sábado, 10 de setembro de 2011

a vida e o destino. ou a veia e os sovacos


há quem confunda estar apaixonado por si próprio com estar apaixonado pelo seu destino. o meu Kundera explica isso muito bem, no livro do riso e do esquecimento, mas eu também não lhe fico atrás. (nem à frente. fico, talvez, saltitona, ao seu lado visto que as pernas dele serão bem maiores do que as minhas e apenas dois passos dos meus conseguirão acompanhar um dos seus.)

dizia eu, então, que esta confusão existe quando não é o destino que faz algo pela felicidade, por todos os pilares, senão tarecos, da vida de alguém mas será esse alguém, na sua vida, que faz de tudo pelo seu destino - sente-se responsável por ele sem ele se sentir responsável por si. há, aqui, portanto, uma espécie de amor não correspondido: alguém ama um destino que não o ama a si simplesmente porque leva em consideração os pressupostos da vida desse alguém e não os pressupostos desse alguém sem vida. sim, nós existimos sem vida - se perdermos o emprego e a casa e a conta choruda perdemos a nossa vida, a dos tarecos, mas não perdemos a nossa vida enquanto vida. estou a ficar confusa. mas com convicção.

pensar, por exemplo, em basílico no destino será arranjar sovacos onde não estão - para a veia ter mesmo de por lá passar. mas não é a veia da existência - será a tal veia da vida, dos tarecos.

talvez seja mais fácil rematar, agora, e concluir que é assim que a vida se transforma em destino e que a existência passa a ser de tarecos. mas a esta altura já deturpei a visão do Kundera, já lhe retirei e acrescentei conceitos e esta vida e este destino passaram a ser conceitos só meus. como eu gosto.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.