terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

popar


um coiso que fecunda sem ter sido fecundado

mata-me ou ama-me sempre é sempre a outra voz. há quem tenha duas ou três, outros sete ou oito - nove ou dez. há quem tenha vozes, transpira mais, espalhadas pelos poros. (deve ser por isso, aliás, que correr ou dançar ou saltar estimula tanto a criatividade: mal se deita o descanso levanta-se o coiso criativo. o coiso, sim, aquilo que fecunda sem ter sido fecundado.) talvez a criatividade se esconda nos sovacos, em alguns casos, ou nos pêlos encravados dos rapados - é aqui, precisamente aqui, que mata-me ou ama-me poderá ser uma voz criativa porque de outra forma, sim, de outra forma, não pode haver o ou: matar por amor não é matar o amor, é matar o amado. e amar o morto não é amar o amado mas o amor. estarei perdida? não: o amor é energia vital e, por isso, criatividade (é por isso que o amor só se vê quando se deita o sexo a descansar). quando se pensa muito em morrer, ou matar, é porque já se está morto. o ressuscitar sim, já mete coiso criativo - o ressuscitar não é recuperar a vida depois de se morrer mas evitar aquele segundo, mais segundo do que minuto, derradeiro para a morte. é como quando as mulheres têm de virar à direita mas dão o pisca para a esquerda e já em cima do entroncamento conseguem a direita pretendida. isto é ressuscitar, o tal coiso que fecundou sem ter sido fecundado. é que depois de ter conseguido esta vitória, energia vital completamente potenciada, a mulher sente-se capaz de dar dez voltas a uma rotunda. o que tem isto de criativo? muito: durante essas dez voltas, há uma impressora mental que funciona e podem estar certos: quando uma mulher, uma mulher a sério, imprime coisas - o passo seguinte é arregaçar as mangas e fazê-las. ou pelo menos tentar até ao próximo segundo, mais segundo do que minuto, derradeiro para a morte. olha como tentar é criativo. olha o paradoxo: tentativa falhada é criatividade consumada.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

agora é que tenho a certeza

:afinal sou uma santa.

muscular o cérebro ou vai-te foder nelinha



parece estar regulamentado nas cabeças. nunca percebi, não percebo nem hei-de alguma vez perceber, a coisa de os corpos gordos ou alegadamente feios inibirem de alguma forma as capacidades, os talentos, os sucessos ou os fracassos. vem isto a propósito da morte daquele actor maravilhoso que, dizem, apesar de gordo, vingava na grande tela. em uma sociedade cada vez mais industrializada ao nível mental, ideias em série de metodologia standardizada barbie-ken, perfeição plástica e  sempre em vias de polimerização, urge mesmo estourar com o preconceito de que a beleza é um conceito objectivo e universal, isto por um lado, e de que esse conceito objectivo condiciona as experiências pessoais e profissionais por outro. bem visto, tratar-se-á de muscular o cérebro e, exercícios permanentes aeróbicos, de oxigenar os pensamentos que se reflectem em palavras, atitudes ou omissões. este é um dos grandes desafios dos séculos vinte e vinte e um.

porque as pessoas são inteiras e a carne, que é a parte visível da alma, faz parte do todo. enquanto as pessoas que se dizem pessoas não entenderem isto, não entendem nada e serão sempre anorécticas de espírito. tenho dito. há quem diga de outra forma, mais obesa, aos tristes, do género: vai-te foder, nelinha.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

empapado e enrojoado, aleluia!

