quarta-feira, 3 de julho de 2013

(...)

(a experiência de perdermos tudo dá-nos a nítida noção de com quem podemos contar: ficamos surpreendidos com a capacidade de omissão dos outros. quando tudo temos e tudo damos ficamos com a casa cheia de amigos e de amigos de amigos que ligam a saber quando podem aparecer para uma tarde de sol no terraço ou para almoçar ou jantar petiscos e que também convidam para festas e passeios e para ajudarmos quando estão mal. depois, quando nada temos, conta-se pelos dedos de uma mão, e ainda assim ficam a sobrar, os que ligam só para saberem como estamos ou que aparecem para dar um abraço ou os que convidam para almoçar a um domingo. para festas então nem pensar - ninguém convida gente que tem nada para festas. e é esta a experiência mais enriquecedora de dor que ficamos a ganhar. está tudo bem, há-de passar, pensamos, convencemo-nos à força. é isto que é ser fino e delicado e gentil e amigo na Cidade: é fazer voluntariado para colocar no CV e omitir-se do amor com quem um dia, por ter tudo e não importar se a quem dava tinha, incondicionalmente amou.)

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