terça-feira, 31 de janeiro de 2012
a culpa é sempre do fibroso
em violino, toca-se a música rompida dos muros - onde se deitam, erguidos, surdos, vozes secretas, alegrias na mão. e a culpa é sempre do fibroso, bate- que- bate-que bate, muito pendente, sangue em circulação.
estreito do peito
pingos
são pingos
que sobem aos cimos dos pêlos do peito
pequenos passos
marcha
rumo ao aprumo do espaço tão estreito
são pingos
que sobem aos cimos dos pêlos do peito
pequenos passos
marcha
rumo ao aprumo do espaço tão estreito
dica de amêndoa doce
descobri uma coisa fabulosa: o óleo de amêndoas doces, produto do melhor que há para hidratar, acessível em qualquer loja da esquina ou super ou hiper-mercado, cujo preço anda a rondar um euro, resulta muito bem nas pontas dos cabelos se vertido para um frasquinho do tipo doseador. faz assim: quando o sérum acabar, sim aquele sérum que custa os olhos e o nariz e a boca da cara, verte de um frasco para o outro e já está. experimentei ontem e já só passo a usar deste - os cabelos acordaram rebeldemente macios e felizes.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Napa-lhe
o Napo agrada a miúdos e a graúdos - o Napo é uma poderosa ferramenta de auxílio à construção de uma cultura de segurança em qualquer sector de actividade: napa-lhe em casa, napa-lhe na escola, napa-lhe a trabalhar - é, sem parar, napar ao acidente.
(e eu prometo que tudo começa a mudar - tudo o que, sem contar, acontece num repente.)
domingo, 29 de janeiro de 2012
alevanta o pau
manhã passada a investigar legislação sobre licenciamento e funcionamento de creches, para ajudar uma amiga, por conta de negligência da que acolhe o seu filho. missão cumprida, apesar de o prato ainda ir no começo, e grande gargalhada, a minha, quando ligo a televisão e deparo-me com alguém a dizer que, além dos enchidos, a feira de fumeiros de montalegre também é boa para beber "alevanta o pau". curiosidade levantada - fiquei a saber tratar-se de um licor, obviamente sem "a" porque o povo quando quer levanta tudo, também tradicionalmente bebido na mesma região por ocasião da noite das bruxas. aqui ficam os ingredientes:
|
deixados em maceração todos ingredientes, aproximadamente 45 dias, são bem agitados de cinco em cinco dias. tudo coado depois e o preparado está pronto a ser bebido.
(atendendo à dedicação e tempo de produção do licor, de facto faz pensar se será justo ser disponibilizado, de golada, a um qualquer transeunte em busca de momentos felizes. justo ou não, elas e eles - sorrisos e palavras de contentamento -, consolam-se quando dizem (será placebo pela palavra?) "alevanta o pau".
a mim este licor soube-me a muito, imenso, riso.)
pneunhar
tive um sonho mesmo estranho: estava a voar de pneu e, aterragem não programada, fui parar ao meio, talvez nacional pelo barulho e movimento de que tenho memória, de uma estrada. lembro-me de não estar careca, o pneu gigante, porque empurrei-o sozinha para a berma num breve intervalo no tráfego. ora se não estava desgastado, porque aterrou? por outro lado, parece-me um pneu inteligente - podia bem ter escolhido uma auto-estrada, ou via com scuts, e a esta hora lá estava eu encurralada no sonho porque não me lembro de carregar com a carteira enquanto voava. pode ser que esta noite o pneu volte a aparecer-me para mais uma aventura - gostei da sensação de envoltório de protecção. e da banda sonora.
sábado, 28 de janeiro de 2012
autismo, adição, processo somático, paradigma auto-erótico/autístico.
Nasci furado [...] preciso
de ódio e de inveja, é a minha saúde.
MICHAUX, 1998
de ódio e de inveja, é a minha saúde.