decidiram entronizar um padre confrade de honra por ter contribuído durante quarenta anos para a divulgação das papas de sarrabulho e dos rojões de uma freguesia, a par dos trabalhos na paróquia. há mais de trinta anos, este mesmo padre, recusou-se a fazer o funeral de uma mulher e mãe de quatro filhos apenas porque ela não teria colocado os filhos na catequese para fazerem a comunhão com as lengalengas da igreja católica - não teve, portanto, papas na língua e manteve o rojão, o dele, bem sectário e desumano. a história, com um jeitinho, vai acabar assim: o padre, agora ainda mais podre das ideias por conta de a podridão do corpo ser bem solidária, ao ser aclamado confrade vai comer uma tigela de papas e arrotar de satisfação azeda. após um quarto de hora, sensação de vazio no estomago, sangue do porco a obstruir-lhe a vida, mete um rojãozinho na boca de lavagem e a justiça divina acontece: nem para dentro nem para fora, olhos arregalados de pânico, no meio da festa quando estão todos a olhar para o prato, esgar de aflito, nem sequer consegue bramir e só dão conta dele quando os resquícios finos da flatulência instalada, janelas que se fecham pela chuva grossa, dobrarem o ar. se houver justiça divina é isso que vai acontecer: padre confrade de honra bate a caçoleta empapado e enrojoado da goela até ao fundo. no fundo, aleluia!, foi uma morte cheia de abundância - dirão -, uma honra.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

espectáculo

através daqui.

foi-se-me

como dizer a uma amiga que escreve imundamente mal e que um trabalho académico tem regras, principalmente as do bom senso de não copiar brasileiradas como suas, que as ideias pouco valem quando não se conseguem expressar - o que denota um pensamento fraquinho - e que sinto uma grande, imensa, vergonha de coisas assim? 

pois. não se diz. faz-se a revisão do texto por amizade pura já que o interesse foi-se-me logo na primeira página, referindo-se apenas que estava tudo muito confuso; elogia-se o que há para ser elogiado, talvez a escolha da fotografia de capa, e pronto. entretanto preocupa-me as notas altíssimas que os professores lhe têm atribuído, tratando-se de estudos superiores pós-graduados. enfim.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

insista-se


está decretado

uma rainha, que sempre viveu como plebeia, um dia acorda a pensar: que se acabem os vampiros do meu reino!, faça-se justiça ao meu esplendor! e tranquila, plebeiando, segue com a coroa única do fulgor.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

versus

amiúde ouve-se tanto da ignorância do positivismo a passar por positividade quando tantas vezes é o segundo conceito que nega redondamente o primeiro: ser-se positivo quando todas as variáveis da vida estão completamente no chão é conseguir ser um positivista do carago – basta para isso negar a realidade experimental. 

domingo, 26 de janeiro de 2014

boato selfie

um boato pode ser bastante útil: lança-se a posta escolhendo-se a quem a posta é lançada e depois fica-se a aguardar que a confirmação chegue. depois compara-se e conclui-se. sim, o boato pode ser útil desde que não prejudique ninguém. para isso a posta lançada tem de ter que ver com quem, protegido na sua falsa mentira, lança a posta. para a maldade usa-se a inteligência.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

não quero perder esta tragédia cheiinha de diversão


cerrado permanece o nevoeiro

cerrado permanece o nevoeiro
na vida dos olhos do leme
é um navio a vapor movendo-se
por tudo o que ainda teme
régua e esquadro a jeito
esquissos rectos em rigor
que é isso! milheiro de d'espanto
de rosas frescas quebranto?
por onde vão passando pés
vestidos em nuvens de lã
que é isso! esculpido de prova
de que a poesia é manhã?
e é fio abolado ao dedo
que de s'enrolar se solta
que é isso! lousa bordada
de gizar que se perde e encontra?

cerrado permanece o nevoeiro
(shiuuuu)

domingo, 19 de janeiro de 2014

sábado, 18 de janeiro de 2014

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

espanta espíritos pobres

lava bem essas couves, não vá aparecer alguma lagarta e nem quero imaginar o nojo se calho de ter uma na boca. não tens nojo?

nojo tenho, claro, mas das bocas que já lamberam um rol de pilas diferentes. já as lagartas são muito bem vindas.

imbecilidade paternal da semana

não gosto deste peixe porque tem espinhas.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

quando o ego supera a arte

há crueldade e não beleza.
por favor: tua por tu ainda és nova (21ª linha); está por estás a perguntar-te a ti própria (24ª linha).

olá menina!

