chamo-vos
deusas,
reinas dos sentidos,
o que seria dos homens sem vós,
que são sementes
da história,
estaríamos, estou certa, perdidos,
ah, queridas ternuras da
glória!
as flores fazem, também elas, a
história da humanidade – e o que seria da humanidade sem jardins e dos jardins
sem histórias de flores? religião, mitologia, folclore, alimento, medicamento,
ideal, sentimento, celebração: elas cabem em todas as nações, gerações e ocasiões.
talvez a rosa seja a mais marcante de percurso, muito antes da coroação
de cloris como rainha das flores e da rosa como símbolo do amor e do desejo e
emblema do silêncio e do sigilo, reza a história que a forma selvagem da rosa possui
espécimes fossilizadas com mais de trinta e cinco milhões de anos.
no século V a.c. os chineses
extraíam óleo das rosas, cultivadas no jardim do imperador, a ser utilizado pelos
nobres; cleópatra tinha uma paixão por rosas. durante as festas em atenas
jovens de ambos os sexos, coroados de rosas, dançavam nus na sombra do templo
de hymen para simbolizar a inocência da era de ouro; os romanos acreditavam que
ao decorar os seus túmulos com rosas iriam apaziguar os manes (espíritos dos
mortos); nero era louco por rosas; durante os generosos jantares, pétalas caíam
dos tectos dos salões de banquete; cristãos viam na rosa o símbolo de
paganismo, orgia e luxúria - tertuliano escreveu um volume total contra a flor;
em liturgias católicas, a virgem maria é chamada "rosa mística";
depois de leão IX ter sido eleito papa em 1084, instituiu a cerimónia da rosa
de ouro - muitas variedades foram perdidas durante os anos entre a queda do
império romano e da invasão muçulmana da europa. durante as eras das trevas, as
rosas encontraram refúgio em mosteiros. a rosa tornou-se num importante
símbolo heráldico; durante a "guerra das rosas", a casa de york foi simbolizada
por uma rosa branca e a casa de lancaster por uma rosa vermelha - a paixão por
estas flores e respectiva propagação, nasce da frança para as ilhas britânicas
e em toda a europa ocidental para a américa e austrália; a rosa selvagem é a flor do estado de iowa,
dakota do norte, geórgia e nova york. é também a flor oficial da Inglaterra.
mas de entre as flores, sendo a rosa privilegiada de história, não é que goste
de contrariar mas, antes, de quebrar a
rotina dos textos, escolho a orquídea - flor com longa duração de vida e
particularmente perfeita. com aparência elegante e jovial,
costuma chamar a minha atenção imediata: veste-se de exotismo e, invento,
incomumnismo, evocando-me refinamento e inocência, sedução e delicadeza.
no mundo, fora do meu mundo, existem cerca de trinta mil variedades de
orquídeas e cerca de trezentos e cinquenta géneros na américa latina.
(dizer mais será incomodar-lhe a rara beleza)