quinta-feira, 20 de outubro de 2011

lastre






prenúncio de sorte, mudança a vapor
no vazio se veste
escala sem pressa, cor ante cor,
sabe de cor, a alegria,
que para se encher esvazia
lastre






o amor usa cachecol

agora ainda acordo mais cedo só para sentir a brisa fresquinha do orvalho na ponta do nariz. e de repente, estas coisas surgem-me assim sem pedir licença, penso que o amor é bem mais do frio do que do calor porque precisa de acrescento, mais e mais, para ficar erguido. e nu.

(não é estranho imaginar o amor de cachecol - é quentinho)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

chibatadinhas de amor

fiz ontem, ao fim da tarde, a minha primeira colheita de cidreira, oregãos e hortelã - a salsa ainda não cresceu e o que fiz foi dar-lhe chibatadinhas de amor, o mesmo é dizer que esfreguei as minhas mãos nela para lhe soltar e espalhar as sementes, para fazê-la viver.

e andei a pensar numa música para celebrar.



terça-feira, 18 de outubro de 2011

doença terminal

se não conseguimos ver um mundo propriamente educado e limpo e dócil às regras, se não coubermos na razão do cabresto, antibiótico que esteriliza a vida - estilizando-a à matemática e à lógica-, somos decadentes e vivemos, em desordem, em poesia existencial, mesmo mesmo, difícil de tratar?

então essa doença é a minha e acabei de descobrir qual é o meu malzinho.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

camas do povo




sua flor, que é minha e tua
jardins nossos, garridos, lavados e com cheiro a novo
tesouro, aos olhos, maior não há
e eu, rainha decreto
os lençóis de papoilas as camas do povo!

hey

cresci a ouvir o Julio. e o Roberto. hoje apeteceu-me, em sintonia com a rádio que fez de lembrete, esta:


domingo, 16 de outubro de 2011

morte embarcada

não. não está meio olhado nem meio por olhar; nem meio suspenso nem meio por suspender;
não está meio puxado nem meio por puxar - não, não está.  estas águas não entram em conchavo, são de tino, brilhante, molhado, maré viva do que o mar faz prever - não está meio olhado nem meio por suspender: está, embarcado, a morrer.


sábado, 15 de outubro de 2011

poesicida

acabei mesmo agora de pensar que quando um dia eu me acabar será porque a poesia acabou comigo.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

ternura





usa barba rasteira, a ternura – é relva regada, aparada, meiguinha, que passeia em meias de lã. e vive do eco do silêncio, sem amargura, sorriso em sorriso: é assim o hoje que se calça de amanhã.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

o que se pode aprender nos baptizados

ouvir e rir muito é, sem dúvida, a melhor forma de passar o tempo em certas festas convencionais. por exemplo, comer uvas um dia inteiro para emagrecer é das coisas mais hilariantes que há se atendermos ao facto de isso implicar andar a cuspir caroços chatos quase ininterruptamente. imaginar um gato que incorpora um espírito e se transforma em vaca também - isto bem explorado comprova o sucesso dos restaurantes chineses. prestar atenção à conversa de duas mulheres que se debatem sobre o pressentimento de o salão de festas as remeter para uma caverna ancestral e imaginar, tal e qual um casting para a Hanna.Barbera Productions, qual delas mais se parece com as personagens dos flinstones. o truque de quase arrancar a etiqueta de um casaco - quase porque a intenção é ficar semi-operacional, para devolvê-lo após a festa, também dá que pensar no tamanho da crise na cabeça das gentes: aquela coisa do usar o que não se tem é meio casaco andado para mostrar que as aparências desiludem.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

doravante



tela cinzenta de olhar, não é, oásis sem dissipação - são assim os encantos invisíveis, perto dos olhos, barcos em águas constantes, rios discretos de agitação, desenhos serenos. doravante.

domingo, 9 de outubro de 2011

deusas de calor




ai que furor!, erectas de bom humor!, reinas d'encantar jardins! - vão, vestidas a rigor, em olhos de alegria, curar fígados, embelezar com mestria: são deusas de calor.

sábado, 8 de outubro de 2011

o mundo em doze linhas

o mundo está assim: acha-se, 
achar é um verbo que inocenta a culpa de usar o que não é nosso, 
uma carteira carregada de notas, 
e de identidades,
avalia-se se a pele é genuína, 
uma pele genuína é aquela que tem punção cara,
corta-se aos bocadinhos todo o recheio à excepção das notas,
cortar tudo é igual a isto nunca aconteceu,
e gozam-se as notas com o gozo de gastar o décimo terceiro mês.

e a vida segue,
de quem não sente as voltas de uma caganeira a chegar,
com tranquilidade.


