quarta-feira, 29 de outubro de 2014
ontem, durante uma aula, vomitei-me toda sem motivo aparente. e acabei, mesmo agora, de descobrir porquê: não estava lá, afinal, andava por dentro de mim.
estava a pensar no quanto os pensamentos andam viciados, as ideologias andam viciadas, as relações estão viciadas - e no quanto os não viciados são hostilizados e penalizados. e completamente de repente encontro umas palavras do João Lopes que contextualizam bem aquilo em que estava a pensar sem, no entanto, ser, ou não, nunca se consegue encerrar aquilo que os outros querem dizer, o seu contexto: "(...) o facto de qualquer linguagem comunicacional nascer de um misto de transparência e ocultação, segredo e revelação. Ficamos a saber, assim, que a verdade do factor humano é feita de carne, osso e cartão(...)."
terça-feira, 28 de outubro de 2014
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
estás irremediavelmente apaixonada e ele trata-te como criança?
não julgues, não critiques. escreve-lhe uma carta ou diz-lhe assim escalando-lhe a orelha:
vamos, meu homor, aproveitar ao máximo essa condição. vou vestir-me, nuinha, com os teus polos e as tuas camisas grandes e rebolar-me na terra para depois me despires e me dares banhinho. esfregas-me bem o corpo tenrinho de volúpia e fazes-me espuma no cabelo em madeixas de humidade. depois passa-me creme e massaja-me o ventre com as pontas dos teus dedos sagazes até a pele absorver tanto calor. e depois, homor, deixa-me alimentar-me da tua água fresca de côco - mamar-te todo com a inocência e o arfar da primeira vez. até arrotar. mete-me os dedos na boca molhada e conta-me os dentes; faz-me cócegas nos pés e mete-os todos na boca, dedos felizes e risonhos, até te fartares. e depois, meu homor, explora comigo a fase oral e anal, brinquemos no jardim, até nos derretermos mais de saber em cada vez.
por fim, homor meu, conta-me uma história de embalar e faz conchinha comigo até a manhã chamar com talco do teu.
observação: esta é uma carta heterossexual, naturezas imensamente desiguais, de pura mulher para puro homem.
vamos, meu homor, aproveitar ao máximo essa condição. vou vestir-me, nuinha, com os teus polos e as tuas camisas grandes e rebolar-me na terra para depois me despires e me dares banhinho. esfregas-me bem o corpo tenrinho de volúpia e fazes-me espuma no cabelo em madeixas de humidade. depois passa-me creme e massaja-me o ventre com as pontas dos teus dedos sagazes até a pele absorver tanto calor. e depois, homor, deixa-me alimentar-me da tua água fresca de côco - mamar-te todo com a inocência e o arfar da primeira vez. até arrotar. mete-me os dedos na boca molhada e conta-me os dentes; faz-me cócegas nos pés e mete-os todos na boca, dedos felizes e risonhos, até te fartares. e depois, meu homor, explora comigo a fase oral e anal, brinquemos no jardim, até nos derretermos mais de saber em cada vez.
por fim, homor meu, conta-me uma história de embalar e faz conchinha comigo até a manhã chamar com talco do teu.
observação: esta é uma carta heterossexual, naturezas imensamente desiguais, de pura mulher para puro homem.
atrevo-me a dizer que o mistolin é um dos melhores amigos de quem poema a casa: este caralho deste produto desfaz a gordura dos sítios mais inacessíveis em segundos. e com isto faz-nos sorrir e poupar as unhinhas que são a moldura das mãos.
bem visto mistolin liga bem, pela excelência da intensidade do ritmo e da alegria, com poesia. e com kizomba.
domingo, 26 de outubro de 2014
sábado, 25 de outubro de 2014
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
abrem-se os olhos às três da manhã, sempre às três da manhã, desde aquele dia. faz-me o favor a noite de me acordar do pesadelo. não sei a que horas começa mas acaba sempre naquela parte em que se me abrem os olhos que me impedem de ver a bola gigante, enorme, disforme, e letal, que cospe fogo. é uma bola demolidora, destruidora, má, coisa má, coisa ruim, que dá mau sentir e mau estar e mau viver - e de quem é preciso proteger. faça-se um escudo potente para proteger - afaste-se, ataque-se - a gente!
a bola sou eu; a bola é o que fazem de mim. e por isso a noite misericordiosa me acorda e me faz sal desperto e diserto.
a bola sou eu; a bola é o que fazem de mim. e por isso a noite misericordiosa me acorda e me faz sal desperto e diserto.
