quarta-feira, 15 de outubro de 2014
sombear
A solo e com música electrónica(re)nasce Bradley Hale ou, melhor, Sombear. Bradley Hale é o baterista dos Now, Now, uma banda oriunda de Mineapolis, que decidiu finalmente lançar-se a solo como Sombear. E o resultado está bem à vista - ou em pé de orelha: "Love You in the Dark" é o álbum de estreia carregado de sombras interessantes. Nada de escuridão assustadora nesta música electrónica, garanto.
O artista diz que é um disco sombrio e introspectivo de música electrónica mas eu chamo-lhe de sombreiro e suspirador
Sombreiro e inspirador, sim, de outra forma como poderia ser, ao mesmo tempo, leve e dançável? A descoberta de uma voz por detrás de baterias é para ser mostrada porque reveladora de excelente manipulação do som quando este desliza bem organizado no tempo.
Bradley Hale refere tratar-se de um disco sombrio e introspectivo mas, no entanto, puro electro-pop dançável. Em voz de rectaguarda nos Now, Now, o artista coloca agora o seu tom falsete na dianteira em um tom equilibradíssimo que se frui com uma facilidade gostosa. E entenda-se facilidade como simplicidade e arejo.
Parece-me excelente dizer que este trabalho de música electrónica a solo foi realizado com a mesma tranquilidade, ingenuidade e diversão do Winnie the Pooh quando olha para o frasco de mel vazio, ou seja, despojado dos corredores de testosterona que - digo eu - caracterizam o desejo irracional. É, sem dúvida, e depois de ouvir o álbum na totalidade, uma espécie de samba tranquilo aplicado ao género electro-pop por se avistar uma paixão escaldante porém serena por se querer doce e sem a amargura resultante da mera pulsão. Excelente.
Porque música electrónica, contrariamente ao que se tem vindo a dizer por aí, também é música. E da boa.
Já vem de longe a validade do electro enquanto música, a polémica terá nascido em finais da década de setenta e apimentou-se na década seguinte - altura em que terão surgido inúmeros boicotes à música sintetizada. Esta polémica assenta, ou assentava, na organização do processo até ao produto final, isto é, não estará em causa a forma como se produz o som mas como este é organizado já que dispensa a mão humana através de acessórios como módulos sequenciadores e filtros moduladores dos sintetizadores.
Não tardou a que a verdade, a única, viesse a lume: os sintetizadores vieram acrescentar à música apenas uma novidade - a da programação, isto é, uma pré-configuração ao longo do tempo que permitia, igualmente, controlar uma enorme variedade de sons e de efeitos incompatível - e inatingível - apenas com a mão humana pelos instrumentos convencionais. Tratava-se, bem visto, da introdução do algoritmo matemático na música, cáspite!
Ora isto remete-nos - assim como foi remetendo, ao longo do tempo, as mentes mais fechadas - para a fonte da Leonor, a formosa e segura, a nascente criativa que nunca deixou de ser o Homem. E mesmo com os - talvez - paradoxos - não sei bem -, do sampling e da discotecagem há, sem dúvida, música por dentro e por fora da música electrónica. Comprovem.
acabei mesmo agora de provar um cheiro novo. pensava eu que o cheiro dos verdes, quando molhados, era todo bem semelhante. mas não: há um muro mediano que do outro lado está entupido de silvas e uma senhora que de quando em vez pega na tesourinha que tira do saco e corta-lhes as pontinhas que vão querendo trepar para fora. e ainda bem que o faz, de outra forma acabaria por se tornar em um caminho picante. mas voltando a elas, às silvas, todas juntas em monte e com chuva têm um cheiro peculiar completamente diferente das ervas ou das flores ou dos arbustos: cheiram fortemente a mofo.
há coisas que só quando inteiras pela boca ou pelo nariz conseguimos provar. é o caso, por exemplo do fiambre. se provarmos um niquinho não tem o sabor verdadeiro - há que meter uma fatia generosa na boca. e o ovo estrelado tem mesmo de ser rebentado inteiro na boca para haver explosão de sabor. e o ideal mesmo é deixar que uma pequena porção, depois de rebentar, escorra pelos cantos. só pelo prazer de lamber depois.
há coisas que só quando inteiras pela boca ou pelo nariz conseguimos provar. é o caso, por exemplo do fiambre. se provarmos um niquinho não tem o sabor verdadeiro - há que meter uma fatia generosa na boca. e o ovo estrelado tem mesmo de ser rebentado inteiro na boca para haver explosão de sabor. e o ideal mesmo é deixar que uma pequena porção, depois de rebentar, escorra pelos cantos. só pelo prazer de lamber depois.