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

céu de liberdade




é como o céu, de azul pintada, e rochosa, a liberdade: metade de abertas, risonhas, ao sol e a outra metade em quadrados, escravos, da saudade.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

epifania d'amor




diz ele, e bem, que "as andorinhas são uma aceitável metáfora para os amores da adolescência e as incertezas da velhice."
e eu, digo assim:  


são amores-menina, são, são sonhos pendurados no ar, em filo d'epifania, sem abrir e cerrar fila.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

os podres não estão para mimos

ofereceram-me um saco, em plástico resistente, pintado de mulheres, desenhadas em antigo, e de dizeres, ideal para transportar mimos - bolos ou rissóis ou o que levo quando vou jantar a casa de amigas. o destino que lhe dei, logo no imediato, quando os meus olhos lhe pousaram está agora desfeito. enquanto o apreciava com toda a minha atenção, ainda só o tinha mirado ao de leve, por entre o pequeno almoço, descobri-lhe um podre tão podre tão apodrecido que o sonho de ele ser o meu transporte de mimos desfez-se. virei, revirei, tentar perceber ironia ou escárnio, algo que justificasse tamanha desilusão. mas não, está mesmo podre o saco: por entre as palavras desenhadas aparece maçagem em vez de massagem. eu até tentei que o sentido da frase recaísse para o linho. mas não, não há escapatória possível: o suposto transportador de mimos terá o que merece: vou recortar a palavra aprodrecida - e como depois ficará um buraco enorme que retira utilidade ao saco, irá para o lixo e para junto do que cheira mal.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

viva o rei! viva!

durante a madrugada fui tia, quero dizer tia em estado activo porque já o sou desde que ele nada nas águas do dentro, pela segunda vez. ser tia de dois reis não é fácil, é um desafio constante. e se for um rei da estirpe do outro, ai que reinado! de gente, ai que amante do saber!

(agora só quero pegar-lhe e dizer-lhe, em abraço de cristal, que sou a tia amoricultora do seu reinado)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

flores, perdão, escolho uma


 chamo-vos deusas,
reinas dos sentidos,
o que seria dos homens sem vós,
que são sementes da história,
estaríamos, estou certa, perdidos, 
ah, queridas ternuras da glória!


as flores fazem, também elas, a história da humanidade – e o que seria da humanidade sem jardins e dos jardins sem histórias de flores? religião, mitologia, folclore, alimento, medicamento, ideal, sentimento, celebração: elas cabem em todas as nações, gerações e ocasiões. 

talvez a rosa seja a mais marcante de percurso, muito antes da coroação de cloris como rainha das flores e da rosa como símbolo do amor e do desejo e emblema do silêncio e do sigilo, reza a história que a forma selvagem da rosa possui espécimes fossilizadas com mais de trinta e cinco milhões de anos.

no século V a.c. os chineses extraíam óleo das rosas, cultivadas no jardim do imperador, a ser utilizado pelos nobres; cleópatra tinha uma paixão por rosas. durante as festas em atenas jovens de ambos os sexos, coroados de rosas, dançavam nus na sombra do templo de hymen para simbolizar a inocência da era de ouro; os romanos acreditavam que ao decorar os seus túmulos com rosas iriam apaziguar os manes (espíritos dos mortos); nero era louco por rosas; durante os generosos jantares, pétalas caíam dos tectos dos salões de banquete; cristãos viam na rosa o símbolo de paganismo, orgia e luxúria - tertuliano escreveu um volume total contra a flor; em liturgias católicas, a virgem maria é chamada "rosa mística"; depois de leão IX ter sido eleito papa em 1084, instituiu a cerimónia da rosa de ouro - muitas variedades foram perdidas durante os anos entre a queda do império romano e da invasão muçulmana da europa. durante as eras das trevas, as rosas encontraram refúgio em mosteiros. a rosa tornou-se num importante símbolo heráldico; durante a "guerra das rosas", a casa de york foi simbolizada por uma rosa branca e a casa de lancaster por uma rosa vermelha - a paixão por estas flores e respectiva propagação, nasce da frança para as ilhas britânicas e em toda a europa ocidental para a américa e austrália;  a rosa selvagem é a flor do estado de iowa, dakota do norte, geórgia e nova york. é também a flor oficial da Inglaterra.

mas de entre as flores, sendo a rosa privilegiada de história, não é que goste de contrariar mas, antes, de quebrar a rotina dos textos, escolho a orquídea - flor com longa duração de vida e particularmente perfeita. com aparência elegante e jovial, costuma chamar a minha atenção imediata: veste-se de exotismo e, invento, incomumnismo, evocando-me refinamento e inocência, sedução e delicadeza.

no mundo, fora do meu mundo, existem cerca de trinta mil variedades de orquídeas e cerca de trezentos e cinquenta géneros na américa latina.

(dizer mais será incomodar-lhe a rara beleza)
vontade de fazer fascículos. vou burilá-la, as vontades são para ser buriladas, e concretizá-la.

domingo, 2 de outubro de 2011

caldo de lágrimas



ouve-se, por aí, que todas as fases da vida são para ser aproveitadas - senão rentabilizadas. talvez com um conta gotas se consiga captar lágrimas e armazená-las em frasco para serem reutilizáveis na culinária e em vez da tradicional frase "adicionar sal qb" passe a usar-se "adicionar duas colheres de caldo de lágrimas. tenho a certeza absulota que é isto que falta para as receitas serem, feitas da cozinheira também produtora da iguaria, verdadeiramente originais.

sábado, 1 de outubro de 2011

música, peixe e quentura

a rádio, que de vez em quando parece escutar-me, presenteou-me com estas músicas por entre o amanhar do peixe fresquinho e o acender do fogareiro quentinho. ou, pelo menos, eu quero que fique. que bom.


o riso e a semântica

o riso é dos domínios do diabo por implicar o festim da alma. mas também é coisa dos anjos pela leveza que produz. mas quando há riso sem festim nem leveza, por mera imitação, ele é simplesmente ridículo.

