terça-feira, 29 de maio de 2012

cúmulo

o cúmulo do defeito é o excesso. exemplo prático: todos os alcoolizados se sentem os maiores condutores do mundo.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

volare

e de dentro para fora
entre sol e chuva
nos toca a vida.
crescem plantas, brotam flores, os sapos seduzem as rãs
e os patos, que acasalam sempre com as patas, escolhem cotovias.
e o rio corre num samba tranquilo, lambendo as margens de fio a pavio, em originalidade de hortelã, freios de chocolate amargo, que doce já há
 funicular até ao céu!, ouço em voz de autoridade, sem zangar, e a cumprir com gosto, que os ouvidos que se tocam e se cheiram foram um presente,
dos seus,
do amor que é deus.
do amor que é deus.


http://youtu.be/V5PJ0YXrIOA

sexta-feira, 25 de maio de 2012

o que eu gosto de bombas de gasolina muito mais do que o Jacinto Lucas Pires

é universal: não se pode nem usar telemóvel nem fumar em bombas de gasolina pelo grande risco de explosão. ora eu, que não sou leiga em energias de activação nem em fontes de ignição, questiono se a energia de um telemóvel será suficiente para produzir uma explosão e vou procurar, quem procura acaba sempre por encontrar, alguma coisa e voilá: Enrique Velázquez, professor de electrónica do Departamento de Física Aplicada da Universidade de Salamanca [Espanha], concorda comigo e diz que "Um telemóvel tem uma energia muito baixa, além de produzir uma radiação electromagnética muito baixa, menos de um Watt".


são as boas e as más, as falsas e as verdadeiras, teorias que suportam as boas e as más, falsas ou verdadeiras, práticas. o que é que se costuma fazer quando está um deficiente motor, o empregado mais antigo da casa, de serviço na bomba e que esperamos cerca de meia hora em fila para sermos aviados de combustível? usa-se o telemóvel nem que seja apenas, como eu, para apagar as 543 mensagens acumuladas. na verdade, se o mito for desfeito, as empresas de telecomunicações e as gasolineiras só têm a ganhar - uma campanha de aliança faria aumentar as receitas para ambas: estás a ligar de onde querido? da bomba, estou a aguardar e a aproveitar para falar contigo. sério? isto merece uma comemoração quando chegares mais logo. e ele, entusiasmado, feliz, quando chega à sua vez de carregar, ou pedir para carregar, no pistão da gasolina ou do gasóleo, vai atestar o depósito (a satisfação antecipada do que vai acontecer acontece mesmo ali a segurar num pistão, e chamo-lhe pistão para dar ares de música, numa bomba de gasolina).


passemos agora à questão de fumar: enquanto o tal deficiente motor anda para lá e para cá, moletas raivosas, a causar filas de trinta metros para abastecer, sabe-me pela vida acender um cigarro. ou dois ou três. mas não se pode - não se pode fumar nas bombas de gasolina que são o local mais acessível para comprar cigarros. onde é que vamos comprar cigarros a esta hora? vamos à bomba. é verdade, a demência vive na lei. se por um lado eu (não) me sinto obrigada a sentir que estou a pecar por fumar dentro do meu carro quando estou, parada e ignição desligada, a aguardar o serviço - por outro devo sentir-me aliviada por finalmente renovar o meu stock de cigarros. e onde? na bomba.


é bem mais provável que o pingo doce expluda pela elevada concentração de cheiro a chulé e a sovacos aquando do milagre da promoção da carne do que um cigarro provoque explosão num posto de gasolina onde, supostamente, se as regras de segurança estão a ser cumpridas, não há perigos à espreita - assim como será mais provável que seja a energia da bateria de uma viatura qualquer a causar uma explosão. mas nessa altura a culpa será do telemóvel ou da pirisca.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