MICHAUX, 1998
lógica douradinha
ouvi uma coisa pouco interessante que se revelou interessantíssima. ouvi dizer que as mulheres enganam os homens quando, vendo-os como fracos, deixam de respeitá-los. (aqui reside o pouco interesse)
interessantíssimo será fazer o exercício ao contrário, assim numa espécie de molde por lógica dissociada de lógica, a não ser a minha própria lógica, que me faz todo o sentido de lógica: os homens enganam as mulheres quando se sentem fracos e sem o mínimo de respeito por si próprios.
interessantíssimo será fazer o exercício ao contrário, assim numa espécie de molde por lógica dissociada de lógica, a não ser a minha própria lógica, que me faz todo o sentido de lógica: os homens enganam as mulheres quando se sentem fracos e sem o mínimo de respeito por si próprios.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
os rectângulos da vida
dou por mim a pensar como são sempre as coisas simples que nos fazem perceber tudo e, até, o quanto a noção de tempo e de espaço é frágil. como quando acordamos na noite, sem sabermos se está a meio ou no início ou no fim, à procura da luz do candeeiro e não o encontramos porque estamos deitados ao contrário e virados para o lado oposto. depois começamos, já mais despertos, a apalpar tudo o que está em volta para nos dar pistas do espaço. e o tempo fica focado, todo ele, ali naquele rectângulo que nos acolhe todos os dias e onde o mistério se cobre de lençóis e de edredons. depois, finalmente, conseguimos ligar-nos à terra e voltamos a adormecer, entre pensamentos apressados por descansar, consolados, por sabermos onde estamos e que a aurora ainda tarda. é simples: até o mistério da pequena morte precisa, mesmo sem saber para onde vai, mesmo ali naquele rectângulo, de se sentir seguro e dono do seu tempo.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
menstruação
a propósito de existirem monstros em forma de gente, chamo-lhe - a esta mistura pterossaurica - menstruação.
vomitórios sociais
a petição a favor de um presidente muito menos Cavaco já vai em 35 000 pseudo-assinaturas que servem, apenas, para demonstrar o peso do desagrado colectivo. que bom - eu também colaborei para o número e sinto-me fragilizada com palavras, actos e omissões. mas podem, por favor, mudar de assunto porque o mundo não gira à volta de falhanços e coisas tristes e aguerridas? muito obrigada: é que os blogues dos dinossauros políticos, e das dinossauras cuja erecção dos bicos das mamas e da alma só acontece pela imitação dos dinossauros, transformaram-se em verdadeiros vomitórios sociais.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
ao quilo mas pouco
porque um mal nunca vem só- dizia-me ela, voz em bicos de pés e ânimo em soalho de chão, pelo aparelhinho, aquele aparelhinho a que chamamos telefone e que encurta a distância e faz com que não nos sintamos, amiúde, pássaros viajantes de estações. por ele enviei-lhe uns quilos de consolo e umas gramas de alegria, coisa pouca, não por incompetência ou incapacidade mas por malogro de longuidão de espaço, porque há alturas em que as preciosidades só são suficientes, ou pelo menos um pouco mais do que palavras carregadas de boas vontades e intenções, aos olhos e ao calor de um abraço amigo. poucas são as vezes que meras palavras podem amar.
