uma alface e um molho de espinafres, por favor; costoletas do cachaço e um frango do campo. a alface e o espinafre são seres vivos. a minha árvore de casa morreu ao fim, no seu fim de respirar, depois de quase duas décadas e eu sei que adorava música e que lhe mexesse ao de leve nas folhas bicudas e duras como se precisasse, e precisava, do meu amor. isto para dizer que morfar alfaces ou costoletas do cachaço tem o mesmo princípio activo: sobrevivência e satisfação. posso tanto imaginar a dor de uma alface a ser arrancada, brutalmente arrancada, à terra mãe - o seu choro, as suas raízes que se partem sem sangrar - como um porco a ser assassinado, o seu sangue a escorrer e os sons de dor em cada recanto da faca. a única diferença está na semelhança do porco comigo e será essa semelhança a ditar que serei menos assassina se comer alfaces e milho, eu olho e vejo o crescimento do milho no campo, é milho feliz quando lá está, do que se comer o porco ou o pito aos pedaços.
somos de matar para viver. somos de matar para viver.
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