terça-feira, 20 de agosto de 2013
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
Judite Cabra Sousa
não havia, certamente, nada mais interessante a explorar, em horário nobre, do que a vida de um puto que nasceu e há-de morrer rico: eis a primeira miséria. depois começam as perguntas em tom sarcástico e esgar de nojo, uma atrás da outra, como se ter dinheiro, muito dinheiro, fosse um crime horripilante - uma falha que desmerecidamente não sofre castigo. cabra. acaso a Judite vive de algum salário miserável e veste roupas da avó ostentanto, desta feita, valores anti consumistas? não. a cabra da Judite ganha uma fortuna mensal para dar aos portugueses notícias interessantes e que, de alguma forma, lhes aumente a bagagem de informação útil. ao invés, a cabra decide transportar a crise e a incompetência do governo para um miúdo que caga notas e que, por isso, havia de as distribuir por cá para a curva da recessão minguar; a cabra nem se lembra de que também ela é uma privilegiada e fútil - ou não daria importância à vida de alguém que apenas vive o dinheiro que tem da forma que melhor lhe convém - e invejosa. sim: a Judite além de ser cabra é invejosa.
(mas pode ser que para o ano o moço lhe pague a viagem e a estada para o seu aniversário. e um lifting ao cérebro, já agora, que o saláriozinho dela não deve chegar.)
alguém
tempo que fala, calando, é tempo de ficar
tempo que fala, calando, é tempo de andar
só não é tempo a correr - como ao tempo que se diz que é o tempo a passar
domingo, 18 de agosto de 2013
guerra das trinchonas
vai lá saber-se porquê ando, há uma dúzia de dias, a receber convites de mulheres para exploração de intimidades em diversas e diferentes frentes da internet. andará o meu email a circular em uma espécie de guerra das trincheiras, trinchonas vá, da homossexualidade? a umas ainda respondi com graça e desdém mas a outras, às que se seguiram, decidi ignorar-lhes as pretensões - não por falta de educação mas por considerar que cortesia não é mandá-las a todas para a puta que as pariu, já que não me apraz o assédio sexual, per si, seja em que categoria de gente for. andor carrapatices!
sábado, 17 de agosto de 2013
manifestação dos pessoinhas
quando começam a rebentar os balões os pais zangam-se, não há direito. não há direito de as festas de aniversário dos pequenos serem, do início ao fim, para os grandes. tudo começa na escolha das comidas: camarão, frangos, empadas, rissóis e pataniscas, bolos gordos de creme, batatas fritas, refrigerantes, vinho, cervejas. está bem, há o bolo em pasta de açúcar do homem aranha e a mousse de chocolate mas e o resto? qual é a criancinha de três anos que pode beber um copo, seja do que for a não ser água, ou encher a pança de fritos ou lambuzar-se de marisco? pois. depois a música ambiente é aquela agradável à conversa, à conversa dos convidados dos pais obviamente, não havendo espaço para cantigas para saltar e berrar por conta de o barulho ficar insuportável. e depois há os balões, coloridos e de todos os feitios, que são interditos ao estouro. ora não é justo. as festas de crianças, e em particular as de verão, são para encher a casa de pirralhinhos que querem andar descalços e com a fruta de fora; são para encher e rebentar balões com água; são para enfartar as mesas, mesas proporcionais ao seu tamanho e não aquelas para eles inalcançáveis, de guloseimas e sumos naturais e as comidas preferidas; são para as vozes adultas se calarem a ouvir as barafundas dos pessoinhas. e é por isso que eu proponho uma manifestação dos miúdos a favor das festas de aniversário exclusivamente infantis. querem aproveitar as festinhas para estarem com os amigos, beberem uns copos e deitar conversa fora, querem? então arranjem tempo, pais. arranjem outro tempo - é que esse é deles e para eles. certo?
Moinho abandonado em 1866, Sorrento, Itália.
parece miragem, já foi moagem, mas é castelo de ver - para que servem os olhos, pérolas da fronte, senão para deslumbrar o ser?
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
se
se ela fosse molho era ele guardanapo
uma caneta preta em transparente acetato
cobria-lhe a pele caiada
adentro dos dias claros e afora madrugada
quicumba de sabedoria lhe sobrava
chiste sorriso
delícia
psilo de doce
paixão
lux
mão
uma caneta preta em transparente acetato
cobria-lhe a pele caiada
adentro dos dias claros e afora madrugada
quicumba de sabedoria lhe sobrava
chiste sorriso
delícia
psilo de doce
paixão
lux
mão
terapia
há uma boa dose de gente que, sem dúvida, precisa de terapia da boa: ter a pia cheia de cuecas sujas para lavar deixando, assim, de se meter na vida dos outros. é a chamada terapia get a life acaso sejas um amante dos vocábulos estranjas para ornamentar a coisa.
