vinte e poucos anos, ucraniano, bem vestido e bem parecido. entrou na mercearia como se fosse um cliente e começou a pedir. ao fim de alguma insistência a senhora disse-lhe que todos os dias não podia ser e ele desatou a gozá-la. sangue a ferver, o meu, disse-lhe para ir embora e o gozo mudou de direcção. seguiu-me até casa em rol de piropos e insinuações e de suposto cliente passou a exímio vendedor. força a porta da entrada sempre a sorrir desconhecendo a minha força. desejei, entretanto, que se fodesse todo - que uma gaivota lhe cagasse em cima e o cegasse ou que fosse atropelado por uma tempestade. maus pensamentos afastados, já em casa, vou ao terraço e ouço gemidos: lá estava ele, estendido no chão do condomínio, que quando molhado parece encerado, escarrapachado. não cegou de merda e não se encharcou até aos ossos - mas caiu. caiu como caem todos os que tentam passar por cima dos outros. e ainda pensei em descer para ajudá-lo mas travei-me: o que é seu a seu dono.