curiosamente passa sempre naquela hora em que ando a pastar a deusa peluda: quando para baixo, vício a ougar, vai a ressacar e quando para cima, já saciado, vai a alucinar. na voz, carrega sempre um olá menina e um acenar de braço simpático - isso não muda. pela tez na pele e na língua é cigano, as palavras saem-lhe cantadas e sorridentes apesar da idade. sempre a passos largos, passa a cantarolar o que não percebo e só interrompe a alegria para o olá menina. gostava de lhe conhecer a história. certa vez, há muitos anos quando já morei aqui, havia um mendigo que tocava na minha porta a pedir dinheiro e a minha resposta era sempre a mesma: leite ou arroz ou massa. um dia disse-lhe para entrar e sentar no sofá para lhe saber da história mas o meu pai chegou e ralhou tanto que ainda hoje os meus ouvidos sangram. e é por isso que agora, com o cigano barbudo e drogado, saber de histórias de gente perdida no mundo aqui em casa está fora de questão. pode ser que um dia os passos lhe abrandem.

The History of Philosophy, in Superhero Comics


domingo, 12 de janeiro de 2014

comunicar precisa-se

Cafe Babel

(aqui na gaveta do lado, cómoda branca e lascada, tem máscaras para colocarem, por favor, antes de ler)

não tenho dúvidas: estar, e não ser, no ser não se pode deixar que caibam os rótulos que a sociedade inventa, desempregado é uma doença - não para todos os que estão por conta de ser precisa muita força e desenvoltura física e sobretudo mental para gerir o estado - para a sociedade. e uma doença contagiosa, da qual não se querem aproximar ou recomendar relações próximas. o desempregado ora é um inútil ora é um condenado à subserviência tamanha a quantidade de direitos que perde e deveres que adquire. o desempregado é uma espécie de persona non grata a quem se fecham todas as portas precisamente por já se encontrar do lado de fora. o desempregado é aquele a quem tem de se, não humildar, humilhar. e o desemprego é a variável mais frágil para a estatística de uma sociedade justa. porque injusta.

mas o desemprego também tem um aspecto muito positivo: permite-nos aferir com minúcia quem exactamente se está a merdar para nós - coisa que muitas vezes nem durante uma vida inteira sabemos. o desemprego é amigo das descobertas. ah! por uma vertente mais espiritual da coisa diria que é uma experiência absolutamente positiva de tão negativa - isto se o desempregado ainda conseguir fazer reflexões e paralelismos durante o seu dia vazio de ganhos e proveitos, claro. ser desempregado é, vivendo no tempo que só passa, não viver. e quem for desempregado crente, bem crente, há-de acordar e dizer: este é o meu dia sem alegria porque Deus não quer. bem visto, o desemprego é uma lâmina para os movimentos religiosos. já para o governo que não travou, nem trava, o surto da doença o desemprego pode ser uma mais-valia: quando se dá fome aos animais eles respondem, em uma primeira fase, com raiva. mas a pouco e pouco, a desnutrição começa a passar da carne para o intelecto e o desempregado acabará por se render àquele que pode alimentá-lo - e passa a apoiá-lo. creio ser essa a condição das massas por cá: a fome e a enfermidade física e mental, sequestro em gerúndio, apoiam a psicopatia do governo. é a síndrome de estocolmo.


sábado, 11 de janeiro de 2014

melhor

o homem que uma mulher inteligente escolhe é, por fazer o mundo dela incomparavelmente melhor, o melhor do mundo.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

as rosas e o seu perfume são engano?

quando se vive como se alguém não existisse, quando perante alguém se finge que esse alguém é ninguém, é-se (mais) feliz?


quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

necessidades vitais

nunca tinha levado isto muito a sério. quero dizer, como mulher, que desvalorizei sempre essa natureza do macho. talvez achasse piada a essa espécie de capricho masculino chamado de necessidade. até ver isto. é biológico e é verdade, a pontos de haver serviço de ejaculação assistida. não me choca o serviço - tampouco a necessidade; choca-me antes a existência de doenças que inibam um homem, porque é de homens que quero falar e da necessidade sexual absolutamente vital, estou convencidíssima, de se tocar. nunca pensei que um homem pudesse vir e ficar nem que uma mulher pudesse ir e regressar assim desta forma. mas também penso que só um homem para precisar disto e só uma mulher para conseguir dar-lhe. os homens precisam das mulheres para serem homens e as mulheres precisam dos homens para serem mais mulheres. fiquei triste, porém uma tristeza feliz como a música abaixo me sugere: afinal ele sentiu-se homem e ela ainda mais mulher naquilo que ser mulher é condição: na dádiva.