deturpar também é preciso

a propósito dos sonhos, ah! os sonhos!, aquela terra onde todos chegamos sem sabermos como e sem exercermos qualquer tipo de controlo porque cada vez mais ser humano é ter controlo, dos sonhos durante a pequena morte que é o sono, é mesmo importante considerar que apesar de a maioria das vezes serem revelações de desejos escondidos - ou por concretizar - nem sempre é assim: tem vezes que sonhamos, tenho a certeza, com as cabeças trocadas de gente. talvez o mais importante, na experiência que é o sonho, não seja o que vemos, aquilo parece tão real - e é - que até mete cor (se fossem a preto e branco a sensação de passividade e de estado de repouso chocava com o que é ser movimento de realidade), mas o que cheiramos e sentimos. é como se os sonhos fossem cegos, parcos de visão e maneiros de outros sentidos. os sonhos são sentidos - e também sem tidos nem achados - entram sem bater e saem porta fora sem sorriso nem cumprimento, os sonhos são rudes no trato. mas é durante o tempo que só fica, sem aviso nem promessa de voltar, que o sonho vive: umas vezes faz-nos felizes e outras deixa-nos miseravelmente tristes, como quando nos tira alguém que amamos e acordamos esganados de aflição. nessas alturas os sonhos são dor que desatina sem doer.

nos sonhos nada se cria, nada se transforma: tudo acontece sem controlo e sem coador. se o Freud, ao invés de relacionar tudo o que é ser humano com o desejo sexual, se tivesse focado na posição horizontal do sonho pelo sono como um forte indício de equilíbrio - talvez hoje a necessidade de controlo estivesse em processo de esvaziamento. é o controlo que fode tudo e será a foder que se perde o controlo, penso. só que se não houver,  antes e durante e depois, catártica vai tudo a correr para o sonho. 

(há-de ser mais ou menos assim a minha deturpação sobre os estudos do Sigui.)

terça-feira, 22 de maio de 2012

olha o provérbio actualizado

em maio come-se cereja p'ra caralho

(e fica em aberto, a frase, porque entretanto tudo o que as caganeiras não precisam é de barreiras arquitectónicas. é verdade, as caganeiras têm uma costela de mobilidade deficiente - vão e vêm de rampante)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

mistério, digo eu.

obviamente que tenho nada, absolutamente nada, contra Lisboa ou contra os lisboetas. gosto muito, até, da elegância com que pronunciam as palavras como se estivessem constantemente a fazer biquinho à boca fechada; gosto tanto da luz, da claridade e da largueza das ruas; gosto muito, também, do maneirismo a roçar o espanhol, aquela coisa de esticar o dia noite adentro de convívio. gosto de muitas mais coisas. só não gosto que o sitemater insista em dizer que estou em Lisboa, não obstante a elegância, a luz, a claridade, a largueza e a festa - não gosto porque sou do norte, nascida e crescida no Porto e Vila do Conde escolhida, há três pares de anos, para viver. e como nunca rejeito nada daquilo que me faz, que me faz ser, fico ofendida com isto de aquela coisa afirmar com convicção que estou em Lisboa, como se tivesse o direito de mexer na minha identidade, alterar-me o sotaque, acrescentar-me pastéis de belém em vez de natas, fazer-me um biquinho quando sou portadora de uma bocarra. e depois ainda festeja, ignorando o que quero, como se eu gostasse de foguetes e de canas. por que caralhos é que isso acontece, não sei: é um mistério. e o que vale é que gosto de mistérios.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

acossar: já chega

a propósito de perseguir, de acossar, há disso em todas as variantes possíveis: há quem seja constantemente inoportuno na rua ou no talho, no emprego, nos sonhos (até nos sonhos) e nos blogues. o problema da perseguição nos blogues é nenhum, se atendermos ao facto de só haver efectivamente um problema quando é passível de resolução. ora havendo um problema que é facilmente resolvido, ou contornável, o caso fica bravo quando de cariz público passa, a sarna, para privado. temos sempre a opção, em qualquer uma das variantes mencionadas exceptuando o sonho, de activamente travarmos o abrupto cuja iteração o torna perfeitamente expectável. menos quando a abordagem salta de um blogue, um local público que pertence talvez a um cae criativo ligado à indústria da saúde e bem estar, para um endereço de correio electrónico - morada de um lar, local absolutamente privado, como se nos metessem cartas abertas, sem envelope, por debaixo da porta. somos, então, obrigados a ler e a ficar, nem que seja por segundos ou minutos, com as mãos sujas e os olhos manchados. passamos depois a limpo que o que é lixo ao lixo pertence e não deixamos que nos afecte - ou pelo menos assim queremos. mas as palavras têm força, talvez a força se muscule de intenção, e por vezes são, de facto, punhais. espera-se, então, que o tempo, pelo menos o tempo que conhecemos nesta dimensão, transforme o acossar e o dissipe. talvez estas minhas palavras tenham força. talvez.

