há um mistério por onde o dezembro se embrulha. e não importa se não se é católico, se se é ladrão, se se caga na banheira ou se os sinos dobram: o Dezembro pica as pessoas e da picadela se faz mel. as gentes sorriem mais, distribuem abraços, pedem perdão com os olhos e incitam ao amar.chamam-lhe natal ao mensageiro da reconciliação - eu chamo-lhe cansaço de fim de ano, balanço dos músculos das birras e da maldade, escape, spa da inconstância. e não importa o que é, de onde vem, quem o faz e para onde vai. importa que nem que seja uma vez por ano as gentes páram, olham de frente, muitas até gastam o que não têm; por uma vez durante o ano as gentes dão prioridade aos que mais amam, aceitam em vez de julgar; pelo menos uma vez no ano jantam e conversam à mesa, esquecem os pneus furados da vida e bebem, no copo melhor da cristaleira, alegria tinta ou verde ou madura.
se o natal é isto, o natal só pode ser bom - um vírus altamente contagiante que se propaga à velocidade, não de um carro puxado a renas, de um tgv. mas talvez o natal não pegue em todos - há quem já nasça com o vírus e tenha com ele convivido toda a vida; há quem viva e deseje viver em natal todos os dias; há quem enfeite a mesa do jantar todos os dias, quem faça rabanadas e petiscos em dias que são apenas dias; há quem abrace estranhos porque vê tristeza nos seus olhos; há quem faça um poema a alguém só porque sim, porque esse alguém existe. há quem simplesmente viva para amar e partilhar e morrer e renascer e amar e partilhar até morrer de novo. há.
de qualquer forma, se é no natal que as gentes amam, nem que seja por um segundo ou um minuto ou uma hora ou um dia ou uma semana ou um mês, que viva o natal. que viva o mistério por onde o Dezembro se embrulha.