(e a questão é que há, de facto, dois tipos de riso - sei bem distingui-los - mas uma só palavra, riso, que não os denuncia)

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

caridade também é...

ir a uma sex-shop escolher um kit especial para uma amiga, envergonhada, oferecer ao marido.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

se o dente está podre...

falam com espanto daquilo que nunca sentiram ou fizeram. falam como quem fala de comida sem nunca terem cortado, ao de leve, um dedo na tábua. mas falam. devia, de vez em quando, ser interdito falar tal como é interdito passar ou fumar. mas não é - e é por isso que há bocas em que os dentes apodrecem com rapidez.

ir a cheiros

é de manhã cedo ou durante o coito do sol com o mar que as praias ficam desertas de olhos e de pés. e é nessa altura que a água gelada, e salgada, espera cheirar-me a pele até aos ossos.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

janelas que dormem

camadas de paixão ardente
que de fora para dentro
lambuzam os olhos
até manchar
e ficam às portas sem entrar, tal e qual o compasso sem tapete de flores
porque são assim, umas e outras, as janelas
por conta de se descansarem belas: são amor por acordar

abóborar

 quando aparece uma abóbora gigante, elas não querem - gostam de abóbora em pequenas embalagens, aos cubinhos, completamente despida para mergulhar na sopa. e quem fica com ela sou eu: carrego-a e fico sempre com vontade de a deixar em cima de uma mesa para poder olhá-la, apreciar-lhe as linhas rugosas e as curvas tortas.e assim fica alguns dias. mas como, se a culpa fosse dos meus olhos possessivos, inevitavelmente se estraga, pego-a, antes que isso aconteça, como a uma jarra de flores, escolho a faca mais afiada e começo a recortar-lhe a primeira existência:  faço-a em gomos grandes, dispo-a, separo-lhe as pevides e deixo-a prontinha para ser congelada até, a pouco e pouco, ser vitamina salgada e doce na panela. este ritual, que envolve algum tempo e disposição, aguça-me o valor que lhes dou e faz com que cada vez goste mais delas.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

teleturbar

nunca entendi, não entendo e julgo nunca vir a entender, a coisa de telefonarem ou enviarem mensagens fora de horas. entenda-se fora de horas o tempo em que um simples cabelo, se cair, me espanta o sono. de resto e como anda sempre a cair ao chão - pode ser que o telefone, se tiver alma, fique perturbado tal e qual se deixa usar para me perturbar.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

trio admira - o lembrete que existe nada, o verdadeiro verbo nadar



o que têm em comum este video, um peixe num aquário e um espelho?

tudo nada - têm o nada em comum. o video mostra nada; o peixe só, nada mais faz, nada e o espelho nada reflecte a não ser o que há para reflectir.

domingo, 25 de setembro de 2011

a minha ignorância

desconhecia completamente que as minis se abrem com o clique de uma lata de atum e foi ontem, pela primeira vez, que, em clique para o meu pai, tive contacto com uma.

sábado, 24 de setembro de 2011

e se...

e se os sonhos de olhos cerrados forem frangrâncias alarmantes de futuro - do tipo sininhos secretos; privilégios de cinema sem olhos; brilhos, do sono, indicativos?

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

absorver, não exibir, a beleza



existem mundos, no mundo, que nada nos dizem. olhar as joias, tantas delas, tamanhos e formas diferentes, sem fantasiar, por um segundo que fosse, um bico de decote ou um pulso ou um dedo meu com elas. reter, sim, reter os brilhos e as texturas e, sim, fantasiar uma memória descritiva para cada uma delas: fazer sínteses mentais de cada escolha realizada de cada um que a realizou como se cada uma precisasse de uma história muito antes de precisar de uma utilidade. talvez, ainda estou a pensar, considere que a arte da joalharia não pode ser confundida com fatuidade e daí o meu desapego ao desejo de enfeites estilo árvore de natal. e depois, até hoje não houve quem me soubesse explicar convenientemente, faz-me uma tremenda confusão chamar jóia a um bocado de couro com cortiça quando serão os metais e as pedras preciosas que fazem o estatuto de jóia - pela perspectiva da mistura de materiais não preciosos com os preciosos, entendo joalharia contemporânea mas apenas ao uso dos primeiros, tamanha é a grosseria, chamo-lhe multi-pechisbeque.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

e tu, com quem fodias em troca de paz no mundo?


ela propôs-se a fornicar com Saddam Hussein e Bin Laden e isso valeu-lhe uma pensão vitalícia de três mil euricos mensais. não, não estou a falar - por mais que pareça justo - da Paula Teixeira da Cruz; tampouco me refiro à miss universo até porque, está à vista, os americanos gostam mais da paz do que quaisquer outros. falo, pois claro, da Cicciolina.

