uma mulher acha que já ouviu de tudo. e engana-se. ah, pois: quando se chega de uma maratona psicológica com o pai, ser filha é sempre uma corrida prolongada de grande fundo, e de uma espera infernal em plena VCI por conta de trabalhos nocturnos, nervos em bicos de pés, com a estupidez do povo que prefere pendurar-se nas pontes a ver as obras andar do que fazer uma outra coisa qualquer que não inclua capacetes, botas de biqueira de aço e coletes reflectores, e se estaciona no café - não é num café qualquer mas no café, naquele, no the one -, como se remédio para a descompressão, ouve-se histórias do arco da velha. melhor - ouve-se histórias do arco daquilo que é apanágio do ser irreverentemente jovem: histórias de sexo que não é brando, é bravo. diz-me o mestre da barca, adulto de barba cerrada e charmosa, particularmente interessante, que tenho de experimentar aquando da minha pergunta sobre a definição; diz-me o discípulo tenro, barba por romper, que é daquele do tipo trigolimpofarinhaamparo, traztraztrazjáestá. riso, muito riso, boa disposição, ouvidos apurados que captam o essencial do acessório - os meus.
o início da vida no mundo dos adultos tem a particularidade dos viços: a exuberância que faz com que tudo pareça leve e forte, a força que contagia. e é, pois, saudável que os adultos, de quando em vez, se misturem com adolescentes, adultos ainda por madurar, que nos dão a ideia de sermos poderosos pela admiração que nos devotam e pela alegria que nos fazem nutrir.
(eu só posso dizer que ambos, tanto o sexo bravo como o outro, o que não é bravo, o que merece que no fim, aquele fim que é sempre um recomeço, se diga exactamente como se pensa e sente: bravo!, são deliciosos temas de conversa - trata-se, bem visto, de sexo oral. porque tudo pode ser motivo de conversa. porque conversar, fazer oral, tanto quanto navegar, é preciso.)