já se acredita que num futuro próximo, muito próximo, faremos download, e colocaremos na internet, do nosso cérebro.
que puta de descoberta, que dizem maravilhosa, é esta? sou de recusar sair do lugar onde estou - assim como responder à questão que, talvez em breve, se seguirá: penso logo existo - mas onde?
sexta-feira, 8 de abril de 2011
éticar
ter ética é amar: ser ético é afirmar as acções e não as palavras - é a possibilidade humana de reconhecer o outro como alguém importante e de, ao mesmo tempo, reconhecer-se nele. é o amor que nos escolhe e não pode ser o contrário, porque o amor não é um jogo: ele exige reverência, respeito, dedicação e honestidade.
(à minha moda, Tolstoi disse: chiça-penica, não faças nada que contrarie o amor.)
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Leandro Konder e uma 'aventura' com os sete - a não perder
Leandro Konder põe a nu, sobre o olhar de filósofos, escritores e poetas, usando figuras ilustrativas e epígrafes extraídas de músicas brasileiras, o que Sócrates, Marx, Camões, Balzac. Dostoiévski, Guimarães Rosa e Drummond disseram sobre o amor - esse belo e grande impulsionador das acções humanas que "teoricamente viria para mostrar aos seres humanos como equilibrar a psique, como lidar com a ida ao outro (alter) sem se alterar demais, a ponto de perder sua identidade. Muita gente teme a 'aventura' do amor e prefere renunciar a ela. O prejuízo é grande: o conhecimento da condição humana sofre com a perda da posssibilidade de viver uma experiência humana fundamental", diz o leandro, e insubstituível - digo eu.
concluirá o leitor o que quiser - ou como quiser concluir em paralelo com o que, de facto, conclui -, a literatura não pode ser de outro jeito, e eu concluo assim: o amor é a única experiência verdadeiramente verdadeira, autêntica, que permite a transição do estado imaturo para a maturidade efectiva do que é ser homem e do que é ser mulher; é no amor, e na extensão de cada um no outro, que se consegue ser. e o que é o não ser a não ser a anulação de si próprio?
quarta-feira, 6 de abril de 2011
em abril mergulhos mil
há quem pense duas vezes antes de agir. mas quando o assunto é mar e sol e areia o melhor, mesmo, é agir duas vezes antes de pensar.
dinheirar é ca(n)sar - quem fica com o n sou eu, que não sou puta
e depois há o dinheiro. o dinheiro - aquela coisa nojenta que anda de mãos em mãos e que, ao que parece, é a coisa mais importante do mundo. o dinheiro é tão importante que se sobrepõe aos valores, ao amor, ao pai, à mãe, ao filho. vive-se, mata-se e morre-se por dinheiro; fode-se por dinheiro; casa-se por dinheiro; divorcia-se por dinheiro. há quem sorria - e quem só ria - por dinheiro e também há quem chore por ele. o dinheiro não move apenas montanhas: o dinheiro move ancas, bocas, olhos, pernas, pés, mãos - o dinheiro move, acima e abaixo, tudo. o dinheiro faz com que alguém que faz poesia venda alma e o corpo da tia - e a alma e o corpo dele próprio; o dinheiro faz com que uma morena fique loira e com que uma loira fique, para sempre, loira. o dinheiro é o melhor amigo dela - o dinheiro é silicone.