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
hiper realismo de Robin Eley: uma hiper seca acriativa. mas, obviamente, sem retirar valor ao artista.
terça-feira, 21 de outubro de 2014
descobri um truque fantástico. o cetim, as fitas de cetim, são imprescindíveis para acrescentar poesia a sapatos, casacos, ganchos, alfinetes e a tudo o que se quiser. mas, até hoje a meio da tarde, havia um problema - sempre contornável mas não de forma perfeita - que ficava sempre mais ou menos resolvido: as pontas. as pontas das fitas, depois de cortadas, esfiam. mas agora descobri como acabar com essa tristeza. anotem aí esta Olindice: como o material é de polyester pode chegar-se o fogo que fica tal e qual uma costura perfeitíssima. que alegria!
isto merece um mimo carregadinho de poesia até aos ovários.
isto merece um mimo carregadinho de poesia até aos ovários.
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
domingo, 19 de outubro de 2014
sábado, 18 de outubro de 2014
Azeite em Escala de Intensidades de Sabor para um Nicho
Um
tipo de azeite para cada ocasião é
o novo conceito, à semelhança do café, a ser introduzido por uma campanha da
Gallo. Querem fazer da iguaria culinária uma espécie de Nespresso e o
investimento para esta causa rondará os cinco milhões de euros só em
Portugal. (Estão a querer chamar azeiteiro ao Clooney?)
Nova forma de escolher azeite durante as compras é
motivo de inspiração de nova campanha com uma escala de intensidades de sabor
Uma
escala de sabor e utilizações específicas, à semelhança do café Nespresso, é o
grande objectivo da campanha que está a ser preparada pela Gallo do nosso azeite. Em breve as prateleiras dos
supermercados e das lojinhas tradicionais deixarão uma pergunta no ar e na
cabeça do consumidor já que perante a oferta passaremos a dizer, em vez do
habitual que gallo!, qual gallo?.
O
projecto já vem a cantar desde 2011 com o lançamento de uma nova garrafa de
vidro escuro - a intenção é preservar, valorizando, a qualidade do azeite. A
grande novidade, porém, tem que ver com a criação de uma escala de intensidades
de sabor, a apreciar pelo rótulo, que distingue os vários tipos de azeite:
quatro graus de intensidade de sabor, identificados por gotas (da meia
gota às três gotas) e que distinguem os sabores extra suave, suave, clássico e
reserva. A ideia, desmistifiquemos desde já, é levarmos uma de cada para casa.
Agora
o investimento: são cinco milhões deles panadinhos em azeite para a campanha de
intensidades de sabor só em Portugal - porque depois seguir-se-á o Brasil, a
China e, talvez entre outros, Angola.
O azeite no panorama nacional do retalho: estimular o
consumo, e as vendas, é mesmo preciso... mas será que este é um produto para
todos os portugueses?
Não
que tenham dito desta maneira, obviamente, mas a verdade é que os portugueses
andam a regar o bacalhau e as batatas com óleo que nem sequer deve ser do fula.
Ora isto remete-nos para a triste realidade do país: o azeite, tão tradicional
por cá, está a ser descurado. Mais: o des(Governo), que é um valente azeiteiro,
está a roubar o azeite da mesa dos portugueses. Adiante.
Dados
da Nielson referem que as vendas de azeite no mercado retalhista estão em
queda. Torna-se, por isso, urgente dinamizar e valorizar este produto tão
querido dos portugueses. A grande questão que me surge é se o português actual
da antiga classe média consegue levar para casa quatro intensidades e sabores
em forma de azeite, o que nos remete para um mercado de nichos...
A
comprovar esta minha teoria estão os números: em termos globais 100% das
famílias portuguesas têm azeite em casa e 53% usam-no várias vezes por dia. Lá
está, o em termos globais é uma generalização que cai na sensível metade que o
utiliza...
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
Suicídio na Religião Católica, Tabu em Canto de Sereia
O tabu do suicídio na religião católica é,
amiúde, motivo de reflexão. Recentemente foi motivo de publicação de um livro,
uma longa narrativa, uma forma de homenagear e expurgar o próprio tema,
segundo a autora de Geografia Íntima do Deserto, Micheliny Verunschk.
Nossa Teresa, vida e morte da uma santa suicida, o
início do fim do tabu do suicídio na religião católica
É
um livro recente e fala do tabu do suicídio na religião católica. Tudo começa
com a imagem de uma menina suicida que foi enterrada vestida como santa. O
paradoxo da escolha de Teresa é justamente o coração desta obra que é contada
por um narrador em uma intervenção constante de manipulação e ironização
daquele que lê.
