fila para as receitas do estado. gente ora apaziguada ora sem travão na língua. uma mulher nova, na casa dos quarenta anos, decide falar em alta voz. barafusta, lamenta-se, e conclui: mas o homem que está a trabalhar como um cão para erguer o país não tem culpa - culpa tem o governo anterior porque esta criatura só está a fazer o que é preciso. pois é, assentiu uma outra sexagenária de aparência, este é pior que o Salazar mas só quer o nosso bem, coitado, está a ser difícil mas ele vai endireitar o país. e eu, ouvidos electrizados e mãos ofegantes de murros em uma mesa que não havia, decidi levantar-me e dizer que afinal o quarto mundo existe: o mundo dos subnutridos mentais que vivem e pensam por contágio e que gostam, bem visto, de serem desgovernados. e segui, triste, por passar-me, mesmo ali, pela cabeça que o povoléu vai continuar a amá-los nas urnas - tamanho o romantismo, reluzente como ouro, de plástico que carregam.
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