(agora fiquei com vontade de cantar. o quê? o dinheiro só pode pedir um fado. mas o fado irrita-me, faz-me comichão, vou cantar uma marchinha)
o dinheiro, o dinheirinho
é tudo o que um dia ele queria
lavar as notas no rio e engomá-las com mestria
trazê-las como uma árvore
carrega as bolas de natal
para ver as bocas abertas
a fazerem sexo oral
nananananananã
(pronto, já me cansei. isto não está a correr bem. falar de dinheiro cansa-me; cantar de dinheiro cansa-me; escrever de dinheiro cansa-me. vou é lavar-me toda porque os meus dedos já cheiram a merda)
(agora fiquei com vontade de cantar. o quê? o dinheiro só pode pedir um fado. mas o fado irrita-me, faz-me comichão, vou cantar uma marchinha)
o dinheiro, o dinheirinho
é tudo o que um dia ele queria
lavar as notas no rio e engomá-las com mestria
trazê-las como uma árvore
carrega as bolas de natal
para ver as bocas abertas
a fazerem sexo oral
nananananananã
(pronto, já me cansei. isto não está a correr bem. falar de dinheiro cansa-me; cantar de dinheiro cansa-me; escrever de dinheiro cansa-me. vou é lavar-me toda porque os meus dedos já cheiram a merda)
terça-feira, 5 de abril de 2011
tatoosquitos
muito eu gostava de ser mosquita para perceber o cérebro dos mosquitos, ou os mosquitos não têm cérebro e só sentem?, se assim for estão desculpados, e descobrir porque tanto gostam de pousar nos vales e nas colinas e nos montes. primeiro vêm de mansinho, sussurrar-me aos ouvidos zes baixinho, e depois começam de cima para baixo ou de baixo para cima - a sentir cada pedaço até tatuarem o desejo. tesão de mosquito não sei se é, não sou mosquita. mas um dia, numa noite inteira, vou segurar o sono, e a luz, e ver tudo.
(e não, não será pornografia porque de uma coisa eu sei: no reino dos mosquitos não existem frustrações.)
segunda-feira, 4 de abril de 2011
bacalhau à Sinhã
é simples, rápido e nada gordo: corta batatas suficientes para encherem uma assadeira grande, a comida nunca é a mais porque depois podes congelar, e põe a cozer com bacalhau às lascas e ovos - tudo junto para se misturarem os sabores - e nem precisa de sal. quando as batatas estiverem quase, quase, cozidas, acrescenta um saco de legumes chineses. coa tudo e coloca num recipiente onde acrescentas pimenta q.b. e um fio de azeite prolongado e não esqueças de cortar os ovos aos gominhos. depois de misturares espalha tudo pela assadeira e cobre com maionese (se não há podes fazê-la e fica mais saudável: tira as gemas dos ovos e tritura com azeite e sal). decora com azeitonas pretas e raminhos de salsa e leva ao forno (com ventoínha a 130ºc) aí uns quinze minutos. e já está. eu disse que é simples, rápido e nada gordo.
(depois come no pátio ou na varanda enquanto olhas para as árvores)
Ella, tu, eu
esta Bebe é de tirar do sério - faz, cócegas na alma, sorrir. viva a Bebe que eu tanto gosto!
(bebe, tens de beber)
(bebe, tens de beber)
reina 4ever
não sei bem porque pensam que eu possa ser plebeia quando nasci para ser reina.
(a letra é de plebeia e o som é de rainha)
(a letra é de plebeia e o som é de rainha)
domingo, 3 de abril de 2011
a verdade: ternura é hermafrodita
nasceu com os dois sexos e os pais podiam bem ter-lhe chamado Asbrúbal ou Glicínia mas não, não: decidiram chamar-lhe Ternura - pela capacidade que mostrou, mal saiu do ventre, ao recusar-se a chorar, em ser superior às reles e básicas características do que é ser homem e do que é ser mulher: recusou-se chorar porque, quando nascem, todos os bebés choram por não quererem sair da ternura e da beleza do mundo do dentro. Ternura nasceu com ternura suficiente para enfrentar o mundo desternurado que é a luta, dos homens e das mulheres, pelo poder.