espera-se uma boa tarde
Energia e Ambiente
Factores de Competitividade Empresarial
AEP – Edifício de Serviços
26 de Janeiro de 2012
14h00 – Recepção
14h15 – Boas-Vindas
Paulo Nunes de Almeida, Vice-Presidente da AEP
Moderador: Carlos Rodrigues, Universidade de Aveiro
14h45 – Apresentação dos Resultados dos Projectos da AEP
“BENCHMARK A+E” e “RESIDUOS MENOS”
Paulo Nunes de Almeida, Vice-Presidente da AEP
15h30 – “A Sustentabilidade Empresarial: Desafios e Instrumentos para as PME em Portugal”
Carlos Borrego, Presidente do IDAD- Instituto do Ambiente e do Desenvolvimento
“A Directiva Resíduos”
Luísa Pinheiro, Directora Geral da APA - Agência Portuguesa do Ambiente
“As Boas Práticas Energéticas e as PME´s”
Miguel Águas, Lisboa E-Nova – Director da Agência da Energia-Ambiente de Lisboa
16h30 – Instrumentos Financeiros ao Serviço do Ambiente e da Energia
Nelson de Souza, Gestor do Compete
16h45 – Entrega dos Troféus “Práticas de Excelência Ambientais, Eficiência e Racionalização Energética”
17h00 - Encerramento
José António Barros, Presidente da AEP
Assunção Cristas, Ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território
Factores de Competitividade Empresarial
AEP – Edifício de Serviços
26 de Janeiro de 2012
14h00 – Recepção
14h15 – Boas-Vindas
Paulo Nunes de Almeida, Vice-Presidente da AEP
Moderador: Carlos Rodrigues, Universidade de Aveiro
14h45 – Apresentação dos Resultados dos Projectos da AEP
“BENCHMARK A+E” e “RESIDUOS MENOS”
Paulo Nunes de Almeida, Vice-Presidente da AEP
15h30 – “A Sustentabilidade Empresarial: Desafios e Instrumentos para as PME em Portugal”
Carlos Borrego, Presidente do IDAD- Instituto do Ambiente e do Desenvolvimento
“A Directiva Resíduos”
Luísa Pinheiro, Directora Geral da APA - Agência Portuguesa do Ambiente
“As Boas Práticas Energéticas e as PME´s”
Miguel Águas, Lisboa E-Nova – Director da Agência da Energia-Ambiente de Lisboa
16h30 – Instrumentos Financeiros ao Serviço do Ambiente e da Energia
Nelson de Souza, Gestor do Compete
16h45 – Entrega dos Troféus “Práticas de Excelência Ambientais, Eficiência e Racionalização Energética”
17h00 - Encerramento
José António Barros, Presidente da AEP
Assunção Cristas, Ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território
mira que riqueza que ye la dibersidade
acho muita piada ao mirandês, à sua luta por conta do Anstituto de la Lhéngua Mirandesa, e principalmente à (boa) utilização que fazem do português - ao cantá-lo. é, dizem eles, por ser uma língua culta, fidalga e importante.
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
mamas em arrebol
quais maminhas despidas ao sol, qual quê, luz fugaz e passageira: mamas em arrebol, grandeza que manda no céu, não pode ser de outra maneira.
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
navios de poesias
mora na zona do meio
o mistério
espelho de fímbrias paradas
reflecte a verde
(que não é receio)
os troncos das folhas
(raízes contentes)
que são árvores
(não são sementes)
navios de poesias amadas.
o mistério
espelho de fímbrias paradas
reflecte a verde
(que não é receio)
os troncos das folhas
(raízes contentes)
que são árvores
(não são sementes)
navios de poesias amadas.
paradigma
a propósito de ter ouvido um médico falar na televisão, que já nem sequer me lembro do nome - não por lhe não atribir importância mas porque simplesmente não fixei -, estou de acordo que a medicina trata da doença ao invés de tratar da saúde.
domingo, 22 de janeiro de 2012
haida's guardião
em Haida Gwaii, Canadá, há um homem - um avô de todos - que luta para não deixar morrer a língua Haida original, falada apenas por três habitantes na aldeia. apesar da idade bastante avançada dá aulas em três escolas, inclusivé num jardim de infância, para deixar sucessores da língua-mãe. isto, esta lufada de força e de celebração à vida que sobrevive às intempéries das modas da modernidade, esta bofetada de luva branca em dedos de véu palatino, aos países em conluio de acordo ortográfico, merece uma ovação - a minha.
sábado, 21 de janeiro de 2012
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
fastio
um conhecido de há muitos anos pede-me ajuda para elaborar uns documentos. e afinal seria pretexto.