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
a propósito de uma conversa que ouvi
disse assim, uma para a outra: claro que vamos de férias para fora e em vez de uma batata come-se meia.
ou seja, há pessoas que preferem cortar em bens essenciais do que nos acrescidos - tal e qual em parelha com o governo. não perceber que a saúde depende muito da alimentação é a mesmíssima coisa que compartilhar a ideia de que a reforma do IRC traz o consequente aumento dos recursos para investir no futuro. enfim.
sound + vision: John Turturro & Woody Allen
sound + vision: John Turturro & Woody Allen: Um homem recebe do seu amigo mais próximo uma sugestão inesperada para resolver os seus problemas financeiros. A saber: a venda de favores s...
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
pensamento das cinco e meia da tarde
não sei bem se o meu cérebro está mais cansado que o cavalo do Quixote ou que um órgão barroco.
descoberta
(Malinev Marinov - se não é assim, inventei)
quando era pequenina tinha amiúde o mesmo pesadelo: acordava sufocada depois daquela sensação terrível de cair numa espiral e nesses dias, nessas noites, julgava ser o pesadelo uma das piores coisas da vida - como se fosse, e era, um castigo que eu não podia, de todo, controlar. o que fazia de mim impotente. agora sei que pior do que ter um pesadelo e acordar sufocada é estar a dormir tranquilamente e acordar com realidades tristes e, um sufoco, não conseguir voltar a adormecer.
creio que ainda sou pequenina, pelo menos até à próxima descoberta.
terça-feira, 13 de agosto de 2013
panelaterapia
tens pão? então parte às fatias, em abundância, e enche - até tapar - o recipiente com água fria. deixa ficar. bastantes alhos partidos, ou esmagados, são precisos. mete-os no tacho com uma folha de louro e rega com azeite, carrega na generosidade. entretanto, porque ainda é cedo, esfia quatro lombos de bacalhau. então, mete o alho a alourar e de seguida o bacalhau. mexe lentamente e quando sentires que está a colar ao tacho é porque é horinha de juntares o pão em água fria. afina o sal e dá um cheirinho de pimenta preta. vai mexendo lentamente e desembaraça quatro ovos lá no meio até ficarem em fios cozidos. desliga. a salsa está picadinha? muito bem, agora só falta azeitonas pretas e muito apetite. no fim, vais esboçar um sorriso enorme e a língua teimosa não vai querer sair dos cantos para dentro.
é açorda-maravilha de bacalhau, pois claro! e vai bem com este som à moda dos 80:
jefe
há dez anos, mais ou menos, esta canção estranha fazia, e ainda me faz, galopes de riso. na verdade, esta é a lengalenga que ensino aos filhos das minhas amigas mal começam a falar - não há um único que não saiba dizer: jefe, ven aca pa ca! e hoje, a menina que cantava isto quando vinha de Sanxenxo já está uma senhora adolescente. ontem lembrou-se de enviar para partilhar riso - e resultou.
segunda-feira, 12 de agosto de 2013
como se distingue um homem altamente básico dos outros?
o homem altamente básico possui um grau de boa disposição directamente proporcional ao processo de esvaziamento dos testículos.
olhos em chuva que fazem olhos de sol
há homens assim. acabara de completar setenta e seis anos, é um ano mais novo do que ela, mas aparenta bem menos. taxista de profissão passa o tempo fora de casa. foi sempre assim: duas famílias, um filho de cada uma, muitas mulheres reles, e uma só vida. cheia. não conta muitas histórias a não ser sobre Penafiel, a terra onde nasceu e cresceu - fala das vinhas cortadas a corridas e saques de fruta, das quelhas em terra batida e do arroz do forno a lenha. ela nunca saiu de casa nem deixou de ter o almoço pronto ao meio dia em ponto para ele, por causa dele, que vinha de trabalhar e de ir de seguida ter com a outra família que ela desconhecia. e hoje, entretanto ele teve de assumir o outro filho e fazer descair a mentira, ainda é assim. e ele resiste, como nunca vi antes, à idade: faz questão de manter a mesma alimentação, de fazer os mesmos horários com o táxi, de ler muitos jornais e encher de tinta as palavras que por lá se cruzam. recusa-se a fazer qualquer actividade onde haja um aglomerado de pessoas da sua idade. e é por isso que lhe chama velha quando se irrita, em enxurrada de palavrões, e repete, velha és uma velha. os olhos dela mantêm-se firmes mas molhados, talvez por se sentir velha. mas ser mulher é esta maravilha: conseguir, sabendo o que se é, não chamar velho ao homem mais velho do mundo para que os seus olhos, pequenos sóis de uma vida, nunca fiquem em chuva molhados.