(até me está a passar pela cabeça, mesmo agorinha, se não a poderiam importar para equilíbrio das contas: por exemplo, ela fornicava com o Jardim e em troca o buraco voltava a ficar encoberto por mais uns anos; à medida que fosse chupando o Passos Coelho e ela fosse crescendo, ele serenava e deixava de se masturbar com os impostos; e por aí adiante. também podia ser bem útil no combate aos crimes sexuais: oferecia-se como voluntária a favor da energia nuclear dos tarados e maníacos. e tudo por uma módica quantia de três mil euros por mês em tempos de austeridade apertada. 

e então, já estás a abrir o fecho das calças sem pensares nos cordões da bolsa, Governassos?)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

picante

falo que não são falos nem picam: são flores que nascem na noite beijadas pelos morcegos, regadas de açoite,
e piripiram os olhos no dia.

sonhos cabeçudos

parecem estátuas de chocolate mas não são: são as cores equilibristas da fruta que, sem engonho, penduram as cabeças no sonho.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

fresco de mentol para as costas

os nós ao fundo das costas são aquelas bolinhas que só sentes quando passas a mão e não há dor - mas há um desconforto imenso, aquela sensação de inflamação. pois descobri uma boa terapia: desfazer beringela a cru e colocar a papa numa meia de algodão. amarrá-la bem e afundá-la numa panela com água até imediatamente antes de começar a ferver. depois molham-se toalhas na água quente que vão sendo postas, alternadamente, na inflamação. além de um bem estar imediato, a casa fica com um cheirinho maravilhoso a fresco de mentol. verdade.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

até pode parecer que não

na minha cozinha há um sofá, já foi outro mas agora é este, e nem imagino a cozinha sem sofá. mas na gaveta do armário da cozinha não há quebra-nozes. isto pode até parecer que não faz sentido mas faz: as nozes que andei no outro dia a apanhar lá estão, pacientes, à espera que eu as coma e não se importam que eu as faça feliz à martelada - mas tudo o que eu sei que elas, também sabem que eu sei, querem é descer o canal, tranquilas, por entre enchorradas, nem sei se esta palavra existe mas se não existe passa agora a existir, líquidas até repousarem, moídas pelo cansaço, no sofá.

o quebra nozes é, portanto, perfeitamente dispensável na cozinha. o sofá, as nozes são defendentes dos sofás, é que não.

sábado, 17 de setembro de 2011

bora lá fazer cartoons

se eu soubesse desenhar...

1. Merkel, uma gorda mal fodida, frustrada, a cagar - não postas - pescadas inteiras e a distribui-las pela europa;
2. Berlusconi, pénis bem erecto, a meter telefones, quilos deles, ao bolso;
3. Passos Coelho, de branco vestido, a acarinhar cada um dos seus filhos, anões, ministérios sendo que o maior dos mais pequenos está sem braços e sem pernas e a chorar muito com um plano CRI na boca;
4. Alberto João Jardim nu e cheio de dores de rabo por conta do clister- merda que saiu até fazer eco;
5. os EUA a darem banhada ao povo com balões de água onde cada balão deverá representar uma placenta de esperança.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

dar murro, ser beleza

chamam-lhe imperfeição, olhos no coração, mas eu dou um murro na mesa: de pernas para o ar, imperfeitamente perfeita, chamem-lhe como eu - chamem-lhe beleza.

olhos e ouvidos, pensantes, sentidos


ontem comprovei, para mim, que os homens quando são, e apenas, pontualmente queridos são uns traidores.

(ela continua armada em fina, e em boa (está convencida ser a mulher moderníssima que o dobrou), e ele continua a fodê-la. e às outras também. concluo, portanto, que sou uma excelente analista da política sexual contemporânea. dá cá mais cinco, Sinhã)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

mãos e pés descalços

pensando bem, andar descalça faz o mesmo efeito que fazer trabalhos manuais sem luvas: a sensação de estar em contacto com as coisas não as deixa escorregar e cair. com os pés é igual: é o sentir as bases por onde passo que me faz andar erguida.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

saxofone em silêncio não é crime

esta notícia tão ironicamente bem contada comoveu-me. e eu estou aqui, Constantino - chamo-te guardador de sopros e de sonhos -, para dizer que acredito em ti. e a ti, e a ti, e a ti, e também a ti, Sílvia, caneco, quero dizer-vos que é verdade que há bocas que tresandam a álcool sem o beberem - em criança, uma das empregadas que passou lá por casa tinha uma doença no estômago e tresandava a álcool pela medicação que tomava: não bebia senão água. acredito no amarelo e, à primeira, na Segunda. acredito em tudo, sim. acredito principalmente no abuso de autoridade e na caça às multas e na caça às vidas.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

seborreia por contágio




pelo menos uma vez por ano sinto-me obrigada a procurar as mãos de profissionais de cabelos, não porque estejam estragados, para dar-lhes forma. é, no entanto, um momento de grande sacrifício e ando dias e dias a mentalizar-me que alguém desconhecido vai estar a massajar me o cabeludo e a usar nele pentes e escovas e tesouras indiferenciadas que rolam de cabeça em cabeça. é como se cada um dos utensílios carregasse uma colónia de cabelos, e talvez outras coisas, de cabeças sem identidade. e depois há o tempo de espera debaixo do zumzum do secador e das vozes tagarelas em simultâneo e do lixo das cabeças dos outros que quando é aparado salta, atrevido, para nós e faz comichão. e depois é o aspecto do cabelo das cabeleireiras que quase nunca faz jus à profissão e é pintado com a raíz a descoberto e seco e teso. enfim, todo o cenário envolvente faz caspa. mas, como já disse, pelo menos uma vez por ano obrigo-me a ter caspa. 