vale a pena ver


isto

sem fama e sem dinheiro só os animais, os outros, a amam.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

certos

em uma coisa os berros do meu pai estão certos: não tenho talento para negócios, nunca tive, não tenho astúcia para enganos e também não tenho queda para plantar e fazer multiplicar dinheiro - sou um péssimo negócio. uma falhada assumida.

olhem só para o talento cabeludo

deste moço. (e, é certo, só quem tem talento é capaz de ver talento nos outros)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Emerald Web- Flight Of The Raven 1979 Trippy Synth Acid Folk


nunca desejei tanto a morte a um morto

tanta gente a passar mal neste país, tanta miséria humana e social e moral, e há mobilização total por um morto - uma pantera da bola passada. por falar nisso, também morreram trinta e nove baleias e quase ninguém deve ter dado por isso.

maravilha


esta maravilha serve a todos:  tanto a quem ama a culinária e quer aperfeiçoá-la como a quem a odeia e também a todos os que um dia podem precisar dela por falta de quem lhes faça tudo. ou até mesmo serve para os que são convictos na certeza de que trabalhos manuais só aqueles executados, carne na carne, em si mesmos.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014



pode ser

em Portugal, 2013, a palavra mais pesquisada no dicionário Priberam foi poder. vai-se lá saber o que se passa na cabeça do mundo. se por um lado, como diz a notícia, a pesquisa pode servir para descobrir o significado - por outro também para verificar como se escrevem as palavras. ora poder, quer como verbo quer como substantivo, é capaz de ser uma palavra complicada. tal como bunda-mole ou anão, por exemplo. uma coisa é possível concluir: quem fez estas pesquisas foram, respectivamente, incapazes, cus duros (não confundir com kuduro que esse aprecia mais trabalhar com a anca do que com o computador) e gente de estatura regular. pode ser.


o que é certo

a ocasião faz o ladrão. isso. e tanto é ladrão o que rouba como o que deixa roubar. pára tudo. 

é um campo imenso, enorme, recheado de grelos e couves tão verdes como uma safira por inventar. e é um campo tão farto como desprotegido. a meio, o tal carreiro por onde sabe tão bem às galochas calcarem as poças e às ervas receberem com forte aplauso as águas e as merendas dos cães. mas há quem queira usar o carreiro, em todo o lado há gente que só quer usar em abuso, para aceder ao verde e usurpá-lo em sacos grandes e resistentes perante tão grande céu. agora quase que dizia que sou o céu. mas não, quando muito serei um céu, sim eu sei que céu da boca somos todos e toucinho do céu só de vez em quando, um céu sem ser pedaço. as couves e os grelos, ah!, essas pequenas grandes maravilhas que vitaminam e também fazem a tripa dobrar!, estavam a ser fisgadas de uma assentada. mas roubar para comer não será pecado, ouvi-me; mas pedir para levar para comer é que é correcto, mais vozes. decidi repousar, tal e qual como faz o céu, pelo menos nunca o vi a correr a não ser para mudar de cor, e aguardar que alguma sensatez descesse pelos canais que ligam o céu à terra, a razão à sensibilidade pela intuição, e sete casas abaixo das safiras por inventar lá estavam eles a violarem a laranjeira da casa azul e de portões acabados de abraçar. a adulta, suponho que seria a mãe, a péssima e desmerecida mãe, ser mãe é proteger, carregou a mercadoria enquanto mostrava às crias como procederem no assalto. esgar de vergonha, o meu - sempre o meu -, perguntei apenas se aquela era a casa deles e se achavam agradável chegarem à sua e terem sido roubados. mas são apenas laranjas e aqui não mora ninguém. percebi ser prática habitual e despudorada, uma miséria de ser. revolta no auge, a minha, porque ninguém desvaloriza laranjas e couves e grelos à minha frente, arregalei os olhos e ordenei que saíssem e não voltassem. e num ápice fui avisar os lavradores dos ladrões que andavam à solta. tudo se resolveu por ter a certeza de que fiz o que é certo. o que é certo para mim.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