uma abordagem de engate sempre me meteu, e mete, fastio - não no sentido de uma engrenagem de assuntos e pensamentos e estares eventualmente positiva mas no outro, no que só pode ser, para quem a faz, uma espécie de happy meal em forma de fast food com uma importância very fast. daí que a palavra, a minha, para designar a consequência de episódios assim, bem mais tristes do que as putas do Gabriel, mais apropriada, seja fastio.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
cão do monte
em sussurro telepático, de frente, leio-lhe o miolo da fronte: gosto de ser embelezado, parede rosa caiada de fundo, cenário de horizonte, como um verdadeiro cão que (não) se (des)preza - o cão é sempre do monte.
ao verbo o que é do verbo
parece-me miseravelmente incrível que nas escolinhas do primeiro ciclo, dos nossos dias, não se ensine o que é um verbo e se exija que saibam detectar o tempo verbal mesmo antes de ensinarem como o tal verbo se conjuga. paradoxal? não: real.
(cambada de do(c)entes)
feira das vaidades
a actualidade cansa. e porque cansa, vale mais mudar de cenário - e de tempo - para descontraír e rir: hoje vou à feira, tão giro o título como o da anita, olinda vai à feira. (à feira das vaidades.)
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
dias fecundos
porra!, digo com agrado contrariamente ao usual, há dias mesmo certeiros em que aquilo a que nos propomos, enquanto trabalhamos, não falha. vou chamar-lhes dias fecundos.
convicção
tenho uma amiga, em idade de bodas de prata, que não sabe exteriorizar afectos, ainda que sejam pequeninos, com os rapazes que vai tendo, a não ser quando está na horizontal.
(isto faz-me ainda mais convicta de que a verticalidade está bastante mais relacionada com a corporeidade do que a horizontalidade que é, bem visto, afecto em interiorização.)
(isto faz-me ainda mais convicta de que a verticalidade está bastante mais relacionada com a corporeidade do que a horizontalidade que é, bem visto, afecto em interiorização.)
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
retratos-zoo
vi estes três retratos pintados: um de Descartes, outro de Mettrie e o último de Brentano. dou por mim, pela mesma ordem, a visualizar um cão de aspecto apaneleirado, uma cabrita espevitada e um urso sisudo.
lembranças que nos lembram coisas para relembrar
ainda agora, durante o asseio diário do meu oásis, o lugar onde vivo por fora, a minha casa, é sempre o meu oásis, pensava no momento íntimo e intransmissível que é o esmero, e lembrei-me do primeiro local onde estagiei enquanto terminava o meu primeiro curso, uma instituição cultural, e do João Cutileiro com quem tive o gosto de falar e encetar contactos. começara aí, talvez, não me recordo de ter sido antes, a minha vontade de desenvolver a curiosidade que desde sempre carrego. na verdade, penso até que aquele estágio servira apenas para isso, para essa competência, visto que a entrada de rompante no mercado de trabalho aconteceria no estágio seguinte. e deu-me uma enorme, imensa, vontade de rever as esculturas dele, tão femininas, tão bonitas, de escolher uma, e decido chamar-lhe a mulher que engole o tempo e o espaço.
bebedeira
há cerca de duas semanas, num blogue onde sou leitora e comentadora assídua, alguém me disse para eu largar o vinho - seria, pois, bêbeda por não ter caixa aberta de comentários aqui e comentar por lá. não fosse eu, também, uma pastora de coisas felizes decidi oferecer-lhe, ao tal comentador que me chamara de bêbeda, um voucher de sobriedade com durabilidade secreta e, como não poderia deixar de ser, por mim limitada. e porque andamos todos por cá também para nos fazermos felizes, espero ter conseguido ir de encontro às expectativas do leitor - que talvez tenha pensado, erradamente pensado, que é um desafio que muda a ebriedade de uma douradinha de palavra na boca.
retomo, desta feita, o estatuto de bebedolas por gostar de ler e comentar, quando possível, coisas e pessoas interessantes sem ter de ouvir o que dizem quando passam aqui pelo meu quintal tão viçoso.