(sim, é verdade, a ternura é hermafrodita - tal e qual Ternura)
Participação para "Fábrica de Letras"
Participação para "Fábrica de Letras"
batatas e grelos
pensando bem, a areia está suja pelo que as marés lhe trazem e deixam ficar. mas as marés não usam sapatos nem garrafas de plástico nem pensos. devo concluir que as marés têm costas largas ou, então, que as gentes têm almas estreitas - é como andarem com a gasolina na reserva uma semana para aproveitarem a promoção quinzenal de menos seis cêntimos quando a promoção semanal é de menos cinco cêntimos. e depois a casa sapo, óptima para repasto, lá para os lados de penafiel, está cheia.
(a lógica da batata faz tanto sentido para mim como o arroz de grelos faz para o chá da pérsia)
sábado, 2 de abril de 2011
porque no amor e na arte, o triângulo é virtuoso
hoje estou disposta a celebrar a minha descoberta com um quilo de maçã bravo de esmolfe: li, ontem, que quando existe amor profundo (o que é coisa rara, muito rara, tão rara como cacar polvinhos cor de limão-tenro-bravo-esmolfe), porque o amor que se vê e se fala por aí é amor de superfície, é não-amor, o homem faz do ver e do pegar e do chupar das mamas da mulher uma arte e um êxtase. e eu já descobri porquê. é que o amor profundo é um triângulo onde cabe o amor físico, o amor mental e o amor espíritual. reunidos os três vértices o homem, em amor profundo por uma mulher, sente-se criança de novo, um bebé, e acrescenta, com espontaneidade e inocência e ingenuidade, ao tesão o desejo de aconchego e alimento. esta componente espíritual, acrescentada à mental e à física, é amar como só pode ser amar. porque no amor e na arte, o triângulo é virtuoso.
(e escolho este fundo para a minha descoberta)
sexta-feira, 1 de abril de 2011
pilas encelulitadas
uma coisa é certa - queria ter uma praia só para mim, interdita a pés e a olhos e até a sonhos. assim, e porque lamentavelmente as mentiras nunca são demais, a praia é o local mais certo - por cultivar o incerto - para, havendo vontade, uma mulher ser alvo de tentativas de engate.
(nunca tinha visto um homem, de boa aparência, com celutite do cérebro a sobrar também para as coxas. será que lhes cresce, a esses, mais o nariz ou a pila? será que também a pila tem celulite? eu acho que homens assim esforçam-se por transformar a gordura da pila em massa muscular com este tipo de exercício. será que neste momento ele está a colocar detergente da louça nos calções para arrancar a gordura das natas? que carago.)
(nunca tinha visto um homem, de boa aparência, com celutite do cérebro a sobrar também para as coxas. será que lhes cresce, a esses, mais o nariz ou a pila? será que também a pila tem celulite? eu acho que homens assim esforçam-se por transformar a gordura da pila em massa muscular com este tipo de exercício. será que neste momento ele está a colocar detergente da louça nos calções para arrancar a gordura das natas? que carago.)
alegrez
num mundo esquizofrénico, entre a tristeza dos pobres e a tristeza dos ricos, distinguível apenas pelas roupas que vestem e as coisas que têm, só mesmo a alegria ri de si própria - porque anda nua. bem visto, a alegria deveria chamar-se, pelo seu estado natural de nudez, alegrez.
(está decretado)
(está decretado)
quinta-feira, 31 de março de 2011
aMar o Mar
é nas águas que as pernas se abrem
,que a alma visível se enrosca,
,que as forças meiguinhas se tocam,
nuas nos poros molhados
,sem engano,
do corpo invisível cansado.
chamo-lhe imensidão
, refresco afinado à tensão,
sal dos dias contados
sem engano.
toque leve e bravio dos montes
, como se mãos que pegam em fontes,
som ouvido.
som cantado.
e com sol e com sal elas fecham-se assim
, esperma de mar que fundo afunda em mim,
as pernas da alma visível
que molhadas respiram - enfim.
