quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

ora o que tenho a dizer sobre o vídeo promocional das cinco advogadas

nada percebo de deontologia dos advogados nem da Ordem mas como consumidora, e consumidora mulher - mais isenta, portanto -, é que se trata, de facto, de uma inovação: estamos habituados a ver o Homem das leis como estático, sentadinho na secretária a ver como dá uma coça a lei para ganhar causas, e neste vídeo há dinamismo: é a mulher do século vinte e um, activa, completamente entregue ao sucesso profissional, que usa copo menstrual em vez de pensos e tampões, preocupada em fazer olhares sensuais encenados à moda do FB, com os presuntos de fora e a usar o direito de preferência através da imagem produzida com acessórios de luxo. não me parece nem bem nem mal - apenas real e actual.

pequena observação: o uso de copo menstrual em vez de pensos e tampões é a grande narrativa maravilhosa disto tudo. viva o copo menstrual!


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

que vergonha

mas o que é isto? em Portugal o google serve para pesquisar sobre esta mulher horrorosa, este jogador azeitola e estes ociosos? e depois admiram-se com este tipo de provas básicas feitas àqueles que deveriam ser os pilares mais intelectualmente firmes da sociedade. estarei por certo a conjecturar e a inventar larguete mas não serão as costureiras nem os trolhas nem os padeiros ou desentupidores de canos a fazer tanta pesquisa durante as jornadas de trabalho - nem de noite, já que têm de se levantar muito cedo para picar o ponto. digo eu.

ai que riso!

um sonho altamente carnudo
 tu hás-de cheirar ao que sabes, sabes, quando tudo a que deves saber, de certeza que hei-de saber-te o sabor, sempre bem tão bem, é a ti - cheira-me.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

fungar

rechear cogumelos portobello, aqueles que viradinhos do avesso fazem pocinhas, com atum e queijo mozzarella - sem esquecer o fundo barrado em azeite antes de ir ao forno, é uma excelente opção para acompanhar o vídeo musical preferido de 2013. eu vou acompanhar com este.

já mereço


careca

o homem era careca, sem pestanas nem sobrancelhas. percebi, entretanto, porquê: durante três horas, sentado enquanto esperava a sua vez, esteve a jogar alguma coisa semelhante ao tetris no telemóvel. e só retirava o puto do dedo indicador da coisa para coçar a fruta. está, portanto, explicado não haver pêlo que o ature.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

oliveira


do verbo (des)governar

ó minha rica oliveira
a segunda mais antiga
velha
que meigueice
deixas-me orgulhosa, sadia,
azeite cremoso
de que se vai barrando o país
nisto de ferida e urtiga
dia sim dia sim
diz que disse diz que diz
garras e coisa e tal
do desgoverno sem freio
tripas sem moda
a desgosto
calçada descalça
Portugal

o enigma da experiência Vs memória

ele explica tudo - ou como este governo nos faz profundamente infelizes.

a pele do cavalo

ligou-me por haver novo projecto. pediu para nos encontrarmos no shopping. achei estranho. perguntou-me em que loja há das malas que eu usei uma vez, uma mala em pele de cavalo branca e verde com manchas prateadas. digo-lhe tratar-se da minha mala preferida, presente de aniversário do meu pai há três anos. ainda ali, às portas do shopping, pergunto-lhe do projecto. perante a minha mudança de assunto e desinteresse pelo shopping e pela mala, esgar de desprezo- o dela -, diz-me que a equipa já está formada. 

não me corrompo. nunca. a minha pele era agora de égua ferida. e ainda é.

domingo, 15 de dezembro de 2013

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

olá menina, bom dia, como está

diz, sempre que passa sem interrogar. por duas vezes seguidas parei a responder mas andou sempre. na verdade, é uma mulher de mantras que não quer saber - só quer dizer. adivinho-lhe duas ou três cores, no máximo três, não mais, que fixou para vestir ou aperaltar; aposto-lhe uma ementa semanal irremediavelmente iigguuaall desde há trinta anos e dias estabelecidos no mês para copular com o marido. dias e tempo de execução da obra porque a mulher nota-se que tem muita freima. olá menina, boa tarde, boa noite, como está. vou chamar-lhe Piedade. a Piedade quando passa olha para o chão e solta palavras, palavras decoradas, para o ar. tanta pressa. um dia, consolada, levará consigo todos os mantras do seu viver para o lugar, aquele lugar de frenesim calado e quieto, onde não deve mesmo haver quem lhe queira responder.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

quer-se no amor como na lasanha: folhas de um e de outro a ferver, tenras, o amor é tenro na paixão da sua dureza, mesmo antes do forno as derreter embeiçadas de bechamel.

"À loucura queremos dar equilíbrio / Ao medo queremos dar confiança e fé /Ao egoísmo opomos a dádiva de nós mesmos".

história da luta pelo bailado no nosso país: aqui. porque o fogo do querer não tem rugas.


como inesperada vírgula do tempo


Lembrarás então o pai aqui sentado
A máquina de escrever no chão
Os discos na parede entre a luz e o pó

Irão passar talvez muitos anos
Farás promessas que não vais cumprir
E dirás ruas para voltar noutras horas

Será como quem percorre um caminho
Iluminado pela luz do teu olhar
À procura das palavras subterrâneas

Lembrarás então o pai aqui sentado
Um gelado presente do indicativo
E silencioso que não fala – não esquece

Passarás nas tuas mãos um fio
Será talvez a memória das noites
O tempo do leite e das fraldas

Será como quem procura descobrir
Nos desenhos (nos cadernos escolares)
Uma outra maneira – a tua outra voz

Lembrarás então o pai aqui sentado
Não como pai mas como anónima pessoa
Surpresa a esperar no céu do outono

Terás nas tuas mãos um retrato
O voo das aves por cima da casa
Como inesperada vírgula do tempo

Será como quem procura fragmentos
Num momento ou talvez num lugar
Na tua idade como um portão aberto

