a máquina de lavar já é velhinha e está a mostrar as suas rugas na roupa, é o que é, antes não precisava de passar a minha roupa e agora quilho-me porque há peças de saem de lá como se pele muito vivida fossem. eu gosto nadinha de passar a ferro mas sei que a tábua é como se fosse uma prancha de surf mas invertida na sua finalidade: enquanto estou horas a surfar na roupa os pensamentos estão, não ausentes, a florescer. de maneira que nascem mil variantes de um só pensamento e eu tenho de os apanhar a todos. continuo sem perceber por que razão toda a gente quer visibilidade, palmas, reconhecimento, exibicionismo na praça pública. e depois, talvez me julguem à sua imagem, enviam-me convites para partilhas de intimidade sexual. então não sabem que para haver intimidade é preciso intimidade e privar essa intimidade? pois devo ser uma et, concluo, porque quero nada disso: quero ficar no meu cantinho e amar e ser amada - amada e fodida - por quem eu amo. é o amor e o sexo juntinhos como fantasia em um só. tão lindo. isso é o que eu queria que fosse. e é só. isso é o combustível e o comburente e a combustão da vida como eu a desejo em estado óptimo e excelente em melhoria contínua. porque tudo o resto se faz à volta daquilo que é, para mim, viver: viver é arrecadar memórias orgânicas de ser e de estar. e eu só quero deixar a minha marca, uma marca óptima, em quem se cruza no meu caminho: essa é a minha contribuição para o mundo, esse é o único poder que tenho ao meu alcance.
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