sábado último a minha mãe, que morreu mais nova do que eu quatro anos, apagava as velas se cá estivesse em carne e em osso. servem as rosas dos jardins para serem cheiradas e, pétalas aveludadas, sentidas; servem as rosas para nos ajudarem a celebrar o que já não há mesmo nunca deixando de haver; servem as rosas, sim as rosas, para nos fazerem lembrar daquilo que nunca esquecemos - são uma espécie de soneto mudo como se fossem, e são, inadimplências contudo carregadas de vida. as memórias são tão confusas como as rosas: banham-nos de realidade a alegria da breve fantasia de olhar e delas nos apoderarmos em arrepio sorridente. arrancamos as rosas dos jardins para lhes captarmos a beleza em abraço de nós e nem sequer pensamos que horas depois estão cansadas e de aroma murcho de em nós se serem, tal e qual como elas - como as memórias. depois chovemos e deixamos o carreiro d'água descer pela caleira da alma e encontrar na pele o consolo de fazer inchar os olhos e os lábios, não fosse a doce tormenta de salgar a mais bonita canção do que é amar apenas memórias e rosas.
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