domingo, 11 de agosto de 2013
estomas
desconhecia-lhes a beleza - e o nome: parecem rosas, ou talvez também camélias, mas não são. não têm espinhos como umas nem vestem tantas saias como as outras. senhoras e senhores, apresento-vos as estomas.
sábado, 10 de agosto de 2013
é proibido
não chupar os miolos aos peixes
não comer frango com as mãos
não abrir a boca quando se come chocolate
não lamber os dedos depois do marisco
não descalçar os pés debaixo da mesa
não deixar cair molho no peito
pois é.
não comer frango com as mãos
não abrir a boca quando se come chocolate
não lamber os dedos depois do marisco
não descalçar os pés debaixo da mesa
não deixar cair molho no peito
pois é.
coisas que fazem corar
Labirinto ou Alguns Lugares de AmorO outono
por assim dizer
pois era verão
forrado de agulhas
a cal
rumorosa
do sol dos cardos
sem outras mãos que lentas barcas
vai-se aproximando a água
a nudez do vidro
a luz
a prumo dos mastros
os prados matinais
os pés
verdes quase
o brilho
das magnólias
apertado nos dentes
uma espécie de tumulto
as unhas
tão fatigadas dos dedos
o bosque abre-se beijo a beijo
e é branco
Eugénio de Andrade, in "Véspera da Água"
por assim dizer
pois era verão
forrado de agulhas
a cal
rumorosa
do sol dos cardos
sem outras mãos que lentas barcas
vai-se aproximando a água
a nudez do vidro
a luz
a prumo dos mastros
os prados matinais
os pés
verdes quase
o brilho
das magnólias
apertado nos dentes
uma espécie de tumulto
as unhas
tão fatigadas dos dedos
o bosque abre-se beijo a beijo
e é branco
Eugénio de Andrade, in "Véspera da Água"
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
vontade
escrevia agora tanto daquilo
daquilo tão simples
que faz tremer e corar
se me deixasse ter vontade
mas a vontade aprendeu a ter vontade
e quando a vontade tem vontade bebe um copo de água
ou de chá
como se se virasse uma para a outra e dissesse
e diz
não pode ser
não dá
que faz tremer e corar
se me deixasse ter vontade
mas a vontade aprendeu a ter vontade
e quando a vontade tem vontade bebe um copo de água
ou de chá
como se se virasse uma para a outra e dissesse
e diz
não pode ser
não dá
a fazer
ando cheiinha de vontade de fazer o que a minha cadela faz, tem feito, e que consolada eu vejo que fica: caga no campo de milho, bem lá no meio.
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
trança
só quem tem paixão por cabelos compridos percebe a curiosidade por saber fazer tranças. sim, porque as tranças não são um penteado qualquer. as primeiras tranças percebem-se nas estátuas de Vénus de Brassenpouy e Vénus de Willendorf, vinte e dois mil anos antes de cristo, mas é na imagem da Cleópatra, no antigo Egipto, que elas aparecem perfeitas, lindas, inspiradoras, simbolo igualmente de riqueza e de proximidade das divindades. depois, no império romano, a forma arredondada com que elas enfeitavam os cabelos pelas tranças era deliciosa - tal como na Grécia antiga, idade média. igualmente os celtas e os chineses faziam delas rendilhados importantíssimos. ademais, a literatura e o cinema estão repletos de tranças e de significância, qual o pormenor que o sendo não a tem? a verdade é que hoje em dia o frenesim das cidades desmotiva o uso da trança - até os penteados são escolhidos levando em consideração, não a beleza potencial que um cabelo comprido oferece, o tempo de secagem e de arrumação. mas não lamento: cada um usa o que quer e eu não prescindo das tranças. vai daí, tinha muita curiosidade em aprender a fazer a trança embutida e a outra que é espinha de peixe. e agora já sei, iuuuuppiiiii!
La Cage Dorée
viva Portugal, por entre o Douro e as vinhas e a alegria da mesa com bacalhau e vinho e riso - a família -, é o início por ser o fim. explico: é esta mensagem de união e de alegria tosca de que somos feitos que interessa agarrar. está bem, o português é aquele a quem custa dizer não, honesto, trabalhador, um aguentador por natureza - mas por uma natureza simples, como se quer. Portugal é o fado na voz e na vida, lágrimas imprescindíveis; é a soltura das palavras bravas, genuínas; é o riso dos parentes, porque presentes; é a mesa farta, porque grata.
e é por isso que nós, portuguesezinhos, não podemos deixar que homens corruptos e sujos nos ofusquem o dentro - havemos de conseguir não deixar que Portugal deixe de ser aquilo muito mais do que isto: é ali, no fim do filme em fundo de Rodrigo Leão, que temos de ser e estar. e será essa a luta maior a travar - tornar intocável a nossa identidade, aquilo de que somos feitos, aquilo que nos faz - a todos - chorar e rir: aquilo que é sentir no peito o orgulho de ser português. não obstante a merda que o homem do poder fez.
