diz ele, o Gonçalo M. Tavares, e diz - aparentemente - bem, que seduzir é como um quadro que não cansa - uma espécie de promessa infinita e visual. diz que a moda entra pelos olhos, interpretação minha, que a moda existe porque os outros têm olhos. então e se o outro for cego, Gonçalo? e se for um cego a querer seduzir o outro, Gonçalo? presume-se que a moda é uma outra limitação dos cegos? e que a sedução lhes é interdita? mantenha-se a parte da promessa infinita e retire-se o visual. e é aqui que a aparência colocada entre travessas, lá em cima, entra: a moda é, sim, uma questão de aparência - tal e qual como a sedução. isto porque não acredito na sedução planeada e monitorizada, assim como não acredito na moda. a moda é uma espécie de partido político ou de religião ou de clube de futebol: uma vez vinculados às suas linhas jamais delas se sai (aqui a moda assume um ponto a mais, ou a menos, que os outros exemplos indicados - a capacidade de ser interminavelmente mutável no tempo. pelo menos aparentemente, lá está, a aparência liga com a moda mais uma vez: é que a moda vive do reviver), ainda que deixem de fazer qualquer sentido.
andar na moda, fazendo e consumindo moda, é para os que olham e não para os que vêem; andar na moda tem tudo que ver com seduzir, de facto, tapar aqui e descobrir acolá em série como se o geral fosse, e parece que é, o rosto que carrega os olhos que olham quando é no particular que estão todos os olhos que vêem. a moda e a sedução são embustes sociais: assim como quem anda na moda procura a desvirtuação do dentro pelo fora também a sedução só acontece quando sequer pensamos que estamos a seduzir. atrevo-me a dizer que seduzir é, não como um quadro que não cansa, como um campo baldio que não cansa de nos surpreender - e aqui há olhos mas também narizes e mãos e pés. e barrigas e almas. e sexos. e flores. e terra e pedras. aqui há tudo.
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