José do Carmo Francisco


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

sábado, 7 de dezembro de 2013

que maravilha me mostrou o Curador JPC


ai o cão, o auau...



não. não vou deixar de congratular o Diogo Leote, que foi quem trouxe o cão à rua, nem o Pedro Bidarra e a Rita Roquette de Vasconcellos que o levaram a passear depois deu lhe ter feito, ao cão, umas festinhas inocentes. a irreverência gorda é fantástica e com a deles fartei-me de dar pinotes de satisfação. porém, no blogue zen que é o Escrever é Triste, tal irreverência há-de ter feito engolir a Tia da Costa em seco - ou quem sabe mijar-se toda - já que aos da mesma classe dela ela não pode, e não convém, castrar: antes mandou-os, de forma simpática, nevar para arrefecer a líbido da irreverência. não é que tivesse lido (além de impedida de me defender, e comentar quem merece, na casa onde fui agredida pela difamação também puseram trancas na minha porta rastreando o meu IP - isto sim é invasão de privacidade) mas não está difícil de perceber que nas galerias do Parlamento da Tia não convém ir quem não se tem como inferior. em uma outra perspectiva, o argumento da irreverência gorda e da divisão pelo pensamento só serve para inibir a classe dominante de se confrontar com a classe supostamente inferior - já que com a residente tudo não passa de palmadinha bem jeitosa nas costas à boa maneira da plastificação social.

também não posso deixar de analisar os acontecimentos colaterais à saga do cão (tão feliz como se vê ali,  cheio de pinta, que foi censurado por ter sido colocado por mim ao lado da Eugénia de Vasconcellos e tem andado agora consoladinho por cima e por baixo e pela frente e por trás dela), ó. é que há autores que se deram ao trabalho, depois do abanar que o sexo virtual instigou lá, de me despromoverem de amizade no FB. ó. não convém que certas pessoas no seio familiar percebam o que sem eu querer descobri. mas é tal e qual como desenhou a Rita: quando cai o chapéu, enfia-se o gorro de pai natal. cheiinha de ingenuidade descobri mais do que o que pretendia e deixei a nu, sem qualquer intenção propositada, a pelagem de uns e de outros e, mais, de par em singular.

confirma-se: as mulheres, não todas obviamente mas é privilégio de género, têm aquela intuição que permite a descoberta mesmo quando nada se pretende descobrir. mas isso é motivo de alegria - pelo menos para mim. já para outros será motivo de raiva e ódio e frustração - sim, aquelas coisas que movem as pessoas para a censura e tirania.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

garden




de que valem os olhos brilhantes
se de tudo costuram instantes?
de que valem miolos de noz
se tudo o que resta são ecos de voz?
de que vale a estrada pungente
se são muros cortantes de gente?
de que valem os bichos honrados
se são dias os tempos contados?
de que vale a estrela no prato
se o ouvido é de cobra e lagarto?
de que valem as sombras contentes
a luz
pequena manta que o fim encobre
se não sabe
esperta
sempre esperta
se é amanhã que vive ou que morre?


olhos das cavernas

the island cave


quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

argumentos afáveis

em riso, muito, não resisto a traduzir para a versão afável a discordância:

minha querida e excelente e magnífica, rainha das rainhas, abençoada e belíssima boneca de porcelana, não é que tenha alterado completamente o conteúdo produzido pela sua colega para fazer do seu, à sua razão, melhor. não. decorou o seu texto a romance lindo o que não poderá ser comparável ao outro texto. mas o seu está melhor, afinal de letras a menina é a melhor da sua sala. não fique triste.

(e quando lhe pedirem para lhe darem beijinhos de língua tenra na pombinha que tem entre as pernas, pela internet, na sua princesinha, não esqueça de ter ao lado o auau)

veja lá, diga-me antes se posso ter uma opinião diferente da sua e expô-la. veja e diga-me, por favor, não quero incomodá-la, adorável rainha.

comece por atacar a escravatura em casa

Escravatura: estima-se que cerca de 30 milhões, gosto do exagero quando as estatísticas apontam um pouco menos, de pessoas vivam escravizadas entre exploração infantil, sexual, servidão por dívida ou casamentos forçados - são estes os tipos de escravatura mais considerados pela ONU (Organização das Nações Unidas) neste século, apesar de já virem de longe. Índia, China, Paquistão, Nigéria, Etiópia, Rússia, Tailândia, RD Congo, Bangladesh e Myanmar são os países por onde estão espalhados os mais escravizados - 76% da população alvo desta violência.

Escravatura infantil, os números

escravatura infantil é uma das formas que assume esta prática que, apesar de ter sofrido uma quebra, de cerca de um terço, desde 2000, ainda continua a ter um grande peso neste flagelo. Encontra-se, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), mais concentrada na Ásia- Pacífico e África-Subsariana mas existem crianças a trabalhar por todo o mundo: 11% das nossas crianças, para ter uma ideia são 168 milhões, veja bem isto, estão sujeitas a escravatura principalmente na agricultura - não descurando, obviamente, outros sectores como a indústria e serviços. Políticas nacionais saudáveis e quadros legislativos fortes e apertados neste sentido têm dado uma ajuda na luta contra esta aberração social. Mas não chega.

Servidão por dívida - sabia que é escravatura?

O tráfico de pessoas constitui no Brasil, por exemplo, uma das maiores formas de escravatura: as pessoas são enganadas por falsas promessas de trabalho, não recebem salários, são submetidas a violência física e psicológica e tudo o que comem e gastam é acumulado em dívida que dificilmente algum dia conseguirão pagar. São as explorações agrícolas os locais que recebem o maior número de escravos supostamente devedores.

Os casamentos forçados

Crianças com menos de dezassete anos, maioritariamente raparigas, que são levadas pela própria família para outros países para casarem a troco de dinheiro também estão na lista dos casos de escravatura. Também se dá o caso de ocorrerem por simples tradição de minorias étnicas, como no caso dos ciganos, sendo muito mais difícil rastrear e denunciar. Já pensou em como destes casamentos nascem crianças já escravas?