(aqui vai outra de golada)
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
brisas de pincel
é assim a minha casa, de campo, de sonhos estendida: mais perto do sol e do céu, em árvores colada, onde o fim de tarde picante se mistura, brisas de pincel, com doce de madrugada.
dupla incapacidade
amiúde, quando não me conhecem, confundem a minha personalidade de carácter com uma outra coisa qualquer. chamo-lhe, à confusão indigna, estrabismo ou miopia mesmo antes de, fazendo-a aceitar a sua deficiência, perdoá-la com a oferta de uns óculos de vida. constato, porém, que em muitos casos a correcção é lenta e em muitos outros impossível. nestes casos, e porque sou justa, aceito-lhes - resignação a dobrar - a dupla incapacidade.
domingo, 15 de janeiro de 2012
sábado, 14 de janeiro de 2012
vivegrafar
a propósito de fotografias amadoras, ou outras, e do seu interesse, eu confesso-me completamente ignorante sobre as técnicas e apenas me concentro no resultado final. chamam a minha atenção as imagens extemporâneas, pormenores que me transportam para, quase sempre, curtas metragens com vida. há, no entanto, um estereotipo de imagens que não se me revelam interessantes, que me castram - nem chegando a haver coito e muito menos aborto - a imaginação: são as que são escolhidas e pensadas antes de serem em pose tiradas. e se eu pudesse, e porquê que não posso, mudar a designação de natureza- morta, seria assim: são os seres inanimados, gentes, que castram a imaginação - fruto de vida castrada em pose, essa sim, verdadeira vida em suspensão. são as nossas lentes, e não as do fotógrafo, que fazem a fotografia e daí o encanto, o meu, de - pensando, vendo e sentindo - escrevê-las. e porque na fotografia, para mim, cabe tudo menos o retrato: vivegrafar eu preciso.
e o que é a vida senão grafar tudo o que os olhos vêem e o que, sentindo, não vêem? isto remete-me para a extemporaneidade do que são as relações, os laços, os afectos e do sentido que lhes dou pela complementaridade - de sentidos, de pensamentos, e de convivência - que exigem para serem inteiras e felizes longas - metragens.
e o que é a vida senão grafar tudo o que os olhos vêem e o que, sentindo, não vêem? isto remete-me para a extemporaneidade do que são as relações, os laços, os afectos e do sentido que lhes dou pela complementaridade - de sentidos, de pensamentos, e de convivência - que exigem para serem inteiras e felizes longas - metragens.
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
HTML incompetente
o blogue não anda a guardar as minhas definições, desconfigura o que eu configuro, altera as horas, coloca-me a dizer coisas noite dentro. ora não me parece justo que o HTML ande marado e em trocas e baldrocas comigo. apetece-me reclamar, onde está ele, no livro.
menina do olho de fora acordada
olho por dentro do olho da vida, que olhar a nu não há - há tu, margem a luz vestida, fímbria, abobadilha abraçada: lente de vidro perene, consabida, menina do olho de fora acordada.
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
saída da casca
em viagem apreciei a lua ao volante. parece um ovo, irregular e amarelada, cozinhado a rápido no microondas e tenho a certeza de que a prefiro, à moda antiga, branca depois de sair, a brando, da casca.
quem manda sou eu
a propósito da parceria de desconto que a edp tem com o continente, um dos requisitos para se ser beneficiário é o débito directo em conta da factura. ora eu não gosto de débitos directos de facturas pela simples razão de que quem manda nas minhas contas sou eu. partir do pressuposto que só se dá desconto a quem se sujeitar à subserviência é um abuso de poder, além de colocar a lume o que é haver uma relação de confiança mútua - pode-se tanto falhar com o pagamento da factura por débito directo como por crédito indirecto. são, enfim, tretas manipuladoras para o consumidor. a mim, as tretas, dão-me ganas de reduzir o consumo e obter o meu, e à minha custa, desconto sem precisar deles para alguma coisa. vou começar hoje mesmo a alteração de hábitos.
