são difíceis de gerir, as expectativas. e dão um trabalho enorme para conseguirmos mantê-las - acabar com elas poderá ser a coisa mais fácil do mundo se o caminho por onde queremos seguir é o da facilidade. e não, não quero o fácil porque o fácil sabe - não a merda porque a merda faz crescer e o sabor deve ser de pôr as pupilas em saltos de banhada de água -, provavelmente, e digo provavelmente porque não lhe sei o sabor, a mijo ácido. foi sempre assim: os atalhos, caminhos quase sempre manhosos e rápidos, sempre me atulharam de sentidos proibidos; as cartas sempre as escrevi - e escrevo - à mão; nunca entendi o fascínio pela epídural nem pelo puré de saco; neguei sempre o quase e o mais ou menos com olho no tudo. são difíceis de gerir, as expectativas, e se há alturas em que, tal e qual como um copo que cai no chão, as queremos ver fragmentadas, táxi de apanhador rumo ao caixote do lixo, outras - as bem mais assíduas outras - cuidamos delas como se de bebés se tratassem: amámo-las incondicionalmente com o leite da imunidade e limpamos-lhes o rabinho vezes sem conta por conta de evitarmos assaduras. e vamos vendo o bebé crescer com a única garantia, a melhor, do mundo: sabemos o que lhe damos sem sabermos no que se irá tornar aquando da passagem de adolescente para adulto. e é nessa altura, e só nessa, que - ao contrário do que é ser mãe ou ser pai - devemos decidir se deixamos cair o copo ou não.
o dicionário também lhes chama, às expectativas, esperanças. mas não posso concordar: as esperanças são sopros do coração e as expectativas são lufadas da razão. gosto das duas mas falo apenas das primeiras porque a inutilidade de falar das segundas impera - as esperanças são tão intensas que rejeitam as palavras; as esperanças só sabem sentir.