terça-feira, 14 de outubro de 2014
algumas pessoas e bolos de pasta de açúcar têm bastante em comum: apresentam-se trabalhadinhas, coloridas e doces porém com recheio seco, descurado e a parecer saber a sabonete. que carácter tem a massa de um bolo de pasta de açúcar? é feito com antecedência e do mais básico que há; não importa se fica queimado ou cru ou se é fôfo ou está duro. o que interessa mesmo é como se vai cobrir e mostrar. e depois os otários curtem mesmo apreciar a pasta de açúcar, uma elaboração cuidada e copiada, sempre copiada, uma pasta por onde as mãos andaram a mexer e a remexer. por favor. antes uma regueifa do domingo com manteiga do que um bolo de pasta de açúcar.
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
domingo, 12 de outubro de 2014
velhotas e ciclistas juntam-se todas as semanas para me darem riso. por ser domingo. elas já não usam pichos como antes, cortam os cabelos, pintam-nos e metem laca até ficarem tesos de desejo - o desejo de irem passear à missa e verem-lhes os dedos molharem-se na água que parece de lavar os pezinhos. mas os cabelos não vão sozinhos, levam meias de vidro esticadinhas como se acabadas de passar por ajax. no caminho, cabelos em peruca, meias brilhantes e andares velozes deixam-se passar por ciclistas que carregam as frutas bem amassadinhas e fascismo: as frutas vão amassadinhas pela liberdade de viverem para si naquelas horinhas de domingo de manhã e o fascismo vai, talvez, no capacete rígido e protector: porque os ciclistas de domingo de manhã precisam de um tempo só para si, para descansar da semana inteira - as mulheres é que não. as mulheres, ao domingo de manhã, ficam a fazer mexer as máquinas, a passar a ferro, a entreter os miúdos e a preparar o almoço porque o papá quando chegar do ciclismo tem fominha.
sábado, 11 de outubro de 2014
ontem descobri que já tinha saído o número 3 da revista experimental, agora mais em dueto, ESC:ALA. e descobri por sorte, desta vez não tive lembrete, os lembretes são pequenas epifanias que passam bem por enganos. como estava quase morta de cansaço cliquei nas partilhas, calorias que não cansam, e decidi exaltá-la hoje. foi uma sorte, como estava a dizer, por tanto que gosto de a ler e ver e ouvir.
e destaco o texto do João Pedro da Costa por dois motivos: o primeiro por ser um exímio criativo que admiro e o segundo pela exaltação da memória. sendo a criatividade a tradução das nossas inteligências e vivências, quem me dera conseguir ver a minha mãe a lavar-se no bidé ou a estender a roupa nua. e adorava vê-la fazer um manguito ao meu pai. mas passaram trinta e dois anos e eu tenho apenas quarenta, não há memória que quisesse ficar.
resta-nos a todos beijar, celebrar a vida. porque o ódio é, não uma extensão do amor ao contrário do que diz a literatura frustrada, a sua ausência. uma ausência isolada que deve nascer, pela lógica, não sei do que nunca senti, da falta de criatividade.
porque só a criatividade nos consegue salvar da morte.
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
quer dizer, com os acentos vou ficando confusa - o que não acontece com os pontos nos is. em uma aula cuja concentração é absolutamente essencial o gajo, os gajos distinguem-se dos homens pela postura - também corporal -, não se cala com conversas de laurinda armado em engraçado e com o iphone pendurado nas mãos. ademais, está constantemente a mandar-me fazer a posição do leão com a justificação de que vê que tenho muita coisa entalada na garganta, não sou de dizer o que penso, e que preciso meter para fora. ora de fora ficam outras coisas, já que de quatro virada para ele o que sobressai é o rabinho de bebé ao peito.
se é cego como um cabrão e de tanto engano se gaba, o arrogante e vaidoso só terá o que merece: não me apanha mais na aula dele. vou a outra com um profissional à seria e ele que fique a ver as rampas de skate das outras.
se é cego como um cabrão e de tanto engano se gaba, o arrogante e vaidoso só terá o que merece: não me apanha mais na aula dele. vou a outra com um profissional à seria e ele que fique a ver as rampas de skate das outras.
estava aqui a pensar à chuva, no meio de tantas letras, que temos de saber viver com o que (não) recebemos e que não depende de nós. não há injustiça nem culpa, não há direitos nem deveres - só tristeza ou alegria. mas o que realmente marca nesta vida, vida em tatuagem, é aquilo que damos quando nos damos. e haverá quem queira, verdadeiro sentido, tatuar a vida.