não é usual eu ler à noite, prefiro a luz natural do dia, mas tem vezes que ou por falta de tempo ou por acréscimo de vontade pode acontecer - de hoje em diante vou manter apenas duas velas grandes de presença à noite, quando estiver no computador em mero lazer ou a ver televisão, e a leitura ficará mesmo reservada a uma lâmpada em casos de extrema, imensa, vontade; antes de me deitar terei o cuidado de desligar, no quadro parcial, as tomadas da sala para acabar com as luzinhas vermelhas. apesar de não desligar a luz do quarto, porque convém prevenir-me face a uma qualquer emergência, vou treinar-me no escuro e quando sentir vontade, durante a noite, de urinar ou defecar vou fazê-lo às escuras e penso que só me trará vantagens: além de evitar acender e apagar as luzes, não espanto o sono e aprimoro-me como se de olhos tapados estivesse - embora haja a desvantagem de depois da descarga a sanita ficar eventualmente suja, estou a pensar, mas isso resolve-se pela manhã. outra coisa a fazer será evitar ligar a máquina de secar tantas vezes e aguçar a paciência no tempo de secagem da roupa.
(e veremos quem manda na minha conta e na minha factura e se o meu desconto não será bem maior do que o deles. veremos.)
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
amor-gato e amor-cão
a este texto do José António, respondi assim: não: desculpas de humanos já que durante um dia naturalmente isso, dos desertos, acontece aos oásis. que boa definição de amor-gato, a tua. eu sou pelo amor-cão.
fungágá da bicharada: uma sugestão dourada
o coelho precisa de arejar os nervos neoliberais da transparência: que se meta a fazer um passeio pelo litoral norte, pode ir ouvindo as rádios locais, talvez passe a música do pintinho piu, apreciar o sol e os ociosos por conta dos subsídios recebidos ou por receber, que mais parecem lagartos secos esticados e pelados - como se a vida não corresse, andasse espraiada deitada, e o activo fosse peru gluglu enquanto a vaca mooooo.
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
bacalhau e emancipação
falar e pensar em bacalhau remete-me sempre, talvez porque me lembre disto
, para a palavra emancipação, não como alforria, como auto-respeito.
"(...)Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."
Tem que passar além da dor
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."
bacalhau à negação
o bacalhau é um daqueles alimentos que dá para preparar com quase tudo ou, dito de outra forna, não há nada que com ele não se possa fazer. (tantas negações juntas e a ideia de fazer, inventar, bacalhau à negação)
não sei bem ainda mas talvez cozê-lo e escorrê-lo e lascá-lo. depois fazer puré caseiro, presumo que todos saibam como se faz, mas juntar um pacote de natas em vez do leite - torna-o mais macio. entretanto, saltear o bacalhau em azeite, cebola, alhos, salsa, loureiro e pimenta. depois adicionar-lhe, depois de o azeite estar absorvido, maionese e colocar em camadas alternadas de bacalhau e puré num pirex oval (pode ser de outra forma qualquer mas oval é, para mim, mais elegante), em que cada camada nega a anterior que é negada pela seguinte. no fim, no fim, o todo será um comjunto de negações de nada, porque estará lá tudo, barrado com maionese novamente e enfeitado com azeitonas pretas gordas - molhadas em azeite, salsa e alho picado. forno bem quentinho e em preparo uma mistura de legumes chineses a serem salteados em azeite e alho para acompanhar a negação do bacalhau impossível de negar.