É isto o progresso?

Chega de números e de estudos. Inaceitável nos nossos dias, resquícios grandes de outras épocas, a escravatura é um cancro social e humano a combater. Mas como mostrar a espada a estes crimes a uma escala imensa, global, se tantas vezes é em si e no seio familiar que ela, a madame escravatura, começa? Sou doida? Quer um exemplo? Nunca parou para pensar na escravatura doméstica? Quantas vezes não teve conhecimento da prima ou da amiga de alguém que por necessidade está em casa de um familiar pagando o que come e veste com a perda da sua dignidade? Quantas vezes não ouviu dizer que esta ou aquela não se divorcia, apesar de não sentir afecto pelo marido, simplesmente porque não trabalha e apesar disso cumpre com os seus deveres conjugais (sexualidade escravizada por si mesma) enquanto o marido lhe mantém o nível de vida (escravizada consentidamente pelo outro)? Quantas vezes já percebeu que aquele homem ou aquela mulher decidiram escravizar-se perante a vida profissional em detrimento dos afectos? E aquele patrão que simplesmente dá umas migalhas ao empregado, ao escravo, não lhe reconhecendo nem atribuindo qualquer valor pelo seu trabalho?
Pois é, são tudo verdades vulgares e por isso mesmo passíveis de serem ignoradas: a sociedade privilegia a hipocrisia e o absentismo dos afectos, escravizando-se em si mesma perante aquilo que é a vida e o viver. Na verdade, o que acontece num corpo é que cada célula contribui para o seu pleno funcionamento ou igualmente para a sua disfunção. Quer a acabar com a escravatura? Seja uma célula consciente de que tudo começa em si. E assim, só assim, talvez um dia, que pode ser já hoje, o amor, aquela coisa que se mistura onde entra e sai o melhor, o melhor que não é perfeito mas sempre uma imperfeição do melhor, aconteça em muitas células ao mesmo tempo. E o mundo, o corpo comum, será um lugar livre.

para não deixar ficar mal a Eugénia, assumir erros demonstra inteligência, aqui fica a defesa aberrante da gerente:

Escrever É Triste
23:26 (há 9 horas)
para mim
Cara Olinda,
o EeT é um blog de prazer, prazer da escrita, prazer do elogio, prazer da tolerância, prazer de não chatear ninguém e de que ninguém nos chateie.
Temos um editorial que explica isso tudo e que só pede aos nossos leitores que participem desse espírito. Escuso de lhe dizer que as suas intervenções no blog não participam, para dizer o mínimo, desse espírito.
A Olinda, em cada frase, procura o conflito, procura extremar, dividir. Ou seja, e para lhe tirar da boca uma expressão sua, a Olinda faz gosto em vir CENSURAR-NOS. Incomoda-a a ideia de que haja formas de escrita que não participem do seu adjectivo agressivo e dos seus substantivos que estão sempre na vanguarda da exclusão.
Tenha santa paciência, há uma infinita bloga que é exactamente como a Olinda e que quer transbordar de ofensa e de uma irreverência gorda: seja feliz nessa bloga, mas deixe esta pequena assoalhada zen em paz.
Tenha uma boa noite e melhores dias,
é o lhe deseja a Tia Escrever
 
Olinda de Freitas <olinda.de.freitas@gmail.com>
08:31 (há 2 minutos)
para Escrever
Olá Tia Escrever! muito me apraz saber perceber o quando de pedante, felizmente tal não se aplica à maioria dos autores, tem o blogue. A crítica, pedante tia, tem tanto ou mais valor que o elogio - será uma questão de tolerância, e de inteligência também, percebê-lo. 

Tenha a Tia melhores dias nesse ambiente controlado e, por isso, completamente artificial que é o Escrever é Triste. Quem fica a perder, acredite com muita força (e penso que terei de explicar sem metáforas em um blogue que falsamente exalta a metáfora), muita força não está na vanguarda da exclusão nem quejandos, não estou a apelar à ofensa, é mesmo o blogue - que de triste passou a afirmar-se infeliz.

A Olinda deseja-lhe, e também ao blogue, muitas alegrias genuínas - vai ver a diferença que faz aos fígados pretensiosos.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Eugénia de Vasconcellos e o sexo virtual

podia bem ser o título de um livro - mas é apenas uma saga. Escrever é Triste é um dos meus blogues de eleição. diariamente leio e comento quase tudo o que por lá se escreve e hoje não foi excepção. depois de ler e comentar este texto, Genitálias Mirradas, da Maria do Céu Brojo, fui-me a outro da Eugénia de Vasconcellos, E se todo o sexo virtual for real?, no qual critiquei a autora com o seguinte comentário: ó Eugénia, estás a desconversar o post da Maria do Céu que não fala de romance. já se sabe que até um post-it pode acrescentar valor a uma relação. o post da Maria do Céu fala de substituição e não de acrescento. e depois, em excurso e seguido de uma valente gargalhada, disse isto: quando te convidarem para te fazerem sexo oral pela internet não te esqueças de ter ao lado o cão.

