nem sequer aprovam os meus comentários, ficam horas e horas como se não existissem, da outra vez nem chegou a aparecer, não entendo, sou impotente fazendo acontecer, é injusto, o mundo é uma sequência de injustiças feitas e também do que não se faz, essa gente injusta que me deixa ralada, se tem jeito serem comentadores a decidirem o que eu tenho de dizer e quando, castradores, já só queria metê-los em água a escaldar. depois ficava a ver a pele a desfazer-se e a água a ficar cor de rosa e aí chamavam por mim, Olinda, por favor, atire-me água fria, gritava um, acuda-me, gritava outra, com bocas gretadas de tão secas pelo pânico que lhes comia os resquícios de himidade. depois eu fazia uma magia, voltava com a cena atrás para que eles vissem o futuro próximo e aí eles diziam-me: prometemos aprovar os seus comentários imediatamente no minuto após os ter submetido. e também prometemos reclamar com a direcção sobre isso de os assinantes só conseguirem ter acesso aos textos quinhentos dias depois de sairem em papel. e então eu sorriria e diria: muito bem, assim está bem, agora peguem lá chiclas e rebuçados. evitavam-se tragédias e a preocupação de depois eu ter de pensar no que faria com as águas cor de rosa cheiinhas de peles de víboras. talvez fizesse um caldo bem passado para dar de beber a outras gentes pestilentas, tudo se apriveita.
não existes, Olinda, não existes, és uma invenção. conforma-te.
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