desta vez, porém, não foi com caspa que saí de lá. 

conversas cruzadas, há sempre uma ou outra que nos entra, mesmo sem pedirmos, no ouvido. falavam de emigração para áfrica e no quanto é difícil para um casal ficar separado - não pela saudade, não pela falta emocional, não pela interrupção espacial e temporal do projecto a dois, mas pelo risco que correm em serem encornadas com pretas. e a conversa segue: despertara, a esta altura, a minha atenção não pelo tema mas por o problema em causa ser preto (cheguei, entretanto, à conclusão que se fossem encornadas por brancas a coisa passava). vim a perceber, mais tarde, que a cabeleireira estivera emigrada uma data de anos na áfrica do sul e que era dela que a conversa tinha surgido. cabelo ainda por podar, levantei-me e vim embora quando, a certa altura, ouvi: lá não senti problema algum porque era normal mas cá, e atenção porque eu não sou racista porque tenho amigos pretos, quando vejo um preto, expressão facial de nojo, atravesso a rua.

como poderia eu colocar nas mãos de alguém assim a minha cabeça? imaginei aqueles seus pensamentos filhos da puta, terroristas, avançarem para as suas mãos. sim, porque o que pensamos extende-se a cada centímetro do corpo - nós somos criaturas inteiras.

desta vez, porém, não foi com caspa que saí de lá: foi com seborreia.

domingo, 11 de setembro de 2011

saudades à soleira

parece apenas um, mas são muitos - homens por dentro do tempo: homens que choraram e que riram, saudades à soleira subiram, nas janelas com cortinas de vento.

verdes fundos



gostava tanto de ter um telhado verde.

(saber-me com uma árvore por cima do meu tecto alimentava a minha carência de raizes e de profundidade)

sábado, 10 de setembro de 2011

a vida e o destino. ou a veia e os sovacos


há quem confunda estar apaixonado por si próprio com estar apaixonado pelo seu destino. o meu Kundera explica isso muito bem, no livro do riso e do esquecimento, mas eu também não lhe fico atrás. (nem à frente. fico, talvez, saltitona, ao seu lado visto que as pernas dele serão bem maiores do que as minhas e apenas dois passos dos meus conseguirão acompanhar um dos seus.)

dizia eu, então, que esta confusão existe quando não é o destino que faz algo pela felicidade, por todos os pilares, senão tarecos, da vida de alguém mas será esse alguém, na sua vida, que faz de tudo pelo seu destino - sente-se responsável por ele sem ele se sentir responsável por si. há, aqui, portanto, uma espécie de amor não correspondido: alguém ama um destino que não o ama a si simplesmente porque leva em consideração os pressupostos da vida desse alguém e não os pressupostos desse alguém sem vida. sim, nós existimos sem vida - se perdermos o emprego e a casa e a conta choruda perdemos a nossa vida, a dos tarecos, mas não perdemos a nossa vida enquanto vida. estou a ficar confusa. mas com convicção.

pensar, por exemplo, em basílico no destino será arranjar sovacos onde não estão - para a veia ter mesmo de por lá passar. mas não é a veia da existência - será a tal veia da vida, dos tarecos.

talvez seja mais fácil rematar, agora, e concluir que é assim que a vida se transforma em destino e que a existência passa a ser de tarecos. mas a esta altura já deturpei a visão do Kundera, já lhe retirei e acrescentei conceitos e esta vida e este destino passaram a ser conceitos só meus. como eu gosto.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

até à quinta e depois dela



a praia não é o sol; a praia é o sol e os outros: as cócegas dos grãos da pedra no mindinho e a brisa do vento fresquinho e o sal do som do mar. a praia é a onda que faz ser onda e as gotas perdidas que fazem ser gota e o vento manso e fininho que faz ser movimento e a areia que faz ser pó. e tudo por debaixo de um sol que faz ser superfície.

(se assim não fosse, sol por sol, bastaria a quinta nota a quente)

está bem, então

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

se és mulher, não vás sozinha inspeccionar a viatura

é incrivel como é completamente diferente, para uma mulher, ir sozinha fazer a inspecção do veículo ou ir acompanhada por um homem: de acordo com a segunda premissa, verifica-se e confirma-se - é mais rápido, mais objectivo e não reprova.

(penso haver, assim, uma espécie de gaytonia implicita que inibe a testosterona de se evidenciar)

ir pensar é um verbo, não são dois

esta coisa dá que pensar. vou pensar.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

el's matadores

o que é que a mata mata, além dos olhos com a sua beleza?