ora o meu comentário não só foi censurado como comentado da seguinte forma: 
Olinda,
os comen­tá­rios não são mode­ra­dos. Este é um espaço lúdico. Mesmo Triste gos­ta­mos dele feliz. Par­ti­mos do prin­cí­pio que os nos­sos lei­to­res não fula­ni­zam ou agridem.
Apa­guei o seu comen­tá­rio por­que ele não res­peita o espí­rito que aqui man­te­mos. Mais: a minha vida sexual não lhe diz res­peito, e é pri­vada, com a sua vida fará como enten­der, mas não aqui.
de imediato acedi novamente à caixa de comentários para solicitar uma breve explicação sobre a causa de tamanha difamação a meu respeito: a Eugénia de Vasconcellos não mo permitiu, ou seja, manteve a sua hipócrita resposta à sua censura dando a ideia de que eu a teria agredido e fulanizado e desrespeitado igualmente o blogue.
tenho a dizer que triste e ridícula e, com toda a certeza, porque habituada a ser elogiada sem sinceridade, é a autora Eugénia porque identificou-se tão plenamente com o meu comentário que se sentiu tentada a castrá-lo e a castrar-me de outros para reposição da verdade. a minha questão é a seguinte: estará a Eugénia de Vasconcellos a acusar-me de acusá-la de zoofilia depois de, supostamente, sem conhecê-la de parte alguma, lhe entrar pela privacidade adentro e ter descoberto que goza e dá guinchos de prazer frente ao monitor do computador?
bom, esta atitude frustrada e desesperada pode bem ter sido causada por vergonha. mas isso é e será problema da Eugénia de Vasconcellos. a mim só interessa repor a verdade, sequer das intenções, dos factos: a Eugénia de Vasconcellos difamou-me. lailailai.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

obrigada, Pedro Abrunhosa

é assim, ao intervir para abanar e ao mesmo tempo encher de esperança a humanidade, que a arte faz sentido.

piropo é assim cocotte

após recolha a Porto editora aferiu dez palavras, as que mais foram utilizadas em 2013. ora são elas "bombeiro", "co-adopção", "corrida", "grandolada", "inconstitucional", "irrevogável", "Papa", "piropo", "pós-troika" e "swap". destas a única que escolho é piropo pois todas as restantes remetem, não pela palavra em si mas em contexto, para cenários tristes e miseráveis.

domingo, 1 de dezembro de 2013

que pedra

ouvi dizer que mais vale pedra no caminho do que no rim mas não será bem assim: a do rim vai-se diluindo ou, em último caso, vai-se tirar. e o outro disse que as do caminho são para apanhar.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

corar

a nação como uma mulher - uma mulher recatada que cora de pudor a cada vez que aqueles que estão encarregues de lhe tratar da saúde lhe dizem que tem de se despir. e depois como se fossem, e são, estranhos a mexerem-lhe nas pudendas não tocam ao de leve nas frutas: descascam-lhes a pele, manuseiam a polpa e vão até às pevides e caroços. se a nação fosse uma mulher estaria corada e encolhida de vergonha depois de uma citologia vaginal bem demorada.

é recebê-lo. e recebê-lo bem.

não sei se percebi bem mas acho que quando o frio aperta muito, assim como quem quer estrangular-nos de abraço mimoso porém fundo, é porque veio para ficar. pelo menos por uma temporada.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

nada é por acaso, meu amor. ou acaso alguma vez sentiste que seriamos um caso ao acaso?

da pereira

gostei dele, confesso que só percebi ser um homem quando se referiu à sua mulher como patroa, nunca o tinha visto aqui na rua. pudera!, acabou por me dizer que está há quarenta anos em França e que já chegou para o Natal. o Natal chega cedo, traz as pessoas de volta à terra, junta-as à família sempre ausente e arreganha-lhes o gosto pelos doces e pela mesa farta. mas eu gostei dele foi por conta do orgulho e do brilho que me mandou contra a cara quando disse que morava na casa da pereira, aquela árvore que dá pêras, sabe?, que era o dono da pereira e que na casa da França, que é grande e com quintal, não tem pereiras sendo esta a casa da pereira a sua casa. falar de uma pereira como algo valioso é motivo para ser gostável. e já combinamos: vamos ver-nos na rua até final de Dezembro. mas com um casaco mais quentinho e um gorro nos cabelos branquinhos Senhor, não Pereira, da pereira - pedi-lhe.

abbante! abb(r)am alas! deixem abbanar!

quem me dera que eles voltassem a pisar palcos e a gravar e a espalhar alegria por todo o lado.


terça-feira, 26 de novembro de 2013

:-)
tanta candura na razão que fere o cego obtuso! só pode ser tua - e assim suspiram as palavras justas e certas.

a história de Melody Nelson

fiquei apaixonada

doce ilusão


do carreiro, daquele carreiro, ouvem-se ao longe os carros a passar na estrada - são tal e qual o mar quando, em dias menos revoltos, sussurrava as ondas na areia como que sempre em uma estreia de amantes panados. mas isso era dantes.

sábado, 23 de novembro de 2013

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

meninos homens:

toca a apalpá-los em condições...

velhos d'amar

Velhice - o que é, afinal, a velhice?-, aquele estado de caminhar sem parar mesmo quando os passos ficam mais lentos e curvados e tremidos. A velhice apresenta-se, na modernidade, como condição menor apesar de atingir a maior idade. E tem vindo a crescer o número de velhos ou, melhor, a esperança média de vida. Se assim é, se vemos a vida a aumentar porquê que não damos mais, àqueles que são os que sabem mais da vida, aos velhos?

A Velhice e o estigma da palavra

Há uma conotação absolutamente negativa associada a velhos e a velhice - as palavras são usadas para designar inutilidade ou fedor e, talvez por isso, já se considera tremendamente cruel pronunciá-las. Os velhos são velhos. As árvores grandes e grossas também são velhas. As nações são velhas. O pai natal é velho. A calçada portuguesa é velha. Sim, eu sei, é por isso que os velhos vão para os lares e as árvores são para fazer papel e as nações são para aguerrir e o pai natal é para mentir e a calçada portuguesa é para substituir. São o caralho! Sim, ouviu mesmo bem: são o ca-ra-lho. Os velhos, a velhice, são para amar - por isso a vida tem dado cada vez mais esperança à vida (não sei se percebeu que se está prestes a fazer quarenta anos já está na meia idade); os velhos são a frequência acumulada de sabedoria naquilo que é o gráfico da vida. Entende que a velhice não é para viver só nem em simulações rascas, lares, daquilo que deve ser um lar? Vá já imediatamente buscar o velho que tem na sua vida e ame-o. Já! Amar a velhice quer simplesmente dizer atenção, paciência, resiliência - quando dá conta está a amar, a preencher a vida de alguém que já em muito preencheu a sua (a sua que provavelmente vai continuar depois de a outra deixar de viver).

