - o que não acontece com os pontos nos is. em uma aula cuja concentração é absolutamente essencial o gajo, os gajos distinguem-se dos homens pela postura - também corporal -, não se cala com conversas de laurinda armado em engraçado e com o iphone pendurado nas mãos. ademais, está constantemente a mandar-me fazer a posição do leão com a justificação de que vê que tenho muita coisa entalada na garganta, não sou de dizer o que penso, e que preciso meter para fora. ora de fora ficam outras coisas, já que de quatro virada para ele o que sobressai é o rabinho de bebé ao peito.
se é cego como um cabrão e de tanto engano se gaba, o arrogante e vaidoso só terá o que merece: não me apanha mais na aula dele. vou a outra com um profissional à seria e ele que fique a ver as rampas de skate das outras.
se é cego como um cabrão e de tanto engano se gaba, o arrogante e vaidoso só terá o que merece: não me apanha mais na aula dele. vou a outra com um profissional à seria e ele que fique a ver as rampas de skate das outras.
estava aqui a pensar à chuva, no meio de tantas letras, que temos de saber viver com o que (não) recebemos e que não depende de nós. não há injustiça nem culpa, não há direitos nem deveres - só tristeza ou alegria. mas o que realmente marca nesta vida, vida em tatuagem, é aquilo que damos quando nos damos. e haverá quem queira, verdadeiro sentido, tatuar a vida.
terça-feira, 7 de outubro de 2014
por favor. dêem-me intensidade!, dêem-me amor carregado de paixão!, dêem-me quentura e alegria!. não me dêem morno nem ternurinha tranquila nem fracos destinos confortáveis: que é isso de meterem o Camané a cantar Rodrigo Leão que só me apetece lavar os ouvidos com aguarrás? Rodrigo Leão é para ser cantado por mulher intensa, apaixonada, quente, louca, portento, portanto.
enviem condimentos
e um fogão potente a gás
por favor
para que se faça do mundo um local carregado de sabor
sem cozidinhos mornos
a vapor
enviem condimentos
e um fogão potente a gás
por favor
para que se faça do mundo um local carregado de sabor
sem cozidinhos mornos
a vapor
domingo, 5 de outubro de 2014
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
podia bem ser uma história. mas esta é só para contar ao vento, porque sim. ela tem três filhos e está grávida do quarto. ele rejeita-a na cama e os filhos serão o retrato do sexo. e o corpo, consola-o com o tal molete branco e sem sal. de um lado, a subserviência de uma pela ideia de amor; de outro, a subserviência da outra pelo facto de ser com ela que ele cheira e saboreia e apalpa o amor - porque também lhe chama amor.
ser a outra dá para os dois lados dele: uma sabe da outra e não se importa por ficar com os factos; a outra finge que não sabe que ele tem outra para não ter de se importar. ser miseravelmente a outra. são ambas outras. afinal, ser a outra parece ser fácil - já que ser a única é onde reside a dificuldade.
ser a outra dá para os dois lados dele: uma sabe da outra e não se importa por ficar com os factos; a outra finge que não sabe que ele tem outra para não ter de se importar. ser miseravelmente a outra. são ambas outras. afinal, ser a outra parece ser fácil - já que ser a única é onde reside a dificuldade.
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
qual triste e leda madrugada
qual caralhos
vozes fortes, como se em tambor de romaria, fazem-se patententes
pum, pum, pum, pum-pum-pum-pum, pum, pum pum
um amor quer-se, porque só assim o pode ser, vivido e feliz
aumenta o som ao tambor, foda-se!
e os fenos vergam-se, ai!, abrem alas, ui!, recriam a cor
só para te ver passar,
a ti, amor desse aMoR
desigual
como as amoras que crescem sem rei
nem governador
ponta para aqui e p'r'acolá
qual triste e leda madrugada
qual caralhos
manhãs claras de volto já
terça-feira, 30 de setembro de 2014
uma das coisas mais importantes que ouvi foi, e aplicado a uma cidade - à de Coimbra -, já não és o que nunca foste. é que nisto, passível de mil e uma - ou duas ou três - utilização, nem sequer cabe a desilusão por fanada d'encanto.
