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sexta-feira, 20 de abril de 2012

andar

retrato de brasão, riso em punho, moldura a cavalgar, são homens - diamante a ouro lembrados, filhos do reino de junho, calor a abraçar, prata polida, titânio suado, nevoeiro sem mistério: andar.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

fixidade

afasta-se os verdes com as mãos em silêncio
delicadeza
como quem descortina um conto de era uma vez na natureza
agarra-se o frasquinho de tampa risonha
à homem inventado
cidade
e cheira-se o aroma
 mistura de sol com chuva
ventos de tempo
fixidade

sábado, 7 de abril de 2012

lustre, lustre, lustre

ai! lustre de lustre
em lustre mais uma vez
conta-se a que derrama raízes e fios d'ouro vivos
e depois a que carrega o afastar da 'scuridão
ai!, lustre, por fim,
o conjunto, tripé de lustrina,
beleza em imensidão
(em imensidão fina)

sábado, 24 de março de 2012

menuro

viemos, e estamos, sozinhos e do vestido se faz nu: em redor há menuro, há, que ora pinta a garrido ora despeja tons de cru.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

corredor

estende-se em calçada, o corredor da vida - descendente de amarelo a torrar, comprido de luz ao peito, de fininho ao ledor, onde o céu é senhor doutor juíz: ora de dias de dano, ora de ledo proveito.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

menina do olho de fora acordada

olho por dentro do olho da vida, que olhar a nu não há - há tu, margem a luz vestida, fímbria, abobadilha abraçada: lente de vidro perene, consabida, menina do olho de fora acordada.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

vidros

não posso espreitar, eu sei, as vidas por dentro das janelas
mas posso fazê-las em vidro, 
transparentes,
damas antigas em vestidos centrados nelas -
ou pássaros, gaiolas de pé, que aguardam as sementes do frasco escondidas do gato Mané
virtudes em cada canto, defeitos a aspirar,
às casas limpa-se o pó do chão até ao tecto
e só o verbo amar fica ilibado,
de tão usado, de tão rendido, 
uma exaustão que não cansa
e ele chegado fecha a porta ao gato
descentra-lhe o vestido, botões a mais,
liga a música, com os olhos amansa, enfim,
permitem-se ao fim do dia, o deles começo, o início de uma dança

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

especiarias

d'açafrão, salsa e pimentão, especiarias de olhar, emolduram-se as selvas de pedra - sem umas e outras são caldos mornos, vê lá bem se não são, afinal, apenas água com sal.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

guardador

são sempre vadias as chuvas
mesmo quando são de amor
e não há mesmo mesmo sol sem chuva
nem chuva sem guardador

domingo, 30 de outubro de 2011

passos vadios

arranham o chão que se pisa, céus invertidos de olhar: é líquido o que os faróis apontam, passos vadios, e se esbatem ao passar.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

sem destino, desatino



fossem assim, rectas, as linhas da vida
(como quando o burro, ora em palas, leva o que leva no dorso ao destino)
e ela, já curta, mais curta seria:
a vida anda em dançar de serpente
e corre, veloz, puma esfomeada, no dia
voa, picada, como faz o repente
(cai, gatinha, erge-se, imperfeita!, como só pode ser desatino)