Repare como acontece tudo

Aquela árvore de camélias que está no quintal sabe de tudo e é por isso que continua naquilo que é o viço das flores e das cores; As nações têm vindo a aprender que o respeito pela Cidade, que é liberdade e democracia, é o que as faz viver; O pai natal, esse barbudo antigo, existe mesmo, não é mentira, representa o cheiro bondoso do avô (ou vai dizer que os avós morrem?). E a calçada portuguesa, aquela pedra de tempo pisada tão linda, é para manter e prender os bicos dos tacões no encanto - ou prefere cascalho batido sem fado e poesia a cada canto?
O que é velho é bom. E velho é, sim, uma palavra magnífica de dizer por ser também de viver. A velhice colecciona tempo contado a viço de Homem honrado - ou então encontra no viço passageiro a alegria de um sorriso inteiro (e mesmo que seja sem dentes, sim).
Estamos, então, entendidos: a velhice serve para ser amada. Ou pense em como a vida se prolonga.
e depois há os vales dos dias nos dias, os dias também têm montes e planaltos, porque os dias só são dias por serem vales de ti.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

tens de experimentar

isto. tão lindo.

Olaias

afinal o Tomás Taveira também sabe dar beleza de dianteira.

Emprego: dedicação proporcional, de dois sentidos, materializada em valor pecuniário

Emprego, desemprego, quase-emprego, estigma impregnado. Sim, eu sei, é nas alturas difíceis que damos conta das palavras - o que significam e o que valem. Podemos até dizer que se abre um dicionário a cada momento difícil da vida. Duvida?

Emprego começa na mentalidade do indivíduo

Emprego e emprego de palavras. Comecemos por analisar as mentalidades na lógica do empregador perfeito: aquele que quer dar emprego - dar oportunidade a alguém para se dedicar durante um número de horas determinado a uma ou várias tarefas - quer obter como resultado, isso mesmo, dedicação à qual atribui valor pecuniário. Na mentalidade lógica do empregado perfeito este último quer dar igualmente - dar a dedicação imprescindível à(s) tarefa(s) que lhe são atribuídas pelo empregador mediante um valor remunerativo, o tal apuro que é dedicação do empregador. Mas o que acontece na realidade, e sem perfeição, é que tanto o empregador como o empregado entram em uma espiral - não de dar - de receber. De receber dinheiro sem dedicação e, desta feita, valor - merecimento, talento - associado. E o emprego torna-se, assim, em um negócio, uma transacção meramente comercial.

A esta altura, já abriu o dicionário?

Às tantas ainda não: está farto de ouvir falar em (des)emprego e toda a gente sabe o que é desemprego - desemprego é o parente mais próximo ou o primo mais afastado ou o vizinho do 4º direito ou o amigo de infância que toda a gente tem. Mas e se o desemprego for você, já está com vontade agora de vestir e despir palavras? Vamos ver as coisas assim: você anda à procura de uma empresa à qual se quer dedicar e não há quem queira deixá-lo dedicar-se. Isto, sem dúvida, torna o assunto mais leve de carregar mas mais pesado de digerir porque enfatiza precisamente o fundo da questão do emprego e do desemprego. Nos nossos dias, nestes em que eu e você vivemos, o valor está fora de moda e é descartável. O dinheiro não. O dinheiro apresenta-se como o mais importante de tudo e mais que todos. Por exemplo as situações de quase-emprego, que são aquelas em que o empregador se sente tentado em deixar alguém dedicar-se mas ao mesmo tempo lembra-se de que a dedicação tem também - em termos profissionais - um valor numérico associado exigível pelo quase-empregado, o processo aborta: aborta porque o quase - empregado lembra-se que precisa de comer e de pagar as contas, que o empregador esquece, do viver. E andamos, estigma impregnado de lógica imperfeita de puré, nisto.

Passe-vite: a realidade do emprego passada

Como se a realidade do emprego fosse, e é, passada a passe-vite de euros cerca de um milhão de pessoas é obrigado a odiar o dicionário por conta de o viver não esperar. Porque o viver também morre sem o pragmatismo dos euros na significância do dicionário. (Não deixa de ser uma bela de uma tristeza verdadeira, isso não.) Então e o governo pestilento do Coelho e as variantes endógenas e exógenas à economia? Não quero, não me apetece falar disso porque estou cansada de ser obrigada a cheirar merda. Apetece-me inserir o (des)emprego na lógica do dicionário, já disse. E consolar-me, dedicada, a ver a minha dedicação a ficar.

inteiro

são as quatro estações de ti que te fazem um ano inteiro - és um Vivaldi, amor.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

das tripas, o coração do trabalho

não podia ser melhor escolhido o local para o novo Banco de Fomento: então não é no Porto que se faz das tripas coração?

domingo, 17 de novembro de 2013

se és pérgula e eu trepadeira
está tudo em harmonia
uma espécie de tremoços com chá
e fermento

ainda bem

que piquei o António Eça de Queiroz a pontos de ele me encaminhar para a versão digital do seu livro - está a ser uma maravilha descobrir não só detalhes da vida do Eça bisavô, e das suas personagens, como também a narrativa do Eça bisneto - o nosso Eça d'agora. afinal de letras, o realismo que se preza - aquela astúcia fotográfica - estás-lhes no sangue.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

vê lá se descobres as mesmas semelhanças que eu

este é herói por ter sido patrocinado a parecer enquanto estoutro será julgado pelo crime se de auto-patrocinar, igualmente, ao parecer. bem visto, a sociedade descobre lições de vida promovendo - não o ser - o parecer. miséria.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