Micheliny
já tem uma fama na poesia, um caminho até. E acaba de se estrear nas narrativas
longas, optando por fazer uma abordagem que é, ao mesmo tempo, pessoal e
distante. A experiência da autora com casos próximos de suicídio terá
constituído também um estímulo para a realização desta obra. Como
refere, "É um tema que me move e comove. Quando o meu amigo Rubens se
matou eu precisei de lidar com muitos sentimentos confusos, entre eles a raiva
que senti por ele ter decidido partir". "Não sei se ajudou, mas deu
forma a algumas ideias".
A
autora refere também que falar do tabu do suicídio dentro do universo da
religião católica em particular e de uma forma geral é revolucionário já que
"o ser humano afasta o papel de Deus como responsável pela sua vida (e
pela sua morte) e define, ele mesmo, o ponto final".
Teresa,
uma menina que aos olhos dos outros é santa, mata-se. E são reflexões atrás de
reflexões sem que Teresa se transforme em um mero ensaio sobre o suicídio e
sobre o tabu do suicídio na religião católica. Também não há moralismo, até
porque Teresa é, de facto, uma santa - tanto aos olhos dos outros como por se
ter matado.
Narrativa que puxa quem lê para outra narrativa
anterior estando já na posterior: a reflexão sobre a criação de uma narrativa
Neste
livro sobre o tabu do suicídio na religião católica o narrador interrompe a
história para levar quem está a ler para trás, através dos tempos, até à
reflexão sobre a criação de uma outra narrativa. "Tudo o que depende da
linguagem se move sem que se possa determinar fielmente o seu roteiro".
"Esse narrador, esse velho, descobri aos poucos. Parecia que cabia bem
nele uma certa arrogância divina", refere a autora, fazendo referência a
outros narradores-personagens, nomeadamente os de Machado de Assis e José
Saramago.
Um
livro sobre o tabu do suicídio na religião católica escrito em canto de sereia
seduz. Muito. Porque até o suicídio está carregado de poesia - porque, digo eu,
toda a narrativa tem poesia. E música por dentro.
lembro-me bem da primeira vez, e julgo que única, que senti inveja. estava na segunda classe e estava quase a fazer anos e a aguardar uma prenda que um dos colegas se adiantou a ter: um dicionário. na verdade eu não queria só um dicionário, queria também um mapa. mas o rapaz tinha o dicionário que eu queria, e que tive - a par do mapa -, no meu dia de anos. tinha uma lombada grossa e era rígido, de um verde daqueles arbustos das casas antigas que têm jardim e que dão sempre vontade de espetar a unha quando por eles se passa a confirmar se são vivos como parecem.
vem isto a propósito de uma vizinha que mora por cima, salvo seja, de mim. vem isto a propósito de invejas e de males maiores que desconheço sentir. o seu olhar nunca me enganou, os olhares nunca enganam, não interessa o que os outros nos dizem, o que contam, o que querem que pensemos, interessa o que observamos e o que vemos e o que sentimos.
sempre me olhou de esgelha e cumprimentava-me por suposta educação. mas intrigava-me quando fechava a porta do prédio a cada vez que me via chegar carregada com compras. mesmo quando estava a chover muito. olhava-me de esgelha quando me via a dirigir para casa e fazia questão de me fechar a porta. não sei mesmo onde terá visto uma ameaça - se me substituía o olhar doce por amargo, se me inventava dizeres ou atitudes, se me colocava nos cabelos a maldição, se me metia tentação no sorriso ou até cabronices na delicadeza de aceitar a ajuda do marido em segurar na porta para eu entrar. não sei.
mas sei que por estes dias saí bem cedo para ir a uma conferência e ela também. sei que chovia imenso e que eu entrei para o meu carro e ela seguiu a pé. sei que parei e disse-lhe para entrar. sei que a levei até ao local mais resguardado e próximo do destino dela. e sei do seu olhar envergonhado e do seu sorriso corado.
e sei que agora já não me olha de esgelha: simplesmente não me olha. porque a vergonha que deveria servir para ser melhor ainda a faz pior. porque quando esfregamos dignidade na cara dos que nos tratam como merda, a merda que são fá-los borrarem-se todos, ao invés de aproveitarem para se limpar.
vem isto a propósito de uma vizinha que mora por cima, salvo seja, de mim. vem isto a propósito de invejas e de males maiores que desconheço sentir. o seu olhar nunca me enganou, os olhares nunca enganam, não interessa o que os outros nos dizem, o que contam, o que querem que pensemos, interessa o que observamos e o que vemos e o que sentimos.