,que a alma visível se enrosca,
,que as forças meiguinhas se tocam,
nuas nos poros molhados
,sem engano,
do corpo invisível cansado.
chamo-lhe imensidão
, refresco afinado à tensão,
sal dos dias contados
sem engano.
toque leve e bravio dos montes
, como se mãos que pegam em fontes,
som ouvido.
som cantado.
e com sol e com sal elas fecham-se assim
, esperma de mar que fundo afunda em mim,
as pernas da alma visível
que molhadas respiram - enfim.
quarta-feira, 30 de março de 2011
fruta, tremoços e flores
se gostasses, Homem, mesmo, mesmo, de fruta e de tremoços e de flores - comias tudo.
(e não deixavas as cascas nem os caroços. e as flores, nem as deixavas secar: mastigavas as pétalas suaves e guardavas o seu perfume. e os espinhos, Homem, haviam de ser cócegas, picadinhas gostosas, palmadinhas gostosas em ti.)
(e não deixavas as cascas nem os caroços. e as flores, nem as deixavas secar: mastigavas as pétalas suaves e guardavas o seu perfume. e os espinhos, Homem, haviam de ser cócegas, picadinhas gostosas, palmadinhas gostosas em ti.)
terça-feira, 29 de março de 2011
130kg de merda a quem os merece
assiste-se à maior crise de sempre. e não, não falo de crise económica nem tampouco da política - falo da crise de valores. esta gentalha não vale a ponta de um pintelho, e não é dos meus que são preciosos, e é por isso mesmo que não dá valor ao que e quem, de facto, o tem. um formador acabou de de ser excluído de uma equipa - após finalizar uma formação cuja avaliação foi boa - com o argumento de não ter uma boa imagem. penso: não se lavou e cheirava mal e levava maracoto no cabelo? os sapatos estavam rotos e viam-se as meias também rotas e o chulé passou de fininho? não lava os dentes nem vai ao dentista e quando falava tresandava um hálito a pato podre e os olhos fixaram-se, não no que estaria a dizer, mas no castanho da dentição? usa óculos e apareceu com eles colados a fitacola e as lentes levavam macacos que saltaram do nariz? tem uma pila tão grande que a levou aconchegada ao pescoço e dispensou o cachecol?
não, não, não, não não. o senhor foi dispensado porque pesa 130kg.
(e se eu pesasse 130 kg e fosse dispensada do que quer que fosse, havia de cagar 130 kg de merda em cima de quem me dispensou. quero agitar as águas e vou descobrir quem é - contar-lhe a verdade, que não sabe, e fazê-lo cagar-se todo. literalmente.)
desBottonada
como diz Botton, a inveja funciona assim: se formos pequenos e vivermos entre pessoas da mesma altura, não somos atormentados por questões de tamanho; se houver alguém que cresça mais do que nós, sentimo-nos perturbados e surgem sentimentos de privação - mesmo o nosso tamanho não ter alterado um milímetro.
(ora bem, existem teorias reais que alimentam, bottonam, a realidade. serei desbottonada desde a nascença por nunca ter sentido vertigens Kunderianas?)
(ora bem, existem teorias reais que alimentam, bottonam, a realidade. serei desbottonada desde a nascença por nunca ter sentido vertigens Kunderianas?)
segunda-feira, 28 de março de 2011
a arte sac(r)a
a arte sacra, em ouro ou prata, serve a liturgia. e a liturgia não passa de uma casquinha estética, um esconderijo, por ser precisamente uma obrigatoriedade pública. vai daí, não entendo muito bem porque ainda roubam carros no porto para assaltar, expeditos, ourivesarias em coimbra: não faltam igrejas, de norte a sul, de portas bem abertas.
domingo, 27 de março de 2011
vir? não: ir em pobreza
curiosamente, após ouvir falar em moteis, não percebo o fascínio das gentes, se algum dia for a um será para - a rir - fazer uma crónica, o dicionário diz assim: Hotel nas imediações dos grandes itinerários rodoviários e especialmente preparado para recolher e guardar as suas viaturas.
agora vou ver o significado de viatura. já está: Qualquer veículo para transporte de pessoas ou de coisas.