dar pérolas a porcos

sentirmos, e por isso mesmo pararmos para bem pensar nisso, que somos pérolas para porcos é muito, imensamente, bom: permite-nos concluir que não deixaremos de ser pérolas nem os porcos de existir - antes o verbo dar será finalmente feliz - o que significa a salvaguarda das pérolas perante os porcos. as pérolas querem-se viçosas no luxo que são. simples e elementar.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

a direita comunista

a violação dos direitos humanos na Coreia do Norte, pelos direitos civis e políticos - mais concretamente pelo direito à vida, à propriedade e à liberdade de expressão e pensamento e crença resulta de um regime tarado até à morte. e isto faz pensar na violação dos direitos humanos aqui pertinho, na nossa terra, pelos direitos sociais, económicos e culturais: o direito ao trabalho, à educação, à saúde, à previdência social - tudo sob a égide da fraternidade, aquela coisa tripé de igualdade e liberdade e progresso. ora se este caralho deste governo não é, ao estilo do que conta a história dos direitos humanos, comunista mascarado eu vou ali e já venho.

tristeza

a natureza zanga-se com o Homem. e desta vez foi violentíssima com o povo Filipino, talvez uma chamada de atenção aos abusos da Humanidade, mas podia ser com outro e de outra forma. é preciso perceber os sinais. é preciso que o Homem ouça a mãe e páre. ou no mundo nada mais restará do que tristeza de nem sequer haver tristeza.

domingo, 10 de novembro de 2013

amor et tussis non celantur

descobri que o amor, nascido em Lácio, é latim até hoje. que maravilha. ao contrário da tosse, que era bem mais gira tussis. mas o que interessa mesmo é que o amor e a tosse não se escondem.

sábado, 9 de novembro de 2013

não é de intervenção, não entra.

se a arte não tiver um propósito de intervenção nem sequer, não havendo motivo para existir, é arte. é como o amor: o amor existe para despertar, ou fazer crescer, o melhor que há em cada um - e no mundo.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

de mim para mim

(o FB disse-me literalmente que vai bloquear-me durante dois dias, logo a mim que sou tão pouco assídua e só faço uso dele para o que acrescenta valor, por deixá-lo confuso. estará o FB, esse machista que não admite astúcia acima da dele, a apaixonar-se por mim? quero dizer, não é isso que fazem os estúpidos por estarem convencidos que agir estupidamente é a melhor forma de lidar com quem lhes arranha as entranhas? era por isso que as princesas ficavam presas nos castelos medievais: porque se saíssem geravam confusão. e a confusão, já se sabe, é o mal de todos os estúpidos que fazem questão de não deixar de o ser.)

de mim para mim

(quando as pessoas conseguem mostrar-se, e ser, insensíveis perante outras - outras que são mais do que gente - significa que estão a deixar de ser gente. e não é não ser gente a aspiração de qualquer senhor, com muito sucesso, que se preze?)

domingo, 3 de novembro de 2013

as vacas das mães

não sei se há algum estudo e também nem me apetece saber, pelo menos hoje, mas no que tenho visto, nos últimos anos, os bebés nascem cada vez mais minguados e magros - parecem gatos sumidos. a causa estará, pelo que tenho observado, no cuidado e tempo e atenção que as mulheres portuguesas dispensam com o cliché do não engordar. passam a gravidez a pensar na linha e depois os bebés nascem, de uma fragilidade que até mete dó, o leite delas serve para dar de beber aos porcos com sede, ougados até mais não, e elas continuam só a pensar em como vão perder os quilos que ganharam. deve ser por isso que depois há tanta criancinha obesa - entra o leite da vaca para compensar aquilo que o leite materno, da vaca da mãe, não deu nem saciou.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

pergunta que se impôe

se Portugal é espião não estará explicado o porquê de o primeiro-ministro ser um 000 licença para afundar?

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Lolita


andaram à procura de uma capa que não fosse algodão doce nem rapariguinhas. mas aqui nesta está uma menina, corada até às coxas, de cueca com gola: uma perdição de deixar a perversão com olhos em canto.

olha,

afinal o genoma faz esquissos prévios.

insónias

as insónias são, ah se são!, a generosidade da energia vital - mas ao contrário.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Portugal velho e seco

O Governo de Pedro Passos Coelho prima pelo revivalismo. Nunca antes, à moda dos anos sessenta, Portugal esteve tão velho e seco. Lembra-se da guerra colonial que queimava as gordurinhas todas à metrópole? Então se se lembra, se é desse tempo ou se estudou esse tempo, já sabe do que estou a falar: falo de miséria por conta de orgulho, de desertificação, de solidão naquilo que é viver em um país cujo Governo não se cansa de não dar descanso ao povo. E o povo está só.

O Governo de Pedro Passos Coelho não quer saber das Vanessas, sabia?

As Marias Albertinas estão a abalar da terra do fado empurradas pelo rumo de uma política doente, de mentira compulsiva e demagoga - o Governo de Pedro Passos Coelho está a obrigá-las a emigrar e a darem à luz Vanessas. As Vanessas são filhas de mães portuguesas e de pais estrangeiros que nascem fora de Portugal e que serão a futura juventude, e massa crítica, e força de trabalho, do país que as viram nascer. Por cá restamos nós, os que ficam, os que resistem à tortura, os futuros velhos e secos que talvez assistam à bancarrota do estado social e nem sequer venham a ter reformas.
Aparentemente, no entanto, no seio do Governo de Pedro Passos Coelho, onde a ninhada de ministros mama desalmadamente, tudo está - e a caminho de ficar melhor - bem: adivinha-se um milagre económico cujos indícios fazem-se notar na preocupação de a ministra exigir apenas dois cães por apartamento: o Governo de Pedro Passos Coelho, cúmulo do zelo, faz questão de entrar na casa das pessoas. E nos bolsos. E nas contas bancárias. E nos frigoríficos. E na cama - o Governo de Pedro Passos Coelho inibe os casais de fazerem filhos, castra-lhes a líbido por tamanha tristeza, ou então obriga-os a separarem-se e a darem filhos, os nossos por direito, a outros de fora. O Governo de Pedro Passos Coelho impede as pessoas de casarem pela igreja se atendermos ao facto de, talvez, cada vez mais a população portuguesa tenha vindo a creditar cada vez menos na religião católica e na salvação - isto porque este governo tem feito a vida dos portugueses num verdadeiro inferno.
Envelhecimento, morte, separação, filhos bastardos da nação, solidão, miséria. São estas as palavras que o Governo de Pedro Passos Coelho tem dado a regurgitar aos Portugueses. Isso e música para emigrantes. Desta:




socorro

estou a apaixonar-me, é impossível resistir a tanto charme.