sempre me olhou de esgelha e cumprimentava-me por suposta educação. mas intrigava-me quando fechava a porta do prédio a cada vez que me via chegar carregada com compras. mesmo quando estava a chover muito. olhava-me de esgelha quando me via a dirigir para casa e fazia questão de me fechar a porta. não sei mesmo onde terá visto uma ameaça - se me substituía o olhar doce por amargo, se me inventava dizeres ou atitudes, se me colocava nos cabelos a maldição, se me metia tentação no sorriso ou até cabronices na delicadeza de aceitar a ajuda do marido em segurar na porta para eu entrar. não sei.
mas sei que por estes dias saí bem cedo para ir a uma conferência e ela também. sei que chovia imenso e que eu entrei para o meu carro e ela seguiu a pé. sei que parei e disse-lhe para entrar. sei que a levei até ao local mais resguardado e próximo do destino dela. e sei do seu olhar envergonhado e do seu sorriso corado.
e sei que agora já não me olha de esgelha: simplesmente não me olha. porque a vergonha que deveria servir para ser melhor ainda a faz pior. porque quando esfregamos dignidade na cara dos que nos tratam como merda, a merda que são fá-los borrarem-se todos, ao invés de aproveitarem para se limpar.
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
sombear
A solo e com música electrónica(re)nasce Bradley Hale ou, melhor, Sombear. Bradley Hale é o baterista dos Now, Now, uma banda oriunda de Mineapolis, que decidiu finalmente lançar-se a solo como Sombear. E o resultado está bem à vista - ou em pé de orelha: "Love You in the Dark" é o álbum de estreia carregado de sombras interessantes. Nada de escuridão assustadora nesta música electrónica, garanto.
O artista diz que é um disco sombrio e introspectivo de música electrónica mas eu chamo-lhe de sombreiro e suspirador
Sombreiro e inspirador, sim, de outra forma como poderia ser, ao mesmo tempo, leve e dançável? A descoberta de uma voz por detrás de baterias é para ser mostrada porque reveladora de excelente manipulação do som quando este desliza bem organizado no tempo.
Bradley Hale refere tratar-se de um disco sombrio e introspectivo mas, no entanto, puro electro-pop dançável. Em voz de rectaguarda nos Now, Now, o artista coloca agora o seu tom falsete na dianteira em um tom equilibradíssimo que se frui com uma facilidade gostosa. E entenda-se facilidade como simplicidade e arejo.
Parece-me excelente dizer que este trabalho de música electrónica a solo foi realizado com a mesma tranquilidade, ingenuidade e diversão do Winnie the Pooh quando olha para o frasco de mel vazio, ou seja, despojado dos corredores de testosterona que - digo eu - caracterizam o desejo irracional. É, sem dúvida, e depois de ouvir o álbum na totalidade, uma espécie de samba tranquilo aplicado ao género electro-pop por se avistar uma paixão escaldante porém serena por se querer doce e sem a amargura resultante da mera pulsão. Excelente.
Porque música electrónica, contrariamente ao que se tem vindo a dizer por aí, também é música. E da boa.
Já vem de longe a validade do electro enquanto música, a polémica terá nascido em finais da década de setenta e apimentou-se na década seguinte - altura em que terão surgido inúmeros boicotes à música sintetizada. Esta polémica assenta, ou assentava, na organização do processo até ao produto final, isto é, não estará em causa a forma como se produz o som mas como este é organizado já que dispensa a mão humana através de acessórios como módulos sequenciadores e filtros moduladores dos sintetizadores.
Não tardou a que a verdade, a única, viesse a lume: os sintetizadores vieram acrescentar à música apenas uma novidade - a da programação, isto é, uma pré-configuração ao longo do tempo que permitia, igualmente, controlar uma enorme variedade de sons e de efeitos incompatível - e inatingível - apenas com a mão humana pelos instrumentos convencionais. Tratava-se, bem visto, da introdução do algoritmo matemático na música, cáspite!