(é que eu hoje vi dois homens, quase idosos, sairem da mata perto da praia: um apertava as calças e o cinto e meteu-se num carro e o outro seguiu o meu caminho. sairam juntos da vereda que vinha da mata mas cada um apanhou o seu rumo. será que as matas também matam outras coisas - mesmo ali, entre vivendas familiares?)

cópia gordurosa roscofe



se há governos que tencionam aumentar os impostos sobre os alimentos gordurosos, como a Hungria e a Dinamarca, para combate da obesidade e, desta feita, diminuir os gastos de saúde - outros há, como o nosso, que quererá copiar a ideia apenas para arrecadar receitas. senão vejamos a coisa numa perspectiva obesa: se o povo anda sem guito, procura almoçar ou jantar barato. e o que é que é barato? é a comida de plástico. então, o aumento dos impostos nos plásticos comestíveis só vai trazer duas coisinhas para o povo: o aumento de peso e o aligeiramento, ainda mais acentuado, dos bolsos - é que ainda continuará a ficar mais caro preparar um jantar de fritos, ao preço que anda a luz, o gás e a água, em casa. ademais - quem é dos fritos, é dos fritos e há-de morrer assado no espeto se mudar para os cozidos e grelhados.

(fazer cópias de ideias inteligentes de economias que em nadinha se equiparam à nossa é, no mínimo, de uma magreza mental colossal)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

rodas do mundo

são vidas, umas sobre rodas erguidas e outras de rodas para o ar, na vida de um mundo que vive, não pára, do pedalar.

da fórmula do provérbio sábio

fazer o luto por aquilo que já, ou nunca, tivemos é estranho. e arde. e se o que arde cura e o que aperta segura, acabei de encontrar a fórmula mágica: deixamos, de segurar, cair - começa a arder e cura.

domingo, 4 de setembro de 2011

i just write to say i love u, música

a música possui um poder incrível, inigualável, mágico. se é verdade que gostar desta ou daquela depende do estado de espírito também não o é menos que é ela que tantas vezes o condiciona. a música remete-nos para o nariz, para os olhos, para a boca, para as mãos, para a vida. e senti-la faz-nos, tantas vezes, sorrir; e senti-la faz-nos, tantas vezes, chorar. a música é, assim, uma espécie de bálsamo para a alma porque não é à toa que nos massaja memórias ou nos desperta desejos. e prolonga-se, o seu efeito, muitas vezes, pelo dia dentro ou por vários até. e depois surge outra que desmontamos até à exaustão para lhe beber o trago da alegria ou da tristeza: dissecamos a música para apurarmos emoções contidas, guardadas ou novas. musicar é tão ou mais importante do que comer ou beber ou defecar - não porque desse verbo depende a sobrevivência - por nos remeter para a essência do que será viver.

e porque viver começa por dentro do mundo do mundo, musicar é preciso.

(hoje, tenho a certeza que não foi por acaso, ouvi esta música. estava a precisar dela para recordar onde a costumava ouvir, rumo à escola na frequência da festival com o meu pai, e transportá-la, fazer a ponte, para os tempos de agora e ganhar força com o que significa ser pai e dar e ser filha e receber. e nem sequer interessa se gosto, sim: gosto muito, ou não - importa que por algum motivo me marcou. obrigada por existires, música.)

sábado, 3 de setembro de 2011

pequenas grandes preocupeixões

tomar conta de peixes é um sobressalto constante: de vez em quando eles ficam quietos, sem se mexerem, e lá vou eu saber se morreram. no outro dia dei-lhes uma goma, por ter percebido algum azedume no seu nadar, mas, depois, passei o dia preocupada com a diabetes.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

lu(z)cidez

ciclone de luz suspensa, pensa, escuridão por relatar: são os homens, pensa, que fazem das trevas os caminhos que o vento, pensa, faz clarear.

qualquer - a palavra que faz a diferença

a fidelidade está em vias de extinção - a capacidade de se ser verdadeiro e leal com quem se está, não por princípio, não por opção, não por se estar com o "não é bem isto mas é melhor que nada", por se sentir que com quem se está é com quem preenche tudo o que é estar. e perceber e sentir que até o homem que vive com a mãe de uma grande amiga, por convivência amigos também, está a mostrar e a forçar o estreitamento de relações comigo à margem da mulher com quem está - a mãe de uma amiga que é amiga também. a resolução do problema passa, obviamente com ele, por não lhe dar importância, por recusar os seus convites, por fazer de conta que esse seu interesse é apenas de carinho por afinidade. a questão desconfortável para mim, que é o que interessa, é o nojo que sinto por mentiras, por mostrar que tudo está bem, e pela sua deslealdade com ela em detrimento da sua vontade - não correspondida por sentimento, por vontade e também por opinião arraigada - comigo. quem não está bem só tem de verdadar e dispensar; é o ter de encará-los sem espontaneidade ou de encetar o distânciamento necessário para sucumbir ao fingimento. e a redoma fecha-se mais um pouco. sair de casa para alguns sítios é, cada vez mais, um perigo: não por poder ser atropelada ou roubada mas simplesmente por ser apenas mulher sem ser uma mulher qualquer.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

pénis de amor

ouvir e ver por aí, pensar, digerir, e arrotar por aqui. todo o amor que só repousa na cama é um amor doente -
o amor também é vertical, concluo. e agora, isto não estava previsto no arroto, a propósito da verticalidade, lembrei-me que
quando o amor e o sexo andam em sintonia
a imagem de uma erecção é perfeita
o amor é um pénis gigante, bem duro,
que assim se levanta e assim se deita

