ontem andei trinta quilómetros e fui lá almoçar, fui ao chinês consolar-me com o crepe, as gambas com piri-piri e o arroz naqueles pratos com dragões azuis tão perfeitinhos, os guardanapos de tecido branquinho com linha de água e as toalhas que não são horriveis de papel, também alvas de que se veste o apetite. e depois os espelhos em redor, !ai! que lindos, pintadinhos de pássaros e flores coloridas a lembrar que a dança dos paus - ou do garfo com a faca - é de grão e lentidão com a música baixinha e de pingpingping a passar tal e qual uma cimarra de poesia que no papo se faz ouvir. e o meu dia ficou um pouco melhor na pressa de chegar para me ligar, pensamento a passar para os dedos, com o coração a vibrar. ando sempre com o coração a vibrar. às vezes pego nele e embalo-o. sem ninguém ver meto a mama de fora e sossego-lhe a fome, dou-lhe palmadinhas para arrotar e depois sorrio ao ver-lhe o viço. porque em vez de adormecer sereninho eu tenho um coração que pula e dança e faz-me caretas de alegria em feitiço.
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