eu não sei se isto é normal, estou sempre a transpirar da cabeça, fico com o cabelo encharcado. bem sei que não aguento o calor, já durmo com a ventoínha a mim virada desde março, fico a pingar e depois mesmo mesmo cansada. estou farta de calor e de ficar melada, quero fresquinho e estou tramada porque o verão ainda mal começou. o que vale é que o meu leque não se gasta, tão lindo, cor de creme com dourados e hoje comprei uma bolsa de meia lua cheiinha de rosas para arrecadá-lo, não gosto que ande aos tralhos dentro da carteira misturado com creme das mãos, batons labello de melancia e de rosas, desodorizante, escova, saco de compras sos, carregadores, guloseimas sem açúcar, livro, caneta, bloco de notas, óculos, ganchos, elásticos, pensos e pensinhos e mais quinhentas preciosidades que carrego. pareço uma cadela de carga, já tentei mas não consigo sair de casa sem tudo. mas como estava a dizer, estou a pingar, a Valquíria também era assim, sudava pelo cabelo. agora só a vejo com aquele olhar terno, terno e curioso, e a língua de rolinho de fiambre de fora. que saudades da minha Val, com ela eu podia chorar e ela chorava comigo. depois lambia-me o nariz e a boca e os olhos e eu ria-me. e adormeciamos ambas a tocar uma na outra nem que fosse com uma unha. e se uma acordava a outra acordava também. também ela, por vezes, tinha pesadelos, fazia uns sons estranhos e os olhos mexiam muito semi-abertos. então eu sussurrava-lhe está tudo bem, eu estou aqui e o coração batia mais devagarinho, aquele coração que começou a parar antes de ela querer. um dia também será pelo coração que vou morrer, isso é certo, um dia o meu coração vai cansar-se de tanto sangrar e morre, avisa-me antes, digo eu, talvez do género se não páras, páro eu imediatamente - e pára antes de eu parar o que me está a pedir e eu não poderei fazer com que me ouça a dizer aguenta coração.
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