crise

de mentalidades: não fosse a bimby um bom exemplo disso. é que além do preço de aquisição, acresce a factura de electricidade e também aquilo que faz da cozinha um local, misturas e provas de afectos, de amor. que tristeza pegada. que vergonha. também há a hipótese de muitos portugueses estarem convencidos de que a máquina produz ingredientes, verdadeira maravilha, e serão os mesmos que acreditaram piamente neste governo que elegeram.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

sonhos

é por isso que os sonhos, ser guardadora de sonhos, não são para qualquer uma: há que fazer a massa, trabalhá-la até à tenrice. e depois, uma estafa seguida da próxima, há que fritá-los, impregnar o cabelo e a roupa daquele odor tão infiltrado como o secretismo, e cobri-los de açúcar e canela. dão trabalho, os sonhos.


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

e se um beijo for, mais do que um beijo, cavalo alado, há magia no cuspo escolhido, e que nunca se cansa, porque dança.

domingo, 22 de dezembro de 2013

boa humanidade

o termo ao milímetro deseja a todos os visitantes, mudos e calados, uma quadra fantástica. esta época tem pouco que ver com crenças religiosas - antes é de crença naquilo que é ser humano. e se pelo menos uma vez por ano parte do mundo pára para se rever no outro, então já é bom haver crença. e eu acredito na humanidade.


lua de inverno




sábado, 21 de dezembro de 2013

há que tempos não ouvia isto



in verno

o calendário trouxe-o como traz sempre os dias marcados. mas ele já por cá andava: distingue-se do anterior pela cor dos dias, pela humidade e também pelo sabor. porque o Inverno é cinzento, molhado e doce festeiro. o que seria de nós com um Inverno o ano inteiro?



seriamos aves uns
ursos outros
harmonioso desencontro
como quando no deserto
a água é união de miragem
oásis de silêncio triste

in verno estamos
in verno somos

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

secretos com paixão é a ementa, amor, que o frio cozinha com a mão. e salsa.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

ora o que tenho a dizer sobre o vídeo promocional das cinco advogadas

nada percebo de deontologia dos advogados nem da Ordem mas como consumidora, e consumidora mulher - mais isenta, portanto -, é que se trata, de facto, de uma inovação: estamos habituados a ver o Homem das leis como estático, sentadinho na secretária a ver como dá uma coça a lei para ganhar causas, e neste vídeo há dinamismo: é a mulher do século vinte e um, activa, completamente entregue ao sucesso profissional, que usa copo menstrual em vez de pensos e tampões, preocupada em fazer olhares sensuais encenados à moda do FB, com os presuntos de fora e a usar o direito de preferência através da imagem produzida com acessórios de luxo. não me parece nem bem nem mal - apenas real e actual.

pequena observação: o uso de copo menstrual em vez de pensos e tampões é a grande narrativa maravilhosa disto tudo. viva o copo menstrual!


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

que vergonha

mas o que é isto? em Portugal o google serve para pesquisar sobre esta mulher horrorosa, este jogador azeitola e estes ociosos? e depois admiram-se com este tipo de provas básicas feitas àqueles que deveriam ser os pilares mais intelectualmente firmes da sociedade. estarei por certo a conjecturar e a inventar larguete mas não serão as costureiras nem os trolhas nem os padeiros ou desentupidores de canos a fazer tanta pesquisa durante as jornadas de trabalho - nem de noite, já que têm de se levantar muito cedo para picar o ponto. digo eu.

ai que riso!

um sonho altamente carnudo
 tu hás-de cheirar ao que sabes, sabes, quando tudo a que deves saber, de certeza que hei-de saber-te o sabor, sempre bem tão bem, é a ti - cheira-me.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

fungar

rechear cogumelos portobello, aqueles que viradinhos do avesso fazem pocinhas, com atum e queijo mozzarella - sem esquecer o fundo barrado em azeite antes de ir ao forno, é uma excelente opção para acompanhar o vídeo musical preferido de 2013. eu vou acompanhar com este.

