o som das árvores que abanam, quando muitas e juntas, assemelha-se ao do mar. e confundem-se. no chão, os cogumelos, que estão em silêncio, não se importam com o barulho porque estão a crescer. hoje, nota-se bem a diferença em relação a ontem: uns estão maiores e outros decidiram romper. há ainda os que ficaram desfeitos pelo medo - o medo leva as gentes a destroçar cogumelos, calcam-nos como se a extinguir um mal. e depois ficam os pedaços esponjosos espalhados por ali e acolá, a estupidez faz com que o medo concentrado se espalhe (como se o cogumelo inteiro e em silêncio, a crescer, fosse pior do que fragmentado e exposto). no fundo, as árvores e o mar e os cogumelos servem para explicar o que se passa no mundo das carnes que andam e falam: cada árvore é única mas se se juntar ao grupo a voz passa a ser igual. o mar, o mar é um só, poderoso, que ora sussurra ora barafusta. os cogumelos são o povo. e todos crescemos em silêncio apesar do agitar das árvores cujo barulho se assemelha ao mar. e o mar, ai o mar, o mar é a nossa consciência: cada um sabe o que vale em sua consciência; cada um sabe que vale, não pelo que diz, pelo que faz. e é nisso que tem de fixar-se para ser, se quiser ser, cada vez maior aos olhos do seu mar e eventualmente aos do mar de quem o seu quer olhar e ser olhado. cada um. cada. um.