sábado, 8 de novembro de 2014

surrealismo do real

durante uma intervenção da NOS para alteração do serviço:

ele - não posso configurar, não tenho autorização, uma vez fiz isso e tive de pagar a mensalidade
eu - mas então eu pego no comando, o senhor diz-me e faço eu. mas não sai daqui sem configurar
ele - pode ser
eu - então qual é a diferença?
ele - é que eu não tenho autorização
ele - e vives aqui sozinha?
eu - não
ele - então o teu marido não está?
eu - também não
ele - não és casada?
eu - não
ele - risos
eu - está a rir-se do quê?
ele - mas tens irmãos?
eu - tenho
ele - e o cão, tens há muito tempo?
eu - é uma cadela
ele, eu tenho mulher e um filho de quinze anos
eu - pois
ele - de sessenta passou para cento e vinte quilos com a doença
eu - tem de ajudá-la então
(passou entretanto uma hora desde que chegou)
eu - então qual é o problema?
ele - vai ficar sem telefone dois dias
eu - porquê?
ele - há uma falha
ele - e então dizem que o leite faz mal?
eu - pois
ele - e sabes porquê?
eu - só sei que os mamíferos adultos não precisam dele para nada
ele - então não bebes leite?
eu - quando me apetece
ele - estou a mandar cv's para Moçambique, não espero nada deste país. mas depois fico por lá, no meio das pretas, aquilo nem é bem mulheres mas não vou ficar a seco, percebes? faço outra família e mando dinheiro
eu - e isso demora muito?
ele - vou aproveitar para ver o euromilhões, assim se me sair já não vou para casa
eu, e veja também a internet se já funciona
ele - está tudo bem, assina aqui
(duas horas depois de ele ter chegado e depois de ter saído)
NOS - estamos a ligar -lhe para saber se está tudo bem
eu - não, o técnico foi embora e entretanto não tenho ligação à internet
NOS - vamos ligar-lhe para ir aí novamente
(meia hora depois)
eleoutro - oi, o meu colega pediu para eu vir cá
eu - é que a internet não funciona
ele - vou mudar o equipamento. mas se não der, o problema é do seu computador
eu - como? então se deu antes do seu colega ir embora como é que pode ser do meu computador?
(duas horas depois)
ele - eu estou fazendo tudo para ajudar mas você vai ter de tirar o vista, esse só dá problema e é por isso que não tem rede
eu - como? deve estar a brincar comigo
ele - mas eu vou ver melhor
ele - entretanto acede pelo telemóvel ao FB, ouvem-se as notificações, vê um vídeo de putaria e faz duas chamadas - ambas sem o efeito desejado: oi querida, sim vim quebrar um pepino de um colega mas depois de sair daqui posso passar aí.
(quatro horas depois de ter chegado)
ele - olha, moça, vou-lhe deixar o cabo de rede porque só assim é que dá
eu - o senhor vai é desaparecer daqui agora que eu estou mesmo cansada e já sem paciência
ele - eu vim te fazer um favor, cacete!
eu - o senhor veio fazer um favor ao seu colega. mas agora vai-me fazer um favor a mim e vai embora daqui que eu depois entendo-me com a NOS. já não posso ser obrigada a vê-lo nem ouvi-lo nem cheirá-lo
ele - tem de mudar de computador, trocar o sistema operativo
eu - é que nem pense. saia por favor

e lá me deixou o cabo de rede com o tamanho de uma tringalha de boi que mal chega ao sofá quanto mais à secretária. antes de dormir pensava ardentemente em fazer duas coisas no dia seguinte: ligar à NOS e desinfectar a casa para eliminar os resquícios das duas carraças de aspecto e conversa pouco asseada.



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