não sei bem ainda mas talvez cozê-lo e escorrê-lo e lascá-lo. depois fazer puré caseiro, presumo que todos saibam como se faz, mas juntar um pacote de natas em vez do leite - torna-o mais macio. entretanto, saltear o bacalhau em azeite, cebola, alhos, salsa, loureiro e pimenta. depois adicionar-lhe, depois de o azeite estar absorvido, maionese e colocar em camadas alternadas de bacalhau e puré num pirex oval (pode ser de outra forma qualquer mas oval é, para mim, mais elegante), em que cada camada nega a anterior que é negada pela seguinte. no fim, no fim, o todo será um comjunto de negações de nada, porque estará lá tudo, barrado com maionese novamente e enfeitado com azeitonas pretas gordas - molhadas em azeite, salsa e alho picado. forno bem quentinho e em preparo uma mistura de legumes chineses a serem salteados em azeite e alho para acompanhar a negação do bacalhau impossível de negar.
leite e mel
por mera curiosidade, quis saber se o efeito seria o mesmo como quando escorrega pela garganta e a amacia, do título que o Pedro Mexia escreveu.
ao sol parida e na sombra esquecida
passo, amiúde, por uma casa quase-abandonada - e digo quase porque o jardim está cuidado, impecável - que me dá apetites automáticos de pensá-la. tem dias que lhe contorno o exterior, agora fiquei a pensar se os contornos não serão sempre exteriores e chego à conclusão que não são porque se assim fosse as más intenções triunfariam sempre, umas duas ou três vezes para captar pormenores que não tinha visto antes. trata-se, talvez, de uma observação traiçoeira ( mas não pérfida): não quero desvendá-la na imaginação sem antes lhe perceber as formas, os recantos e os encantos dos olhos porque os do nariz não passam da porta que está trancada e gasta. aquela casa rasteira e velha tem alguma coisa diferente das outras que são rasteiras e velhas só porque o jardim está impecavelmente cuidado - aquela casa rasteira e velha tem um segredo que não é segredo algum: está esquecida, abandonada, e vive na sombra das flores e do sol de quem um dia lá viveu, fugiu, e com vida de um outro que por fora a pariu.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
vem pelas tuas pernas, diz o Alvim. (j'Alfoste)
a editora cego, surdo e mudo, que só não é deficiente motora, leva a designação social à letra visto que o único contacto disponível que existe é o endereço postal.
domingo, 8 de janeiro de 2012
espirrar, digo eu
gosto bem do choque térmico entre o bafo quente dos lençois e a geada da manhã - entre um espirro e outro adquirem-se imunidades para o dia, além de que os espirros são libertações tão pertinentes como outras quaisquer. mais: os espirros são crepitações, evidências reais de fervura, de vida.
sábado, 7 de janeiro de 2012
(shuuu: são dez minutos)
ora quando uma mulher se desloca a uma oficina mecânica, sem referências antecedentes, para mudar o óleo à sua viatura, pergunta o preço e o tempo estimado e o dono responde, convicto que regressa mais tarde, uma hora - está perante uma oficina de maçonaria que acredita, piamente, no desenvolvimento discreto das suas virtudes enganadoras.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
desabafo do ego até aos pés
os saltos altos, adoro-os, foram uma elegante invenção.
(mas só me fodem os pés e as costas, cretinos facciosos)
(mas só me fodem os pés e as costas, cretinos facciosos)
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
dona delicadeza
chamam-lhe insecto, bicho de calcar,
coisa de afastar na mesa.
e eu, em bruega mesmo antes do sol,
vejo-lhe os pêlos e as cores,
faço-lhe histórias em flor-de-amores
chamo-lhe dona delicadeza.
refluxar
lembrei-me do recém nascido D., de repente, durante a noite entre o sufoco, e do que lhe causou o refluxo diagnosticado, os sintomas, as noites e os dias de angústia dele, da mãe, e minha, que sou madrinha, e que tive de o virar ao contrário e sacudi-lo, como se faz a um saco com humidade, naquela tarde de medo - e estou convencida que não devo esperar mais.
e tudo é motivo de reflexão, antes reflectir do que começar a tinir, talvez a vida seja um refluxo constante.
e tudo é motivo de reflexão, antes reflectir do que começar a tinir, talvez a vida seja um refluxo constante.