já mereço


careca

o homem era careca, sem pestanas nem sobrancelhas. percebi, entretanto, porquê: durante três horas, sentado enquanto esperava a sua vez, esteve a jogar alguma coisa semelhante ao tetris no telemóvel. e só retirava o puto do dedo indicador da coisa para coçar a fruta. está, portanto, explicado não haver pêlo que o ature.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

oliveira


do verbo (des)governar

ó minha rica oliveira
a segunda mais antiga
velha
que meigueice
deixas-me orgulhosa, sadia,
azeite cremoso
de que se vai barrando o país
nisto de ferida e urtiga
dia sim dia sim
diz que disse diz que diz
garras e coisa e tal
do desgoverno sem freio
tripas sem moda
a desgosto
calçada descalça
Portugal

o enigma da experiência Vs memória

ele explica tudo - ou como este governo nos faz profundamente infelizes.

a pele do cavalo

ligou-me por haver novo projecto. pediu para nos encontrarmos no shopping. achei estranho. perguntou-me em que loja há das malas que eu usei uma vez, uma mala em pele de cavalo branca e verde com manchas prateadas. digo-lhe tratar-se da minha mala preferida, presente de aniversário do meu pai há três anos. ainda ali, às portas do shopping, pergunto-lhe do projecto. perante a minha mudança de assunto e desinteresse pelo shopping e pela mala, esgar de desprezo- o dela -, diz-me que a equipa já está formada. 

não me corrompo. nunca. a minha pele era agora de égua ferida. e ainda é.

domingo, 15 de dezembro de 2013

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

olá menina, bom dia, como está

diz, sempre que passa sem interrogar. por duas vezes seguidas parei a responder mas andou sempre. na verdade, é uma mulher de mantras que não quer saber - só quer dizer. adivinho-lhe duas ou três cores, no máximo três, não mais, que fixou para vestir ou aperaltar; aposto-lhe uma ementa semanal irremediavelmente iigguuaall desde há trinta anos e dias estabelecidos no mês para copular com o marido. dias e tempo de execução da obra porque a mulher nota-se que tem muita freima. olá menina, boa tarde, boa noite, como está. vou chamar-lhe Piedade. a Piedade quando passa olha para o chão e solta palavras, palavras decoradas, para o ar. tanta pressa. um dia, consolada, levará consigo todos os mantras do seu viver para o lugar, aquele lugar de frenesim calado e quieto, onde não deve mesmo haver quem lhe queira responder.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

quer-se no amor como na lasanha: folhas de um e de outro a ferver, tenras, o amor é tenro na paixão da sua dureza, mesmo antes do forno as derreter embeiçadas de bechamel.

"À loucura queremos dar equilíbrio / Ao medo queremos dar confiança e fé /Ao egoísmo opomos a dádiva de nós mesmos".

história da luta pelo bailado no nosso país: aqui. porque o fogo do querer não tem rugas.


como inesperada vírgula do tempo


Lembrarás então o pai aqui sentado
A máquina de escrever no chão
Os discos na parede entre a luz e o pó

Irão passar talvez muitos anos
Farás promessas que não vais cumprir
E dirás ruas para voltar noutras horas

Será como quem percorre um caminho
Iluminado pela luz do teu olhar
À procura das palavras subterrâneas

Lembrarás então o pai aqui sentado
Um gelado presente do indicativo
E silencioso que não fala – não esquece

Passarás nas tuas mãos um fio
Será talvez a memória das noites
O tempo do leite e das fraldas

Será como quem procura descobrir
Nos desenhos (nos cadernos escolares)
Uma outra maneira – a tua outra voz

Lembrarás então o pai aqui sentado
Não como pai mas como anónima pessoa
Surpresa a esperar no céu do outono

Terás nas tuas mãos um retrato
O voo das aves por cima da casa
Como inesperada vírgula do tempo