depois pensei em uma imagem que ilustrasse bem a expressão e lá encontrei: há uma república, virada para o sol, cujo nome é a boa bay ela.
depois pensei em uma imagem que ilustrasse bem a expressão e lá encontrei: há uma república, virada para o sol, cujo nome é a boa bay ela.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
domingo, 28 de setembro de 2014
todos os dias bem cedo sobe a rua, quando eu estou já a descê-la do primeiro passeio, curvada e em vagar típico dos ossos velhos e moídos, para ir buscar o pão e o jornal. hoje chovia e disse-me: hoje está a custar-me. apesar de me fazer bem, hoje está a custar-me. sorri e passei-lhe a minha mão pelo rosto dizendo-lhe que hoje era um bom dia para ser o seu marido a ir, então. imediatamente respondeu-me que não, que ele gosta de ficar na cama.
porque há pessoas que, apesar de possuírem destreza física - e saúde - vertical, gostam mesmo é do ócio horizontal; há pessoas que são umas acamadas na vida. E ofereci-me para lá ir por ela.
porque há pessoas que, apesar de possuírem destreza física - e saúde - vertical, gostam mesmo é do ócio horizontal; há pessoas que são umas acamadas na vida. E ofereci-me para lá ir por ela.
sábado, 27 de setembro de 2014
há distâncias que valem a pena. sem nada esperar, espero ouvir falar maravilhosamente bem sobre territórios e cidades inteligentes que são, necessariamente, territórios e cidades e ambientes digitais. já o contrário não será de todo verdade: nem sempre territórios e cidades e ambientes digitais são inteligentes. vou ouvir para pensar. e, quem sabe, falar. e contar.
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
a fragilidade dos cães perante a doença é uma coisa impressionante e profundamente trsiste. eles não sabem dizer-nos onde e o que dói e nós, porque ainda tão básicos, não conseguimos ver exactamente o que está mal. sabemos apenas que algo está mal. e eu fico, se for possível, com todo o mal estar dela.
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
terça-feira, 23 de setembro de 2014
a verdade é que a água, per si, não lava. foi preciso andar nua pelo balneário a ir buscar, em viagens curtas, em concha de mãos, ignorando olhares que me chamavam tolinha, sabonete líquido. mas descobri que é uma boa opção para levar no saco: ocupa pouco espaço, lava bem o cabelo e não seca a pele. é, portanto, prático e polivalente. depois mete-se o sérum nas pontas e pronto. antigamente também não havia shampoo e amaciador e os cabelos eram longos e lindos. e tudo por causa de um esquecimento. há esquecimentos que produzem bons resultados.
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
voltando a isto, "fiquei a pensar nisto que Johann Herder disse: Não há coisa que demonstre de maneira mais decisiva o carácter de um homem ou de uma nação do que a maneira como são tratadas as mulheres". apetecia-me conversar com ele, com o Johann Herder. mesmo. o seu pensamento influenciado pela linguística, pela poesia e pela mitologia - teoria - só pode ter resultado em coisas boas na prática.
tenho a sensação que alguém terá interpretado isto de outra maneira - de outra forma porque razão haveria eu de andar a receber telefonemas em forma de engano só para me dizerem o nome de alguém que supostamente é conhecido por tratar mal as mulheres? é uma sensação estranha a de acharmos que acham que nos esquecemos e que precisamos que nos avivem a memória. porque haveríamos de esquecer algo ou alguém? não nos lembrarmos de que existe é outra coisa, sinal de que não nos surge nos pensamentos naturalmente porque não nos toca de forma alguma.
aqui fica, portanto, o recado: com quem me apetecia conversar era com o Johann Herder. e também com ôutras pessoas, claro. mas como conversar implica um fluxo verbal e uma vontade explicita e espontânea de ambas as partes, não há conversa. até porque o Herder já foi comido pelos bichos e só conversa comigo em sonhos.
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