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
vai-te phoder, brasiu
as línguas, à semelhança das espécies, naturalmente evoluem e modificam e podem e devem ser consideradas como entidades vivas e, como tal, sujeitas a um processo evolutivo desde os primórdios da comunicação humana - adaptações aos novos usos a que seus usuários (a comunidade falante) as submetem. olha isto dele, fernando pessoa (1999), conhecedor da palavra e da alma portuguesa, “a linguagem fez-se para que nos sirvamos dela, não para que a sirvamos a ela.”
no campo dos estudos linguísticos, ambas as teorias sobre a evolução das espécies – a de darwin e a de lamarck – podem ajudar a explicar a evolução e a diversidade linguística. uma língua poderá sofrer modificações pelos falantes no sentido de comunicarem e se expressarem melhor porque, afinal, entre outras coisas, é para isso mesmo que ela serve: comunicação, exteriorização de ideias, de desejos, de pensamentos e de sentimentos. se a língua não for capaz de cumprir seu papel, provavelmente ela sofrerá modificações: novas formas sintácticas serão criadas, ou antigas serão modificadas; haverá criações de neologismos e formação de palavras inéditas, empréstimos linguísticos etc. dessa forma, há uma adaptação do idioma, o melhor possível, à sua comunidade linguística e, principalmente, às exigências dos seus falantes. tal como como as espécies de seres vivos, se dois grupos de falantes de uma língua forem separados geograficamente - a língua será modificada, sempre de forma lenta e gradual, de tal forma que, após se passarem muitos anos, poderão ser formadas duas novas línguas.
(isso aconteceu, por exemplo, com o latim falado na região onde agora é a frança - que, obviamente, deu origem ao francês - e com o latim falado na península ibérica - que originou o espanhol e o português.)
o sentido natural das coisas, da língua, neste caso, seria – tal como projectei ainda andava no liceu – na viragem do século, talvez, haver definitivamente oito línguas diferentes fruto de usos e usuários diferentes, climas diferentes, geografias diferentes, culturas diferentes em que a única base comum assentaria na língua portuguesa que naturalmente foi absorvida e trabalhada por cada um dos países até originar línguas singulares não obstante a similaridade do português. pensando ainda melhor sobre o assunto, talvez seja este argumento – o da evolução natural – que mais e melhor explica a imbecilidade deste tratado que pretende exaltar, auto-exaltando-se, o brasil, através – não altruístas – de ideais egoístas.
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
algaraviar é sinónimo de descobrir
quando os pensamentos são algaraviadas é porque são poliglotas? não creio. até porque pode-se ler, falar e escrever várias línguas mas conhecer, entrar nelas, as palavras é outra coisa. os pensamentos só conhecem um idioma e daí a desordem para a descoberta.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
vidros
não posso espreitar, eu sei, as vidas por dentro das janelas
mas posso fazê-las em vidro,
transparentes,
damas antigas em vestidos centrados nelas -
ou pássaros, gaiolas de pé, que aguardam as sementes do frasco escondidas do gato Mané
virtudes em cada canto, defeitos a aspirar,
às casas limpa-se o pó do chão até ao tecto
e só o verbo amar fica ilibado,
de tão usado, de tão rendido,
uma exaustão que não cansa
e ele chegado fecha a porta ao gato
descentra-lhe o vestido, botões a mais,
liga a música, com os olhos amansa, enfim,
permitem-se ao fim do dia, o deles começo, o início de uma dança
domingo, 1 de janeiro de 2012
prata e ouro, deus e touro
no primeiro dia de 2012 o mar, sereno e silencioso, veste-se, precioso como sempre, de prata pouco polida - faz parelha com o céu e aguardam, juntos, o ouro do sol que deus, sem promessa alguma, olhar de touro, desde sempre lhes prometeu.
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