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

coerência humana Khadafiana

estou sim, por onde andas, tenho uma notícia terrível para te dar - nem sabes o que está a acontecer: a tua mulher e a tua filha estão a ser violadas ininterruptamente.
faz-me um favor, e aceita como uma ordem, amigo: coloca os nomes delas na lista das mulheres que faziam parte das minhas forças de segurança e fica resolvido.


terça-feira, 30 de agosto de 2011

médico sádico

tenho a certeza que quem inventou o assento das bicicletas foi um médico sádico: quis assemelhar hematomas vaginais provocados por violação, que é o que se ouve relatar, às mulheres que gostam deste carro de duas rodas. cabrão.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

pontes de fio

são pontes de ar, no ar, tantas vezes em assobio: sentir e atravessar, no chão, o ar pendurado por um fio.

Sinhãlismo

por acaso, e por mero acaso, gostei muito de descobrir que afinal, quando escrevo, tenho uma tendência literária: é o simbolismo.

domingo, 28 de agosto de 2011

deus pelado

brilhos, purpurinas dos olhos, apenas ao alcance dos meus - são sorrisos limpos das águas, dos céus, onde mora, pelado, deus.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

por exemplo: amas-te ao ponto de fazeres um assado só para ti?

amor de olhos com horizonte

são desertos cobertos de vida, água que sem ser bebida, descansos também do luar -são desertos de mar de gente, miragens de areia contente, entre os olhos e o horizonte: copular.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

pensamento apoucado, mas pertinente, sobre uma notícia real

quando um pai faz filhos à sua filha é pai tirano ou avô voluntário?
quando não há vontade de escrever não será a mesma coisa que ter prisão de ventre - pelo contrário, será mais não apetecer fazer um clister.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

papar e a língua

contaram-me, hoje, que nos motéis existem quartos com marquesas tal e qual as das usadas em salas de ginecologia.

(terá isso relação directa com o papanicolau, sendo nicolau um sinónimo de vagina? também poderá ser um forte indício de que, confirma-se, uma Língua precisa de total abertura)

sábado, 20 de agosto de 2011

piscar de pétala

piscam as pétalas como quem descansa os olhos - para escorrerem as lágrimas doces, derramadas pelo céu, pingadas, tão serenas, aos molhos.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

olhos de omega 3

se o peixe soubesse que vai para comer queria, com toda a certeza, fazer um clister e esfregar-se até sair a escama.

(é que o peixe sabe, talvez seja do omega 3, que os olhos também comem)

terça-feira, 16 de agosto de 2011

conflito e negociação

os males do mundo começam sempre em casa e um bom chefe de família lá terá de ser um bom negociador de conflito - não pode ter cor e muito menos ser benfiquista.

(mas só porque o vermelho acende, porque foram treinados, os touros de morte)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

barcos em masturbação

areias gordas, são godos, que seguram as embarcações - mas não seguram as águas que vivem por dentro delas que, agitadas, são mãos a masturbarem corações.

vendeu-s

se deus precisasse de intermediários seria um mero comerciante.

domingo, 14 de agosto de 2011

verdaleta

manet gostava de violetas o que, na verdade, significa que gostava da verdade.

(violeta, mais do que impressionista, é uma cor impressionante)

a emancipação do caralho



folhear e desfolhar uma crónica da cidália, do sexo e a cidália, da cidália e a pornografia. a certa altura, e na tentativa desesperada de igualdade de géneros como argumento, ela assume consumir pornografia. bravo, não vejo mal algum, desde que se tome essa opção como individual e não como um pretexto de emancipação da mulher. isso será, sim, assumir que a pornografia é uma espécie de alforria e, em consequência, são os pénis senhores a libertarem as vaginas escravas. ora a pornografia entre pilas e pitas são sempre longas metragens de pura escravidão - se fosse a tal alforria poderia ser vista a tal vagina ser invadida por uma ou mais línguas mas não: são as pitas e as bocas e os cus delas que são invadidas por pilas, quantas mais melhor, para com essas imagens ser passada a mensagem da virilidade e do poder masculino. tudo falso: nem as erecções demoram horas ininterruptas, nem as pitas são escorregadias e, com toda a certeza saberão, digo eu a pensar nas escovas de dentes fininhas que as anorécticas usam, que uma pila enfiada até à garganta deve provocar falta de ar e principalmente o vómito. mas pronto, a cidália assume que se excita mas não sabe explicar com quê - nem responder a um namorado quando lhe fez a mesma pergunta. mas sabe dizer do seu espanto, do dele, quando lhe disse, vaidosa, que consome; mas sabe dizer do seu espanto, do dela, perante o espanto dele por não ser muito frequente uma mulher gostar de pornografia. o espanto dele é perfeitamente compreensível, ó cidália, ele não estava à espera de saber que livros é que lês e ao mesmo tempo que achas piada às lubrificações marteladas - é que pelos livros que lês ele poderá conhecer-te um pouco melhor mas pelo consumo de pornografia, que nem sequer sabes explicar o que te excita, ele fica a conhecer zerinho - a não ser a parte em que gostarás de filmes sem história e de alienar-te com a maior droga de todos os tempos. gostos são gostos e não se discutem - mas ele quis discuti-lo contigo e tu não não soubeste dizer porque gostas. serás, portanto, uma emancipada do caralho.