é um bom início de conversa, lá isso é, mas o meu socorro é por ela: o cão mais assíduo da minha rua anda numa correria louca para cobri-la. é normal, eu sei, ela é linda e anda a libertar aquele cheiro que os deixa malucos. mas, e então, é assim, dá-se-lhe as ganas pontuais e já está? é, é assim. se não fosse não haveria tanto filho no mundo com pais que nem sequer contribuem para o seu sustento; ou com mães que deixam os filhos em uma bagageira durante dois anos. é a pontualidade biológica de uma mera vontade, desejo e tesão são outras coisas que nada têm que ver com vampirismo, que determinam o acasalamento parcial (parcial porque acontece da cintura para baixo. quer dizer, também pode acontecer da cintura para cima - a boca também é um buraco e a língua também se vampiriza). 

ficas então a saber, Josué, filho de um cão, que hás-de andar todo rotinho atrás dela: nem ela te deixa, que não é de vontades saloias e breves, e nem eu te autorizo: não hão-de faltar cadelas arreganhadas que te queiram dar sangue.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

danza de los muertos

é tudo uma questão de morte: morte do preconceito de que os mortos não têm vida. há mortos que vêm da ilha do pernil esticado para nos mostrarem que há vida antes da morte. não, não há engano.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

testículos de galo

no início eram apenas testículos de galo. depois, o alquimista da cozinha andou às voltas com o que lhes havia de fazer para não serem simples testículos (é curioso como a realidade isolada é feia) - queria dar-lhes a vida que já não tinham, já não eram sacos pululantes, banhá-los de poesia e adicionar-lhes mérito póstumo. lembrou-se do conto original do joão e o pé de feijão e associou, precisamente, os testículos tristes a feijões grandes e duros. depois ocorreu-lhe dar-lhes cor e sabor, ou seja, ficariam iguaizinhos por dentro da sua delícia e alterados em cor e sabor e textura por fora. após algumas experiências com coberturas doces, optou pelas salgadas e criou um molho pastoso de tinta preta de chocos e outro de tomate consistente, por onde passariam e viriam adquirir novo visual. voltou de novo ao conto, então, para buscar, não a galinha, mas os ovos de ouro e inventou uma mistura de chocolate branco que, depois de moldado em ovos gigantes, seria coberto por poeira dourada e crocante. a ideia resultou em kinder surpresa de faca e garfo: por dentro do ovo estavam os testículos alterados que o molho quente de azeite e alho, que derretia o ovo de chocolate, fazia descobrir. no que deu um conjunto de galos fanados. hum.

domingo, 27 de outubro de 2013

amo-te, Português

quem, como eu, tem uma enorme resistência a dominar uma outra língua qualquer - uma língua é para ser amada e não dominada, o domínio implica apenas conhecer e o amar implica sentir, as línguas dos outros basta percebê-las um pouco para ser possível comunicar, além disso, in loco, há sempre a linguagem corporal e, de outras formas, existem os dicionários, como eu adoro dicionários desde que aprendi a ler -, acha um piadão ao google tradutor: permite-nos fazer experiências em outras línguas e rir muito por não ser possível fazer danças e cantares molhados com as palavras. é tudo a seco, omissão de bordadinhos e filigranas e galos de barcelos pintados. quero dizer que o português - a língua que a nação fez e que eu, fazendo-a minha também, me fiz, é a única língua com quem copulo: é-me irresistível ao intelecto e aos olhos, uma atracção fora do comum, e arranha-me o coração com meiguice a pontos de todos os dias eu querer saber mais dela e também me dar ganas de lhe foder o, e com, pathos. ele, o tal Português, é o amor-rio mais lindo e limpo do mundo - é um amor de Rio Vez.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

sorry, thanks! (merdinha seca)

já quantas vezes me apeteceu, e depois passou, falar sobre a coisa de os portugueses muito gostarem de se desculpar ou de agradecer em inglês ou francês. também é moda, eu sei, talvez seja chique, não sei, ou outra coisa qualquer. mas onde está a piada disso? não consigo encontrar. só me ocorre o argumento da facilidade - em que se associa palavras que na nossa língua possuem um significado apenas se para quem as profere houver significância a outras que querem dizer a mesma coisa mas como não são nossas, antes de toda a gente, torna-se mais fácil dizê-las, ou escrevê-las, por darem a sensação do fora e do não virem do dentro. só assim consigo explicar a facilidade com que sai um thanks, merci, ou um sorry das bocas. são palavras que andam de boca em boca e na rádio e na televisão e, quanto a mim, desprovidas do real propósito para que nasceram. são rápidas e rectas, bem o oposto do que pretendem ser mas, lá está, é moda e é chique. e eu, como sempre, sou démodée.

pensei agora

nunca tinha pensado nas reuniões de tupperware aplicadas, no conceiro em si, a serviços digitais. mas também não quero pensar: nunca tive talento para vender e muito menos para, marketing directo, vender-me.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

arrotos e risotas

mais vale ler sobre os arrotos das vacas. em uns blogues cada vez mais se conversa cada vez menos sobre a realidade nua e crua, os monólogos só são conversas quando de nós para nós, e em outros só é suposto conversar sobre ficção - como se as perguntas sobre as pessoas, e não apenas sobre as coisas, fossem um atentado ao ser. como se diz por cá, em jeito de conclusão que ri: puuuuta que pariu!