Será como quem procura fragmentos
Num momento ou talvez num lugar
Na tua idade como um portão aberto

José do Carmo Francisco


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

sábado, 7 de dezembro de 2013

que maravilha me mostrou o Curador JPC


ai o cão, o auau...



não. não vou deixar de congratular o Diogo Leote, que foi quem trouxe o cão à rua, nem o Pedro Bidarra e a Rita Roquette de Vasconcellos que o levaram a passear depois deu lhe ter feito, ao cão, umas festinhas inocentes. a irreverência gorda é fantástica e com a deles fartei-me de dar pinotes de satisfação. porém, no blogue zen que é o Escrever é Triste, tal irreverência há-de ter feito engolir a Tia da Costa em seco - ou quem sabe mijar-se toda - já que aos da mesma classe dela ela não pode, e não convém, castrar: antes mandou-os, de forma simpática, nevar para arrefecer a líbido da irreverência. não é que tivesse lido (além de impedida de me defender, e comentar quem merece, na casa onde fui agredida pela difamação também puseram trancas na minha porta rastreando o meu IP - isto sim é invasão de privacidade) mas não está difícil de perceber que nas galerias do Parlamento da Tia não convém ir quem não se tem como inferior. em uma outra perspectiva, o argumento da irreverência gorda e da divisão pelo pensamento só serve para inibir a classe dominante de se confrontar com a classe supostamente inferior - já que com a residente tudo não passa de palmadinha bem jeitosa nas costas à boa maneira da plastificação social.

também não posso deixar de analisar os acontecimentos colaterais à saga do cão (tão feliz como se vê ali,  cheio de pinta, que foi censurado por ter sido colocado por mim ao lado da Eugénia de Vasconcellos e tem andado agora consoladinho por cima e por baixo e pela frente e por trás dela), ó. é que há autores que se deram ao trabalho, depois do abanar que o sexo virtual instigou lá, de me despromoverem de amizade no FB. ó. não convém que certas pessoas no seio familiar percebam o que sem eu querer descobri. mas é tal e qual como desenhou a Rita: quando cai o chapéu, enfia-se o gorro de pai natal. cheiinha de ingenuidade descobri mais do que o que pretendia e deixei a nu, sem qualquer intenção propositada, a pelagem de uns e de outros e, mais, de par em singular.

confirma-se: as mulheres, não todas obviamente mas é privilégio de género, têm aquela intuição que permite a descoberta mesmo quando nada se pretende descobrir. mas isso é motivo de alegria - pelo menos para mim. já para outros será motivo de raiva e ódio e frustração - sim, aquelas coisas que movem as pessoas para a censura e tirania.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

garden




de que valem os olhos brilhantes
se de tudo costuram instantes?
de que valem miolos de noz
se tudo o que resta são ecos de voz?
de que vale a estrada pungente
se são muros cortantes de gente?
de que valem os bichos honrados
se são dias os tempos contados?
de que vale a estrela no prato
se o ouvido é de cobra e lagarto?
de que valem as sombras contentes
a luz
pequena manta que o fim encobre
se não sabe
esperta
sempre esperta
se é amanhã que vive ou que morre?


olhos das cavernas

the island cave


quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

argumentos afáveis

em riso, muito, não resisto a traduzir para a versão afável a discordância:

minha querida e excelente e magnífica, rainha das rainhas, abençoada e belíssima boneca de porcelana, não é que tenha alterado completamente o conteúdo produzido pela sua colega para fazer do seu, à sua razão, melhor. não. decorou o seu texto a romance lindo o que não poderá ser comparável ao outro texto. mas o seu está melhor, afinal de letras a menina é a melhor da sua sala. não fique triste.