terça-feira, 15 de maio de 2012

por que raios e coriscos havia de pensar, como queriam, em uma antena?

pedem-me que relacione, muito rápido, parabólica com maçã. sem dificuldade respondo que, sem rapidez, se não a como apodrece.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

foder não é para qualquer um

dizem uns que ler é sexy, outros dizem que é um acto de amor. eu digo que é entre o instinto e a intuição - esta última que é bem visto o instinto da alma -, o pensar, o saber pensar, que se situa a base da sedução que depois traz o amor. ler, per si, não é sexy - é sexy conseguir fazer da leitura um joelho a descoberto ou uma copa larga de mama onde se adivinha um mamilo grande; é sexy escolher e cruzar o que se lê, joelho e mama a descoberto em intimidade, concretizar amor. e depois não há leitura sem escrita, novamente volto a dizer: escrever, per si, não é sexy nem resulta em amor - só pode seduzir quem sabe bem pensar e só pode amar e ser amado quem depois de sucumbir à descoberta do joelho e da mama se faz iterativamente amor. também a alma tem carne, tal e qual como o corpo tem alma, e se cumpre de amor em fluidos agitados e fundidos. e é quando, precisamente, a alma está fundida, e fodida, que, sedução sempre erecta, há amor de ler e de escrever. e é por isso que foder não é para qualquer um.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

de alva sete sois


cumpre-se a estrela
fundo barrado a canela
romance no quarto do céu
mais brilhante do que nunca
é de alva
é fundida
em torno o tempo é de moios
como se num momento sete sois

domingo, 6 de maio de 2012

uns falam em economia verde como motor de arranque para contornar a crise, outros em economia social. falam, falam, falam e esquecem que para haver arranque tem de haver investimento no motor. e enquanto isso, arranque por arrancar, o povo canta e bebe e encontra nas farpas e alucinações a maior alegria do mundo. é mais ou menos assim:


sábado, 5 de maio de 2012

estação de serviço

quando um desconhecido chama, raiva na voz, lésbica a uma mulher, após algumas horas de penetra de conversa mole, é porque, garantidamente, se sente frustrado. o que quis mesmo dizer, coragem murcha, foi porque caralhos esta gaja não se deixa seduzir por mim? mais: andará o resto da noite com uma nuvem preta por cima da cabeça, como se a mijar-lhe em cima, a pensar que a tal mulher só pode ser lésbica. e frígida. e cega. e burra. e acabará por ejacular, ego ferido no peito, na oportunidade mais próxima. o processo de sedução da modernidade é, sem dúvida, uma estação de serviço.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

https://www.youtube.com/watch?v=g2KstIkFPIU

é a solidão a fonte e a foz: um mundo gigante por debaixo do mundo dos mundos onde a fixação pela descoberta da existência se mistura entre o palco encenado e o palco da vida- tamanha a triste miséria egoísta da solidão, inocente e frágil bebé, sempre a solidão. e o amor escondido, adiado, sempre adiado, e a urgência de inadiar o inadiável, sempre adiado, é cruz nas costas: ininterruptamente pesado corrompe-se, sem nunca se deixar corromper, com a leveza pesada do sexo. é a solidão, menina velha, a fonte e a foz: um mundo destruído, gigante, por cima, do debaixo, do mundo, pequeno, dos mundos, grandes, onde a existência se perdeu em existir - tamanha é narrativa em desejo por narrar.
a solidão é um lugar estranho, um bicho, corrosivo e contagiante; a solidão vive no mundo das bactérias, grandeza erecta, e, deixando rastos, contagia. e mata. e é assim a vida dos mortos em travessia de vida.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

borrões

há a chuva, há o sol, há o vento, há as palavras, há a música, há os cães, há as árvores e as plantas, há a cozinha, há os pêlos dos homens e as vozes e os cheiros. e depois há o irs e o iva e as facturas e as filas e os rolos de papel higiénico que metem nojo para abrir, borrões de tinta empastados na minha tela.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

olhir

ver um pássaro voar é tal e qual sentir uma lágrima cair: é tanta, tanta, beleza que vês - como quando cai uma, miss transparente, delicada, vê(e)m-se logo duas ou três.