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
scones al cá & nela
300gr de farinha
1 colher de sopa de fermento em pó
1 colher de chá de sal
3 colheres de sopa de açúcar
8 colheres de leite morno
100 gr de manteiga
até aqui nadinha de novo: esmaga-se e apalpa-se com as mãos até a massa ficar consistente e macia. mas depois, antes de fazer bolinhas irregulares antes de meter ao forno a 150º, faz-se um buraquinho a meio, com o mindinho, e sopra-se canela - bem ao de leve - para dentro. aqui está a inovação. e deliciosa.
1 colher de sopa de fermento em pó
1 colher de chá de sal
3 colheres de sopa de açúcar
8 colheres de leite morno
100 gr de manteiga
até aqui nadinha de novo: esmaga-se e apalpa-se com as mãos até a massa ficar consistente e macia. mas depois, antes de fazer bolinhas irregulares antes de meter ao forno a 150º, faz-se um buraquinho a meio, com o mindinho, e sopra-se canela - bem ao de leve - para dentro. aqui está a inovação. e deliciosa.
terça-feira, 6 de agosto de 2013
caçadeira
a propósito desta notícia. à primeira vista é apenas mais um caso de salvaguarda dos direitos da criança e que não refere em que se baseia o tribunal para quarenta e oito horas depois de ser parida meter uma criança em uma alcofa e levá-la dos pais, da mãe. depois, bem vista e atendendo aos factos - e não apenas à interpretação que nos é oferecida pelo jornalismo sensacionalista e redutor - bem explicados pelo Quintino Aires, percebe-se que já não podem haver crianças, adolescentes neste caso, rebeldes - por um lado - nem autonomia de os pais castigarem os filhos - por outro -, nem sensibilidade por parte da segurança social naquilo que é inibir um recém nascido de ser amamentado e provar do calor materno. em que mundo é que os pais não podem atribuir castigos, privando-os do que querem ou dando-lhes o que não querem, aos filhos sob o argumento de humilhação? não estamos a falar de cortar um dedo mas do cabelo nem de a obrigarem a comer merda mas sopa - é isto uma humilhação sendo que todo o castigo tem obviamente a componente de humilhação porque de outra forma seria elogio? e a rebeldia de uma adolescente é, em que mundo, motivo para os pais decretarem uma filha delinquente e digna de viver fora do seio familiar? e em qual mundo, digam-me por favor, as agentes da Segurança Social aguardam que um bebé nasça para o retirarem imediatamente do colo da mãe por forma a evitar castigos humilhantes? de facto só mesmo uma caçadeira, penso, para acabar com esta miséria repartida. e depois os testes da universidade do minho a comprovarem que os pais têm perfil para serem pais apesar de precisarem de acompanhamento. desculpem? existem duas crianças, uma mais do que outra, a sofrerem com o desequilíbrio dos adultos - em casa, na Segurança Social e nos meios de comunicação social. e o pai faz greve de fome. o pai havia de sofrer de fome quando lhe dá o apetite de foder a mulher sem preservativo. e a mulher, a mãe, havia de sofrer da mesma anorexia quando não faz planeamento familiar. e os testes têm de ser feitos antes de haver pais e filhos porque, está visto, ser pai e ser mãe e ser filho é de uma responsabilidade que não advém apenas de ser fodida.
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
foguetes & Compª
creio ser Agosto o mês dos foguetes. em todo o lado e a toda a hora lá se ouvem os falsos trovões a anunciar que há festa e a verdade é uma só: onde há foguetes há farturas e carrinhos de choque e venda ambulante de singles e LP's. ó, disparate, isso era dantes - agora é tudo corrido a CD e se só gostares de uma, paciência, é da maneira que ficas a conhecer - mesmo mesmo com conhecimento de ouvido - o resto. depois há procissões e romarias e fazem-se missas em alta voz que obrigam os demais a desejar o silêncio do fundo da voz dos pássaros ou do vento ou até dos carros a buzinar. Agosto não é só o mês dos foguetes afinal, também há os filhos que foram e voltam a estrangular a saudade. e para esses agora há-se ser uma alegria triste ver o pai fraco e em crise, maltratado. mas é como digo, uma alegria triste porque no meio dos foguetes e das farturas e dos carrinhos de choque e dos CD's e das missas o pai fica sentadinho a um canto. e ainda bem que assim é.
