noites assim, em que até uma gota de orvalho a cair numa folhinha me acorda, não deveriam existir, não é justo, acumulo cansaço e depois ando a semana inteira a recuperar, às tantas tenho de ir ao celeiro comprar as tais gotas de extracto de plantas que sabem a bagaço que me puseram na língua no outro dia. a minha cabeça parece de cristal, já a conheço, quando alguma coisa a perturba é assim, não pára, parece um carrossel, movimento circular. ontem de tarde dormi bem e depois fiz muitas coisas com as mãos para descansá-la mas não foi suficiente inventar o bolo com creme de queijo e laranja nem os rojões no forno com ninhos de ovos cor de rosa nem a mancha da banheira que consegui eliminar a cantarolar. não foi suficiente a beleza das flores e das meninas que voam cheiinhas de cores. não foi sufuciente ler e reler e apreciar as coisas que vêm de lá, daquele que me ilumina ao sol e ao luar. talvez a minha cabeça esteja apenas triste, tenho de lhe dar tempo para se recompor, talvez tenha de se despir junto do coração e fazerem juntos uma receita de acabar com a inquitação, um feitiço bom.
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