(e quando lhe pedirem para lhe darem beijinhos de língua tenra na pombinha que tem entre as pernas, pela internet, na sua princesinha, não esqueça de ter ao lado o auau)

veja lá, diga-me antes se posso ter uma opinião diferente da sua e expô-la. veja e diga-me, por favor, não quero incomodá-la, adorável rainha.

comece por atacar a escravatura em casa

Escravatura: estima-se que cerca de 30 milhões, gosto do exagero quando as estatísticas apontam um pouco menos, de pessoas vivam escravizadas entre exploração infantil, sexual, servidão por dívida ou casamentos forçados - são estes os tipos de escravatura mais considerados pela ONU (Organização das Nações Unidas) neste século, apesar de já virem de longe. Índia, China, Paquistão, Nigéria, Etiópia, Rússia, Tailândia, RD Congo, Bangladesh e Myanmar são os países por onde estão espalhados os mais escravizados - 76% da população alvo desta violência.

Escravatura infantil, os números

escravatura infantil é uma das formas que assume esta prática que, apesar de ter sofrido uma quebra, de cerca de um terço, desde 2000, ainda continua a ter um grande peso neste flagelo. Encontra-se, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), mais concentrada na Ásia- Pacífico e África-Subsariana mas existem crianças a trabalhar por todo o mundo: 11% das nossas crianças, para ter uma ideia são 168 milhões, veja bem isto, estão sujeitas a escravatura principalmente na agricultura - não descurando, obviamente, outros sectores como a indústria e serviços. Políticas nacionais saudáveis e quadros legislativos fortes e apertados neste sentido têm dado uma ajuda na luta contra esta aberração social. Mas não chega.

Servidão por dívida - sabia que é escravatura?

O tráfico de pessoas constitui no Brasil, por exemplo, uma das maiores formas de escravatura: as pessoas são enganadas por falsas promessas de trabalho, não recebem salários, são submetidas a violência física e psicológica e tudo o que comem e gastam é acumulado em dívida que dificilmente algum dia conseguirão pagar. São as explorações agrícolas os locais que recebem o maior número de escravos supostamente devedores.

Os casamentos forçados

Crianças com menos de dezassete anos, maioritariamente raparigas, que são levadas pela própria família para outros países para casarem a troco de dinheiro também estão na lista dos casos de escravatura. Também se dá o caso de ocorrerem por simples tradição de minorias étnicas, como no caso dos ciganos, sendo muito mais difícil rastrear e denunciar. Já pensou em como destes casamentos nascem crianças já escravas?

É isto o progresso?

Chega de números e de estudos. Inaceitável nos nossos dias, resquícios grandes de outras épocas, a escravatura é um cancro social e humano a combater. Mas como mostrar a espada a estes crimes a uma escala imensa, global, se tantas vezes é em si e no seio familiar que ela, a madame escravatura, começa? Sou doida? Quer um exemplo? Nunca parou para pensar na escravatura doméstica? Quantas vezes não teve conhecimento da prima ou da amiga de alguém que por necessidade está em casa de um familiar pagando o que come e veste com a perda da sua dignidade? Quantas vezes não ouviu dizer que esta ou aquela não se divorcia, apesar de não sentir afecto pelo marido, simplesmente porque não trabalha e apesar disso cumpre com os seus deveres conjugais (sexualidade escravizada por si mesma) enquanto o marido lhe mantém o nível de vida (escravizada consentidamente pelo outro)? Quantas vezes já percebeu que aquele homem ou aquela mulher decidiram escravizar-se perante a vida profissional em detrimento dos afectos? E aquele patrão que simplesmente dá umas migalhas ao empregado, ao escravo, não lhe reconhecendo nem atribuindo qualquer valor pelo seu trabalho?
Pois é, são tudo verdades vulgares e por isso mesmo passíveis de serem ignoradas: a sociedade privilegia a hipocrisia e o absentismo dos afectos, escravizando-se em si mesma perante aquilo que é a vida e o viver. Na verdade, o que acontece num corpo é que cada célula contribui para o seu pleno funcionamento ou igualmente para a sua disfunção. Quer a acabar com a escravatura? Seja uma célula consciente de que tudo começa em si. E assim, só assim, talvez um dia, que pode ser já hoje, o amor, aquela coisa que se mistura onde entra e sai o melhor, o melhor que não é perfeito mas sempre uma imperfeição do melhor, aconteça em muitas células ao mesmo tempo. E o mundo, o corpo comum, será um lugar livre.