domingo, 4 de agosto de 2013
sábado, 3 de agosto de 2013
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
Homem do subsolo, personagem de “Memórias do Subsolo”, de Fiódor Dostoiévski (Editora L&PM)
“Só creio naquilo que possa ser atingido pelo meu cuspe. O resto é cristianismo e pobreza de espírito. Não creio nos sentimentais encabulados, nos líricos disfarçados que se benzem quando os raios caem. Meu materialismo é integral. Nasceu no mesmo ventre que me concebeu. Mas voltemos ao irmão. Dentro da predestinação que fez Caim matar o inocente Abel e Jacó passar o conto-do-vigário em Esaú, o torturado irmão foi coisa que sempre desprezei. Nunca fiz indagações em torno de nossas diferenças. Sei, o problema é dos muitos que aguçam a ignorância dos sábios e demais desocupados que teimam explicar coisas inexplicáveis, como a vida. Não sou entendido em cromossomos. O que sei de genética é pouco mas divertido: está espalhado nos mictórios do mundo.”
ai e ai
acho, como dizer, engraçado ouvir dizer que não querem parto normal por conta de a mulher não ter sido feita para sofrer. ora aqui está um belo argumento: o sofrimento. pergunta minha às mulheres em geral e às grávidas em particular: o trabalho de parto não faz parte do processo de gravidez que começa no prazer? bom, respondem-me então que se é possível minimizar a dor pode-se e deve-se. minimizar a dor. interessante. será dor a sensação - sim o sentir tudo literalmente - de parir quando parir é um acto de vontade e de responsabilidade e de amor? não creio. todas as fêmeas da natureza o fazem. e sozinhas. fracas, são todas fraquinhas as que monopolizam os ais de prazer e descartam os de dor.
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
quem fica, morre
dez metros quadrados, dez pessoas. vozes altas que se cruzam em tentativa de conseguirem pelo menos uma - pelo menos uma venda que salve a manhã ou a tarde. uma toma valium para dormir e uma outra ao acordar. outra já não tem cabelo, usa peruca, de tanto que esticou o sistema nervoso. outra fecha os olhos e baixa a cabeça amiúde, tique nervoso, enquanto lê o manuscrito ao telefone. outra senta-se e levanta-se entre uma chamada e outra. outra e outra e outra. acresce ser o mês de agosto e as empresas estarem em fecho de férias ou fechadas. os três focos de luz artificial por cima das cabeças queimam os olhos e o ar. mas queimam, sobretudo, a sanidade mental de quem lá está - e de quem quer ficar.
quarta-feira, 31 de julho de 2013
terça-feira, 30 de julho de 2013
arroz
para tudo. antes de mais, claro, para comer: carolino, agulha ou vaporizado, sequinho ou molhado, simples ou acompanhado faz as delícias de qualquer boca - digo boca e não estômago porque é ela - e não ele - quem faz a primeira triagem, não gosta não entra. mas depois, tem muitas outras utilidades que não a tradicional guarnição. há quem diga que cozido em água e tomado em jejum previne muitas doenças - desta forma também é possível, mas isso é de conhecimento comum, travar caganeiras; aquela garrafa de formas manhosas está suja? pois duas colheres de arroz, água bem quente e umas abanadelas vai resolver a questão; e aquele telefone, ou rádio, que caiu na água? é desmontar e colocar em um recipiente coberto de arroz e esperar pelo dia seguinte - fica tudo sequinho e de novo a funcionar. já agora, nota-se alguma colagem no recipiente onde está o sal? pois. com uns grãos de arroz ele solta-se, salvo-seja, todo e não fica com aquele aspecto de papos; é isso e a fruta verde. as bananas, por exemplo, por vezes estão que nem se pode e a vontade delas não apetece esperar muito - basta colocá-las cobertas em arroz e num instante amadurecem. mas a minha utilidade preferida, depois de ser petisco, do arroz vai para o frio. o frio? sim, o frio: enche-se uma meia grande, isto para quem tiver preguiça de fazer de um pano grosso saco porque é preciso coser, com arroz, dá-se um nó e microondas com ela. depois é só usá-la bem próxima dos pés ou daquilo que é para aquecer.
