ontem descobri algo novo que pode fazer-se quando se está fechada dentro de um carro parado que não pode ir para lado algum: pegar num lápis preto, riscos aleatórios e sem direcção, olhos fechados em movimentos abertos, ora precisão ora falta dela, e pintar a cara toda. abrir os olhos e olhar o pequeno espelho; olhar para fora do carro e ver os olhares dos outros e perceber que a vida, a minha, é mesmo isto - pintar, riscar, acrescentar, a cada dia, uma linha incerta traçada de certeza que é no meu espelho - e não nos olhares dos outros - que vivo. e, depois, arranjar uma forma, a minha forma, à medida de mim, de limpar a cara: superar, com criatividade, a falta de recursos da hora certa no sítio certo para ter a minha pele, a minha pele, as cortinas de cetim das janelas do local onde vivo, limpinha.
(serviu bem usar lenços e baton em creme para, pedaço a pedaço, remover a experiência. e quando dei conta, o carro já estava a andar. sorrisos de orgulho de mim. muitos.)
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