(já sei de onde vem o fascínio: o motel é fascinante para quem transporta sonhos, e os sonhos são sempre privados, frustrados e, por isso, faz questão - ao recolhê-los e guardá-los - de os deturpar em locais absolutamente públicos. os moteis são o parque de estacionamento rico dos sexos pobres.)
agora vou ver o significado de viatura. já está: Qualquer veículo para transporte de pessoas ou de coisas.
(já sei de onde vem o fascínio: o motel é fascinante para quem transporta sonhos, e os sonhos são sempre privados, frustrados e, por isso, faz questão - ao recolhê-los e guardá-los - de os deturpar em locais absolutamente públicos. os moteis são o parque de estacionamento rico dos sexos pobres.)
sábado, 26 de março de 2011
intestérebro
os panados podem, sim senhora, ser uma arma de arremesso ao sol quando alguém abre um recipiente com fêveras temperadas a cru.
sexta-feira, 25 de março de 2011
quinta-feira, 24 de março de 2011
semi-nários
não sei bem se é muito bom sinal quando a única coisa interessante que se fica a pensar, em jeito de balanço, de um seminário é por que caralhos o recinto tem o nome de sala Henry Tillo. e pergunta-se e ninguém sabe responder. e pesquisa-se e quase não se encontra. quase. parece-me que já morreu e que foi presidente da Associação Portuguesa de Têxtil nos anos 90 (digo eu que tiro pelas entrelinhas do quase nada que fala sobre ele).
e se um orador se fixa em ti, talvez se encontre no sorriso tranquilo sei lá, também dá que pensar no que poderia ser feito se ele não o fizesse. será que não lhe passa pela cabeça que um cabelo enorme pode muito bem enroscar-se no riacho por entre os montes e que é urgente mexer-lhe? ou que um glúteo pode ter uma comichona - irritado pela posição de delonga? ou que a chicla verdinha pode querer respirar e com a boca fechada só dá amargar?
(chiça-penica que eu gosto mesmo é de totalnários)
tarte contempo
não, não existem desculpas para não tomar um pequeno almoço diferente em casa. e a falta de tempo? sem tempo é a desculpa mais sem culpa que pode haver. explico: levantar, libertar águas e polvinhos e lavar as mãos. de seguida, pegar na massa quebrada e estendê-la, no que estiver mais à mão, no tabuleiro ou na tarteira. vá, vai ligando a fornalha. entretanto, só precisas do leite condensado e de três ovos e de um limão ou de uma laranja (escolhe consoante estiveres a precisar da acidez masculina ou da doçura feminina) e faz assim: espreme e raspa-lhe a casca e mistura no leite condensado, assim como as gemas dos ovos porque as claras vais batê-las à parte. finalmente colocas a mistura no fundo e as claras por cima. enquanto metes no forno, vais lavar as pevides e vestir-te. este seria o tempo que levarias a engonhar. quando chegares à cozinha, a tarte estará pronta e só tens de acompanhar com chá ou café, ou com o que te apetecer, e com um sorriso rasgado.
(não é o tempo que é escasso - és tu que foges dele)
quarta-feira, 23 de março de 2011
terça-feira, 22 de março de 2011
pelo ouvido vive o peixe
torna-se impossível não sorrir perante determinados sons. acontece, tanta vez, sentir molenguice ou desânimo e lembrar um som e procurá-lo e fazê-lo ouvir-se e já está. não digo ficar em festa mas os olhos, como se os dentes ficassem à mostra, rasgam e a boca, como se estivesse a ver tudo, canta.