é verdade: arroz para isto, arroz para aquilo, arroz para tudo!
segunda-feira, 29 de julho de 2013
um vídeo que faz cheirar
se as cadeias de fast food tivessem o azar de este vídeo passar em telinhas gigantes mesmo próximas aos estabelecimentos, estavam quilhadas: é violento e nojento e intenso e irritante. dá para sentir, inclusive, o cheiro nauseabundo a carne crua.
aos mais limitadinhos
o nome deste blogue, tal como está, surgiu depois de eu ler o ruínas circulares em este suporte digital como se fosse um livro: depois de ler o último, o meu último, texto do João Pedro da Costa surgiu na minha cabeça, em forma de relâmpago, uma iluminação que misteriosamente me fez associar o nome que viria a ser o deste blogue ao meu blogue. portanto, limitadinhos, não. não se trata de um termómetro e nada tem que ver com temperaturas. como é óbvio, ou talvez eu julgue que deveria ser, há uma narrativa por detrás do que à primeira leitura, pelos vistos, parece relacionar-se com medição de temperaturas. está bem, estou habituada a que me digam arrogante. pois que seja, então, a arrogância pode bem ser um estado de alma divertido quando corresponde à certezinha do que não, de todo, se quer.
termo ao milímetro veio, então, sem pedir licença, arrogante - lá está - à minha cabeça e ali ficou a masturbar-me o cérebro até conseguir instalar-se sem qualquer volta a dar: trata-se, pois claro, de significado e de significância. e quem não estiver bem que avance. andor.
domingo, 28 de julho de 2013
tendência para o FB' fluxo:
estão na cama e ele pergunta-lhe: estás a gostar? imediatamente antes de responder, ela pega no blackberry, entusiasmo de brilho nos olhos, e escreve assim no FB: estou a adorar, Nando, dás-me imenso prazer! e só quando caírem mais do que cinco likes ela, sorridente, abana-lhe simplesmente com a cabeça.
sábado, 27 de julho de 2013
sexta-feira, 26 de julho de 2013
^
há dois séculos atrás, atrás já é pleonasmo, não será bem assim porque este século ainda mal começou, dá mais a ideia de ter sido há muito, muito, tempo, como nas histórias e gosto mais. ponto. há dois séculos, quase na última década do século dezanove, escrevia-se amor com chapéu: amôr. e devia continuar a ser assim já que a fonética e o sentir assim o exigem - o amor sem o chapéu de carregamento no ó não faz tanto sentido. aliás, o amor quer-se tão sentido quanto pronunciado, certo? então, a partir d'hoje e aqui nesta casa, é irrevogável, amôr será sempre carregado e ao estilo antigo.
Comédia Portuguesa
curiosidade em bicos de pés, a minha, para saber sobre La Cage Dorée - que estreia por cá daqui a nada - fui dar ao século dezanove, não poderia ter batido em melhor, à Comedia Portugueza: chronica semanal de costumes, casos, politica, artes e lettras e desatei a explorar a primeira, de 6 de outubro, de 1888.
note-se a actualidade desta nota introdutória ao leitor:
"critica, perfeitamente imparcial, sem peias e sem atrevimentos que melindrem a liberdade de cada um, na esphera d'acção que lhe pertence, a critica que não aspira á gargalhada ruidosa, nem pela insolencia do desenho, nem pelo torpe do assumpto, nem pelo desbragado da linguagem, mas a critica moralisadora e fecunda, não menos cruel, por delicada, é a que nos propomos fazer de todos os assumptos - politica, arte sciencia, costumes - da sociedade portuguesa - não só analysando o seu viver de dia a dia, mas consagrando numeros especiaes, ás suas instituições, escolas, museus, theatros, fôro, camaras; como a collectividades - os medicos, o clero, os actores, advogados, et coetera.
tal é rapidamente ennunciado, o nosso programma e garantimos que elle não terá a graciosa propriedade de ser apenas amontoado de palavras, sem importancia, com os programmas politicos da nossa terra.
ao arco! ao arco!
se não gostar do filme, não importa: já estou, ao contrário do que anunciavam, à gargalhada ruidosa, com certeza, com o que vou lendo nesta comedia portugueza escrita na luz de outro tempo e sendo tão, tão, atemporal. é que também há emigrantes dentro do próprio país e uma frança à espera em cada esquina.(este agora foi o meu contributo de ironia delicada que não se quer estridente) e há, sobretudo, esta expressão que estou a adorar, "adoraveis defeituosas". vou a mais.
note-se a actualidade desta nota introdutória ao leitor:
"critica, perfeitamente imparcial, sem peias e sem atrevimentos que melindrem a liberdade de cada um, na esphera d'acção que lhe pertence, a critica que não aspira á gargalhada ruidosa, nem pela insolencia do desenho, nem pelo torpe do assumpto, nem pelo desbragado da linguagem, mas a critica moralisadora e fecunda, não menos cruel, por delicada, é a que nos propomos fazer de todos os assumptos - politica, arte sciencia, costumes - da sociedade portuguesa - não só analysando o seu viver de dia a dia, mas consagrando numeros especiaes, ás suas instituições, escolas, museus, theatros, fôro, camaras; como a collectividades - os medicos, o clero, os actores, advogados, et coetera.
tal é rapidamente ennunciado, o nosso programma e garantimos que elle não terá a graciosa propriedade de ser apenas amontoado de palavras, sem importancia, com os programmas politicos da nossa terra.