Ora isto remete-nos - assim como foi remetendo, ao longo do tempo, as mentes mais fechadas - para a fonte da Leonor, a formosa e segura, a nascente criativa que nunca deixou de ser o Homem. E mesmo com os - talvez - paradoxos - não sei bem -, do sampling e da discotecagem há, sem dúvida, música por dentro e por fora da música electrónica. Comprovem.
acabei mesmo agora de provar um cheiro novo. pensava eu que o cheiro dos verdes, quando molhados, era todo bem semelhante. mas não: há um muro mediano que do outro lado está entupido de silvas e uma senhora que de quando em vez pega na tesourinha que tira do saco e corta-lhes as pontinhas que vão querendo trepar para fora. e ainda bem que o faz, de outra forma acabaria por se tornar em um caminho picante. mas voltando a elas, às silvas, todas juntas em monte e com chuva têm um cheiro peculiar completamente diferente das ervas ou das flores ou dos arbustos: cheiram fortemente a mofo.
há coisas que só quando inteiras pela boca ou pelo nariz conseguimos provar. é o caso, por exemplo do fiambre. se provarmos um niquinho não tem o sabor verdadeiro - há que meter uma fatia generosa na boca. e o ovo estrelado tem mesmo de ser rebentado inteiro na boca para haver explosão de sabor. e o ideal mesmo é deixar que uma pequena porção, depois de rebentar, escorra pelos cantos. só pelo prazer de lamber depois.
há coisas que só quando inteiras pela boca ou pelo nariz conseguimos provar. é o caso, por exemplo do fiambre. se provarmos um niquinho não tem o sabor verdadeiro - há que meter uma fatia generosa na boca. e o ovo estrelado tem mesmo de ser rebentado inteiro na boca para haver explosão de sabor. e o ideal mesmo é deixar que uma pequena porção, depois de rebentar, escorra pelos cantos. só pelo prazer de lamber depois.
terça-feira, 14 de outubro de 2014
algumas pessoas e bolos de pasta de açúcar têm bastante em comum: apresentam-se trabalhadinhas, coloridas e doces porém com recheio seco, descurado e a parecer saber a sabonete. que carácter tem a massa de um bolo de pasta de açúcar? é feito com antecedência e do mais básico que há; não importa se fica queimado ou cru ou se é fôfo ou está duro. o que interessa mesmo é como se vai cobrir e mostrar. e depois os otários curtem mesmo apreciar a pasta de açúcar, uma elaboração cuidada e copiada, sempre copiada, uma pasta por onde as mãos andaram a mexer e a remexer. por favor. antes uma regueifa do domingo com manteiga do que um bolo de pasta de açúcar.
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
domingo, 12 de outubro de 2014
velhotas e ciclistas juntam-se todas as semanas para me darem riso. por ser domingo. elas já não usam pichos como antes, cortam os cabelos, pintam-nos e metem laca até ficarem tesos de desejo - o desejo de irem passear à missa e verem-lhes os dedos molharem-se na água que parece de lavar os pezinhos. mas os cabelos não vão sozinhos, levam meias de vidro esticadinhas como se acabadas de passar por ajax. no caminho, cabelos em peruca, meias brilhantes e andares velozes deixam-se passar por ciclistas que carregam as frutas bem amassadinhas e fascismo: as frutas vão amassadinhas pela liberdade de viverem para si naquelas horinhas de domingo de manhã e o fascismo vai, talvez, no capacete rígido e protector: porque os ciclistas de domingo de manhã precisam de um tempo só para si, para descansar da semana inteira - as mulheres é que não. as mulheres, ao domingo de manhã, ficam a fazer mexer as máquinas, a passar a ferro, a entreter os miúdos e a preparar o almoço porque o papá quando chegar do ciclismo tem fominha.
sábado, 11 de outubro de 2014
ontem descobri que já tinha saído o número 3 da revista experimental, agora mais em dueto, ESC:ALA. e descobri por sorte, desta vez não tive lembrete, os lembretes são pequenas epifanias que passam bem por enganos. como estava quase morta de cansaço cliquei nas partilhas, calorias que não cansam, e decidi exaltá-la hoje. foi uma sorte, como estava a dizer, por tanto que gosto de a ler e ver e ouvir.
e destaco o texto do João Pedro da Costa por dois motivos: o primeiro por ser um exímio criativo que admiro e o segundo pela exaltação da memória. sendo a criatividade a tradução das nossas inteligências e vivências, quem me dera conseguir ver a minha mãe a lavar-se no bidé ou a estender a roupa nua. e adorava vê-la fazer um manguito ao meu pai. mas passaram trinta e dois anos e eu tenho apenas quarenta, não há memória que quisesse ficar.
resta-nos a todos beijar, celebrar a vida. porque o ódio é, não uma extensão do amor ao contrário do que diz a literatura frustrada, a sua ausência. uma ausência isolada que deve nascer, pela lógica, não sei do que nunca senti, da falta de criatividade.
porque só a criatividade nos consegue salvar da morte.
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
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