quinta-feira, 1 de novembro de 2012

ciúme

na mitologia Grega Hera, esposa legítima de Zeus, vigiava o comportamento do marido nas inúmeras incursões amorosas dele. Hera, a primeira dama do Olimpo, não ousava tocar no marido em represália às escapadas - preferia perseguir e punir as amantes, a quem atribuía total responsabilidade pelas aventuras do companheiro.

o ciúme existe, sim, e ignorá-lo constitui uma repressão. mas o ciúme pouco tem que ver, pelos meus olhos, com deslealdade e infidelidade. quem quer alguém desleal e infiel perante nós? ora se não se quer não há lugar ao ciúme porque não sentimos ciúme do que não queremos. como uma cortina de tule que se abana com a frincha da janela aberta, assim é o ciúme. quando nasce pela primeira vez, ou pela segunda a reforçar uma primeira, o ciúme, per si, não é prova de amor: dedicação, admiração, desejo, apoio, comunicação, omnipresença e renovação são provas de amor. o ciúme é apenas a tal frincha que, noção exacta de perturbação e interesse, faz a cortina abanar.

perceber e compreender isto é o caminho para perceber o outro e, com maturidade, não deixarmos que aquele sinal de que, de facto, aquela pessoa nos perturba não se tornará em uma perturbação narcísica e negativa da posse do outro mas antes em uma perturbação positiva que nos faz perceber que se sentimos interesse é porque o outro vale a pena e, ao mesmo tempo, que valemos mesmo a pena por sentirmos que sentimos interesse por quem, e só por quem, vale muito a pena.