é bizarra a imagem de quando apontamos um dedo: vá visualiza, e se precisares faz o gesto para que não restem dúvidas, o apontador em riste e os outros três dobrados como que escondidos para não serem vistos. evito sempre fazê-lo, as visões afuniladas - ao contrário das periféricas - conduzem quase sempre ao engano. no máximo, quando a necessidade de verdade obriga, encho bem a minha mão, que é pequena, e esfrego-a bem nos olhos. os olhos são um oceano de conhecimento, um alfabeto de expressão, uma tabuada de memória. e é quando precisamente eles fogem, eles os olhos, que a mão - não é um dedo meramente esticado a esconder os outros - é tão certeira como as missas das dez ao domingo ou como as sardinhas prateadas nas festas populares ou como os ciclos de sangue nas mulheres ou como as algas no mar ou ou ou.
isto porque pensei nas árvores em geral e no pinheiro que continua a crescer no canteiro da minha janela em particular: à altura acompanha-se-lhes a profundidade; o que está à vista tem exactamente a mesma beleza das raízes que vivem no mundo do debaixo. isto porque os olhos são os ramos e as folhas verdes com as raízes ao fundo quando não são, caixa com um kit montável de ramos pintados e suporte instável, plástico feio que é preciso cobrir, árvores take away de natal.