ao arco! ao arco!
a redacção"
se não gostar do filme, não importa: já estou, ao contrário do que anunciavam, à gargalhada ruidosa, com certeza, com o que vou lendo nesta comedia portugueza escrita na luz de outro tempo e sendo tão, tão, atemporal. é que também há emigrantes dentro do próprio país e uma frança à espera em cada esquina.(este agora foi o meu contributo de ironia delicada que não se quer estridente) e há, sobretudo, esta expressão que estou a adorar, "adoraveis defeituosas". vou a mais.
quinta-feira, 25 de julho de 2013
metanóia
impossível é não fazer uma reflexão sobre este texto.
e estúpidos são os que lhe chamam, à via do meio, a impossibilidade política prática, a tal atitude apolítica que é tão inverosímil como o ser independente: um paradoxo inultrapassável, já que a heurística – decorrente da experiência e cognição do cidadão – tende sempre para a esquerda ou para a direita, sustentam. na verdade a metanóia só cabe mesmo no meio por ser lá que avaliamos e sentimos – pensando -, e pensamos – sentindo-, e organizamos.
e estúpidos são os que lhe chamam, à via do meio, a impossibilidade política prática, a tal atitude apolítica que é tão inverosímil como o ser independente: um paradoxo inultrapassável, já que a heurística – decorrente da experiência e cognição do cidadão – tende sempre para a esquerda ou para a direita, sustentam. na verdade a metanóia só cabe mesmo no meio por ser lá que avaliamos e sentimos – pensando -, e pensamos – sentindo-, e organizamos.
quarta-feira, 24 de julho de 2013
terça-feira, 23 de julho de 2013
geografia familiar
enquanto que no Reino Unido nasce mais um príncipe, na Alemanha crescem os pais tiranos - já em Portugal, reproduzem-se os filhos da puta.
segunda-feira, 22 de julho de 2013
sábado, 20 de julho de 2013
hey!
tem setenta anos e vive, desde 1964, a dar-nos música. tem uma voz inconfundível, uma espécie de mel com canela, tal e qual como esta mistura fervida em água faz em jejum ao estômago, que me afina a alma. e não é só a onda de doçura e de romance - enriquecida pela língua soalheira que é a espanhola, que ele tem: carrega, igualmente, uma beleza masculina arrebatadora indissociável. nenhuma figura pública teve tanto encanto como ele - nem mesmo, em outra categoria, o Pierce Brosnan, homem igualmente esculpido a agulha de crochet.
sexta-feira, 19 de julho de 2013
quinta-feira, 18 de julho de 2013
caralho!
Goethe também falou em "contar os ossos dos mortos" - o que o aproxima, muitíssimo, do que é abraçar um cadáver quanto a homenagens póstumas. abracem os vivos, caralho!
quarta-feira, 17 de julho de 2013
terça-feira, 16 de julho de 2013
segunda-feira, 15 de julho de 2013
quando a morte é uma lufada de vida
faz-me confusão ver as viúvas de cara amarrada mas pomposas: passaram a garantir visita ao cabeleireiro todas as semanas, a usar saltos altos e a tingir a boca de vermelho-alívio. e faz-me confusão porque antes, antes deles morrerem, eram idosas conformadas a chinelos e picho. mas alguém as obrigava a estar com eles, pergunto. não: a prostituição caseira é sempre até que a morte os separe.
domingo, 14 de julho de 2013
exaltação do canal da merda em que o país se tornou
vimos por este meio agradecer a sua candidatura. informamos, no entanto, que não foi seleccionada apesar de cumprir com todos os requisitos exigidos, pois estamos à procura de alguém recém-licenciado.
muito obrigada pelo contacto. resta-me dizer-lhes que um recém-licenciado cumpre apenas com o requisito académico e que ânus e ânus de experiência servem, neste caso, para vos mandar à merda.
cumprimentos,
Olinda de Freitas
muito obrigada pelo contacto. resta-me dizer-lhes que um recém-licenciado cumpre apenas com o requisito académico e que ânus e ânus de experiência servem, neste caso, para vos mandar à merda.
cumprimentos,
Olinda de Freitas
sexta-feira, 12 de julho de 2013
quinta-feira, 11 de julho de 2013
conclusão
"as boas cozinheiras francesas põem de quarentena, durante dez dias, os caracóis grandes da bourgogne, até ficarem limpos da sua baba. metem-nos, às centenas, em grandes cabazes de arama que suspendem numa trave. todos os dias lavam muito bem o cabaz, que entretanto cobriram com uma bola de mucosidades, e depois suspendem-no de novo. quando os caracóis expurgarem toda a baba é altura de os alimentar com ervas aromátcas. estão finalmente prontos para a cozedura"
(Diálogos no Purgatório com Jean Guitton)
o purgatório será maravilhoso na purificação espiritual, sim. mas só para quem não goste suficientemente dos seus defeitos para se separar deles.