terça-feira, 7 de outubro de 2014
por favor. dêem-me intensidade!, dêem-me amor carregado de paixão!, dêem-me quentura e alegria!. não me dêem morno nem ternurinha tranquila nem fracos destinos confortáveis: que é isso de meterem o Camané a cantar Rodrigo Leão que só me apetece lavar os ouvidos com aguarrás? Rodrigo Leão é para ser cantado por mulher intensa, apaixonada, quente, louca, portento, portanto.
enviem condimentos
e um fogão potente a gás
por favor
para que se faça do mundo um local carregado de sabor
sem cozidinhos mornos
a vapor
enviem condimentos
e um fogão potente a gás
por favor
para que se faça do mundo um local carregado de sabor
sem cozidinhos mornos
a vapor
domingo, 5 de outubro de 2014
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
podia bem ser uma história. mas esta é só para contar ao vento, porque sim. ela tem três filhos e está grávida do quarto. ele rejeita-a na cama e os filhos serão o retrato do sexo. e o corpo, consola-o com o tal molete branco e sem sal. de um lado, a subserviência de uma pela ideia de amor; de outro, a subserviência da outra pelo facto de ser com ela que ele cheira e saboreia e apalpa o amor - porque também lhe chama amor.
ser a outra dá para os dois lados dele: uma sabe da outra e não se importa por ficar com os factos; a outra finge que não sabe que ele tem outra para não ter de se importar. ser miseravelmente a outra. são ambas outras. afinal, ser a outra parece ser fácil - já que ser a única é onde reside a dificuldade.
ser a outra dá para os dois lados dele: uma sabe da outra e não se importa por ficar com os factos; a outra finge que não sabe que ele tem outra para não ter de se importar. ser miseravelmente a outra. são ambas outras. afinal, ser a outra parece ser fácil - já que ser a única é onde reside a dificuldade.
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
qual triste e leda madrugada
qual caralhos
vozes fortes, como se em tambor de romaria, fazem-se patententes
pum, pum, pum, pum-pum-pum-pum, pum, pum pum
um amor quer-se, porque só assim o pode ser, vivido e feliz
aumenta o som ao tambor, foda-se!
e os fenos vergam-se, ai!, abrem alas, ui!, recriam a cor
só para te ver passar,
a ti, amor desse aMoR
desigual
como as amoras que crescem sem rei
nem governador
ponta para aqui e p'r'acolá
qual triste e leda madrugada
qual caralhos
manhãs claras de volto já
terça-feira, 30 de setembro de 2014
uma das coisas mais importantes que ouvi foi, e aplicado a uma cidade - à de Coimbra -, já não és o que nunca foste. é que nisto, passível de mil e uma - ou duas ou três - utilização, nem sequer cabe a desilusão por fanada d'encanto.
depois pensei em uma imagem que ilustrasse bem a expressão e lá encontrei: há uma república, virada para o sol, cujo nome é a boa bay ela.
depois pensei em uma imagem que ilustrasse bem a expressão e lá encontrei: há uma república, virada para o sol, cujo nome é a boa bay ela.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
domingo, 28 de setembro de 2014
todos os dias bem cedo sobe a rua, quando eu estou já a descê-la do primeiro passeio, curvada e em vagar típico dos ossos velhos e moídos, para ir buscar o pão e o jornal. hoje chovia e disse-me: hoje está a custar-me. apesar de me fazer bem, hoje está a custar-me. sorri e passei-lhe a minha mão pelo rosto dizendo-lhe que hoje era um bom dia para ser o seu marido a ir, então. imediatamente respondeu-me que não, que ele gosta de ficar na cama.
porque há pessoas que, apesar de possuírem destreza física - e saúde - vertical, gostam mesmo é do ócio horizontal; há pessoas que são umas acamadas na vida. E ofereci-me para lá ir por ela.
porque há pessoas que, apesar de possuírem destreza física - e saúde - vertical, gostam mesmo é do ócio horizontal; há pessoas que são umas acamadas na vida. E ofereci-me para lá ir por ela.
sábado, 27 de setembro de 2014
há distâncias que valem a pena. sem nada esperar, espero ouvir falar maravilhosamente bem sobre territórios e cidades inteligentes que são, necessariamente, territórios e cidades e ambientes digitais. já o contrário não será de todo verdade: nem sempre territórios e cidades e ambientes digitais são inteligentes. vou ouvir para pensar. e, quem sabe, falar. e contar.
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
a fragilidade dos cães perante a doença é uma coisa impressionante e profundamente trsiste. eles não sabem dizer-nos onde e o que dói e nós, porque ainda tão básicos, não conseguimos ver exactamente o que está mal. sabemos apenas que algo está mal. e eu fico, se for possível, com todo o mal estar dela.
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
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