(se se diz que pela boca morre o peixe, então eu atrevo-me a dizer que é pelo ouvido que o gajo vive)
(se se diz que pela boca morre o peixe, então eu atrevo-me a dizer que é pelo ouvido que o gajo vive)
segunda-feira, 21 de março de 2011
sábado, 19 de março de 2011
espera acaixonada
e lá estava ela, corpo a tremer de frio e mente a zimbrar de quente, imóvel de fronte para o caixão. e assim passou a noite quando, bem cedo, alguém que chega pergunta: mas afinal quem é, ninguém a conhece, e o que faz aqui tanto tempo seguido? quando o conheci ele disse-me: estou morto por te foder. e eu, nunca mais me cansei de esperar.
sexta-feira, 18 de março de 2011
partidas do tempo
quase que consigo entender o "paradoxo do avô" para não ser impotente perante a impossibilidade de conhecer a minha avó.
quinta-feira, 17 de março de 2011
o povo diz que se um morto comer uma azeitona com caroço, eu como sempre os caroços: será que ando antecipada?, antes de morrer, no local onde for enterrado nascerá uma bela oliveira.
(há que comer uma azeitona com caroço todos os dias? e se for de manhã, para prevenir, melhor?durante a madrugada não será jogar pelo seguro visto que o acordar pode não acontecer? antes do enterro, em situações de engolimento omissas, deverá enfiar-se uma, das pequeninas, pela goela abaixo? e se se for tipo supositório? não será mais fácil colocar uma, ou até duas, ou até duas uma de cada cor, imediatamente em cima do caixão? e se o morto for cremado será que o caroço arde tanto quanto o silicone? e se for assim, tudo isto, portugal baterá a produção de azeite como nunca visto e será esta a salvação para a balança da nação? às azeitonas, às azeitonas, que o caroço está a crescer; às azeitonas, às azeitonas, deixem as gentes morrer. : e se o refrão do hino mudasse?)
(há que comer uma azeitona com caroço todos os dias? e se for de manhã, para prevenir, melhor?durante a madrugada não será jogar pelo seguro visto que o acordar pode não acontecer? antes do enterro, em situações de engolimento omissas, deverá enfiar-se uma, das pequeninas, pela goela abaixo? e se se for tipo supositório? não será mais fácil colocar uma, ou até duas, ou até duas uma de cada cor, imediatamente em cima do caixão? e se o morto for cremado será que o caroço arde tanto quanto o silicone? e se for assim, tudo isto, portugal baterá a produção de azeite como nunca visto e será esta a salvação para a balança da nação? às azeitonas, às azeitonas, que o caroço está a crescer; às azeitonas, às azeitonas, deixem as gentes morrer. : e se o refrão do hino mudasse?)
quarta-feira, 16 de março de 2011
pé de feijão
ouvir uma história do arco da velha pode ser o início para uma fantasia de pé de feijão.
(pode ser que um dias destes um feijão manteiga germine dentro de mim e venha desaguar nos ouvidos. e, depois, puxo e abana tudo cá dentro e, antes disso, digo: segurem-se bem - aos que estiverem a lanchar pendurados na árvore)
(pode ser que um dias destes um feijão manteiga germine dentro de mim e venha desaguar nos ouvidos. e, depois, puxo e abana tudo cá dentro e, antes disso, digo: segurem-se bem - aos que estiverem a lanchar pendurados na árvore)
a munda
o mundo, o mundo no feminino, divide-se em duas partes completamente assimétricas: a parte maior, gigante, onde cabem as mulheres domesticáveis e a menor, em fimbriado, onde cabem as simplesmente amáveis: as mundas.
terça-feira, 15 de março de 2011
acoplar, dizem elas
no início eram as baratas, depois o homem, ou o homem e depois as baratas, já desde as cavernas, e depois tornou-se impossível umas coexistirem sem os outros. na verdade, o que de comum têm baratas e homens e homens e baratas é a real capacidade de adaptação ao meio.
na verdade, e sempre na verdade porque não minto, a única diferença entre os homens e as baratas é o facto destas últimas nascerem com um par de cercos, nada que lhes seja imposto, com uma função verdadeiramente útil e nobre: olfactar, por um lado, e de serem capazes de sobreviver a um desastre nuclear, ao invés do homem, por outro. de resto, nem ao albinismo escapam.
acoplar, dizem elas sempre em tentativa de amizade; despegar, dizem eles sempre em tentativa de rejeitar a semelhança e provocar afastamento.