quarta-feira, 10 de julho de 2013
podia ser sempre assim
acordar com a frescura é imensamente feliz: sente-se o bafo frio do sol galante a arrepiar a pele esgotada do sal líquido que sai sem licença pedir. a frescura energiza.
terça-feira, 9 de julho de 2013
Bonobo na floresta do Congo
The bonobo, once called the pygmy chimpanzee, is a unique species of ape, native only to forests on the left bank of the Congo River. Recent research casts new light on their sexual and other behavior.
See more pictures from the March 2013 feature story "The Left Bank Ape."
Explore 125 years of National Geographic
falta-lhe mesmo falar e gesticular para ser, ou estar, feliz? não creio. são olhos de esperança, os dele, como se pedissem, e pedem, aos macacos da objectiva, para o deixarem a continuar ser assim tal e qual é e onde está.
See more pictures from the March 2013 feature story "The Left Bank Ape."
Explore 125 years of National Geographic
falta-lhe mesmo falar e gesticular para ser, ou estar, feliz? não creio. são olhos de esperança, os dele, como se pedissem, e pedem, aos macacos da objectiva, para o deixarem a continuar ser assim tal e qual é e onde está.
segunda-feira, 8 de julho de 2013
era bom
sentia-me uma personagem dos livros do Eça quando passávamos a temporada de verão no Douro, na Régua, em Tões, em uma das casas senhoriais da Tia, nunca percebi o grau de parentesco durante essa altura mas também não interessava por conta de ela ser uma senhora já sexagenária e divertidíssima, Filomena. a cama que escolhi para dormir desde a primeira vez tinha o colchão em palha e uma boneca das que eu gostava, as únicas, de trapos; os móveis faziam aqueles barulhos típicos do antigo e as paredes eram bordadas a tinta naqueles tectos imensamente altos e estampados em relevo. a sala de jantar, até hoje nunca mais vi uma sala assim, era tal e qual um salão de dança, cheio de janelas e de luz, chão de madeira, tábuas corridas, onde imaginava sempre ter sido pisado por moças de vestidos compridos e folhados que escondiam corpetes sensuais a apertarem nas costas com tiras de cetim. na cave, o local mais fresquinho e escuro da casa, eu não gostava muito de estar - cheirava ao vinho guardado e às pipas gordas que se misturavam com o azedo do mofo e da noite fingida. mas quando ia, fazia histórias de amores escondidos e desfeitos ali mesmo. depois cansava-me e queria ir fazer renda, aprender-lhe o pormenor e captar-lhe a paciência, antes de voar nos patins e sonhar de bicicleta e da apanha dos tremoços. ao domingo a Tia nunca me obrigou a ir à missa, nem ela nem o pai, - percebeu logo que eu gostava mesmo era de ficar no adro, sentada no cruzeiro a apreciar as poucas dezenas do povo da terra aperaltados com as melhores roupas: as mulheres com os pés a gritarem por socorro pelos sapatos, sempre novos, apertados e os homens, ar esganado, pinguços de suor, pelas camisas abotoadas até ao caroço. aquele Deus devia merecer tanto sacrifício, pensava eu. e entretanto, hora feliz, o cheiro do assado a lenha no prelo já me chamava para eu ir aprender na alquimia da cozinha com a Tia. era bom.
domingo, 7 de julho de 2013
sábado, 6 de julho de 2013
museu falológico
(foto sacada da net)
vi, tomei conhecimento, ontem pela primeira vez no canal TLC. não fiquei surpreendida pelo tema mas antes pela designação de museu pois nunca antes me ocorreu que, apesar de perfeitamente legítimo, alguém se lembrasse de coleccionar pénis. há-os para todos os tamanhos, larguras, espécies e formas, conservados em frascos ou secos ao ar - uma curiosidade de se ver na Islândia e que movimenta milhares de visitas por ano.
na verdade, a história antiga identifica a pila - chamemos-lhes pilas para nos sentirmos todos menos científicos e mais subjectivos - como sendo o sexo activo e verdadeiramente gerador de vida. Giulia Sissa «Il Corpo della Donna» explica isto muito bem: o macho fornece a forma e o princípio do movimento enquanto que a fêmea dá o corpo e a matéria. em um breve resumé, o fluido masculino que se mistura no sangue é o que dá a vida, a alma, ao invés do feminino que resulta em menstruação e serve para absolutamente nada. a mulher assume, bem visto, o papel da matéria, o ateliê onde tudo inicia e cresce e gera. interessante.
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