(apenas mais uma nota: podar árvores, que será uma outra actividade reveladora da igualdade dos géneros, não te aconselho: é que as árvores, mesmo antes de carregarem folhas e flores e frutos, carregam raízes - carregam histórias e as histórias, já te percebi bem, não vão à tua bola e nem de árvores reza a história. a tua.)



sábado, 13 de agosto de 2011

reeditar disto

na rebeldia de um céu que me esquece
a serenidade das águas fortes do rio parado

e o instante, o meu, único, selvagem perante o céu, a terra e na água, que - inversamente ao normal das gentes - não veio à superfície e assim,  durante horas, permaneceu

(nojo? nojo algum. até parecem dois polvinhos)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

queijabrão

variedade, tantos sabores por onde escolher, de queijos. existem, no entanto, alguns cujo leite, tenho a certeza, que lhes serve de base, não pode ser nem de vaca nem de cabra, só pode ser de cabrão.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

civilização a ver navios

é uma língua que o lambe, olhar e não ver civilização, como se de uma boca do mar : atum a dar à costa, areias virgens, a ver navios, luz construída, ficar.

torradência

decididamente: a paciência é uma virtude.

(e quando consegues torrar, num curto espaço de tempo, a de alguém é porque a prova, de que esse alguém tem-na fraquinha, fraquinha, foi superada. paciência.)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

de passos dados

quase sempre, quando caminham, passeios na areia das férias, vão aos pares. são casais com uma particularidade comum: nunca caminham lado a lado. nos mais novos, é ele quem vai dois ou três passos à frente - suspeito que quer esconder pensamentos, como se pôr para trás fizesse mais sentido quando se fica mesmo para trás; nos mais velhos, é ela quem vai na dianteira - como se estivesse a vingar do tanto que ficou para trás. e agora, agora,  já é ela quem quer que os pensamentos dele sejam escondidos porque foram passando por detrás dela.

(passeio da história: andar de passos dados é coisa rara)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

olhos em castelo

não são janelas de pedra, ogivas com finura de luz, são olhos em castelos de sonho - olhos crescidos de menina que a onda na areia seduz.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

belgas de alento

águas de limo, que são altas e limpas, molhadas de lábios rasgados: cobrem os montes dos olhos - são belgas, alimento, que correm nas veias do alento.

torno do tempo

parece homem, o bicho; parece madeira, o cimento: parecem vesgos, os meus olhos - que vêm diminuição no aumento; parecem e são: bichos e madeira - moldados no torno do tempo.

maréu


há dias em que se vê melhor o mar - aparentemente, quase sempre a sua cor reflecte a do céu.

(mas é apenas aparência porque o mar é a extensão, em estado líquido, do céu)

domingo, 7 de agosto de 2011

véspera do outro dia

apanham boleia, na embarcação da véspera do outro dia, são três, para espreitar a lua em pelota - e ver o sol corar sem timidez: a lua fica por cima, impudorada, do horizonte que o sol fez.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

musgo do céu do dentro

não cansou: voa, pousado, no escorredor de águas e de tempo, como se voar fosse ficar - em telhados de musgo do céu do dentro.

eco

não se pode dizer que vir aqui - ou escrever daqui que não é mais do que também aqui, ou lá, ou aqui e não por aqui, com gosto, com prazer, com alegria - ainda que possam ser letras tristes, seja graforreia. graforreia é outra coisa; graforreia é uma deficiência como outra qualquer. e todo aquele que sofre de graforreia é aleijadinho - inho - inho.

(é o eco do diminutivo que faz jus à deficiência)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

pinceladas

madeixas de cor, ai que bom, ai que furor, nos vestidos do verão delas: são pinceladas, ternurinha garrida, que Deus pintou em tronco nu e em chinelas.

profissão de futuro: andar às voltas com a cultura

já sabes o que queres ser quando fores grande?
grande como? eu sei que quando tiver 21 anos quero ser motorista.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

bolha. ou bulha

devo ter dormido a correr porque acordei com bolhas nos pés. ou, então, são os dedos que bulham.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

vestido oriental

olhos que vêem sol com chá e céu de caril, são olhos em bico de cheiro e de sabor que querem rasgar o timbre da noite - e o vestido do amor.

natural

a natureza por vezes estraga os planos do povo - é como o governo.

(isto pode querer dizer que o governo é naturalmente danoso)

domingo, 31 de julho de 2011

gosto, com gosto, senhor agosto

com gosto, a rasgar o céu, vem de nuvem - nuvem à grande vitesse, vem para não ficar: muito gosto, senhor agosto, sente-se um mês, depois prossegue, gosto de vê-lo descansar.