(não sei porquê: as baratas, prefiro chamar-lhes carochas, carochinhas, são de trazer por casa)
na verdade, e sempre na verdade porque não minto, a única diferença entre os homens e as baratas é o facto destas últimas nascerem com um par de cercos, nada que lhes seja imposto, com uma função verdadeiramente útil e nobre: olfactar, por um lado, e de serem capazes de sobreviver a um desastre nuclear, ao invés do homem, por outro. de resto, nem ao albinismo escapam.
acoplar, dizem elas sempre em tentativa de amizade; despegar, dizem eles sempre em tentativa de rejeitar a semelhança e provocar afastamento.
(não sei porquê: as baratas, prefiro chamar-lhes carochas, carochinhas, são de trazer por casa)
segunda-feira, 14 de março de 2011
néscisar, não: cavalgar
chamar burro, enredo por entre buzinas agressivas e filas cerradas, a um condutor pode ser, nos dias que correm, uma alta motivação para descarregamento de fúrias e frustrações: facadas e tiros. mas se lhe chamares néscio, dás-lhe tempo para ele só descobrir o seu significado quando chegar a casa ou ao dicionário mais próximo. e fica tudo, como deve ser, esclarecido e tranquilo, sobre rodas.
domingo, 13 de março de 2011
reinvento
dizem que não há sábado sem sol nem domingo sem missa nem segunda sem preguiça. não pode ser antes não há sol sem sábado nem domingo sem assado nem segunda sem pecado? é que eu também adoro a chuva e comida boa e dias certos pintados de incerto.
sábado, 12 de março de 2011
questionpeare
tenho a certeza absoluta, fonte seguríssima intuitiva, que o meu querido Shakespeare, olhar debruçado sobre a geração à rasca, a nossa, a nossa salvo-seja que eu sou desenrascada, escreveria assim:
sexta-feira, 11 de março de 2011
deixa a possessividade e não lhe chames crise
os portugueses drogam-se de possessividade todos os santos, não fosse o nosso rabinho da Europa um país de católicos, dias: querem uma casa comprada, ainda que demorem trinta anos a pagá-la e que essa mesma casa valha, em juros, três vezes mais, para ser deles; querem ter um carro novo e giro - já não se vê gente com carros do tempo da mariacachucha: português que é português tem de ter "uma máquina" para ir lavar e aspirar ao domingo nem que para isso se individe até à ponta.
nunca se viu tantos casais desesperados por um T3 novo, a aguardarem a melhor altura, e a adiarem a alegria porque vivem crentes que a alegria não se aluga: compra-se. e são estes casais que, sem poesia, entre uma e outra queca falam assim: só a Polónia tem mais contratados a prazo do que Portugal, é a crise, e ainda bem que a Grécia rebentou senão passava-nos as palhetas, que crise.
(tu não me chames portuguesa se também te disseres, enquanto estiveres a lavar a viatura ou a mandar a pêra, português. antes disso, deixa a possessividade e não lhe chames crise.)
pega lá disto e mexe-te:
pega lá disto e mexe-te:
quinta-feira, 10 de março de 2011
mundisia
poesia por todo o lado, que maravilha, porque a poesia é como o leite que sai da teta. não, não é ilusionismo, tampouco lunatismo: a poesia é força, é vida, é saúde; a poesia pode e tem de ser a vida real.
(manifestem-se contra as infecções, que são as únicas possíveis, filhos de uma teta sem leite)
(manifestem-se contra as infecções, que são as únicas possíveis, filhos de uma teta sem leite)
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