quando não conseguimos odiar quem nos faz mal é porque talvez não tenhamos maldade, digo eu, que continuo a partilhar sorrisos e bem querer e até a minha comida com a chefe esgaziada. não sinto que me apetece que ela, agora que foi operada aos pés, fique deitada para sempre em casa para não me molestar. sinto vontade que ela fique boa e envio-lhe beijinhos e força. se calhar não ter essa maldade, ou lá o que isto é, é ser trenga, é ter a paciência elástica e o coração maleável e os nervos de aço, rijos, às vezes não me entendo à primeira e fico a analisar-me, vejo-me ao longe como se me fosse, e sou, espectadora de mim. depois acabo sempre por correr a abraçar-me, se eu não me abraçar quem me abraça, penso, és tão querida, digo-me, adoro-te, e atiro-me uma madeixa de cabelo para o canto da testa e passo-me a mão no rosto, como eu gostava que me passesse a mão do rosto e a deixasse ficar por instantes, sentir-lhe o calor com a minha teimosa bochecha, e a meiguice, depois saltava para os meus lábios mão, esfregava-os ao de leve como se estivessem, os seus dedos, a desafiar a minha boca que quer mordê-los com trinquinhas amenas, os dedos das mãos feiticeiras do corpo feiticeiro do cérebro feiticeiro. perdi-me. como estava a dizer, já só me ocorre o desejo do beijo. de maneira que me perdi, já não sei o que estava a dizer, estou a ser redundante, o beijo, o beijo, o beijo
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