cinema?

cinema não é aquela arte de misturar realidade com fantasia, beleza que é poesia, cujo resultado é - a curto prazo no lugar e a longo no tempo - o apego? então por que raios e coriscos os documentários puros e duros, ainda que com abordagem histórica, são considerados cinema? terá que ver com a realidade fantástica que pode ser a prosa do mundo? será, então, tudo uma questão de linguística e de, magia técnica, mera projecção? não acho nada bem.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

amígdalas da paixão

Amígdalas - quem as tem que as conserve. Verdade. Pensa que estou a falar das da garganta ou da faringe ou da língua ou até mesmo da no singular que é inimigo do Batman? Pois pensa mal porque quero dar importância às amígdalas do cérebro, as cerebelosas, carago - como diria o Herman José em tempos de Esteves ou qualquer tripeiro que se preze - responsáveis pela regulação da nossa sexualidade e das nossas emoções.

Sabe onde fica o armazém da memória das suas emoções?

Está a ver ali na imagem do lado aqueles corninhos vermelhos, em extremidade de amêndoa, parecidos aos das borboletas? Se não está, imagine. São elas, localizadas no sistema límbico de todos os mamíferos, as mentoras, entre outras coisas, das nossas emoções. É precisamente nas amígdalas que acontece aquilo de a nossa vida poder ser uma comédia, se houver um controlo pelo pensamento, ou uma tragédia se apenas as deixamos fluir descontroladamente. Já pensou em como seria a vida sem emoções, em como qualquer acontecimento perde toda a importância quando desprovido de emoção? E o contrário, como seria a vida dos humanos sem o poder do raciocínio?

Pessoas a quem são seccionadas amígdalas do resto do cérebro transformam-sem em portadores de cegueira afectiva  e ficam igualmente inibidas de sentirem paixão. Mas não é apenas a incapacidade de reconhecer sensações ou experienciar sentimentos o resultado da ausência das amígdalas: sem amígdalas não há lágrimas nem dor para as consolar - mas há hipersexualidade (e daqui sai uma conclusão paradoxal de tão folclórica: afinal o sexo não tem mesmo nada que ver com afectos e trata-se mesmo de uma escolha íntima de cada um relacionar-se sexualmente com ou sem afectos). Também outros animais deixam de sentir medo ou ira e perdem a noção do lugar que ocupam no seu tipo de ordem social com a perda das amígdalas, anote aí.

As extensões neuronais das amígdalas permitem-nos gerir os conflitos emocionais, ou seja, aqui entra a parte da comédia - que é o pensar - a meter travão à tragédia que é o sentir. Somos prisioneiros das amígdalas! estaremos por certo a pensar. Nem tanto assim por sermos inteligentes e capazes de, trabalhando, conseguirmos equilibrar emoções com pensamentos e pensamentos com emoções. Será uma questão, bem visto, de conhecermo-nos ao ponto de chegarmos ao pormenor gigante que são as amígdalas e encetarmos com elas uma relação saudável e querida: mimar-lhes o ímpeto primitivo apenas para quando nos for possível sermos selvagens. Porque viver em civilização, em nós e com os outros, é preciso.

a descobrir

andei a ler sobre as amígdalas. não, não são as da boca mas as do cérebro, aquelas que funcionam como armazém de memória de emoções - as que nos castram de emoções se também castradas e fiquei a pensar, e de descobrir, se os outros animais, e quais, as têm. isto porque tenho a certeza que a minha cadela as tem, essas espécies de amêndoas mágicas, até porque verte lágrimas, sorri, mostra medo, arreganha os lábios e franze a expressão. aqui está apenas, observando-me bem perto, a amar-me como só uma Valquíria consegue amar.


terça-feira, 22 de outubro de 2013

quer casar comigo?

não sei quando e onde vi, o mais certo é ter sonhado, mas eram duas mulheres e um só homem, todos sexagenários. elas disputavam-no e ele, confuso, não sabia a que escolher (às tantas aquilo que dizem por aí de o amor já não ser para certas idades foi por onde lhe pegaram, ao argumento). depois sei que tinha um sonho: desde cedo, e de sempre, quis abrir um negócio que surgia de ideias estranhas e que nunca conseguiu concretizar. a certa altura, a possibilidade de o fazer - perante uma nova ideia estranha - surgiu e ao mesmo tempo uma delas encheu-se de coragem para lhe pedir namoro, uma espécie de solidão acompanhada a pastichar o amor (afinal o argumento deve ter-se baseado nas tais idades certas, concluo), e ele aceitou. enredo adentro, a família que sempre desprezou as ideias estranhas de tão bizarras não perdeu a oportunidade de, também desta vez, lhe chamar lunático e inconsequente - a recentíssima namorada concordou com o desmancho familiar. e ele, desesperado por tamanha traição, terminou a curta relação. já conformado com a ideia de cafoné e joanetes mimados, correu à procura da outra mulher que estava de partida para lugar incerto, certeza apenas havia da despedida, que lhe espremesse o desgosto. e encontrou-a. perguntou-lhe assim: tenho esta ideia para um negócio, o que te parece? desfeita em lágrimas, pela vontade proibida de o abraçar e pela partida forçada pelo orgulho, ainda assim respondeu: parece-me tão bem que consiga concretizar, pelo menos uma vez na vida, o seu sonho! vá em frente, desejo-lhe sorte, mas agora tenho de ir. e ele ali, naquele instante tão maduro como verde, apaixonou-se por aquela outra mulher. pegou-lhe na mão que acariciou, arrumou-lhe a madeixa cinzenta da testa, bufou-lhe ternura para os olhos e disse-lhe mesmo na altura em que passava na rádio esta, aquela ali em baixo, canção: quer casar comigo?